Amanda chegou à mansão Castellani nas primeiras horas da manhã, com o sol ainda tímido no céu. Ela desceu do táxi, admirando a imponente residência com seus portões altos e jardins impecáveis. Era seu primeiro dia oficial como acompanhante de Sofia, e, embora sentisse um leve nervosismo, estava determinada a cumprir sua missão: conquistar a confiança da menina e ajudá-la a superar os muros emocionais que claramente a cercavam.
A porta foi aberta por Teresa, a governanta, que a recebeu com um sorriso acolhedor.
— Bom dia, senhorita Amanda. Seja bem-vinda novamente.— Bom dia, Teresa. Obrigada. Como estão as coisas por aqui? — Amanda perguntou enquanto cruzava o hall espaçoso, iluminado pela luz suave da manhã.— Movimentadas, como sempre. O senhor Castellani já saiu para o trabalho, e Sofia ainda está dormindo. Aproveite para tomar um café antes de começar o dia — sugeriu Teresa, gesticulando em direção à cozinha.
Amanda assentiu, agradecendo. Na cozinha, o cheiro de café fresco misturava-se ao aroma das torradas que Teresa havia preparado. Amanda aceitou uma xícara e sentou-se à mesa, observando a vista do jardim pela janela. Era difícil não se perder na grandiosidade daquela casa, mas ela sabia que, apesar de toda a beleza, havia uma frieza ali, algo que as paredes luxuosas não conseguiam esconder.
Enquanto terminava seu café, passos leves no andar de cima anunciaram que Sofia havia acordado. Teresa lançou um olhar rápido para a escada e sorriu.
— Parece que a senhorita Sofia está descendo. Boa sorte, Amanda.Amanda respirou fundo, colocando sua xícara na pia antes de caminhar até a sala de estar. Encontrou Sofia parada no meio da escada, abraçando seu urso de pelúcia com força. A menina parecia hesitante, como se estivesse avaliando Amanda.
— Bom dia, Sofia. Dormiu bem? — Amanda perguntou com um sorriso gentil.
Sofia deu de ombros, mas puxou uma cadeira e sentou-se.
— Sim.
Amanda percebeu a resposta curta, mas não forçou a conversa. Em vez disso, deixou a menina no seu espaço. Quando Teresa colocou uma bandeja de torradas na mesa, Amanda viu sua chance de se aproximar de forma sutil.
— Eu não sei você, Sofia, mas sempre fico indecisa entre geleia ou manteiga. O que você prefere?
Sofia ergueu os olhos, analisando Amanda como se tentasse decidir se a conversa valia a pena.
— Geleia.
— Boa escolha. Morango?
— Sim.
Amanda sorriu e passou geleia em uma torrada, colocando-a no prato de Sofia.
— Aqui está. Essa é minha favorita também.
Sofia não respondeu, mas deu uma mordida na torrada, o que Amanda interpretou como um pequeno sinal de progresso.
***
Na sala de reuniões da Castellani Tech, Victor Castellani comandava com uma presença imponente, cada gesto carregado de autoridade.
O silêncio na sala era quase opressivo, rompido apenas pelo som ritmado de sua caneta tocando a superfície da mesa, um tic-tac improvisado que parecia marcar o tempo para os executivos ao redor, inquietos sob seu olhar severo.
— Quero explicações — disse ele, a voz baixa e carregada de tensão.
Os executivos sentados ao redor da mesa trocaram olhares nervosos. Um dos funcionários, visivelmente desconfortável, limpou a garganta antes de falar.
— Senhor Castellani, o problema foi causado por um atraso no setor de logística. A equipe responsável não conseguiu...
Victor ergueu a mão, interrompendo-o.
— Eu não pedi desculpas. Pedi soluções.
O homem engoliu em seco, enquanto Victor passava os olhos pelo resto da equipe.
— Estamos perdendo clientes devido à incompetência de alguns de vocês. Se não encontrarem uma solução viável até o fim do dia, encontrarão outro emprego.
O tom de Victor era cortante, e ninguém ousou contestá-lo. Quando ele se levantou, o silêncio na sala ficou ainda mais pesado.
Victor saiu da sala e foi direto para seu escritório, onde encontrou Albus, seu melhor amigo e sócio, esperando por ele.
— Você está parecendo um vulcão prestes a entrar em erupção — comentou Albus, jogando-se no sofá de couro com a descontração de quem já conhecia Victor há anos.
Victor não respondeu imediatamente. Caminhou até a janela, observando o horizonte da cidade enquanto massageava as têmporas.
— Não tenho tempo para lidar com a incompetência dos outros, Albus. Essa empresa é tudo o que me resta.
— Não é verdade, Victor. Você ainda tem Sofia.
Victor suspirou, cansado.
— Sofia está bem. Tem tudo o que precisa.
— Será? — Albus arqueou uma sobrancelha. — Quando foi a última vez que você passou mais de cinco minutos conversando com ela sem o celular na mão?
Victor se virou, lançando um olhar exasperado para o amigo.
— Não tenho escolha. Essa empresa exige meu tempo. Se eu falhar aqui, Sofia também sofrerá as consequências.
Albus balançou a cabeça, frustrado.
— O que Sofia precisa não é de uma mansão ou brinquedos caros, Victor. Ela precisa de você.
Victor ficou em silêncio, os braços cruzados enquanto considerava as palavras de Albus. Por mais que tentasse justificar suas escolhas, uma parte de si sabia que Albus estava certo.
— Não é tão simples assim.
— Nunca é — respondeu Albus, levantando-se. — Mas você deveria tentar antes que seja tarde demais.
Victor não respondeu, mas o desconforto em sua expressão dizia muito.
De volta à mansão, Amanda e Sofia passaram a tarde no jardim. Amanda sugeriu uma atividade diferente: plantar flores em um dos canteiros. Sofia, embora inicialmente relutante, acabou concordando.
— Por que você gosta de plantas? — perguntou Sofia, enquanto enfiava as mãos na terra.
Amanda sorriu, feliz por ver a menina se abrir, mesmo que apenas um pouco.
— Acho que gosto porque elas me lembram que, com paciência e cuidado, tudo pode crescer e florescer.
Sofia franziu o cenho, pensando na resposta.
— E se ninguém cuidar delas?
— Algumas conseguem sobreviver sozinhas por um tempo, mas, eventualmente, precisam de ajuda.
A resposta fez Sofia olhar para Amanda, como se tentasse entender o que ela realmente queria dizer.
— Acho que eu gosto mais de cactos. Eles não precisam de muita ajuda.
Amanda riu.
— É verdade. Mas até os cactos precisam de água de vez em quando.
Sofia não respondeu, mas continuou plantando, sua expressão mais suave do que Amanda havia visto até então.
Enquanto Amanda conquistava pequenos momentos com Sofia, Victor voltava para casa tarde, como de costume. Quando entrou na mansão, encontrou a sala vazia e silenciosa. Teresa apareceu no corredor, informando-o de que Sofia já estava dormindo e Amanda também havia se recolhido.
Victor soltou um suspiro pesado, o cansaço estampado em seu rosto.
— Como ela está? — perguntou, referindo-se à filha.
— Sofia teve um bom dia. Amanda está fazendo um trabalho admirável com ela — respondeu Teresa.
Victor assentiu, mas não respondeu. Ele sabia que Amanda tinha sido uma boa escolha, mas não conseguia evitar a sensação de que estava delegando algo que deveria ser sua responsabilidade.
Na manhã seguinte, Victor acordou mais cedo do que o habitual e decidiu fazer algo que não fazia há muito tempo: tomar café da manhã com Sofia.
Quando entrou na cozinha, encontrou Amanda preparando torradas enquanto Sofia coloria um desenho na mesa. A menina levantou os olhos ao vê-lo, surpresa, mas não disse nada.
— Bom dia, Sofia. Bom dia, Amanda — cumprimentou Victor, sentando-se à mesa.
— Bom dia, senhor Castellani — respondeu Amanda, sorrindo.
Sofia permaneceu em silêncio, observando o pai como se ele fosse uma figura estranha que aparecia de vez em quando.
Victor tentou puxar conversa, mas sua abordagem parecia desajeitada.
— O que você está desenhando?
— Nada — respondeu Sofia, rapidamente cobrindo o desenho com a mão.
Victor suspirou, sentindo a distância entre eles. Amanda percebeu o desconforto e decidiu intervir.
— Sofia está fazendo um desenho do jardim. Ela me disse que gosta das flores roxas perto do caramanchão.
Sofia lançou um olhar para Amanda, como se não soubesse se deveria ficar grata ou irritada.
— Elas são bonitas — murmurou, sem olhar para Victor.
Victor tentou aproveitar a oportunidade.
— Talvez possamos plantar mais flores juntas no fim de semana. O que acha?
Sofia finalmente olhou para o pai, surpresa com a sugestão.
— Você vai estar aqui?
A pergunta o atingiu como um golpe.
— Sim, vou.
Sofia não respondeu imediatamente, mas Victor viu algo diferente em seus olhos: uma pequena fagulha de esperança.
Amanda observou a interação com um sorriso discreto, sentindo que, apesar das dificuldades, os primeiros passos estavam sendo dados.
E assim, aos poucos, as barreiras começaram a ceder, mostrando que, com paciência e compreensão, até mesmo os corações mais fechados podem encontrar uma forma de se conectar novamente.
Capítulo 5Amanda observava Sofia brincar com seus bonecos em um canto da sala. A luz suave que entrava pela janela iluminava o rosto da menina, que exibia uma alegria quase inocente, mas rara. Desde que chegara à mansão Castellani, Amanda havia notado algo que a deixava inquieta: apesar de sua energia e inteligência, Sofia era uma criança solitária. Mesmo rodeada por conforto e luxo, faltava-lhe algo essencial, a presença ativa de seu pai, Victor.Amanda compreendia que Victor Castellani não era um homem fácil. Sempre impecável, com sua postura altiva e olhar sério, ele parecia carregar o peso do mundo sobre os ombros. Desde a morte de sua esposa, Camila, ele havia se fechado em uma redoma de trabalho e responsabilidades, como se estivesse tentando se proteger de mais perdas. Mas Amanda sabia que, por trás daquela fachada rígida, havia um pai que, mesmo desajeitado, amava sua filha. Ele só precisava de um empurrão na direção certa.Foi com essa determinação que Amanda se aproximou de
Capítulo 6 Amanda terminava de arrumar a mesa para o café da manhã quando notou que Sofia ainda não havia descido. Era estranho. Geralmente, a menina era a primeira a aparecer, cheia de energia e perguntas curiosas sobre o que fariam naquele dia. Mas naquela manhã, o silêncio parecia mais predominante que o de costume, e Amanda sentiu um calafrio de preocupação.— Dona Teresa, Sofia ainda está dormindo? — Amanda perguntou, tentando disfarçar a inquietação em sua voz.A governanta, que colocava cuidadosamente uma bandeja sobre o balcão, balançou a cabeça. — Não, querida. Eu a vi no jardim mais cedo, mas parecia… diferente. Não sei explicar. Talvez seja bom você ir falar com ela.Amanda assentiu, pegou um suéter para proteger-se do ar frio da manhã e seguiu em direção ao jardim. Passando pelas portas de vidro, avistou Sofia sentada sob o carvalho imponente que dominava o centro do espaço. A menina estava encolhida, com as pernas dobradas contra o peito, o rosto parcialmente escondido p
Capítulo 7 Amanda estava ajudando Dona Teresa a finalizar a arrumação da mesa de jantar. Depois da conversa com Sofia e Victor mais cedo, sentiu que precisava participar, de algum modo, para ajudar a quebrar a barreira de frieza que dominava aquele lugar. — Tem certeza de que ele vai vir? — Dona Teresa perguntou, cética, enquanto temperava uma salada. — O senhor Victor não costuma jantar na mesa com ninguém. Ultimamente, ele mal come. — Tenho, sim — Amanda respondeu, com mais convicção do que realmente sentia. — Hoje foi diferente. Ele prometeu que tentaria passar mais tempo com Sofia. E eu acredito nele. Dona Teresa deu de ombros, mas não disse mais nada. Havia algo na determinação de Amanda que lhe dava uma ponta de esperança. Pouco antes do jantar, Amanda foi até o quarto de Sofia para buscá-la. Bateu de leve na porta e entrou quando ouviu o murmúrio tímido da menina. Sofia estava deitada na cama, folheando distraída um livro de desenhos animados. Seus olhos se iluminaram
Capítulo 8Enquanto Amanda cruzava o extenso jardim em direção à entrada, seu coração estava cheio de expectativa. Após o jantar harmonioso da noite anterior, Amanda percebeu que Victor estava começando a baixar a guarda, e ela queria aproveitar aquele momento para criar novas memórias com Sofia e, talvez, ajudar Victor a se reconectar ainda mais com a filha. No caminho, avistou o jardineiro, o senhor Augusto, que podava cuidadosamente as roseiras próximas à fonte.— Bom dia, senhor Augusto! — cumprimentou Amanda com um sorriso caloroso.— Bom dia, dona Amanda. Está um dia bonito hoje, não? — respondeu ele, levantando-se e limpando as mãos no avental.— Está sim, perfeito para renovar energias — disse Amanda, sentindo o aroma das flores ao seu redor antes de seguir adiante.Ao entrar na mansão, Dona Teresa já estava na cozinha preparando o café da manhã. Amanda cumprimentou-a rapidamente e subiu até o quarto de Sofia. Bateu de leve na porta e ouviu a voz son
Capítulo 9Amanda saiu do carro entrando na casa, modesta, mas aconchegante, parecia envolvê-la em um abraço de calma e segurança, algo que Amanda valorizava, caminhou até a cozinha. A cozinha era pequena com armários antigos onde tantas conversas com sua mãe haviam acontecido. Amanda acendeu a luz, iluminando o ambiente com um tom amarelado, e começou a preparar um jantar rápido.Enquanto picava legumes para fazer uma sopa, seus pensamentos vagavam. Finalmente, depois de meses de busca, tinha conseguido um emprego estável. O alívio que sentia era imenso, quase como se pudesse respirar fundo pela primeira vez em muito tempo. As contas acumuladas, o peso do aluguel e, principalmente, o custo do tratamento de sua mãe haviam se tornado um fardo que ela carregava sozinha. Agora, Amanda sentia que começava a ver a luz no fim do túnel.Porém, mesmo aliviada, não podia deixar de pensar nas pessoas para quem agora trabalhava. Victor Castellani, um homem tão sério e reservado, parecia carregar
Capítulo 10Diante do espelho, ajeitava os fios soltos de seu rabo de cavalo. Vestia uma roupa simples, mas confortável, adequada para mais um dia de trabalho. Apesar da aparência tranquila, sua mente estava inquieta.Desde que começara a trabalhar para Victor Castellani, sua rotina havia ganhado uma estabilidade que há muito tempo não conhecia. Porém, nos últimos dias, um sentimento novo vinha em uma crescente nela, algo que ela não sabia como lidar.Amanda balançou a cabeça, como se pudesse afastar os pensamentos.— Não, Amanda. Isso é errado — murmurou para si mesma.Lembrou-se de sua posição na casa. Era a babá de Sofia, apenas isso. Victor era seu chefe, um homem marcado pela tragédia, que dedicava todos os esforços à filha e ao trabalho. Além disso, a última coisa que Amanda queria era complicar sua vida com sentimentos que poderiam arruinar tudo o que ela havia conquistado.Pegou sua bolsa e desceu as escadas rapidamente. Antes de sair, foi até o quarto de sua mãe para verifica
Capítulo 11Era uma tarde tranquila na Mansão dos Castellani. Amanda estava terminando de organizar a agenda de Sofia, enquanto a menina brincava no tapete da sala com suas bonecas. Victor, recém-chegado do trabalho, folheava alguns papéis em uma poltrona próxima. A serenidade da cena era um contraste com o ritmo acelerado que Victor estava acostumado no mundo dos negócios.Amanda hesitou por alguns instantes antes de falar.— Senhor Castellani? — chamou, sua voz suave mas firme o suficiente para chamar sua atenção.Victor ergueu os olhos dos documentos, franzindo levemente a testa.— Sim, Amanda?Ela respirou fundo antes de continuar.— Eu estava pensando... O que acha de levarmos Sofia ao parque de diversões hoje à noite? Está um clima agradável, e acho que ela iria adorar.Victor arqueou uma sobrancelha, claramente surpreso com a sugestão. Ele raramente saía de casa para atividades de lazer, muito menos em público, onde ele e Sofia poderiam ser o centro de atenção.— Ao parque? — p
Capítulo 12Amanda entrou no quarto de hóspedes da mansão dos Castellani com passos lentos, ainda sentindo o peso da intensidade da noite que passara ao lado de Victor e Sofia no parque de diversões. Sua mente estava tumultuada, com pensamentos que insistiam em girar ao redor do olhar intenso que Victor lhe lançara antes de ela subir para o quarto.Colocando sua bolsa e pequenos pertences no criado-mudo ao lado da cama, ela respirou fundo, tentando acalmar os nervos. Dirigiu-se ao banheiro com sua nécessaire, decidida a tomar um banho quente para relaxar antes de dormir.A água escorria por seu corpo, levando embora a tensão, mas não os pensamentos. Por que Victor a havia pedido para ficar? E aquele olhar... aquele toque breve e intenso que ele lhe dirigira antes. Amanda balançou a cabeça, tentando afastar os devaneios. Ele era seu chefe, um homem poderoso e reservado. Não fazia sentido ela sequer cogitar outra coisa.Após se vestir com seu pijama, uma camisola simples e confortável,