- Demorei, querido?- Até que não. Renata e Humberto passaram por aqui e me cumprimentaram. Deixaram um abraço.Jheniffer sentou-se. O refeitório estava mais cheio. Apollo a encarou.- Você está diferente.- Estou é? Como assim?- Está com aquele olhar de suspense, não sei explicar. Parece que viu um fantasma no banheiro.- Mais ou menos isso.Ela reparou que Bianca e Velasco estavam lanchando numa mesa. Do outro lado do salão, Renata, Humberto, Estela e Júlio César terminavam a refeição.- Peguei um refrigerante pra você. Está geladinho, como você gosta.- Muita obrigada. Já estou satisfeita, aquele molho não caiu legal no meu estômago.- Entendo. Por isso demorou no toalete.- Adivinhou. Vou lhe poupar dos detalhes e odores.- Muito gentil de sua parte. - Alguma novidade?- Sim. A família definiu que o enterro de Consuelo será as 17 horas, no cemitério de La Recoleta, no mausoléu da família. O corpo passou por perícia, pelos militares da marinha. Foi conservado para a despedida aqu
Os funcionários da funerária entraram no salão da fundação Hermann. Os familiares se reuniram em volta do caixão de Consuelo. Bianca e Velasco olharam pela última vez para a ex presidente. Jheniffer e Apollo quiseram se despedir e conseguiram ficar alguns segundos ali, diante dela. - Adeus, minha amiga e conselheira. Vai em paz.Disse Apollo, emocionado. Jheniffer pôs a mão sobre o vidro do caixão e orou em silêncio. Os fuzileiros chegaram e colocaram o caixão nos ombros, deixando o prédio sob aplausos.- Ela está deixando a sua casa, Vinícius.- Sim, Wesley. Titia deixa a fundação como seu mais importante legado. Quatro ônibus da fundação estavam a postos, para levar as pessoas até o cemitério, longe dali. Jheniffer, Apollo, Hendrigo e Damiana entraram num dos ônibus. Renata e Humberto pegaram carona no carro de Olivares. Estela e Júlio César entraram no carro de Tomasella. A chuva recomeçou, gelada e fina. O cortejo atrás do carro funerário, com a coroa de flores enviada pela pres
- Vamos voltar a fundação ou direto para o hotel?Apollo cutucou Jheniffer.- Quem?- Quem, cara pálida? Nós dois, oras.- Eu estava no mundo da lua, viajando na maionese.Hendrigo e Damiana se aproximaram.- Queridos, que acham de voltarmos ao hotel, daqui mesmo? A fundação estará fechada, por tempo indeterminado e não há nada pra fazer lá. Tomamos um táxi e vamos ao hotel descansar.- Pode ser, Hendrigo. Sua mãe deve estar cansada.- Sim. Não querem mesmo ir conosco a Mendoza?- Fica pra outra ocasião, Hendrigo. Já abusamos da sua hospitalidade, da outra vez.- As portas da vinícola estarão sempre abertas a vocês dois.- Eu sei disso.Damiana abraçou Jheniffer.- Não só as portas mas também os nossos corações. Estão arreganhados pra vocês, lindos.- Mamãe. Que linguagem fuleira é essa? Arreganhados. Cruzes.- Não vejo nada demais em falar assim, Drigo. Está mesmo, oras. Quando eu morrer, e não vai demorar, vou deixar meus bens às pessoas que fizeram bem, independente de serem parent
Jheniffer e Apollo deixaram o quarto. Ao chegarem ao restaurante do hotel, Hendrigo e Damiana os aguardavam.- Pedimos um vinho, pra começar.- Certo, Hendrigo. Confio no seu bom gosto.- Bom? Só bom? Sou dono de uma vinícola e acha só isso? Caiu na minha consideração, Apollo.- Você venceu. Confio no seu altíssimo grau em conhecimento de vinhos, meu irmão Hendrigo.- Melhorou. Muito obrigado. Deixou ao lindo casal a escolha do cardápio.- Certo. Vamos tentar agradar os paladares de vocês.- Depois do dia de hoje, um arroz e salada é motivo de agradecimento, Apollo.- Tem razão, Damiana. Precisamos comer bem pra continuar a jornada. Que esse jantar seja abençoado e em memória dela, a saudosa Consuelo.- Isso. Vamos nos lembrar pra sempre dela. Sorridente, trabalhadora incansável e amante dos vinhos e da boa gastronomia.- Isso a define, Damiana. Aquela mansão já conheceu grandes festas e banquetes memoráveis.Damiana ergueu a taça.- E não sei disso, rapaz? Paquerei muito alí, naquele
Estela bateu no rosto do esposo.- Júlio? Querido?Ela sorriu, maliciosa.- Apagou mesmo.Ela fechou a garrafa de vinho, levando-a para a cozinha. Jogou a caixa de suco no lixo e voltou ao quarto. Amarrou o roupão e pôs um boné na cabeça. Ela saiu na penumbra da casa. A porta da cozinha estava apenas encostada. O extenso jardim a sua frente era iluminado pela lua cheia. Estela enveredou pelas cercas vivas e plantas, sempre nas sombras até chegar ao local combinado com seu amante. Olhou e não viu nenhum segurança. Ela suspirou. Certamente, Velasco devia ter dispensado a vigilância, ao menos nos jardins. Ela entrou por entre os galhos e se escondeu.- Nossa, estou pregada, querido.- Pudera, Bianca. Foi um dia pesado, triste. Ei ainda não acredito.Ela bocejou e pegou a garrafa de água. Deu um gole e se deitou.- Ainda estou sob efeitos de remédios, amor? Titia Consuelo, quando ela volta?Velasco a abraçou.- Ela está bem, amor. Está viajando.- Sempre viajando. Vamos dormir.- Vamos.
A mansão no mais absoluto silêncio. Apesar do frio da madrugada, o fogo da paixão ardia entre os dois jovens no jardim. Protegidos pela vegetação densa da árvore muito bem podada, Estela e Velasco trocavam beijos calientes, levados pelo desejo ardente e a saudade entre eles. Um casal inimaginável. Cada um no seu relacionamento, em países diferentes e sem nenhum laço, sequer de amizade. Quem desconfiaria da relação deles? Durante anos se falavam por códigos e se encontravam pouco, no mais absoluto sigilo.- Quanta saudades.- Eu havia até me esquecido de seus beijos, Velasco.- Em breve ficaremos juntos, eu prometo.- Não prometa o que não pode cumprir. - Nosso plano está na etapa final. Iremos para Dubai, viver no palácio do meu amigo Hassam.- E as crianças?- Deixe-as com Júlio César, afinal ele cuidou muito bem delas até agora. Até as registrou e as amou como pai.- Você não presta.- Eu?Eles se entregaram de novo ao amor, como se fosse a primeira vez deles. Realmente, Estela era
Jheniffer e Apollo terminaram o café, com Hendrigo e Damiana, no restaurante do hotel, em Buenos Aires.- Nós já vamos pra casa.- Também iremos, daqui a pouco, Apollo.Ele abraçou Hendrigo. Jheniffer se levantou e abraçou Damiana, se despedindo.- Se cuida, Jheniffer.- Pode deixar, Damiana. Mande notícias.- Tenham uma ótima viagem. Não se esqueçam de nós.- Não vamos esquecer. Conte com isso.Hendrigo se despediu de Jheniffer. Apollo abraçou Damiana.- Vão mesmo de trem pra Mendoza?- Simz Apollo. É uma viagem longa porém glamourosa e bela. As paisagens são incríveis e quando vemos a cordilheira, dá uma sensação de paz.- Sei. Diz essa viagem há muito tempo.Hendrigo interrompeu.- Da próxima vez, vão de trem, oras. Que acha, Jheniffer?- Sensacional, amigo. Frequentar o vagão restaurante, andar pelo trem e ver as paisagens, ao lado de Apollo. Seria fantástico e já está na minha agenda.- A vinícola e a nossa casa estão a disposição de vocês. Quando quiserem, apareçam.Jheniffer e A
Bianca despertou.- Amor. Que horas são?- Dez da manhã, minha linda. Bom dia.- Bom dia. Você está acordado desde quando?- Eu? Desde umas nove horas, querida. Rolando na cama igual salsicha na grelha, de um lado pra outro e o sono se foi. Fiquei quietinho do seu lado, olhando você dormindo igual uma princesa.Mentiu.- Dormindo nada, apagada. Minha cabeça está rodando, sabia?- Acredito. Ontem foi um dia intenso.- Ainda não acredito que a titia se foi.- Por isso estava a base de remédios, amor. Um choque tremendo pra nossa família.- Eu queria ter a sua força.- Também desabei, não sou de ferro. Chorei muito no banheiro, escondido. Quando o caixão chega e quando desce a sepultura são os momentos que me derrubam e perco o chão. Não há ser humano que aguente.Eles se abraçaram. O estômago dela roncou.- Alguém está com fome aqui. A vida segue seu fluxo, querida. Tem que se alimentar pra seguir o trabalho dela na fundação.- Isso é verdade. É uma bênção ter você aqui, ao meu lado. Pa