Capítulo 3
Liam ouviu e recolheu a mão.

Descendo as escadas, encontrou Amelia sentada no sofá, com o rosto visivelmente febril e uma expressão abatida. A preocupação rapidamente estampou-se em seu rosto.

— Vou pegar o carro. Nós vamos para o hospital agora.

Sem perder tempo, Liam e Alexander levaram Amelia ao hospital.

Enquanto isso, no quarto do segundo andar, Scarlett estava deitada na cama. Seu rosto estava avermelhado, o suor escorria pela testa, e ela se mexia inquieta, como se estivesse presa em um pesadelo interminável.

A noite foi longa e desconfortável.

Na manhã seguinte, Scarlett foi acordada pelo som irritante de notificações no celular.

Com a cabeça pesada e um humor ainda pior, ela pegou o aparelho e o desbloqueou. O que viu fez seus olhos ficarem ainda mais sombrios.

Mensagens privadas explodiam na tela, todas cheias de insultos. Ela não precisou pensar muito para entender o motivo: alguém havia postado no fórum do colégio o vídeo de quando ela empurrou Amelia na piscina na noite anterior.

Amelia era extremamente popular na escola, com uma imagem doce e delicada. Era óbvio que as pessoas reagiriam com fúria.

Scarlett soltou um suspiro irritado enquanto sua cabeça latejava. Aquela dor familiar quase parecia ecoar as vozes dos insultos que lia.

Sem pensar duas vezes, abriu o fórum e começou a responder as mensagens. Cada insulto era rebatido com palavras ainda mais afiadas e agressivas. Scarlett, sem filtro algum, usava palavrões e xingamentos que fariam até o administrador do fórum corar de vergonha.

O tópico explodiu. Em poucos minutos, já havia milhares de comentários, e o administrador, assustado, pensou que o site tivesse sido hackeado.

Terminando de digitar sua última resposta, Scarlett jogou o celular de lado e voltou a deitar-se.

“Que se dane. Não preciso mais agradar ninguém, muito menos aqueles seis idiotas. Não vou viver como na vida passada, tentando ser boazinha para todo mundo.”

Seus pensamentos foram interrompidos por uma batida na porta.

— Srta. Scarlett, a senhorita precisa se levantar. Vai se atrasar para a escola! — Chamou a empregada do lado de fora.

Escola? Scarlett franziu a testa, lembrando-se de que, sim, hoje era um dia de aula.

Ela levantou-se, lavou o rosto com água fria para clarear a cabeça e forçou-se a focar. Se queria se livrar da família Miller, precisava terminar os estudos e ser aceita em uma boa universidade. Só assim poderia fugir de vez.

Após vestir o uniforme, pegou sua mochila e desceu as escadas. No mesmo instante, Liam e Alexander entraram pela porta principal.

Ao vê-la, Liam notou as bochechas levemente avermelhadas de Scarlett. Ele caminhou até ela, instintivamente levando a mão à testa dela para verificar a temperatura.

Mas Scarlett recuou um passo, evitando o gesto, e seguiu para a cozinha sem dizer uma palavra.

Ela precisava comer algo para recuperar as energias. Só assim conseguiria estudar e conquistar uma vaga na Universidade Federal de Santa Aurora (UFSA), seu passaporte para a liberdade.

Liam ficou parado, com a mão suspensa no ar, antes de recolhê-la com um suspiro.

Alexander soltou um riso seco.

— Não falei? Ela é uma ingrata. Sempre foi forte como um touro. Não é como a Amy, que é tão frágil que ficou doente só por cair na água. Scarlett nunca fica doente, nem se quiser.

Liam, apesar de não dizer nada, concordava em silêncio. Scarlett sempre teve uma saúde de ferro.

Ele aproximou-se da mesa de jantar, tomando um tom mais sério:

— Amy está doente. Enquanto ela não melhorar, quero que você cuide dela na escola. Certo?

Para Liam, Scarlett estava ficando cada vez mais teimosa e difícil de lidar. Ele achava que, se não a disciplinasse, ela acabaria se tornando ainda mais ingrata.

Alexander, sempre pronto para concordar, acrescentou:

— Scarlett, o pai da Amy salvou sua vida. Agora você quase a matou. Cuidar dela é o mínimo que você pode fazer para compensar isso!

Scarlett manteve-se em silêncio, focada no prato à sua frente. Mesmo sem apetite, forçou-se a comer. Ela precisava de energia. Faltavam menos de cem dias para o vestibular.

Alexander, irritado com a indiferença dela, agarrou o garfo de sua mão e gritou:

— Estou falando com você! Está surda?

Scarlett ergueu o olhar, fixando-o com uma expressão fria e silenciosa.

Alexander, sentindo-se no controle, continuou:

— Amy vai precisar de ajuda para tudo. Quando ela for tomar remédio, você vai buscar água para ela. No almoço, vá até o refeitório buscar a comida dela, e faça isso rápido, para que não esfrie. Se ela precisar ir ao banheiro, vá com ela. O pai dela te salvou, então isso é o mínimo que você deve fazer para pagar sua dívida. Entendeu?

A resposta de Scarlett veio curta e gelada:

— Entendido.

Mas ela não tinha a menor intenção de obedecer.

Sem demonstrar emoção, Scarlett saiu da casa. Do lado de fora, parou por um momento, encarando o céu. Forçou-se a engolir as lágrimas que ameaçavam cair.

Ela já deveria estar acostumada com isso. Por que ainda dói tanto?

Ela se lembrou de quando era pequena, e Liam passava noites ao lado dela quando estava doente. Alexander costumava contar piadas para distraí-la e fazê-la tomar remédio.

Agora, tudo isso parecia tão distante. Por causa de Amelia, seus irmãos não se importavam mais com ela. Mesmo com febre, era como se ela não existisse.

Scarlett respirou fundo, engolindo a amargura. Faltava pouco. Menos de cem dias e estaria livre.

Ela entrou no carro da família e fechou os olhos, tentando descansar.

Na escola, Scarlett foi direto para a sala de aula.

Quando entrou, o ambiente, antes barulhento, caiu em um silêncio constrangedor.

A fama de Scarlett havia atingido um novo nível. Todos sabiam sobre o que aconteceu no fórum na noite anterior e comentavam.

— Ela deve ter enlouquecido.

— Não, acho que ela desistiu de fingir. Afinal, essa é a verdadeira Scarlett.

Scarlett ouviu os cochichos, mas não deu importância. Ela colocou a mochila na mesa e deitou a cabeça, aproveitando para dormir.

A manhã passou assim: Scarlett dormindo, alheia a tudo.

Na hora do almoço, Amelia apareceu na sala.

Com um braço ligado ao suporte de soro, sua entrada imediatamente despertou a preocupação e a simpatia de todos.

Scarlett, ao vê-la, franziu a testa. Mudou de posição, tentando ignorá-la e dormir mais um pouco.

Mas foi interrompida por uma pancada forte em sua mesa.

Abrindo os olhos com irritação, Scarlett encontrou Amelia em pé diante dela, acompanhada de Ana e Juana, suas fiéis seguidoras.

— Scarlett, o que você quer comer? Eu posso pegar isso para você no refeitório. Não fica brava comigo, por favor. — A voz de Amelia era doce e hesitante.

Scarlett respondeu friamente:

— Não precisa.

Ana bufou, indignada:

— Scarlett, você é mesmo ingrata! Amy está doente e ainda tenta ajudar você.

— Exato! — Juana concordou. — Você deveria estar cuidando dela, porque foi você quem a deixou assim!

Amelia tossiu levemente, parecendo ainda mais frágil.

— Não briguem, por favor. Eu posso me cuidar sozinha, como sempre fiz. Não quero incomodar ninguém.

— Amy, você é boa demais. É por isso que ela se aproveita de você! — Ana retrucou.

Scarlett, irritada, levantou-se para sair da sala.

Mas, antes que pudesse ir, Amelia tropeçou e derrubou o suporte do soro, caindo drasticamente sobre os cacos de vidro do frasco que havia se quebrado.

O caos tomou conta da sala.

Scarlett não teve tempo de reagir. Sua visão ficou turva e, no momento seguinte, tudo escureceu.

Quando abriu os olhos, Scarlett estava na enfermaria da escola. O cheiro de desinfetante era forte.

— 39 graus de febre. Está tentando se transformar em um forno humano? — Uma voz sarcástica disse.

Scarlett virou a cabeça e viu um homem magro, com jaleco branco e máscara. Os olhos dele eram frios e analíticos.

Ao vasculhar as lembranças da vida passada, ela se lembrou de quem era: o novo médico da escola. Bonito o suficiente para atrair a atenção de muitas garotas, mas com uma língua afiada que não poupava ninguém. Pelo que recordava, ele não havia ficado muito tempo por lá antes de ir embora.

— Já estou bem. Posso ir agora? — Scarlett murmurou.

— Espere alguém da sua família vir te buscar. Não quero que você morra no caminho e acabe virando minha responsabilidade. — A resposta dele foi seca.

Scarlett suspirou:

— Eu não tenho família.

Antes que pudesse dizer mais alguma coisa, uma voz ansiosa ecoou do lado de fora:

— Amy, você está bem? Como se machucou tão feio? — Era Alexander, preocupado.

— Alexander, foi só um arranhão, nada demais. Não culpe a Letty, foi minha culpa. Eu sou desastrada e acabei derrubando o suporte do soro sem querer. — Respondeu Amelia, a voz suave e cheia de falsa preocupação.

Ana, no entanto, não perdeu a chance de criar confusão:

— Não foi bem assim! Todo mundo viu! A Amy só foi oferecer ajuda pra levar comida pra Scarlett, mas Scarlett recusou e, com raiva, empurrou a Amy de propósito!

Juana logo se apressou em concordar:

— Isso mesmo! A Amy está doente e, mesmo assim, se preocupou com a Scarlett que não tinha comido nada. E como ela retribuiu? Derrubando a Amy no chão, cruel como sempre!

Ao ouvir tudo aquilo, Alexander sentiu a raiva crescer como fogo em sua alma. Sua voz veio carregada de fúria reprimida, mas alta o suficiente para ser ouvida por todos:

— Scarlett, onde você está? Saia agora! Como você tem a cara de pau de deixar a Amy pegar comida pra você? O pai dela deveria ter deixado você morrer naquele acidente de carro, poupando sua filha de ser torturada por alguém como você!

As palavras foram como facas cravadas no coração de Scarlett. No entanto, ela esboçou um leve sorriso irônico, como se já esperasse aquela cena. Igual à vida passada. Amelia dizia qualquer coisa, e Alexander acreditava cegamente.

No segundo seguinte, a cortina ao lado de Scarlett foi puxada com força, revelando-a.

Scarlett ergueu o rosto. Seu semblante estava pálido como a neve, os lábios rachados e sem cor. Todo o seu corpo parecia frágil, à beira de desmoronar.

— Scarlett... — Alexander começou, mas as palavras morreram em sua garganta ao vê-la naquele estado.
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