Aurora Demetriou
— “Vamos relaxar, Aurora. O sol está perfeito para uma tarde na piscina!” — chamou Ava com um sorriso iluminando seu rosto e os olhos reluzentes como estrelas sob o calor da noite.
Havíamos voltado da Grécia no último final de semana. Eu estava com quinze anos e sabia que naquele verão, de alguma forma, começaria a moldar toda a minha vida, dali para frente.
Desde nossa volta, Matteo parecia diferente. O olhar que antes me era tão acolhedor agora surgia esquivo e distante, como se estivesse guardando segredos que eu ainda não podia compreender.
Eu já notava as mudanças, antes mesmo de embarcarmos. As noites que costumávamos compartilhar, aquelas em que eu me esgueirava para sua cama em busca de conforto durante as tempestades ou as noites inquietas, agora eram apenas memórias.
A promessa que ele me fez logo que cheguei na Itália, quando tinha quatro anos, ecoava em minha mente: “Eu sempre vou cuidar de você, Aurora. Você pode contar comigo para qualquer coisa.” Infelizmente, aquelas palavras ficaram em um passado distante.
O Matteo que eu conheci havia mudado. Seus cabelos dourados e compridos agora estavam cortados de forma despojada e brincos de ouro brilhavam em suas orelhas, refletindo o sol da tarde. Seus olhos azuis, antes infantis, agora reluziam como um céu ensolarado e seus lábios, antes simples, pareciam carregar um desejo que me deixava perplexa.
Ele cresceu e eu percebi que a diferença física entre nós se tornava cada vez mais evidente: de um metro e meio, ele agora alcançava quase um metro e noventa.
Com todas essas mudanças, eu me sentia cada vez mais sozinha.
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Ava e Giuseppe eram um espetáculo à parte, brigavam a cada cinco segundos, mas sempre terminavam juntos, como se a briga fosse apenas uma dança familiar entre eles. Giuseppe, mesmo com sua expressão carrancuda, tinha uma gentileza que surgia como um eclipse: rara e muitas vezes ignorada.
Cheguei aos meus dezesseis anos e já era capaz de compreender a pressão que os meninos da máfia enfrentavam,uma carga que os mantinha em constante vigilância. Mesmo assim, Vincenzo e Ekaterina seguiam a mesma dinâmica, um casal que se completava de forma intrigante.
O destino parecia ter um gosto cruel, brindando os outros com um romantismo que eu não experimentava mais. Para eles, cada sorriso ou gesto gentil era um momento especial, enquanto para mim e Matteo, era como se estivéssemos em uma sala cheia de ecos vazios.
— “Saiam da frente!” — a voz de Giuseppe cortou meus pensamentos.
Ele saltou na piscina, segurando Ava em seus braços. O impacto fez a água espirrar e Ekaterina resmungou enquanto Vincenzo sorria, com um olhar divertido. Eu me apoiei na borda da piscina, buscando um espaço sob a sombra, onde poderia observar a cena com um misto de saudade e melancolia.
O dia estava lindo, mas uma saudade silenciosa se aninhava em meu peito. Meus pais estavam juntos novamente após quinze dias de separação por conta de uma viagem que meu pai Vittorio e Matteo fizeram, mesmo assim eu sentia a falta dele, estava distante por motivos que eu não compreendia completamente.
— Aurora? – a voz de Matteo me trouxe de volta à realidade.
Ele sentou ao meu lado, mas havia uma distância invisível entre nós. Seus dedos se enroscaram em meus cabelos, como costumava fazer e seus lábios tocaram minha testa por um tempo que parecia longo e doloroso. A ausência de seu toque quente deixou um vazio em mim, mas eu guardei essa sensação apenas para mim.
— Aconteceu alguma coisa? – perguntei, olhando para meus pés submersos na água.
O silêncio se instalou e eu pude vê-lo molhar as calças pretas até os joelhos, a água refletindo a luz do sol de forma hipnotizante. O colar com o símbolo da minha família brilhava em seu peito, um lembrete de um vínculo que compartilhamos desde meu aniversário de oito anos. Era o símbolo de nossa promessa, porém, a troca de presentes parecia ter perdido o significado com o passar dos anos.
Ficamos ali sem nada falar, até que, finalmente, nossos dedos se tocaram, um breve momento de conforto que logo se desfez, como uma bolha prestes a estourar.
— Senti sua falta – Matteo disse, quebrando o silêncio.
Assenti, sentindo o mesmo, mas não consegui dizer nenhuma palavra.
— Que tal um filme mais tarde? — ele perguntou, seus olhos azuis buscaram os meus pela primeira vez em dias.
Levantei meu rosto o encarando, tento decifrar o que ele realmente sente, mas não consigo. Decidi sorrir gentilmente e assentir. Então, ele se levantou, voltando-se para os outros e a sensação de que estávamos apenas jogando um papel começou a me consumir.
O que antes era natural entre nós agora parecia forçado, como se estivéssemos sempre pisando em minas terrestres, quando o assunto era nós.
Mais tarde, assistimos a um filme de ação, mas ao invés de nos aproximar, éramos cada vez mais estranhos um para o outro. O contato que antes era espontâneo se tornara escasso, quase um ritual obrigatório.
“Um dia, Aurora. Quando nós dois tivermos idade e formos adultos, nós iremos nos casar!”
Aquela frase, outrora cheia de esperança, hoje ecoava em minha mente como uma memória esquecida. O que antes simbolizava promessas inocentes, agora parecia apenas um ruído distante. Todos mudamos, não só por fora, mas em cada pedaço de quem somos.
Enquanto Ava exibia um quarto que refletia a nova mulher em que se tornara e Ekaterina florescia em um brilho quase hipnótico, eu ainda me debatia para encontrar meu lugar.
O mundo ao meu redor se enchia de beleza e poder, avançando com passos firmes. Já eu, sozinha em meio a tantos rostos, me perguntava:
“Até quando continuaria vagando, sem que ninguém percebesse o meu vazio?”
Aurora DemetriouQuando Matteo e os outros finalmente conseguiram suas carteiras de motorista, a dinâmica mudou. Agora, eles se organizavam em duplas para ir ao colégio. Vincenzo e Ekaterina costumavam montar na Ducati V4S vermelha do herdeiro Ferrari. Embora brigassem como um casal em desavença, ambos eram teimosos o suficiente para não se separarem. Ava, por outro lado, era um pouco mais dramática e manipuladora, uma verdadeira mestra na arte de conseguir tudo o que queria de Giuseppe, mesmo que isso significasse acabar com sua paz. Houve uma vez em que os dois travaram uma guerra fria que preocupou até os adultos. Ava ficou quase um mês ignorando o namorado, ao ponto de ir sozinha para a escola em seu carro esportivo, um impressionante McLaren 720S rosa, presente de nosso pai quando completou dezesseis anos. No final, os dois se resolveram e o motivo da briga permanece um mistério até hoje.Eu decidi que iria com Kō. Ele me acompanhava e me protegia desde que me mudei para a Itáli
A sala de reuniões da propriedade da Cosa Nostra era um espaço imponente, decorado com móveis de madeira maciça, um lustre de ferro forjado e tapeçarias que carregavam o brasão da família.O ar estava carregado com o aroma de charutos e uísque, típicos dos encontros entre os homens que comandavam o império. Vittorio estava sentado na cabeceira da longa mesa, com uma expressão calma, mas atenta. Luca estava ao seu lado esquerdo, enquanto Alonso ocupava a cadeira à direita.Um silêncio confortável pairava no ar antes que Alonso, o concierge, inclinasse levemente para frente e quebrasse o silêncio.— Matteo tem se mostrado diferente, Vittorio. N&atil
Matteo entra em casa exausto, o suor da camisa já seco depois de horas no treino. Cada músculo do corpo pesava, mas a mente estava ainda mais cansada. Ele caminhou pelo corredor, a mochila pendendo no ombro, quando seus olhos encontram a porta do quarto de Aurora, o fazendo parar. Encarou a porta e um turbilhão de sensações invadiram o seu peito, um misto de ansiedade, saudade e desejo.Sentiu o corredor parecer mais estreito e sufocante, só de imaginar que por trás daquela porta ela estava.“Será que estava bem?”“Será que sentia sua falta assim como ele sentia dela?” Aurora DemetriouAcordei mais cedo do que de costume, na verdade nem preguei os olhos. Pensei a noite inteira em Matteo e na maneira que ele agia quando estava próximo de mim. Nesses últimos dois anos muita coisa mudou, antes compartilhamos momentos juntos, meu quarto era apenas meu durante o dia, pois as noites, era na cama dele que me encontrava. Dormir sentindo as batidas de seu coração era como uma droga para mim, mas tudo mudou e eu nem sei porquê.Hoje, decidi mudar.O fato dele ter me ignorado ontem, só comprovou aquilo que eu já suspeitava. Ele está arrependido e não sabe como desfazer esse acordo, mas encontrarei uma maneira de resolver isso. Vou libertá-lo. Ele não será obrigado Capítulo 08 - Hora de mudar
Matteo MorettiA cada dia que passa, está cada vez mais difícil lidar com o que sinto. Quando estou ao lado dela, sinto que não consigo ser eu mesmo. É como se uma força invisível me puxasse em direções opostas, a vontade de abraçá-la, de beijá-la, de fazer amor com ela, mas ao mesmo tempo, a certeza de que não posso, não ainda.Lembro-me do início, quando tudo era mais simples. A primeira vez que a vi, ela entrou pela porta, tão frágil, tão indefesa, tão amedrontada. Por muito tempo, odiei tudo o que a obrigaram a fazer.Não era para ser assim!Ninguém deveria forçar uma mulher a casar co
Matteo MorettiHoje, com 18 anos, meu corpo mudou. Estou mais alto, mais forte, minha voz engrossou e meus olhos estão cada vez mais azuis. Muitas mulheres me olham com desejo e eu sinto vontade de transar. Tem sido difícil para mim, mas não quero ninguém além da Aurora. Meu corpo reage de maneira diferente quando estou perto dela. Só ela consegue isso em mim.Já tenho algumas tatuagens que marcam a minha identidade como herdeiro. Treinei exaustivamente e recentemente descobri um lado sombrio dentro de mim. Segundo meu pai, herdei essa frieza dele e isso é necessário para proteger quem amo. Só de imaginar alguém machucando minha pequena, sinto meu sangue ferver.Na frente da Aurora, sou apenas Matteo, mas as pessoas ao meu redor sabem q
Matteo MorettiFoda-se a máfiaFodam-se todosEu a amo e a quero felizMesmo que seja longe de mim…Estou extremamente irritado.Tento controlar o turbilhão que se assola dentro do meu peito. Se existe uma coisa que sei fazer muito bem, é controlar os meus sentimentos, isso com toda certeza herdei do meu pai pois, segundo Ravena, meu avô era temperamental demais.Enquanto todo o meu corpo explode ansiando algo que nunca tive, tenho que aturar Giuseppe e Ava se pegando o tempo inteiro. Caralho, eles não respeitam nem a mim, nem ao
Matteo MorettiDesci do carro furioso e bati a porta com força, indo em direção aos meus amigos. Vincenzo estava ao lado de Giuseppe, envolvidos em uma discussão calorosa. Antes de chegar até eles, escutei a voz irritante da Silvia.“Que garota irritante do caralho!!” — pensei tentando me controlar.Detesto essa menina, ela vive se oferecendo para mim como uma puta e se existe uma coisa que abomino na minha vida é garota desse tipo, mas preciso controlar a minha fúria e não posso perder a cabeça com uma mulher, jamais quebraria uma promessa que fiz a minha mãe, apesar de me tornar um mafioso, jamais seria hostil