Três dias depois, Bruno parou o carro em frente ao condomínio de Daniella. O pôr do sol ao fundo do condomínio de Alphaville. Laerte reparou na grande portaria do local luxuoso.- É aqui que a sua namorada mora?- Sim, papai. É um condomínio de alto padrão mas isso não diz nada, Daniella é de boa, desencanada e humilde. Vai ver.- Não sei, filho. Esses ricos não se misturam, são esnobes. Se tivesse me avisado, teria alugado um terno com o Santiago, o alfaiate do bairro.- Papai, o senhor está muito bem assim, de jeans e camisa pólo. O mais importante é a sua presença.- Vamos voltar pra casa. Esse lugar é muito chique, Bruno. Vão rir da nossa cara. Comecei a usar talheres, garfo e faca, após os dezoito anos. Se tiver lagosta e aquelas coisas gosmentas, não vou comer.- Que coisas gosmentas, dona Ibiraci?- Aquelas lesmas. Nem sei o nome.- Escargot, mamãe.Laerte e a irmã de Bruno riam, no banco traseiro. Kaylane tinha treze anos.- Mamãe, você é uma resenha. Certeza que Daniella vai
Renata chegou ao hospital, no horário de visitas da noite. A moça ficou escondida na recepção e esperou, até que os pais de Renato fossem embora. - Boa noite. Vou ao quarto 43. Sou namorado do paciente Fernando. O guarda segurou a roleta. - Está terminando o horário de visitas, moça. Sinto muito. Ela conferiu as horas no celular. - Moço. Por favor, faltam sete minutos. Preciso vê-lo. Só vou entrar e sair. Um médico passava pela recepção. - Deixe-a entrar, Jeremias. Ainda não soou o sinal do fim das visitas. Eu a acompanharei. O guarda liberou a entrada de Renata. Ela sorriu para o profissional. - Muito obrigada, doutor. Elesv entraram. Ela parou, na porta do quarto. Fernando sorriu. - Renata. Pensei que não viria me ver. Ela foi até ele, ligado ao soro e deitado na maca. - Graças a Deus. Você está vivo. - A carcaça aguentou bem. A malhação ajudou mas foi um anjo que desviou a bala do meu coração. - Fernando. Eu vim todos os dias mas vi seus pais na recepção. Não quis e
Bruno ajeitou os óculos. Um vento frio entrou no quarto.- Que livro grosso!- É sobre direito penal. Farei a prova pra delegado de polícia.- Legal. Boa sorte, Bruno. Estou torcendo pra você. - Valeu.- Estou tremendo.- Sério? Vou fechar a janela.Bruno foi até o armário e pegou um cobertor. Ele cobrou Fernando.- Pronto. Isso vai aquecer.- Muito obrigado.- O bom de ter convênio caro é isso. Ter um quarto pra cada um. Com tevê, frigobar, banheiro, armário com cobertores novos e comida boa.- Eu não tenho convênio.- Não? E quem vai pagar por tudo, as cirurgias, exames e o quarto? Você é rico?- Não sou. Posava de filho de papai mas sou um pé rapado. Meu apartamento é alugado.- Cara, você é uma resenha.- O Apollo Hermann está pagando o hospital.- O Apollo, da fundação?- Ele mesmo. Eu estava engatando um romance com a Renata. Ele conseguiu voltar a fundação, através de uma ordem judicial da Argentina. Fomos conhecer a fundação e levei os tiros.- Então, o Apollo nem teria motiv
- Como será esse novo governo, Martin?O garçom olhou para Velasco e franziu a testa.- Nada de novo no front. Tudo como antes, a riqueza nas mãos de poucos abastados, migalhas pra grande maioria de abestados.- Entre os quais, você se encontra.- E você não?- Estou mudando de patamar, meu caro. Entrando no mundo dos ricos.Alguém bateu nos ombros de Velasco.- Já que está no mundo dos ricos, pague o que me deve.O garçom deixou a garrafa de conhaque sobre a mesa e saiu, com um sorriso no rosto.- Ora, ora. Meu amigo advogado.- O grande e rico Velasco tomando conhaque? Já teve dias melhores, meu caro.Velasco o cumprimentou.- Sente-se.- Obrigado. Vou pedir um Martini.- Ótima escolha. Como anda a vida?- Como disse ao garçom, melhorando. Também quero ficar rico. Estou cansado de acordar pobre todo dia. Aquela velhota não me dá um aumento há anos, desde que Salomão era vivo.- O rei ou aquele que criou a fundação Hermann?- Amo seu senso de humor, Velasco. Sua dívida está quitada.
Renata desceu do seu carro. Colocou as chaves do veículo na bolsa Prada. O terninho verde oliva e o cabelo solto davam-lhe um charme especial. Ela ajeitou os óculos escuros e cruzou a rua, entrando na casa da fundação Hermann. Humberto a recebeu com um abraço.- Bom dia, minha deusa do Egito. Bem vinda de volta ao lugar de onde nunca devia ter saído.- Bom dia, Humberto. Você torna o meu dia mais colorido.- Que bom ouvir isso. Eu sirvo pra alguma coisa. Entre.- Ah, como é bom voltar.- Como é bom tê-la de volta, Rê. Como aquela canção de Léo Jaime, nada mudou.- Aqui, né? Na outra casa está um caos.- Nem me fale. Fiquei lá por um tempo, cobrindo a saída do Caíque. Espero que a Estela organize aquilo.- Será? Sempre a achei tão sem sal. Excelente secretária mas como coordenadora, tenho minhas dúvidas. Parece não ter pulso firme.Humberto abriu uma sala.- Seu escritório está intacto, tudo como deixou.- Muito obrigada. Minha mesa e os armários, que saudades.- Apollo passava horas a
Humberto e Renata entraram no restaurante.- Um chopp, pra começar?- Um chopp pra comemorar, Humberto. A minha volta a fundação, a vida.- Uau. Está mesmo animada, deusa do Egito.- Animadíssima. Com essa decisão judicial da Argentina, não sairei mais da fundação Hermann. Estou com o garfo e a faca na mão.- Isso aí. Bola pra frente, linda. Tempo depois, eles aguardavam a sobremesa. Humberto a encarou.- O que sabe sobre o meu sequestro?- Muda o disco, Humberto. Essa história já passou.- Pra polícia sim, pra mim ainda não. Queria descobrir quem foi o mandante e o motivo.- O delegado disse que foi engano. - Se o delegado falar que veneno é bom pra pele, eu devo tomar? Está louca? Você sabe de alguma coisa, Rê. Somos amigos ou não?- Lógico, somos quase irmãos. - Fala vai! Prometo segredo.- Jura?- Juro por São Ivo Pitangui do silicone, o padroeiro das cirurgias plásticas.- Não existe esse santo. Que blasfêmia.- Inventei agora. Fala logo o que sabe daquele dia trágico na minha
Estela estava incrédula.- Acha mesmo que o atentado era contra o Júlio César?- É uma suspeita que tem tudo a ver, Estela. Esse relacionamento dele com a Bianca é que não bate. Se não se conheciam, qual o motivo de se atracarem no terraço do restaurante? Alguém deve ter ficado furioso com alguma coisa mas quem e porquê?- Intrigante, Apollo. Está claro que Bianca veio para o Brasil a fim de o conquistar e o afastar de Jheniffer. - Certamente. Muita coincidência ela ter vindo na época que nos conhecemos. Aquele vôo que parou em Chapecó, nos esbarramos no aeroporto. Estranho.- Ela com o penteado da finada Manoela. Desculpa, você foi inocente ao levá-la ao seu apartamento. Deveria ter deixado a nadam num hotel, custeado pela fundação.- Tem toda a razão, Estela.- Ela o dopou. Se não fosse a conferência, da qual era palestrante principal, ela estaria até hoje grudada a você, como um encosto.Apollo bateu três vezes na mesa de madeira.- Encosto! Estou fora.- Acredita nisso?- Oh, se
- Geralmente, é uma aliança mais fina, visto que o noivado é por pouco tempo. - Acha mesmo?- No meu caso foi assim. Nosso noivado durou três meses apenas. Demos a aliança de noivado como parte do pagamento da aliança de casados, senhor.- Ah, tá. Entendi.Apollo olhou de novo as amostras de alianças da joalheria do shopping. Estava indeciso.- Gostei dessas. - Uma bela escolha, senhor. Não é tão fina nem tão grossa. Ouro puro. Ela vai amar.- Espero que sim. Será uma surpresa. Vou levar essas aqui. Trouxe um anel dela, escondido. Assim, não precisarei voltar pra trocar.A vendedora pegou o anel de Jheniffer e mediu na aliança.- Perfeito. São do mesmo tamanho.Apollo provou sua aliança.- Parabéns. São três mil reais, a gravação dos nomes e a data inclusas. - Certo. Vou levar.- Perfeito, senhor. Quais os nomes para a gravação das jóias?- Jheniffer e Apollo. - Por favor, escreva os nomes no rascunho, pra não haver erro.- Certamente. Apollo é com dois eles. Jheniffer tem diferen