Capítulo 5

Capítulo 5

Amanda observava Sofia brincar com seus bonecos em um canto da sala. A luz suave que entrava pela janela iluminava o rosto da menina, que exibia uma alegria quase inocente, mas rara. Desde que chegara à mansão Castellani, Amanda havia notado algo que a deixava inquieta: apesar de sua energia e inteligência, Sofia era uma criança solitária. Mesmo rodeada por conforto e luxo, faltava-lhe algo essencial, a presença ativa de seu pai, Victor.

Amanda compreendia que Victor Castellani não era um homem fácil. Sempre impecável, com sua postura altiva e olhar sério, ele parecia carregar o peso do mundo sobre os ombros. Desde a morte de sua esposa, Camila, ele havia se fechado em uma redoma de trabalho e responsabilidades, como se estivesse tentando se proteger de mais perdas. Mas Amanda sabia que, por trás daquela fachada rígida, havia um pai que, mesmo desajeitado, amava sua filha. Ele só precisava de um empurrão na direção certa.

Foi com essa determinação que Amanda se aproximou de Sofia naquela manhã, um sorriso conspiratório nos lábios.

— Sabe, eu estava pensando... Que tal fazermos algo diferente hoje? Algo bem divertido? — perguntou, inclinando-se para olhar Sofia nos olhos.

Sofia, que até então colocava dois bonecos lado a lado como se fossem amigos inseparáveis, levantou os olhos, curiosa.

— Tipo o quê? — perguntou, franzindo a testa.

— Uma tarde de lazer! — Amanda exclamou, com entusiasmo teatral. — Podemos brincar, fazer um piquenique no jardim, talvez até assistir a um filme depois.

Sofia sorriu, mas sua empolgação foi rapidamente substituída por uma expressão cética.

— Papai não vai querer. Ele nunca tem tempo pra essas coisas.

Amanda abaixou-se ao lado da menina, segurando delicadamente sua mão.

— Deixa isso comigo. Prometo que vou convencer ele, tá bom?

Sofia hesitou por um momento antes de assentir, um brilho de esperança começando a aparecer em seus olhos.

Mais tarde, Amanda esperou pacientemente que Victor descesse para o café da manhã. Quando ele surgiu, como sempre impecável em seu terno escuro, ela percebeu a tensão habitual em seus ombros, como se já estivesse mentalmente navegando por reuniões e decisões importantes.

— Bom dia, senhor Castellani — cumprimentou ela, com um tom casual que escondia sua determinação.

— Amanda, bom dia. — Ele respondeu, pegando sua xícara de café sem sequer olhar para ela.

Amanda respirou fundo. Sabia que precisava ser direta.

— Senhor Castellani, gostaria de sugerir algo que acredito ser importante para a Sofia.

Victor finalmente ergueu os olhos, franzindo ligeiramente a testa.

— Algo relacionado à educação dela?

— Não exatamente. — Amanda cruzou as mãos na frente do corpo, mantendo a postura firme. — Pensei em organizarmos um momento de lazer. Algo simples, mas que permita que vocês dois passem um tempo juntos.

Victor inclinou-se para trás, claramente desconfortável com a ideia.

— Amanda, meu dia já está completamente tomado. Tenho reuniões e uma viagem para planejar. Não há espaço para esse tipo de coisa.

Amanda sabia que essa seria sua resposta inicial, mas não recuou.

— Com todo respeito, senhor Castellani, acredito que isso não é apenas sobre tempo, mas sobre prioridade. Sofia sente sua falta, e acredito que momentos como esses podem fazer uma grande diferença para ela.

Victor abriu a boca para retrucar, mas foi interrompido pela chegada inesperada de Sofia, que estava ouvindo parte da conversa.

— Papai, por favor. — pediu ela, a voz suave, mas cheia de esperança.

Victor olhou para a filha, e algo em seu olhar pareceu amolecer. Ele suspirou profundamente, como se estivesse travando uma batalha interna.

— Tudo bem — cedeu ele, finalmente. — Mas não se acostumem com isso.

Sofia soltou um gritinho de alegria e correu para abraçar Amanda, que sorriu triunfante.

***

A manhã foi repleta de preparativos. Amanda cuidou de todos os detalhes, desde preparar uma cesta de piquenique com sanduíches e suco de laranja até arrumar um espaço aconchegante no jardim com um cobertor e almofadas. Também selecionou jogos de tabuleiro e uma bola, pensando nas possíveis atividades que poderiam ajudar a quebrar o gelo entre pai e filha.

Quando Victor apareceu no jardim, Amanda teve que conter o sorriso. Ele havia trocado o usual terno por um jeans escuro e uma camisa azul clara. Apesar de ainda carregar uma postura rígida, o visual mais casual o tornava menos intimidante.

— Não acredito que me convenceram a fazer isso — murmurou ele, cruzando os braços.

— Vai ser divertido, senhor Castellani. — Amanda respondeu, com um sorriso encorajador.

Sofia correu até ele com a bola nas mãos.

— Vamos jogar, papai?

Victor suspirou, mas, ao ver o olhar esperançoso da filha, não conseguiu recusar. Amanda observou enquanto eles começavam a brincar. No início, Victor parecia deslocado, jogando a bola com movimentos quase mecânicos. Mas, aos poucos, ele começou a relaxar. Sofia ria alto cada vez que ele fazia algo bobo, como errar de propósito, e logo Amanda percebeu que Victor estava começando a aproveitar o momento.

Após alguns jogos, todos se sentaram no cobertor para comer. Amanda serviu os lanches enquanto Sofia falava sem parar sobre as brincadeiras e os jogos que queria experimentar em seguida.

— E depois disso, podemos assistir a um filme? — perguntou Sofia, os olhos brilhando de expectativa.

Victor arqueou uma sobrancelha e olhou para Amanda, como se estivesse perguntando silenciosamente: Você planejou isso também? Amanda apenas deu de ombros, divertida.

— Acho uma ótima ideia — respondeu ela, descontraída.

***

De volta à sala de estar, Amanda e Sofia passaram um tempo escolhendo o filme perfeito. Sofia escolheu uma animação colorida e divertida, que claramente não era o tipo de entretenimento que Victor estava acostumado. Ele até tentou protestar, sugerindo algo mais sério, mas, no fim, cedeu à escolha da filha.

Quando o filme começou, Sofia se aconchegou no sofá entre Amanda e Victor. No início, ele parecia distraído, mexendo no celular ocasionalmente. No entanto, conforme a história leve e os risos de Sofia preenchiam a sala, ele começou a prestar atenção. Amanda percebeu quando ele soltou uma risada baixa em um momento particularmente engraçado do filme.

Para Amanda, aquele momento foi uma pequena vitória. Ver pai e filha juntos, rindo, mesmo que brevemente, era um sinal de que os muros entre eles estavam começando a ruir.

Após o filme, Sofia subiu para o quarto, alegando estar cansada. Amanda e Victor ficaram sozinhos na sala, o silêncio preenchido apenas pelo som distante de um relógio.

Victor parecia perdido em pensamentos, mas finalmente quebrou o silêncio.

— Eu devo admitir, isso foi... agradável.

Amanda sorriu, mas não deixou transparecer o orgulho que sentia.

— Sofia se divertiu muito, e isso significa muito para ela.

Victor a olhou, os olhos escuros revelando uma vulnerabilidade rara.

— Não é fácil para mim, Amanda. Depois que Camila morreu... — Ele fez uma pausa, respirando fundo. — É difícil lidar com a ideia de criar memórias sem ela.

Amanda sentiu o peso de suas palavras. Por um momento, pensou em como a dor de Victor moldava suas ações e sua resistência em se abrir.

— Eu entendo, senhor Castellani — disse ela, com gentileza. — Mas Sofia precisa de você agora, mais do que nunca. Esses pequenos momentos fazem uma grande diferença para ela.

Victor assentiu lentamente, parecendo absorver suas palavras.

— Obrigado por organizar isso. Sei que foi ideia sua.

Amanda deu um pequeno sorriso.

— Foi um prazer. Se precisar de ajuda para criar mais momentos como esse, estarei aqui.

Victor ficou em silêncio por um momento antes de algo inesperado acontecer. Ele sorriu, um sorriso tímido, antes de se levantar e sair da sala.

Amanda ficou parada ali por alguns instantes, sentindo que, apesar de todas as dificuldades, havia dado um passo importante para ajudar aquela família a encontrar um pouco de luz em meio à escuridão.

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