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Capítulo 04 - Porque tudo mudou?

Aurora Demetriou

“Vamos relaxar, Aurora. O sol está perfeito para uma tarde na piscina!” — chamou Ava com um sorriso iluminando seu rosto e os olhos reluzentes como estrelas sob o calor da noite. 

Havíamos voltado da Grécia no último final de semana. Eu estava com quinze anos e sabia que naquele verão, de alguma forma, começaria a moldar toda a minha vida, dali para frente.

Desde nossa volta, Matteo parecia diferente. O olhar que antes me era tão acolhedor agora surgia esquivo e distante, como se estivesse guardando segredos que eu ainda não podia compreender.

Eu já notava as mudanças, antes mesmo de embarcarmos. As noites que costumávamos compartilhar, aquelas em que eu me esgueirava para sua cama em busca de conforto durante as tempestades ou as noites inquietas, agora eram apenas memórias. 

A promessa que ele me fez logo que cheguei na Itália, quando tinha quatro anos, ecoava em minha mente: “Eu sempre vou cuidar de você, Aurora. Você pode contar comigo para qualquer coisa.” Infelizmente, aquelas palavras ficaram em um passado distante.

O Matteo que eu conheci havia mudado. Seus cabelos dourados e compridos agora estavam cortados de forma despojada e brincos de ouro brilhavam em suas orelhas, refletindo o sol da tarde. Seus olhos azuis, antes infantis, agora reluziam como um céu ensolarado e seus lábios, antes simples, pareciam carregar um desejo que me deixava perplexa. 

Ele cresceu e eu percebi que a diferença física entre nós se tornava cada vez mais evidente: de um metro e meio, ele agora alcançava quase um metro e noventa. 

Com todas essas mudanças, eu me sentia cada vez mais sozinha.

✲ ✲ ✲

Ava e Giuseppe eram um espetáculo à parte, brigavam a cada cinco segundos, mas sempre terminavam juntos, como se a briga fosse apenas uma dança familiar entre eles. Giuseppe, mesmo com sua expressão carrancuda, tinha uma gentileza que surgia como um eclipse: rara e muitas vezes ignorada. 

Cheguei aos meus dezesseis anos e já era capaz de compreender a pressão que os meninos da máfia enfrentavam,uma carga que os mantinha em constante vigilância. Mesmo assim, Vincenzo e Ekaterina seguiam a mesma dinâmica, um casal que se completava de forma intrigante.

O destino parecia ter um gosto cruel, brindando os outros com um romantismo que eu não experimentava mais. Para eles, cada sorriso ou gesto gentil era um momento especial, enquanto para mim e Matteo, era como se estivéssemos em uma sala cheia de ecos vazios.

“Saiam da frente!” — a voz de Giuseppe cortou meus pensamentos. 

Ele saltou na piscina, segurando Ava em seus braços. O impacto fez a água espirrar e Ekaterina resmungou enquanto Vincenzo sorria, com um olhar divertido. Eu me apoiei na borda da piscina, buscando um espaço sob a sombra, onde poderia observar a cena com um misto de saudade e melancolia. 

O dia estava lindo, mas uma saudade silenciosa se aninhava em meu peito. Meus pais estavam juntos novamente após quinze dias de separação por conta de uma viagem que meu pai Vittorio e Matteo fizeram, mesmo assim eu sentia a falta dele, estava distante por motivos que eu não compreendia completamente. 

Aurora? – a voz de Matteo me trouxe de volta à realidade. 

Ele sentou ao meu lado, mas havia uma distância invisível entre nós. Seus dedos se enroscaram em meus cabelos, como costumava fazer e seus lábios tocaram minha testa por um tempo que parecia longo e doloroso. A ausência de seu toque quente deixou um vazio em mim, mas eu guardei essa sensação apenas para mim.

Aconteceu alguma coisa? – perguntei, olhando para meus pés submersos na água. 

O silêncio se instalou e eu pude vê-lo molhar as calças pretas até os joelhos, a água refletindo a luz do sol de forma hipnotizante. O colar com o símbolo da minha família brilhava em seu peito, um lembrete de um vínculo que compartilhamos desde meu aniversário de oito anos. Era o símbolo de nossa promessa, porém, a troca de presentes parecia ter perdido o significado com o passar dos anos. 

Ficamos ali sem nada falar, até que, finalmente, nossos dedos se tocaram, um breve momento de conforto que logo se desfez, como uma bolha prestes a estourar.

Senti sua falta – Matteo disse, quebrando o silêncio. 

Assenti, sentindo o mesmo, mas não consegui dizer nenhuma palavra. 

Que tal um filme mais tarde? —  ele perguntou, seus olhos azuis buscaram os meus pela primeira vez em dias. 

Levantei meu rosto o encarando, tento decifrar o que ele realmente sente, mas não consigo. Decidi sorrir gentilmente e assentir. Então, ele se levantou, voltando-se para os outros e a sensação de que estávamos apenas jogando um papel começou a me consumir. 

O que antes era natural entre nós agora parecia forçado, como se estivéssemos sempre pisando em minas terrestres, quando o assunto era nós.

Mais tarde, assistimos a um filme de ação, mas ao invés de nos aproximar, éramos cada vez mais estranhos um para o outro. O contato que antes era espontâneo se tornara escasso, quase um ritual obrigatório. 

Um dia, Aurora. Quando nós dois tivermos idade e formos adultos, nós iremos nos casar!”

Aquela frase, outrora cheia de esperança, hoje ecoava em minha mente como uma memória esquecida. O que antes simbolizava promessas inocentes, agora parecia apenas um ruído distante. Todos mudamos, não só por fora, mas em cada pedaço de quem somos. 

Enquanto Ava exibia um quarto que refletia a nova mulher em que se tornara e Ekaterina florescia em um brilho quase hipnótico, eu ainda me debatia para encontrar meu lugar.

O mundo ao meu redor se enchia de beleza e poder, avançando com passos firmes. Já eu, sozinha em meio a tantos rostos, me perguntava: 

“Até quando continuaria vagando, sem que ninguém percebesse o meu vazio?”

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