Capítulo 4 

Capítulo 4 

Amanda chegou à mansão Castellani nas primeiras horas da manhã, com o sol ainda tímido no céu. Ela desceu do táxi, admirando a imponente residência com seus portões altos e jardins impecáveis. Era seu primeiro dia oficial como acompanhante de Sofia, e, embora sentisse um leve nervosismo, estava determinada a cumprir sua missão: conquistar a confiança da menina e ajudá-la a superar os muros emocionais que claramente a cercavam.

A porta foi aberta por Teresa, a governanta, que a recebeu com um sorriso acolhedor.

— Bom dia, senhorita Amanda. Seja bem-vinda novamente.

— Bom dia, Teresa. Obrigada. Como estão as coisas por aqui? — Amanda perguntou enquanto cruzava o hall espaçoso, iluminado pela luz suave da manhã.

— Movimentadas, como sempre. O senhor Castellani já saiu para o trabalho, e Sofia ainda está dormindo. Aproveite para tomar um café antes de começar o dia — sugeriu Teresa, gesticulando em direção à cozinha.

Amanda assentiu, agradecendo. Na cozinha, o cheiro de café fresco misturava-se ao aroma das torradas que Teresa havia preparado. Amanda aceitou uma xícara e sentou-se à mesa, observando a vista do jardim pela janela. Era difícil não se perder na grandiosidade daquela casa, mas ela sabia que, apesar de toda a beleza, havia uma frieza ali, algo que as paredes luxuosas não conseguiam esconder.

Enquanto terminava seu café, passos leves no andar de cima anunciaram que Sofia havia acordado. Teresa lançou um olhar rápido para a escada e sorriu.

— Parece que a senhorita Sofia está descendo. Boa sorte, Amanda.

Amanda respirou fundo, colocando sua xícara na pia antes de caminhar até a sala de estar. Encontrou Sofia parada no meio da escada, abraçando seu urso de pelúcia com força. A menina parecia hesitante, como se estivesse avaliando Amanda.

— Bom dia, Sofia. Dormiu bem? — Amanda perguntou com um sorriso gentil.

Sofia deu de ombros, mas puxou uma cadeira e sentou-se.

— Sim.

Amanda percebeu a resposta curta, mas não forçou a conversa. Em vez disso, deixou a menina no seu espaço. Quando Teresa colocou uma bandeja de torradas na mesa, Amanda viu sua chance de se aproximar de forma sutil.

— Eu não sei você, Sofia, mas sempre fico indecisa entre geleia ou manteiga. O que você prefere?

Sofia ergueu os olhos, analisando Amanda como se tentasse decidir se a conversa valia a pena.

— Geleia.

— Boa escolha. Morango?

— Sim.

Amanda sorriu e passou geleia em uma torrada, colocando-a no prato de Sofia.

— Aqui está. Essa é minha favorita também.

Sofia não respondeu, mas deu uma mordida na torrada, o que Amanda interpretou como um pequeno sinal de progresso.

***

Na sala de reuniões da Castellani Tech, Victor Castellani comandava com uma presença imponente, cada gesto carregado de autoridade.

O silêncio na sala era quase opressivo, rompido apenas pelo som ritmado de sua caneta tocando a superfície da mesa, um tic-tac improvisado que parecia marcar o tempo para os executivos ao redor, inquietos sob seu olhar severo.

— Quero explicações — disse ele, a voz baixa e carregada de tensão.

Os executivos sentados ao redor da mesa trocaram olhares nervosos. Um dos funcionários, visivelmente desconfortável, limpou a garganta antes de falar.

— Senhor Castellani, o problema foi causado por um atraso no setor de logística. A equipe responsável não conseguiu...

Victor ergueu a mão, interrompendo-o.

— Eu não pedi desculpas. Pedi soluções.

O homem engoliu em seco, enquanto Victor passava os olhos pelo resto da equipe.

— Estamos perdendo clientes devido à incompetência de alguns de vocês. Se não encontrarem uma solução viável até o fim do dia, encontrarão outro emprego.

O tom de Victor era cortante, e ninguém ousou contestá-lo. Quando ele se levantou, o silêncio na sala ficou ainda mais pesado.

Victor saiu da sala e foi direto para seu escritório, onde encontrou Albus, seu melhor amigo e sócio, esperando por ele.

— Você está parecendo um vulcão prestes a entrar em erupção — comentou Albus, jogando-se no sofá de couro com a descontração de quem já conhecia Victor há anos.

Victor não respondeu imediatamente. Caminhou até a janela, observando o horizonte da cidade enquanto massageava as têmporas.

— Não tenho tempo para lidar com a incompetência dos outros, Albus. Essa empresa é tudo o que me resta.

— Não é verdade, Victor. Você ainda tem Sofia.

Victor suspirou, cansado.

— Sofia está bem. Tem tudo o que precisa.

— Será? — Albus arqueou uma sobrancelha. — Quando foi a última vez que você passou mais de cinco minutos conversando com ela sem o celular na mão?

Victor se virou, lançando um olhar exasperado para o amigo.

— Não tenho escolha. Essa empresa exige meu tempo. Se eu falhar aqui, Sofia também sofrerá as consequências.

Albus balançou a cabeça, frustrado.

— O que Sofia precisa não é de uma mansão ou brinquedos caros, Victor. Ela precisa de você.

Victor ficou em silêncio, os braços cruzados enquanto considerava as palavras de Albus. Por mais que tentasse justificar suas escolhas, uma parte de si sabia que Albus estava certo.

— Não é tão simples assim.

— Nunca é — respondeu Albus, levantando-se. — Mas você deveria tentar antes que seja tarde demais.

Victor não respondeu, mas o desconforto em sua expressão dizia muito.

De volta à mansão, Amanda e Sofia passaram a tarde no jardim. Amanda sugeriu uma atividade diferente: plantar flores em um dos canteiros. Sofia, embora inicialmente relutante, acabou concordando.

— Por que você gosta de plantas? — perguntou Sofia, enquanto enfiava as mãos na terra.

Amanda sorriu, feliz por ver a menina se abrir, mesmo que apenas um pouco.

— Acho que gosto porque elas me lembram que, com paciência e cuidado, tudo pode crescer e florescer.

Sofia franziu o cenho, pensando na resposta.

— E se ninguém cuidar delas?

— Algumas conseguem sobreviver sozinhas por um tempo, mas, eventualmente, precisam de ajuda.

A resposta fez Sofia olhar para Amanda, como se tentasse entender o que ela realmente queria dizer.

— Acho que eu gosto mais de cactos. Eles não precisam de muita ajuda.

Amanda riu.

— É verdade. Mas até os cactos precisam de água de vez em quando.

Sofia não respondeu, mas continuou plantando, sua expressão mais suave do que Amanda havia visto até então.

Enquanto Amanda conquistava pequenos momentos com Sofia, Victor voltava para casa tarde, como de costume. Quando entrou na mansão, encontrou a sala vazia e silenciosa. Teresa apareceu no corredor, informando-o de que Sofia já estava dormindo e Amanda também havia se recolhido.

Victor soltou um suspiro pesado, o cansaço estampado em seu rosto.

— Como ela está? — perguntou, referindo-se à filha.

— Sofia teve um bom dia. Amanda está fazendo um trabalho admirável com ela — respondeu Teresa.

Victor assentiu, mas não respondeu. Ele sabia que Amanda tinha sido uma boa escolha, mas não conseguia evitar a sensação de que estava delegando algo que deveria ser sua responsabilidade.

Na manhã seguinte, Victor acordou mais cedo do que o habitual e decidiu fazer algo que não fazia há muito tempo: tomar café da manhã com Sofia.

Quando entrou na cozinha, encontrou Amanda preparando torradas enquanto Sofia coloria um desenho na mesa. A menina levantou os olhos ao vê-lo, surpresa, mas não disse nada.

— Bom dia, Sofia. Bom dia, Amanda — cumprimentou Victor, sentando-se à mesa.

— Bom dia, senhor Castellani — respondeu Amanda, sorrindo.

Sofia permaneceu em silêncio, observando o pai como se ele fosse uma figura estranha que aparecia de vez em quando.

Victor tentou puxar conversa, mas sua abordagem parecia desajeitada.

— O que você está desenhando?

— Nada — respondeu Sofia, rapidamente cobrindo o desenho com a mão.

Victor suspirou, sentindo a distância entre eles. Amanda percebeu o desconforto e decidiu intervir.

— Sofia está fazendo um desenho do jardim. Ela me disse que gosta das flores roxas perto do caramanchão.

Sofia lançou um olhar para Amanda, como se não soubesse se deveria ficar grata ou irritada.

— Elas são bonitas — murmurou, sem olhar para Victor.

Victor tentou aproveitar a oportunidade.

— Talvez possamos plantar mais flores juntas no fim de semana. O que acha?

Sofia finalmente olhou para o pai, surpresa com a sugestão.

— Você vai estar aqui?

A pergunta o atingiu como um golpe.

— Sim, vou.

Sofia não respondeu imediatamente, mas Victor viu algo diferente em seus olhos: uma pequena fagulha de esperança.

Amanda observou a interação com um sorriso discreto, sentindo que, apesar das dificuldades, os primeiros passos estavam sendo dados.

E assim, aos poucos, as barreiras começaram a ceder, mostrando que, com paciência e compreensão, até mesmo os corações mais fechados podem encontrar uma forma de se conectar novamente.

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