Capítulo 5
A enfermaria ficou silenciosa. Scarlett abriu a boca, mas no final, não conseguiu dizer uma única palavra. Sentiu que, naquele momento, qualquer explicação seria inútil. Afinal, ela já havia tentado justificar-se inúmeras vezes no passado, mas seu irmão nunca acreditava nela.

Liam engoliu em seco e, por fim, soltou a mão que a segurava firme. Ele a olhou com decepção, os olhos frios e duros como gelo.

— Se você continuar insistindo nisso, quando o Aiden voltar, nem eu poderei te proteger. Pense bem no que está fazendo.

Sem esperar resposta, Liam saiu da sala, deixando para trás um silêncio opressor.

Scarlett suspirou aliviada, como se tivesse finalmente se livrado de algo que a sufocava. Encostou-se novamente na cabeceira da cama. Seus olhos carregavam uma expressão de amargura e autodepreciação. Pensar no quê? Em abaixar a cabeça, agir docilmente e tentar agradá-los, como fez na vida passada? Para acabar sendo expulsa de casa, trancada em um hospital psiquiátrico e morta de forma miserável?

Ela jamais seguiria aquele caminho outra vez.

— Pegue isso. — De repente, um bloco de gelo enrolado em gaze apareceu diante dela.

Scarlett pegou o gelo e o pressionou contra a lateral do rosto, que estava vermelho e inchado. Ela olhou de relance para o homem ao lado e murmurou, quase em um sussurro:

— Obrigada por me ajudar.

A voz dele era fria, mas direta:

— Por que não se explicou?

Scarlett abaixou a cabeça e esboçou um sorriso amargo.

— Você acredita? Já tentei explicar muitas vezes antes, até apresentei provas, mas eles nunca acreditaram. Sempre acham que estou mentindo.

O silêncio tomou conta do ambiente. Era como se as palavras pairassem no ar, sem encontrar lugar para pousar.

Scarlett não se deu ao trabalho de continuar justificando. Afinal, ela sabia que, para a maioria das pessoas, ela era apenas alguém difícil, uma rebelde sem causa.

— Eu acredito.

As palavras dele fizeram o coração de Scarlett vacilar por um momento. Ele realmente acreditava nela?

Henry deu um passo à frente e, sem aviso, tocou sua testa com a palma da mão.

— A febre baixou.

Scarlett ficou paralisada. A mão dele era fria, e o toque trouxe uma sensação inesperada de conforto. Ela começou a se sentir melhor, a dor diminuindo aos poucos.

Seu olhar caiu sobre o pulso dele, onde havia uma cicatriz longa e irregular.

— Essa cicatriz na sua mão... Também foi por causa de um acidente de carro?

Henry paralisou por um instante. Sua mão recuou rapidamente enquanto ele removia o soro vazio pendurado no suporte.

— Sim. Foi um acidente de carro.

Ele se virou, apoiando-se na mesa, de costas para Scarlett. A luz contra o rosto dele fazia sua expressão parecer escondida nas sombras.

— Eu também tenho uma cicatriz... Na perna. — Scarlett puxou um pouco a saia para cima, revelando uma marca evidente na coxa. — Não parece com a sua?

Henry virou-se e viu sua perna fina e clara. A cicatriz se destacava contra sua pele pálida, chamando atenção. Mas, para sua surpresa, a saia dela estava levantada demais, quase revelando mais do que deveria.

Ele desviou rapidamente o olhar.

— Não levante a saia assim na frente de um homem.

— Mas você é médico.

Henry engoliu seco. Mas ele também era homem. Será que ninguém nunca a ensinou isso?

Ele pigarreou antes de responder:

— Essa cicatriz pode ser tratada. Por que não procurou ajuda para removê-la?

O rosto de Scarlett endureceu, e ela sentiu uma pontada no coração.

Porque seu terceiro irmão, Elijah, havia dito que aquela cicatriz representava a memória de seus pais. Ele prometera que um dia, quando tivesse tempo, trataria dela pessoalmente. E ela acreditou. Mas no final, Elijah olhou com desprezo para sua perna, dizendo que odiava aquela marca, que nunca a ajudaria a removê-la. Disse que aquela cicatriz era a prova de como ela havia causado a morte de seus pais, e que deveria carregá-la como um lembrete eterno de sua culpa.

As palavras dele a haviam destruído. Por muito tempo, Scarlett acreditou que realmente havia sido responsável pela morte dos pais. Tentou agradar seus irmãos de todas as formas, humilhando-se cada vez mais em busca de aceitação.

Ao lembrar-se de tudo isso, Scarlett sentiu uma dor sufocante. Mas ela não tinha como explicar o verdadeiro motivo para Henry. Em vez disso, devolveu a pergunta:

— E você? Por que não tratou a sua?

— Sou homem. Isso não importa. Mas para uma mulher, é diferente. Você deveria tratar.

Scarlett forçou um sorriso, que parecia mais um esforço para esconder a dor.

— Talvez um dia.

Henry percebeu que ela não queria continuar com o assunto e deixou por isso mesmo. Sentou-se ao lado dela e ligou a televisão. Scarlett reparou que o canal estava transmitindo uma competição de eSports. Para sua surpresa, seu sexto irmão Joseph estava participando da partida exibida.

Joseph não tinha comparecido à festa de adoção de Amelia porque estava focado na preparação para o campeonato de eSports. No entanto, no final, ele e sua equipe perderam para a equipe liderada pelo filho caçula da família Smith, Daniel Smith.

Ela lembrou-se de como, na vida passada, Joseph havia sido ridicularizado pelo adversário após a derrota. Quando voltou para casa, furioso, ele decidiu montar um time novo com os irmãos Liam, Alexander, Samuel e ela.

Embora o time tivesse perdido nas eliminatórias, eles conseguiram voltar para a repescagem, avançando até a final nacional. Na última partida, enfrentaram novamente Daniel e seu time.

Naquele tempo, Scarlett dedicava horas e horas diárias ao treinamento no jogo, estudando minuciosamente as características dos membros do time rival. Tudo isso com o único objetivo de derrotá-los na competição. Ela estava tão focada que sequer tinha tempo para revisar os exercícios para o vestibular.

Amelia, por outro lado, não fazia parte ativa da equipe de eSports. Sua falta de talento no jogo limitava sua função a uma simples substituta, sem chances reais de participar das partidas. Por isso, Scarlett valorizava tanto os momentos em que jogava ao lado dos irmãos, sem a presença de estranhos. Era algo que a fazia sentir que a família estava realmente unida.

Na final, depois de vencerem uma rodada crucial, estavam a um passo do título. Mas, naquele momento, seus irmãos a tiraram do jogo e colocaram Amelia em seu lugar.

Eles venceram. Amelia subiu ao palco com os irmãos, segurando o troféu que deveria ser de Scarlett. Ela sorriu radiante, cercada pelos aplausos, enquanto Scarlett permanecia nos bastidores, ignorada.

O pensamento trouxe uma dor familiar ao coração de Scarlett, como se um buraco tivesse se aberto e nada pudesse preenchê-lo.

— Tá chorando por quê? Isso aqui não é novela pra te emocionar desse jeito.

A voz de Henry a trouxe de volta à realidade. Ela rapidamente enxugou as lágrimas do rosto, constrangida por ter perdido o controle. Então, uma mão masculina surgiu diante dela, segurando um lenço. Os dedos dele eram longos e elegantes.

— Obrigada. — Scarlett pegou o lenço, olhando para ele com um pouco de timidez. — Você joga esse jogo?

— O que você deveria estar fazendo agora é estudando, não jogando videogame. — Henry respondeu, recostando-se na cadeira com uma postura preguiçosa. Ele nem olhou para ela, mantendo os olhos na tela da televisão.

Scarlett também voltou sua atenção para a partida.

— O Lobos da Tempestade vai perder.

Henry deu um leve sorriso.

— Você tem bom olho pra isso.

Não deu outra. O Lobos da Tempestade perdeu a partida, e Joseph, furioso, chegou a quebrar o teclado. Sua raiva era conhecida, e Scarlett não conseguiu evitar um certo prazer em vê-lo perder.

Ela sabia que, depois disso, Joseph reorganizaria o time. Mas desta vez, ela não jogaria por eles. Ela jogaria por si mesma. Planejava se tornar uma jogadora profissional de eSports, ganhar dinheiro para pagar a faculdade e finalmente conquistar sua independência. Nunca mais permitiria que seus irmãos controlassem sua vida, tirando sua mesada ou forçando-a a abrir mão de seus sonhos.

Com as memórias e experiências da vida passada, Scarlett sabia que o mercado de streaming estava prestes a explodir. Jogadores profissionais poderiam ganhar muito dinheiro transmitindo suas partidas. Era sua chance de começar de novo.

Após a transmissão, Henry se levantou e foi até ela para retirar a agulha do soro. Pressionou um pedaço de algodão sobre a pele dela.

— Os remédios estão na mesa. Pode ir.

— Obrigada. — Scarlett recolheu os medicamentos e saiu da enfermaria.

Logo depois que ela saiu, outro homem entrou no quarto. Ele tinha um jeito descontraído e provocador.

— Henry, não sabia que você era do tipo que salva donzelas em perigo. Mas cuidado, essa garota não tem uma boa reputação. Dizem que ela vive arrumando confusão nos fóruns da escola. Não caia no papo dela.

Henry recostou-se na cadeira, seu ar de distância habitual agora misturado com um cansaço despreocupado.

— Você ainda está aqui?

— Estou curioso. Por que você veio trabalhar como médico escolar nesta escola? Nem mesmo foi assistir à partida de Daniel, e ele ficou tão distraído procurando por você que quase foi derrotado pelo Aiden. Me conta o motivo, e eu saio agora mesmo.

Henry puxou a manga da camisa, revelando a cicatriz em seu braço.

Isaac Silva ficou sério ao ver a marca.

— Ainda não superou? Já faz anos. Aquilo não foi culpa sua. — Ele parou, hesitante. — Espera... Aquela garota... Ela é...

— Cala a boca. — Henry fechou os olhos, ignorando o amigo.
Leia este capítulo gratuitamente no aplicativo >

Capítulos relacionados

Último capítulo