Estela bateu no rosto do esposo.- Júlio? Querido?Ela sorriu, maliciosa.- Apagou mesmo.Ela fechou a garrafa de vinho, levando-a para a cozinha. Jogou a caixa de suco no lixo e voltou ao quarto. Amarrou o roupão e pôs um boné na cabeça. Ela saiu na penumbra da casa. A porta da cozinha estava apenas encostada. O extenso jardim a sua frente era iluminado pela lua cheia. Estela enveredou pelas cercas vivas e plantas, sempre nas sombras até chegar ao local combinado com seu amante. Olhou e não viu nenhum segurança. Ela suspirou. Certamente, Velasco devia ter dispensado a vigilância, ao menos nos jardins. Ela entrou por entre os galhos e se escondeu.- Nossa, estou pregada, querido.- Pudera, Bianca. Foi um dia pesado, triste. Ei ainda não acredito.Ela bocejou e pegou a garrafa de água. Deu um gole e se deitou.- Ainda estou sob efeitos de remédios, amor? Titia Consuelo, quando ela volta?Velasco a abraçou.- Ela está bem, amor. Está viajando.- Sempre viajando. Vamos dormir.- Vamos.
A mansão no mais absoluto silêncio. Apesar do frio da madrugada, o fogo da paixão ardia entre os dois jovens no jardim. Protegidos pela vegetação densa da árvore muito bem podada, Estela e Velasco trocavam beijos calientes, levados pelo desejo ardente e a saudade entre eles. Um casal inimaginável. Cada um no seu relacionamento, em países diferentes e sem nenhum laço, sequer de amizade. Quem desconfiaria da relação deles? Durante anos se falavam por códigos e se encontravam pouco, no mais absoluto sigilo.- Quanta saudades.- Eu havia até me esquecido de seus beijos, Velasco.- Em breve ficaremos juntos, eu prometo.- Não prometa o que não pode cumprir. - Nosso plano está na etapa final. Iremos para Dubai, viver no palácio do meu amigo Hassam.- E as crianças?- Deixe-as com Júlio César, afinal ele cuidou muito bem delas até agora. Até as registrou e as amou como pai.- Você não presta.- Eu?Eles se entregaram de novo ao amor, como se fosse a primeira vez deles. Realmente, Estela era
Jheniffer e Apollo terminaram o café, com Hendrigo e Damiana, no restaurante do hotel, em Buenos Aires.- Nós já vamos pra casa.- Também iremos, daqui a pouco, Apollo.Ele abraçou Hendrigo. Jheniffer se levantou e abraçou Damiana, se despedindo.- Se cuida, Jheniffer.- Pode deixar, Damiana. Mande notícias.- Tenham uma ótima viagem. Não se esqueçam de nós.- Não vamos esquecer. Conte com isso.Hendrigo se despediu de Jheniffer. Apollo abraçou Damiana.- Vão mesmo de trem pra Mendoza?- Simz Apollo. É uma viagem longa porém glamourosa e bela. As paisagens são incríveis e quando vemos a cordilheira, dá uma sensação de paz.- Sei. Diz essa viagem há muito tempo.Hendrigo interrompeu.- Da próxima vez, vão de trem, oras. Que acha, Jheniffer?- Sensacional, amigo. Frequentar o vagão restaurante, andar pelo trem e ver as paisagens, ao lado de Apollo. Seria fantástico e já está na minha agenda.- A vinícola e a nossa casa estão a disposição de vocês. Quando quiserem, apareçam.Jheniffer e A
Bianca despertou.- Amor. Que horas são?- Dez da manhã, minha linda. Bom dia.- Bom dia. Você está acordado desde quando?- Eu? Desde umas nove horas, querida. Rolando na cama igual salsicha na grelha, de um lado pra outro e o sono se foi. Fiquei quietinho do seu lado, olhando você dormindo igual uma princesa.Mentiu.- Dormindo nada, apagada. Minha cabeça está rodando, sabia?- Acredito. Ontem foi um dia intenso.- Ainda não acredito que a titia se foi.- Por isso estava a base de remédios, amor. Um choque tremendo pra nossa família.- Eu queria ter a sua força.- Também desabei, não sou de ferro. Chorei muito no banheiro, escondido. Quando o caixão chega e quando desce a sepultura são os momentos que me derrubam e perco o chão. Não há ser humano que aguente.Eles se abraçaram. O estômago dela roncou.- Alguém está com fome aqui. A vida segue seu fluxo, querida. Tem que se alimentar pra seguir o trabalho dela na fundação.- Isso é verdade. É uma bênção ter você aqui, ao meu lado. Pa
Jheniffer e Apollo deixaram o aeroporto de Guarulhos. Ele de blazer azul marinho, ela de vestido amarelo. O casal saiu, puxando as malas de rodinhas. A área externa, os táxis a disposição.- Como é bom pisar na terrinha!- Verdade, querido. Não há melhor sensação do que estar em casa, no país da gente.Eles tomaram um táxi. Em quarenta minutos, estavam no condomínio.- Dessa vez, nenhuma garrafa de vinho na mala.- Sim, querida. Só vazio, tristeza e saudade da nossa Consuelo.- Isso poderia ser um pesadelo. Uma experiência vivida num universo paralelo, fora da realidade. A gente acordaria e ela estaria viva, cheia de vida.- Com certeza, só que não. Não foi ficção de cinema, é real. Jheniffer e Apollo deixaram o elevador. Ela abriu a porta do apê.- Como sempre, a casa está limpa e cheirosa. Graças a dona Celeste.- Verdade. Tenho que depositar o salário dela. Passamos os últimos dias viajando mas mesmo assim, ela veio e limpou tudo.- Temos que dar um presente ao Nascimento, que fic
Renata e Humberto desceram para o almoço. Bianca e Velasco conversavam, na sala de estar. Os pais de Bianca mostravam fotos antigas da família para Estela e Júlio César. Wesley e Vinícius chegaram.- Almoçam conosco?- O cheiro está maravilhoso, prima. Não vamos recusar o convite.Respondeu Wesley, esfregando as mãos. Vinícius chamou Bianca a parte.- O advogado da titia disse que ela mudou o testamento. Você está a par?- Fiquei sabendo disso, meio que por cima, sem tantos detalhes. Que seja feita a vontade dela.- Está certo, Bianca. O dinheiro era dela e do tio Salomão, afinal. Sabia que não ia se opor a isso.- Jamais. Não haveria motivos. - Ela deixou uma boa soma às instituições de caridade, aos amigos e funcionários da mansão, os que a serviram por tanto tempo.- Bem a cara dela, caridosa e benfeitora.- Entre os amigos está o Apollo. Deixou alguns milhões a ele.Bianca disfarçou a surpresa.- Justo. Eram sogra e genro. Além disso, ele conduziu a fundação por muito tempo, faze
A Van da fundação Hermann chegou a mansão. Estela foi ao quarto de Renata e Humberto.- Boa tarde. Com licença e já entrando. Estamos indo ao cemitério de Lá Recoleta.Renata estava deitada, relaxada entre as almofadas e com Humberto aos seus pés, lhe fazendo massagem.- Almoçamos a pouco tempo, Estela. Nem fizemos a digestão.- O almoço foi a uma hora, Renatinha. A Van nos espera. Todos vão e ficará feio se a gente não for visitar o túmulo da falecida Consuelo. - Nosso vôo sairá a noite, vai dar tempo?Perguntou Humberto, sem a mínima disposição de sair.- Voltaremos antes das dezesseis horas, querido. Tomamos o café da tarde, a tempo de arrumar as malas para o aeroporto. Não se preocupe.- Tudo bem, nós vamos. Estamos nas suas mãos, Estela.- Vocês dois têm dez minutos.- Está bem, já vamos descer.Estela saiu e fechou a porta.- Reparou como ela se transforma, longe do Brasil? Parece outra pessoa, Rê.- Não tinha reparado mas depois da nossa conversa, começo a crer que essa santa
Após o lanche da tarde, nos jardins da mansão, Renata e Humberto subiram ao quarto.- Os pais da Bianca são gente boa mas aquele irmão dela, não desce.- Eu o achei legal, Humberto. Você encanou com o moço.- Encanei, foi? Está na cara que é um sanguessuga desocupado que vive as custas da irmã. Estou fazendo faculdade, ele fala com a boca cheia. Sei a faculdade que está fazendo, de pilantragem.- Humberto, você está ácido demais. Não morda a língua senão é capaz de morrer com seu próprio veneno.- E você agora deu pra roubar as minhas frases, foi? Renata abriu a mala de viagem.- Finalmente, vamos voltar ao Brasil.- Graças a Deus, Rê. Essa viagem foi o ó do borogodó. Eu não queria vir, se lembra? Você foi na onda da Estela e viemos para o velório da tia da nossa presidente. Deu no que deu.- É o que chamam de conspiração do universo, não? Tudo caminhou pra você ver o que viu.- Antes não tivesse visto. Agora tenho que fingir que nada vi, se quiser ficar vivo. Ai, já pensou, esse co