A manhã era fria e o vento que soprava pela propriedade da Cosa Nostra trazia consigo o cheiro úmido de terra e aço. Matteo estava no campo de treinamento, não era mais o menino que um dia segurava uma espada de madeira e praticava golpes incertos. Agora, com 17 anos, ele era a personificação de força e disciplina, um jovem cujo corpo e mente haviam sido moldados pelo peso do legado que carregava.
Matteo se tornou um rapaz alto, com os ombros largos e o corpo definido pelos anos de treinamento rigoroso. Seus braços fortes e suas mãos calejadas contavam a história de um garoto que havia superado suas próprias limitações para se tornar um homem. O rosto, antes marcado por traços juvenis, agora exibia uma maturidade que parecia muito além de sua idade. Seus olhos, intensos, de um azul profundo, eram o que mais chamavam a atenção. Eles refletiam não apenas determinação, mas também um certo peso, como se Matteo carregasse consigo as sombras de todas as decisões que sabia que teria que tomar.
Ele caminhava pelo campo com passos firmes, vestindo uma camiseta preta de mangas curtas, deixando à mostra os músculos esculpidos e as veias que subiam por seus antebraços. Sua postura era impecável, uma mistura de confiança natural e disciplina adquirida. Quando falava, sua voz grave e controlada cortava o ar, impondo respeito até mesmo nos homens mais velhos que o observavam.
Matteo se ajoelhou perto de uma mesa improvisada de madeira onde um mapa estava espalhado. Ele analisava os detalhes, ouvindo os conselhos de Luca e Alonso, seus mentores de longa data. Seu pai também estava ao seu lado e o observava com o semblante orgulhoso. Todos eles encaravam Matteo não mais com olhar de superioridade, todos o reconheciam não mais como um aprendiz, já tinha se tornado um líder.
— Os albaneses estão contrabandeados no nosso território. Fui até lá pessoalmente com Vincenzo e descobri que os filhos de Efrain estão tentando nos passar a perna.
— O que você fez? — perguntou Vittorio curioso.
Matteo sorriu ladino.
— Deixei um recado para os dois. Falei para Alban que se ele continuasse iria acabar com a raça dele pessoalmente e quanto ao Baskin… — Matteo sorriu sarcástico… — apenas ameacei contar ao seu papai sobre o romance secreto que tem com Drilon, tenho certeza que Efrain não vai gostar de saber que seu primogênito se envolve com homens.
— Ou seja, não preciso me preocupar! — Vittorio sorriu orgulhoso
Luca e Alonso fizeram o mesmo.
Matteo havia passado por uma transformação ainda mais profunda. O garoto que um dia sonhou em ser forte, agora entendia o verdadeiro significado de poder. Não era apenas sobre força física ou habilidade no combate, era sobre estratégia, influência e acima de tudo, controle. Ele aprendeu que liderar a Cosa Nostra não se tratava apenas de estar presente nas batalhas que enfrentaria no campo, mas das decisões que tomaria no silêncio da noite, sozinho, onde ninguém poderia ajudá-lo.
Sua visão de mundo havia endurecido. Ele compreendia a crueldade da vida e aceitava que o caminho à frente seria repleto de sacrifícios. Matteo não temia isso, pelo contrário, ele abraçava essa realidade, sabendo que era o único caminho para proteger sua família, sua honra e o legado que seu pai havia construído com sangue e ferro.
Enquanto observava seu pai e seus padrinhos conversando, sentiu um fogo arder em seu peito. Era um desejo incontrolável de provar a si mesmo, de mostrar que estava pronto para assumir o trono. Ele sabia que os olhos de todos estavam sobre ele, esperando para ver se, o herdeiro da Cosa Nostra, era digno do nome que carregava.
Ele fechou os punhos, os nós dos dedos ficando brancos.
“Não vou decepcioná-los. Não vou decepcionar meu pai, minha mãe, família… nem a mim mesmo.” — murmurou para si mesmo.
Ele sabia que não era mais uma questão de “se” assumiria o comando, e sim “quando”. Cada treino, cada estratégia analisada, cada golpe desferido era um passo em direção a isso.
Naquele instante, enquanto os primeiros raios de sol rompiam o horizonte, Matteo varreu o olhar pelo campo de treinamento deserto. Observou os homens que começavam a chegar e em cada um deles, viu muito mais do que rostos familiares, enxergou a própria responsabilidade: seu destino.
Uma certeza inquebrantável tomou conta de seu peito: ele não apenas honraria o legado da Cosa Nostra, mas o ergueria a alturas que ninguém jamais ousara sonhar.
Naquele amanhecer, ficou claro que o verdadeiro desafio não seria apenas suceder seu pai, mas moldar o mundo ao redor do seu nome, como jamais havia sido feito antes.
A noite havia caído sobre a propriedade da Cosa Nostra, envolvendo o ambiente em uma penumbra dourada, criada pelas luzes baixas das lanternas espalhadas pelos jardins. O treinamento havia terminado e a maioria dos membros da casa já se recolheram para a segurança das muralhas. Aurora permanecia no terraço, observando o céu estrelado. A brisa noturna fazia seus cabelos negros dançarem suavemente, enquanto ela observava a lua. Matteo apareceu silenciosamente atrás dela, como uma sombra. Mesmo sem ouvir seus passos, Aurora sentiu sua presença. Ele sempre tinha aquele efeito, não precisava de palavras para preencher o espaço. Era como se o ar ao redor dele fosse diferente, mais denso, mais carregado de algo que ela não conseguia definir.— Não esperava encontrar você aqui a essa hora. — disse ele com sua voz baixa e grave cortando o silêncio.Aurora virou-se devagar, encontrando os olhos dele. Havia algo intenso no olhar de Matteo, algo que a deixava desconcertada, mas que ela não podi
Aurora DemetriouAs memórias da minha infância na Grécia eram como ecos em minha mente. Saí de lá muito pequena. O cheiro do Agapanto me transportava para o jardim que meu pai havia construído, especialmente, em homenagem à minha mãe. O carinho dela ao falar sobre o amor que sentia por ele sempre me fazia sorrir involuntariamente. Lembro-me de como o rosto do meu pai se iluminava com um sorriso genuíno, algo raro, mas que deixava evidente a paixão que existia entre eles. “Ele não é um homem cruel”, eu pensava, “mas se esforça para manter esse estereótipo.” A lembrança dos meus pais me deixava confusa. Seria egoísmo meu, sentir saudades deles, mesmo tendo encontrado uma nova família aqui? Pode até parecer, mas a verdade é que sou imensamente abençoada. Eu poderia ser maltratada, mesmo estando na posição que estou, mas o que encontrei na Itália foi completamente o contrário. Encontrei uma segunda família, um outro lugar para chamar de meu. Meus dois pais se esforçam para não deixar
Aurora Demetriou— “Vamos relaxar, Aurora. O sol está perfeito para uma tarde na piscina!” — chamou Ava com um sorriso iluminando seu rosto e os olhos reluzentes como estrelas sob o calor da noite. Havíamos voltado da Grécia no último final de semana. Eu estava com quinze anos e sabia que naquele verão, de alguma forma, começaria a moldar toda a minha vida, dali para frente.Desde nossa volta, Matteo parecia diferente. O olhar que antes me era tão acolhedor agora surgia esquivo e distante, como se estivesse guardando segredos que eu ainda não podia compreender.Eu já notava as mudanças, antes mesmo de embarcarmos. As noites que costumávamos compartilhar, aquelas em que eu me esgueirava para sua cama em busca de conforto durante as tempestades ou as noites inquietas, agora eram apenas memórias. A promessa que ele me fez logo que cheguei na Itália, quando tinha quatro anos, ecoava em minha mente: “Eu sempre vou cuidar de você, Aurora. Você pode contar comigo para qualquer coisa.” Infe
Aurora DemetriouQuando Matteo e os outros finalmente conseguiram suas carteiras de motorista, a dinâmica mudou. Agora, eles se organizavam em duplas para ir ao colégio. Vincenzo e Ekaterina costumavam montar na Ducati V4S vermelha do herdeiro Ferrari. Embora brigassem como um casal em desavença, ambos eram teimosos o suficiente para não se separarem. Ava, por outro lado, era um pouco mais dramática e manipuladora, uma verdadeira mestra na arte de conseguir tudo o que queria de Giuseppe, mesmo que isso significasse acabar com sua paz. Houve uma vez em que os dois travaram uma guerra fria que preocupou até os adultos. Ava ficou quase um mês ignorando o namorado, ao ponto de ir sozinha para a escola em seu carro esportivo, um impressionante McLaren 720S rosa, presente de nosso pai quando completou dezesseis anos. No final, os dois se resolveram e o motivo da briga permanece um mistério até hoje.Eu decidi que iria com Kō. Ele me acompanhava e me protegia desde que me mudei para a Itáli
O mundo ao meu redor está mergulhado em um silêncio agonizante, mas dentro de mim, há fogo. Um incêndio que consome tudo, uma fúria que se espalha como veneno em minhas veias.Estou parado no centro do quarto, o mesmo quarto onde, há poucas horas, me preparei para o dia mais importante da minha vida. Onde deveria estar agora, trazendo Aurora nos braços, sentindo seu perfume misturado ao meu, saboreando a mulher que sempre foi minha.Mas ela não está aqui e isso me destrói.Meus punhos estão cerrados com tanta força que as juntas estão esbranquiçadas, a dor é a única coisa que me mantém no presente. O que vejo refletido no espelho não é o homem que caminhou até aquele altar, vestindo um terno impecável e carregando no peito a promessa de um futuro.Esse homem morreu.O que existe agora é um predador, um homem forjado no aço, um herdeiro treinado para destruir quem ousar atravessar seu caminho.Fecho os olhos por um segundo e tudo o que vejo é Aurora.Seu sorriso. Seu olhar brilhante qu