Capítulo 4
Scarlett abaixou a cabeça, cobrindo a boca enquanto começava a tossir violentamente. Suas costas magras se curvavam, e parecia que ela iria tossir até os pulmões saírem.

Alexander cruzou os braços, o tom carregado de desprezo:

— Não pense que, só porque está fingindo estar doente, eu vou deixar de te dar uma lição. Eu mandei você cuidar da Amy na escola: levar água, trazer a comida dela. E o que você fez? Fez com que uma doente fosse buscar comida pra você! Não só não ajudou como ainda a empurrou. Sua consciência foi comida por um cachorro?

Scarlett suportou a dor na garganta e respondeu com dificuldade:

— Eu não empurrei ela, foi ela mesma que...

— Você quer dizer que a Amy tropeçou sozinha? É isso que vai dizer? Que desculpa patética, Letty! Você acha que eu sou idiota o bastante pra acreditar nisso? Admita que fez de propósito!

Os olhos de Scarlett ardiam, mas ela ergueu o corpo magro e respondeu com firmeza:

— Eu não admito.

Antes que pudesse reagir, um tapa estalou em sua bochecha, deixando-a latejando de dor. O calor que subiu pela pele não era nada comparado ao que queimava dentro de seu peito.

— Alexander! — A voz de Liam ecoou pelo ambiente enquanto ele entrava na enfermaria a passos largos, segurando o braço do irmão. — O que diabos você pensa que está fazendo?

— Liam, ela fez uma coisa horrível e ainda tem a coragem de não admitir! Eu não tenho uma irmã tão cruel e sem remorso como essa daí!

Na porta, Amelia observava a cena com os olhos marejados, a mão enfaixada e o rosto pálido. Sua voz saiu trêmula:

— Alexander, eu já disse que foi culpa minha. Não tem nada a ver com a Letty...

— Amy, você é boa demais! Mas hoje eu vou dar uma lição na Scarlett. Ela precisa aprender, ou vai acabar piorando ainda mais!

Quando Alexander ameaçou avançar novamente, o som estridente de uma cadeira sendo arrastada pelo chão chamou a atenção de todos.

Scarlett olhou na direção do barulho e viu Henry, o médico da escola, meio encostado na mesa, com uma expressão impassível. Seu olhar, frio e cortante, pairava sobre os irmãos.

— Vocês são os responsáveis por essa aluna? — Perguntou ele, com a voz baixa e carregada de autoridade.

Liam assentiu.

— Sim, somos os irmãos dela.

Henry levantou uma sobrancelha, sem se mover.

— Pois bem, ela está com febre alta, 39 graus, e suspeita de infecção. Além disso, está com hipoglicemia e sinais de desnutrição leve.

Alexander franziu o cenho, surpreso:

— Ela está realmente doente?

Ele não acreditava que Scarlett estava falando a verdade. Achava que tudo não passava de encenação para fugir da culpa.

— Talvez vocês precisem de um exame de vista. — Henry continuou, com um tom sarcástico. — É tão óbvio que ela está doente que, se não perceberam, eu recomendo procurar um oftalmologista.

Scarlett, com o rosto ainda quente pela bofetada, sentiu um sorriso irônico se formar no canto da boca.

— O que você quer dizer com isso? — Alexander rebateu, a voz carregada de irritação.

Henry ergueu o olhar, com a mesma calma cortante:

— Exatamente o que eu disse. Embora ela seja apenas uma "irmã adotiva", se vocês a colocaram sob sua responsabilidade, precisam cuidar dela.

Ao ouvir a palavra "adotiva", Scarlett sentiu um aperto no peito, mas disfarçou com um leve sorriso irônico.

Liam tentou corrigir o médico:

— Ela não é adotiva. Scarlett é minha irmã de sangue.

Henry estreitou os olhos e deixou escapar um leve suspiro irônico:

— Irmã de sangue? Não parece nem um pouco. Se vocês não tivessem dito que eram parentes, eu já teria chamado a polícia por violência contra menores.

Alexander, então, notou o inchaço na bochecha de Scarlett e respondeu com raiva:

— Você não sabe de nada. Eu estava disciplinando ela!

Liam permaneceu em silêncio, mas parecia desconfortável. Ele achava que Scarlett era uma garota saudável, que nunca ficava doente, ao contrário de Amelia, que adoecia facilmente. Para ele, Scarlett estava exagerando.

Alexander olhou para Henry com desdém:

— Scarlett sempre finge estar doente para fugir da responsabilidade. Desta vez, ela machucou a Amy de propósito! Amy perdeu o pai para salvá-la. Às vezes, eu realmente gostaria de abrir o coração dessa garota para ver se é feito de pedra ou de algo ainda pior!

Scarlett sentiu a garganta arder ainda mais. Por um momento, quis se defender, mas desistiu. Não importava o que dissesse, eles nunca acreditariam nela.

Amelia, com a voz baixa e hesitante, interveio:

— Foi tudo culpa minha. Eu não deveria ter insistido em levar comida para Letty...

— Claro que foi sua culpa. — Henry interrompeu, com frieza nos olhos. — Você está doente, tomando soro, e, ainda assim, insiste em sair da enfermaria para ir para a aula. Além disso, acha que é razoável causar problemas para os outros e depois usar a desculpa de que é frágil? Não me venha com esse clichê de "eu sou fraca, então tenho razão".

Scarlett arregalou os olhos, surpresa. Henry estava... A defendendo? Ele acreditava nela?

Seus olhos ardiam, quase marejados. Um completo estranho conseguia enxergar o óbvio, mas seus próprios irmãos, não. Ou talvez eles vissem, mas escolhiam ignorar. Afinal, para eles, Amelia era sempre a prioridade.

Amelia ficou paralisada, mordendo os lábios enquanto olhava para o chão. Sentia-se humilhada. Por que aquele médico não se comoveu com sua atitude altruísta? Por que ele estava do lado de Scarlett? Isso nunca acontecia.

Alexander tentou justificar:

— Amy está na aula porque o vestibular está chegando. Faltam menos de cem dias e ela não pode perder aula. Ela só queria se aproximar da Scarlett, mas, como sempre, Letty não soube valorizar.

Scarlett soltou uma risada amarga em sua mente. Pela manhã, Alexander exigiu que ela cuidasse de Amelia, como se isso não fosse atrapalhar seus estudos. Agora, usava o vestibular como desculpa para as atitudes de Amelia. Ele sabia que o exame estava próximo, mas, para ele, os estudos de Scarlett nunca foram tão importantes quanto os de Amelia.

— Alexander, leve Amy para casa. — Liam ordenou, o tom firme.

— Liam!

— Você não me ouviu?

Alexander fechou a boca, irritado, e saiu da enfermaria com Amelia.

O silêncio voltou ao ambiente.

Liam, com uma expressão séria, virou-se para Scarlett:

— Letty, se você não quer cuidar da Amelia, tudo bem. Mas não tente mais criar esse tipo de problema.

Scarlett não respondeu. Sua garganta estava tão inflamada que ela não tinha vontade de dizer nada. Apenas puxou o cobertor e cobriu o rosto, evitando qualquer novo contato.

— Scarlett, se continuar com esse comportamento, não vou poder te proteger.

Liam, frustrado, puxou o cobertor de volta:

— Vamos para casa. Precisamos conversar sobre o que está acontecendo.

Antes que ele pudesse insistir, Henry o impediu, segurando seu braço com firmeza.

— Ela só vai sair daqui quando terminar o soro. Vá esperar lá fora.

Seu tom era frio, autoritário, e não deixava espaço para discussão.

Scarlett levantou a cabeça, surpresa. Henry estava parado na frente de Liam, com a postura firme e imponente. Ela notou uma cicatriz vermelha e feia no pulso dele, algo que chamou sua atenção.

Ela desviou o olhar para sua própria perna. Também tinha uma cicatriz de uma antiga tragédia. Será que ele também havia passado por algo semelhante?

Liam, tentando recuperar o controle, rebateu:

— Sou o irmão dela. Vou levá-la para casa. Temos médicos em casa.

No entanto, Henry permaneceu impassível:

— Então por que a deixaram com febre alta por tanto tempo?

Liam olhou para o rosto pálido de Scarlett, sentindo uma ponta de culpa enquanto tentava se justificar:

— Foi ela mesma que não contou que estava doente.

Ele lembrou que, pela manhã, até tentou tocar na testa de Scarlett para conferir a temperatura, mas ela se esquivou. Isso era culpa dele? Talvez fosse tudo uma jogada da própria Scarlett, adiando o tratamento de propósito só para fugir das responsabilidades.

Henry deu um passo à frente:

— Se você tentar forçá-la a sair, vou chamar a polícia e denunciá-los por negligência e violência contra menores. Além disso, de acordo com a lei, se uma criança ou adolescente sofre violência doméstica, ela tem o direito de solicitar medidas protetivas para garantir sua segurança.

— Eu sou o irmão mais velho dela, sou o responsável legal!

— Mas eu vi com meus próprios olhos vocês a agredindo, praticando violência. E aqui tem câmeras de segurança que confirmam isso. Tenho certeza de que a polícia fará a investigação corretamente e tomará as devidas providências! — Henry respondeu com calma, mas sem ceder, sua postura firme e inabalável. — Ela não quer ir com vocês agora, e vocês não têm o direito de forçá-la.

Scarlett sentiu um tremor no peito ao olhar para Henry. Um estranho estava disposto a protegê-la mais do que sua própria família.
Continue lendo no Buenovela
Digitalize o código para baixar o App

Capítulos relacionados

Último capítulo

Digitalize o código para ler no App