O mundo ao meu redor está mergulhado em um silêncio agonizante, mas dentro de mim, há fogo. Um incêndio que consome tudo, uma fúria que se espalha como veneno em minhas veias.
Estou parado no centro do quarto, o mesmo quarto onde, há poucas horas, me preparei para o dia mais importante da minha vida. Onde deveria estar agora, trazendo Aurora nos braços, sentindo seu perfume misturado ao meu, saboreando a mulher que sempre foi minha.
Mas ela não está aqui e isso me destrói.
Meus punhos estão cerrados com tanta força que as juntas estão esbranquiçadas, a dor é a única coisa que me mantém no presente. O que vejo refletido no espelho não é o homem que caminhou até aquele altar, vestindo um terno impecável e carregando no peito a promessa de um futuro.
Esse homem morreu.
O que existe agora é um predador, um homem forjado no aço, um herdeiro treinado para destruir quem ousar atravessar seu caminho.
Fecho os olhos por um segundo e tudo o que vejo é Aurora.
Seu sorriso. Seu olhar brilhante quando me encara. O som da sua risada. A forma como ela se encaixa nos meus braços, desde quando éramos pequenos. Consigo sentir o seu perfume e o sabor de seus lábios.
O que aconteceu? Alguém teve a audácia de arrancá-la de mim.
Um grande erro.
O sangue ferve no meu peito. A raiva não é apenas um sentimento, é uma entidade viva que se espalha por cada músculo do meu corpo, exigindo vingança.
Eu poderia sentir medo. Medo que a machuquem. Medo que ela esteja sofrendo, assustada, chamando pelo meu nome enquanto eu não estou lá para protegê-la. Medo de que eu não chegue a tempo.
O que não sabem é que o medo não me controla.
Ele se transforma em algo muito pior. Ele se transforma na certeza absoluta de que não vou falhar.
Abro os olhos e o homem que vejo no espelho agora, é uma sombra do que fui. Os olhos frios, a mandíbula travada, o coração reduzido a um propósito singular.
Eu sou Matteo Moretti.
O nome que faz homens tremerem. O herdeiro da Cosa Nostra. O líder que foi preparado para a guerra.
Aurora é minha.
E aqueles que a tomaram de mim? Eles vão pagar. Cada um deles.
Visto minha jaqueta, prendo a arma no coldre e deslizo os dedos pelo cabo da faca afiada presa à lateral da minha cintura. O metal frio encontra minha pele quente, um lembrete da única coisa que importa agora: morte.
Lá fora, Vincenzo e Giuseppe me esperam. Meu pai mobilizou a máfia inteira. Nossos aliados e amigos estão todos a postos, mas quem precisa pega-los serei eu. Vou caça-los, tortura-los e mata-los. Eles vão sangrar por minhas mãos.
As ruas da Sicília vão sangrar enquanto eu só penso em uma única coisa: me vingar!
Quem tocar em Aurora vai implorar para morrer e a última coisa que verão será os meus olhos.
E vou até o inferno para trazê-la de volta.
A manhã era fria e o vento que soprava pela propriedade da Cosa Nostra trazia consigo o cheiro úmido de terra e aço. Matteo estava no campo de treinamento, não era mais o menino que um dia segurava uma espada de madeira e praticava golpes incertos. Agora, com 17 anos, ele era a personificação de força e disciplina, um jovem cujo corpo e mente haviam sido moldados pelo peso do legado que carregava.Matteo se tornou um rapaz alto, com os ombros largos e o corpo definido pelos anos de treinamento rigoroso. Seus braços fortes e suas mãos calejadas contavam a história de um garoto que havia superado suas próprias limitações para se tornar um homem. O rosto, antes marcado por traços juvenis, agora exibia uma maturidade que parecia muito além de sua idade. Seus olhos, intensos, de um azul profundo, eram o que mais chamavam a atenção. Eles refletiam não apenas determinação, mas também um certo peso, como se Matteo carregasse consigo as sombras de todas as decisões que sabia que teria que tom
A noite havia caído sobre a propriedade da Cosa Nostra, envolvendo o ambiente em uma penumbra dourada, criada pelas luzes baixas das lanternas espalhadas pelos jardins. O treinamento havia terminado e a maioria dos membros da casa já se recolheram para a segurança das muralhas. Aurora permanecia no terraço, observando o céu estrelado. A brisa noturna fazia seus cabelos negros dançarem suavemente, enquanto ela observava a lua. Matteo apareceu silenciosamente atrás dela, como uma sombra. Mesmo sem ouvir seus passos, Aurora sentiu sua presença. Ele sempre tinha aquele efeito, não precisava de palavras para preencher o espaço. Era como se o ar ao redor dele fosse diferente, mais denso, mais carregado de algo que ela não conseguia definir.— Não esperava encontrar você aqui a essa hora. — disse ele com sua voz baixa e grave cortando o silêncio.Aurora virou-se devagar, encontrando os olhos dele. Havia algo intenso no olhar de Matteo, algo que a deixava desconcertada, mas que ela não podi
Aurora DemetriouAs memórias da minha infância na Grécia eram como ecos em minha mente. Saí de lá muito pequena. O cheiro do Agapanto me transportava para o jardim que meu pai havia construído, especialmente, em homenagem à minha mãe. O carinho dela ao falar sobre o amor que sentia por ele sempre me fazia sorrir involuntariamente. Lembro-me de como o rosto do meu pai se iluminava com um sorriso genuíno, algo raro, mas que deixava evidente a paixão que existia entre eles. “Ele não é um homem cruel”, eu pensava, “mas se esforça para manter esse estereótipo.” A lembrança dos meus pais me deixava confusa. Seria egoísmo meu, sentir saudades deles, mesmo tendo encontrado uma nova família aqui? Pode até parecer, mas a verdade é que sou imensamente abençoada. Eu poderia ser maltratada, mesmo estando na posição que estou, mas o que encontrei na Itália foi completamente o contrário. Encontrei uma segunda família, um outro lugar para chamar de meu. Meus dois pais se esforçam para não deixar
Aurora Demetriou— “Vamos relaxar, Aurora. O sol está perfeito para uma tarde na piscina!” — chamou Ava com um sorriso iluminando seu rosto e os olhos reluzentes como estrelas sob o calor da noite. Havíamos voltado da Grécia no último final de semana. Eu estava com quinze anos e sabia que naquele verão, de alguma forma, começaria a moldar toda a minha vida, dali para frente.Desde nossa volta, Matteo parecia diferente. O olhar que antes me era tão acolhedor agora surgia esquivo e distante, como se estivesse guardando segredos que eu ainda não podia compreender.Eu já notava as mudanças, antes mesmo de embarcarmos. As noites que costumávamos compartilhar, aquelas em que eu me esgueirava para sua cama em busca de conforto durante as tempestades ou as noites inquietas, agora eram apenas memórias. A promessa que ele me fez logo que cheguei na Itália, quando tinha quatro anos, ecoava em minha mente: “Eu sempre vou cuidar de você, Aurora. Você pode contar comigo para qualquer coisa.” Infe
Aurora DemetriouQuando Matteo e os outros finalmente conseguiram suas carteiras de motorista, a dinâmica mudou. Agora, eles se organizavam em duplas para ir ao colégio. Vincenzo e Ekaterina costumavam montar na Ducati V4S vermelha do herdeiro Ferrari. Embora brigassem como um casal em desavença, ambos eram teimosos o suficiente para não se separarem. Ava, por outro lado, era um pouco mais dramática e manipuladora, uma verdadeira mestra na arte de conseguir tudo o que queria de Giuseppe, mesmo que isso significasse acabar com sua paz. Houve uma vez em que os dois travaram uma guerra fria que preocupou até os adultos. Ava ficou quase um mês ignorando o namorado, ao ponto de ir sozinha para a escola em seu carro esportivo, um impressionante McLaren 720S rosa, presente de nosso pai quando completou dezesseis anos. No final, os dois se resolveram e o motivo da briga permanece um mistério até hoje.Eu decidi que iria com Kō. Ele me acompanhava e me protegia desde que me mudei para a Itáli