Velasco e o pai de Bianca foram a Lá Union. Quando lá chegaram, se depararam com Olivares e outros três diretores da fundação Hermann, que já cuidavam da liberação do corpo de Consuelo. Junto deles, o carro e agentes funerários da capital argentina.- Obrigada por cuidar de tudo, querido.- Não se preocupe, Bianca. Falamos com as autoridades da capital e sua tia terá todas os preparativos necessários, nessa hora difícil. - Certo. O presidente me ligou e ofereceu o salão nobre da sede do governo, na Casa Rosada, para o funeral mas disse que o melhor lugar ainda é na fundação que ela amava.- Justo, apesar de sua tia ter sido vereadora e deputada, era a figura maior da fundação Hermann. Estou no IML de Lá Union. Logo será liberado o corpo.- Velasco, que bom ter você do meu lado. Vou me deitar pois estou grogue pelos remédios.- Repouse, Bianca. Beijos.Apollo ligou e conseguiu um vôo para Buenos Aires.- Sairemos às dezenove horas, Jheniffer.- Perfeito, amor. Coloquei seu terno pret
Apollo colocou a mala sobre a cama do quarto de hotel.- Não é melhor ligar pra mansão e anunciar a nossa chegada?- Ah, não mesmo, Jheniffer. Consuelo já havia se mudado para uma casa menor. Pra falar a verdade, nem sei onde estava ultimamente. Bianca e a família se mudaram pra mansão, após a saída de Consuelo da presidência.- Puxa. Deve ter alguém da fundação, um empregado pra dar alguma notícia. Estamos no escuro.- Estamos a par pelas redes sociais.- Nesses casos, a polícia faz uma averiguação da área do desastre, junto com a marinha, eu creio. Os corpos devem ser periciados antes da liberação a funerária e posteriormente a família. Não é tão simples.Apollo pegou o celular.- Me deu uma ótima idéia, Jheniffer.Ele ligou. Apollo deixou o aparelho no viva voz.- Pronto. Aguirre.- Olá, meu caro. - Quem fala?- Não conhece mais a minha voz? Puxa, magoei.- Apollo?- O mesmo. Aguirre, velho amigo.- Puxa vida. Me perdoe por não o reconhecer, senhor Apollo. Estou a base de remédios
Bianca e sua família não tinham muita informação sobre o andamento dos fatos em Lá Union. Nenhuma novidade sobre a liberação do corpo de Consuelo. - Não há muito o que fazer aqui, Damiana. - Verdade, Apollo. Vamos?- Sim. Vamos jantar.Eles se despediram e deixaram a mansão.- Bianca está pálida. Olheiras profundad de quem chorou muito.- Verdade, Jheniffer. Você foi muito atenciosa e carinho com ela.- Não tenho nada contra ela e nada a favor. É o momento difícil que está passando que respeito.- De fato. Tudo que ela aprendeu deve a Consuelo. A história na fundação, os estudos na Europa, as regalias. Consuelo a enchia de mimos e agrados.Eles chegaram ao restaurante.- Os refugiados estão preparando uma homenagem a Consuelo, segundo a Bianca.- Legal, Damiana. Há um grande telão, na sede da fundação. Podemos colocá-lo na sala nobre, onde certamente estará o caixão. Posso selecionar dezenas de fotos dela, com uma bela trilha sonora ao fundo.- Ótima idéia, Apollo. Sabe a música pr
A irmã de Consuelo chegou às sete horas. Esperança tinha setenta e um anos e morava em La Paz, na Bolívia. Estava com os três filhos. Ela foi recebida por Wesley e Vinícius. Os diretores e advogados da fundação estavam na primeira fila de cadeiras, junto às autoridades de Buenos Aires, em frente ao palco principal que receberia o caixão.- O telão vai começar a exibir as fotos.- Ainda bem, Apollo. Está um mercado de peixe, um falando mais alto que o outro.- Argentinos, Jheniffer. A maioria são descendentes de italianos, que falam alto e gesticulam por natureza. Assim que a música e as fotos começarem, o silêncio vai imperar. Assim espero.- Já não deveria ter chegado o caixão?- Pelas previsões, já era pra estar aqui. Certamente farão uma breve despedida, com o enterro a tardezinha.- No cemitério de Lá Recoleta, onde está a Manoela, sua ex esposa e filha de Consuelo?- Exato. No belo mausoléu da família Hermann, onde está o bom e velho Salomão. Que ironia, visitamos o túmulo de Ma
Algumas autoridades falaram ao microfone. Bianca foi a última a falar. Fez um discurso no improviso, tomada pela emoção.- Eu acho que todos já disseram sobre a grande pessoa que era a minha tia. Realmente era grande. Apollo fez um discurso lindo, muito propício e profundo. Obrigada, Apollo. Você e titia formaram uma dupla de sucesso na fundação. Eu a admirava muito mesmo, queria ser igual a ela. Se eu conseguir ser cinco por cento da empresária que era, serei um sucesso. Se conseguir ser cinco por cento da pessoa humana que ela era, serei muito feliz. Minha mãe sempre dizia que eu era filha dela, filha de alma. Realmente, ela me adotou, pagou meus estudos e me fez participante da fundação. Uma pena que seus tempos de descanso tenham sido tão curtos. Uma tragédia abateu-se sobre nós. Uma tempestade forte mas que vai passar. Nunca vamos superar essa perda, esse vazio enorme de chegar aqui e não a ver mais. Nome de rua, de praça, de escola será pouco pra homenagear essa grande mulher
- Demorei, querido?- Até que não. Renata e Humberto passaram por aqui e me cumprimentaram. Deixaram um abraço.Jheniffer sentou-se. O refeitório estava mais cheio. Apollo a encarou.- Você está diferente.- Estou é? Como assim?- Está com aquele olhar de suspense, não sei explicar. Parece que viu um fantasma no banheiro.- Mais ou menos isso.Ela reparou que Bianca e Velasco estavam lanchando numa mesa. Do outro lado do salão, Renata, Humberto, Estela e Júlio César terminavam a refeição.- Peguei um refrigerante pra você. Está geladinho, como você gosta.- Muita obrigada. Já estou satisfeita, aquele molho não caiu legal no meu estômago.- Entendo. Por isso demorou no toalete.- Adivinhou. Vou lhe poupar dos detalhes e odores.- Muito gentil de sua parte. - Alguma novidade?- Sim. A família definiu que o enterro de Consuelo será as 17 horas, no cemitério de La Recoleta, no mausoléu da família. O corpo passou por perícia, pelos militares da marinha. Foi conservado para a despedida aqu
Os funcionários da funerária entraram no salão da fundação Hermann. Os familiares se reuniram em volta do caixão de Consuelo. Bianca e Velasco olharam pela última vez para a ex presidente. Jheniffer e Apollo quiseram se despedir e conseguiram ficar alguns segundos ali, diante dela. - Adeus, minha amiga e conselheira. Vai em paz.Disse Apollo, emocionado. Jheniffer pôs a mão sobre o vidro do caixão e orou em silêncio. Os fuzileiros chegaram e colocaram o caixão nos ombros, deixando o prédio sob aplausos.- Ela está deixando a sua casa, Vinícius.- Sim, Wesley. Titia deixa a fundação como seu mais importante legado. Quatro ônibus da fundação estavam a postos, para levar as pessoas até o cemitério, longe dali. Jheniffer, Apollo, Hendrigo e Damiana entraram num dos ônibus. Renata e Humberto pegaram carona no carro de Olivares. Estela e Júlio César entraram no carro de Tomasella. A chuva recomeçou, gelada e fina. O cortejo atrás do carro funerário, com a coroa de flores enviada pela pres
- Vamos voltar a fundação ou direto para o hotel?Apollo cutucou Jheniffer.- Quem?- Quem, cara pálida? Nós dois, oras.- Eu estava no mundo da lua, viajando na maionese.Hendrigo e Damiana se aproximaram.- Queridos, que acham de voltarmos ao hotel, daqui mesmo? A fundação estará fechada, por tempo indeterminado e não há nada pra fazer lá. Tomamos um táxi e vamos ao hotel descansar.- Pode ser, Hendrigo. Sua mãe deve estar cansada.- Sim. Não querem mesmo ir conosco a Mendoza?- Fica pra outra ocasião, Hendrigo. Já abusamos da sua hospitalidade, da outra vez.- As portas da vinícola estarão sempre abertas a vocês dois.- Eu sei disso.Damiana abraçou Jheniffer.- Não só as portas mas também os nossos corações. Estão arreganhados pra vocês, lindos.- Mamãe. Que linguagem fuleira é essa? Arreganhados. Cruzes.- Não vejo nada demais em falar assim, Drigo. Está mesmo, oras. Quando eu morrer, e não vai demorar, vou deixar meus bens às pessoas que fizeram bem, independente de serem parent