“Há mares tão profundos que até os sussurros se afogam.”— Provérbio portuário do Arquipélago de MeridaA noite pesava sobre o porto de Cálmaran como um cobertor encharcado. Lá fora, o mar lamuria suas mágoas nas pedras do cais, e dentro da estalagem Fenda do Tainha, o cheiro de sal, suor e peixe velho misturava-se com algo mais íntimo: o aroma inconfundível do caldo de kenga, fervido devagar em panela de barro, como manda a tradição.Sentado à mesa de canto, Brenek, o marujo de barba entrelaçada e olhos como brasas do Norte, levava à boca uma colher do caldo espesso. Estava quente, picante e denso com lembranças — feito de restos do dia e temperos que só uma amante experiente saberia usar.A seu lado, Maru — a mulher de risada rouca e pele de âmbar tostado — o observava com meio sorriso. Ela vestia apenas uma camisa larga de linho desbotado sobre a fina calcinha de seda translúcida, os cabelos castanhos soltos como maré cheia.— É só comida, amor... Não é veneno. — disse ela, arquean
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