Velasco entrou no hotel. Bianca lia uma revista de moda, esparramada na cama.- Querido. Parece nervoso.- E não era pra estar? Estou cercado de incompetentes.- Que fizeram?- O que não fizeram? Paguei uma grana alta pra contratar dois paraguaios, acima de qualquer suspeita. Foram ao Brasil e fizeram o trabalho errado.- Puxa. E agora?- Tenho que apagar provas. Viajar a Assunção.- Mandei alguém de confiança.- Não tenho, querida. Não confio na minha própria sombra.- Nem em mim?Ela ergueu a perna e tocou a virilha dele.- Só em você. Essa sujeira é por você.Ela deu um salto e sentou-se.- Por mim? O que eu fiz?- Se encontrou com aquele idiota, só isso. Sabia que eu não o tolero, não gosto dele e mesmo assim, foi com ele ao terraço do La Boca.- Eu já pedi desculpas.- Não basta. O gerente me garantiu que Apollo foi ao terraço, enquanto lá estavam no rala e rola. Ele desceu e foi embora, rapidinho. Certamente os viu.- Eu não vi nada. Fique tranquilo, Velasco.- Tranquilo? Estou
.Velasco deixou o jatinho, na capital argentina. Ele cumprimentou o piloto. - Gracias, amigo. Isso é para você. Leve a esposa para jantar. O piloto pegou o maço de notas. - Não se preocupe, não são falsas como aqueles dólares da maleta. Já sabe, boca de siri. Ninguém deve saber dessa viagem. - Muito obrigado. Essa viagem nunca aconteceu. - Excelente. Bom descanso. Velasco foi até um ponto de táxi. Meia hora depois, estava no hotel onde Bianca estava hospedada. - Querida, cheguei! - Oi, amor. Como foi? - Bom. Tive um dejavu, há tempos não fazia isso. Os dois esperavam o pagamento, no local combinado. Assistiam futebol, tomando cerveja e se entupindo de porcarias. Pena que jamais saberão que a partida foi para os pênaltis e o Paraguai foi eliminado. - Como eles. - Isso. Precisava ver a explosão. Coisa de cinema, Bianca. Preciso de um banho. O dia amanheceu. Velasco ainda dormia. Bianca tinha acordado bem cedo e ligou para o advogado de Consuelo. - Bom dia, senhorita. Precisa
Olivares parecia perdido.- Que foi? Nunca veio a um lugar desses?- Pra falar a verdade, nunca.- Relaxa. Sempre tem a primeira vez.Ele tirou a gravata. Bianca entrou na suíte. A banheira, a hidromassagem, a cama redonda, os espelhos no teto e laterais do quarto, um jardim interno com cachoeira, a bandeja de frutas sobre uma mesinha, o balde de champanhe com gelo.- Somos amigos agora. Mais que amigos.- Certo. Sempre quis me aproximar de você.- Eu também. Eu o notava.- Verdade?- Sim. Você é alto e forte. Másculo.Bianca o despiu e o puxou para a banheira.- Temos a manhã toda.- Isso é um paraíso.- Você ainda não viu nada.Ela o beijou e se despiu. Eles se amaram intensamente. Bianca e Olivares se entregaram ao prazer e a magia daquele momento. Olivares estava seduzido, aos pés dela, totalmente entregue a paixão. Ela acendeu um cigarro e encheu a taça de champanhe. O advogado suspirou.- Você acabou comigo. Estou fora de forma.- Você foi espetacular.Ele foi até ela e a abraço
Três dias depois, Bruno parou o carro em frente ao condomínio de Daniella. O pôr do sol ao fundo do condomínio de Alphaville. Laerte reparou na grande portaria do local luxuoso.- É aqui que a sua namorada mora?- Sim, papai. É um condomínio de alto padrão mas isso não diz nada, Daniella é de boa, desencanada e humilde. Vai ver.- Não sei, filho. Esses ricos não se misturam, são esnobes. Se tivesse me avisado, teria alugado um terno com o Santiago, o alfaiate do bairro.- Papai, o senhor está muito bem assim, de jeans e camisa pólo. O mais importante é a sua presença.- Vamos voltar pra casa. Esse lugar é muito chique, Bruno. Vão rir da nossa cara. Comecei a usar talheres, garfo e faca, após os dezoito anos. Se tiver lagosta e aquelas coisas gosmentas, não vou comer.- Que coisas gosmentas, dona Ibiraci?- Aquelas lesmas. Nem sei o nome.- Escargot, mamãe.Laerte e a irmã de Bruno riam, no banco traseiro. Kaylane tinha treze anos.- Mamãe, você é uma resenha. Certeza que Daniella vai
Renata chegou ao hospital, no horário de visitas da noite. A moça ficou escondida na recepção e esperou, até que os pais de Renato fossem embora. - Boa noite. Vou ao quarto 43. Sou namorado do paciente Fernando. O guarda segurou a roleta. - Está terminando o horário de visitas, moça. Sinto muito. Ela conferiu as horas no celular. - Moço. Por favor, faltam sete minutos. Preciso vê-lo. Só vou entrar e sair. Um médico passava pela recepção. - Deixe-a entrar, Jeremias. Ainda não soou o sinal do fim das visitas. Eu a acompanharei. O guarda liberou a entrada de Renata. Ela sorriu para o profissional. - Muito obrigada, doutor. Elesv entraram. Ela parou, na porta do quarto. Fernando sorriu. - Renata. Pensei que não viria me ver. Ela foi até ele, ligado ao soro e deitado na maca. - Graças a Deus. Você está vivo. - A carcaça aguentou bem. A malhação ajudou mas foi um anjo que desviou a bala do meu coração. - Fernando. Eu vim todos os dias mas vi seus pais na recepção. Não quis e
Bruno ajeitou os óculos. Um vento frio entrou no quarto.- Que livro grosso!- É sobre direito penal. Farei a prova pra delegado de polícia.- Legal. Boa sorte, Bruno. Estou torcendo pra você. - Valeu.- Estou tremendo.- Sério? Vou fechar a janela.Bruno foi até o armário e pegou um cobertor. Ele cobrou Fernando.- Pronto. Isso vai aquecer.- Muito obrigado.- O bom de ter convênio caro é isso. Ter um quarto pra cada um. Com tevê, frigobar, banheiro, armário com cobertores novos e comida boa.- Eu não tenho convênio.- Não? E quem vai pagar por tudo, as cirurgias, exames e o quarto? Você é rico?- Não sou. Posava de filho de papai mas sou um pé rapado. Meu apartamento é alugado.- Cara, você é uma resenha.- O Apollo Hermann está pagando o hospital.- O Apollo, da fundação?- Ele mesmo. Eu estava engatando um romance com a Renata. Ele conseguiu voltar a fundação, através de uma ordem judicial da Argentina. Fomos conhecer a fundação e levei os tiros.- Então, o Apollo nem teria motiv
- Como será esse novo governo, Martin?O garçom olhou para Velasco e franziu a testa.- Nada de novo no front. Tudo como antes, a riqueza nas mãos de poucos abastados, migalhas pra grande maioria de abestados.- Entre os quais, você se encontra.- E você não?- Estou mudando de patamar, meu caro. Entrando no mundo dos ricos.Alguém bateu nos ombros de Velasco.- Já que está no mundo dos ricos, pague o que me deve.O garçom deixou a garrafa de conhaque sobre a mesa e saiu, com um sorriso no rosto.- Ora, ora. Meu amigo advogado.- O grande e rico Velasco tomando conhaque? Já teve dias melhores, meu caro.Velasco o cumprimentou.- Sente-se.- Obrigado. Vou pedir um Martini.- Ótima escolha. Como anda a vida?- Como disse ao garçom, melhorando. Também quero ficar rico. Estou cansado de acordar pobre todo dia. Aquela velhota não me dá um aumento há anos, desde que Salomão era vivo.- O rei ou aquele que criou a fundação Hermann?- Amo seu senso de humor, Velasco. Sua dívida está quitada.
Renata desceu do seu carro. Colocou as chaves do veículo na bolsa Prada. O terninho verde oliva e o cabelo solto davam-lhe um charme especial. Ela ajeitou os óculos escuros e cruzou a rua, entrando na casa da fundação Hermann. Humberto a recebeu com um abraço.- Bom dia, minha deusa do Egito. Bem vinda de volta ao lugar de onde nunca devia ter saído.- Bom dia, Humberto. Você torna o meu dia mais colorido.- Que bom ouvir isso. Eu sirvo pra alguma coisa. Entre.- Ah, como é bom voltar.- Como é bom tê-la de volta, Rê. Como aquela canção de Léo Jaime, nada mudou.- Aqui, né? Na outra casa está um caos.- Nem me fale. Fiquei lá por um tempo, cobrindo a saída do Caíque. Espero que a Estela organize aquilo.- Será? Sempre a achei tão sem sal. Excelente secretária mas como coordenadora, tenho minhas dúvidas. Parece não ter pulso firme.Humberto abriu uma sala.- Seu escritório está intacto, tudo como deixou.- Muito obrigada. Minha mesa e os armários, que saudades.- Apollo passava horas a