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Elisa abriu os olhos devagar, seu corpo ainda estava desconfortável, mas aquela dor forte no ventre tinha diminuído. Aos poucos se recordou de que estava em um hotel e que tinha ido ver seu irmão. Olhou para o lado e percebeu que o quarto estava silencioso demais, as cortinas de camurça estavam fechadas, não conseguiu ter se quer noção do tempo. Então, sentiu um peso sobre seus pés, ergueu a cabeça ainda bastante fraca e viu a imagem de um homem forte deitado sobre eles na extremidade da cama. Era Fernando, parecia fazer algum tipo de prece com os olhos fechados, mãos unidas e uma angústia devastadora. Ele não vestia o casaco, usava apenas a camisa de linho branca. Elisa se sentiu confusa, pois se lembrava de que pouco tempo antes estavam em uma discussão acalorada.Fazendo bastante esforço, ela se moveu e Fernando notou. Imediatamente, ele se ergueu. Seus olhos estavam dilatados e vermelhos, era visível que estava demasiadamente angustiado.— Céus, você está bem... — falou com alív
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— O que você achou? — Daniel perguntou para Manuel enquanto ele analisava o desenho.Daniel era um amante da arte e da pintura, o desenho da figura humana era sua maior habilidade, entretanto, não se dedicava à sua paixão, pois precisava administrar a fortuna e os negócios da família. Às vezes, principalmente à noite, se reunia com alguns amigos em uma casa noturna, inspirada em conceitos de liberdade, como na Europa. Passava bastante tempo com Manuel. Ambos eram frequentadores assíduos do local. Ali eram livres para práticas que, para a sociedade atual, seriam consideradas absurdas, escandalosas ou inapropriadas. Naquela noite, uma cantora de ópera nua se apresentava no salão, enquanto um grupo de bêbados se divertia entre si em trocas sexuais das mais diversas.— Ficou muito bom, você é ótimo com desenho — Manuel falou, levando um copo de bebida aos lábios.— Me sinto lisonjeado. Conseguir um elogio do Valença mais durão de Serrana não é algo fácil.Manuel bufou, ele se virou, anali
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Dormir já não fazia parte da rotina de Fernando há dias, chegou a pensar que algum tipo de espírito maligno o estivesse atormentando. As noites eram longas, vazias e dolorosas, sentia como se tivesse sido ferido à espada ou algum armamento de fogo, sua alma gemia em remorso, se sentia um covarde, um maldito covarde! Tudo que tinha feito até ali, suas mentiras sobre ter se deitado com a senhorita Valentina, o pedido absurdo de casamento, e a forma fria com que vinha tratando Elisa, eram parte de um plano para protegê-la. Porém, agora, Fernando sabia que tinha tomado a decisão errada, magoara Elisa de uma forma avassaladora, e ainda tinha sido o responsável pela perda do seu filho.Mais uma vez, Fernando rolou na cama, após tanta inquietude, ergueu-se, se sentando, levou as mãos ao rosto e respirou profundamente, numa angústia que estava o sufocando. Sua camisa estava molhada, como se tivesse saído por um bom tempo na chuva. Ele colocou os pés para fora da cama e pisou no chão descalço,
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⚜️Fernando caiu num sono profundo após o momento maravilhoso que viveu com Elisa. Mas sabia que precisava ir, ou poderia ter graves problemas. Ela ainda estava ao seu lado, deitada sobre seus braços como travesseiro. O cheiro dela estava todo em seu corpo, era uma sensação deliciosa. Devagar, puxou o braço, Elisa mexeu por um instante, entretanto, não despertou. Fernando se ergueu lentamente e se vestiu, sem tirar os olhos da mulher que amava ainda dormindo. Suspirou profundamente e se virou para a porta que dava para a varanda, a mesma por onde entrara. Antes de partir, a admirou mais uma vez.Elisa despertou bastante sonolenta, as janelas estavam todas abertas e as primeiras luzes do dia invadiam o quarto. Se recordou de ter tomado várias infusões que a deixaram sonolenta. Então, lembranças de uma noite de amor vieram em sua mente, os toques, os beijos, as carícias de Fernando, fazendo-a chegar ao nível máximo de satisfação a que uma mulher poderia chegar. Ficou tentando entender s
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Edna ficou surpresa ao ver Fernando e Joaquim sentados na sala de estar tomando chá confortavelmente. Eles pediram que a serva lhe chamasse, afinal era a mãe de Antônia. A mulher avaliou a imagem emponderada de Joaquim, e naquele instante todo preconceito anterior não existia mais, afinal, agora ele se tratava de um militar de patente alta, condecorado e certamente seria muito bem recompensado por seus "tais" atos heroicos, provavelmente faria fortuna.Ela cumprimentou os rapazes com uma mesura curiosa em saber o que realmente desejavam. Estranhou a presença de Elisa e da filha Antônia, sempre que Fernando estava por perto, era confusão na certa.- E como está a senhorita Valentina, e os preparativos para o casamento, Fernando? - Edna provocou, lançando um olhar para Elisa, que fitou o chão, incomodada com as palavras da sogra.Fernando ainda buscou o olhar de Elisa pela última vez, entretanto ela o ignorou.- Está tudo perfeito. Não se preocupe, os convites chegarão em breve.- Mas c
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AnaDois meses depois...Depois da nossa última briga, Marco e eu conversamos bastante. Decidimos confiar um no outro e prometi nunca mais esconder nada dele. Ele compreendeu meus medos e não me pressionou com a gravidez tão desejada. Continuo tomando meu anticoncepcional até decidir que é o meu melhor momento. Já retirei a tipóia e estou fazendo muitas sessões de fisioterapias. Felizmente, estou praticamente recuperada.É feriado, e por isso Marco resolveu tirar uma folga para visitar os pais. Claudio está na churrasqueira, há também alguns parentes, entre eles Bruno e sua família. Estou com Helena, ajudando com um molho especial quando de repente sinto muito mal-estar. Esta é a segunda vez em que não me sinto bem. Conversamos sobre o quanto fiquei enjoada no voo, mas é normal ao viajar de avião, isso não muda.Helena me encara com um brilho nos olhos.— Ana, você pode estar grávida novamente! — fala empolgada.Reviro os olhos, meus sogros, ao contrário de Marco, não param de me pres
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Chegaram à casa dos Antunes e, assim que Manuel desapareceu de seu campo de visão, Elisa decidiu acabar com sua angústia e ir até o quarto de Valentina. Não suportava mais aquela dúvida, afinal, na casa todos pareciam esperar pela noiva de forma natural.Quando chegou no corredor principal, Elisa notou um movimento estranho, as servas pareciam tensas, uma delas até chorava. Ao vê-la, se recomporam e ficou nítido que estavam tentando esconder algo. Então, Elisa soube que Valentina havia cumprido com sua palavra.- A senhorita Valentina não está, não é mesmo? - Elisa falou, se dirigindo às servas que caíram em desespero.- Ah, senhora Valença, não sabemos o que fazer. Isto será um escândalo. O senhor Antunes vai ficar louco!Então, Elisa abriu a porta e viu que tudo estava intocável, o vestido de noiva sob a cama e todos os outros adereços nupciais. Provavelmente, Valentina teria ido pela madrugada, como dissera. Uma mistura de ansiedade e alívio por Fernando não se casar lhe invadiu. N
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Após sair do quarto de Valentina e ser consolado com algumas palavras pela dama de companhia da jovem. Fernando se deparou com Elisa no corredor. Ficaram de frente um para o outro, se entregando carregados de palavras que desejavam dizer, mas não podiam. A beleza dela o deixara mais uma vez sem fôlego, desejava, mais do que tudo, que pudessem ter uma chance juntos. Como era possível duas pessoas se amarem tanto e ser-lhes negada a felicidade? Aquilo chegava a queimar seu peito.— Senhor, Fernando... — ela falou quase sem voz.Era nítido que se controlava, afinal, algum convidado poderia vê-los ali naquele corredor a sós. Mas Elisa precisou apertar os lábios para conter o desejo de se lançar sobre ele. Agora que sabia sobre sua fidelidade, ficava ainda mais difícil controlar o que sentia.Então, foram interrompidos por gritos estéricos vindo do final do corredor. Era o quarto em que Fernando estava hospedado. Uma das servas gritava em pânico por um pedido de socorro. Elisa encarou F
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- Eu vi alguém ali na entrada da porta! - Alberto argumentou, apavorado.Edna saiu rapidamente e foi conferir, não havia ninguém.Ela retornou e Manuel estava revirando as gavetas do escritório.- Não há ninguém.Manuel continuava a procurar por algo.Alberto indagou:- Preciso ir embora, vou providenciar minha viagem à Europa ainda hoje, não quero que nada faça ligação entre mim e o que houve hoje.Então, Manuel encontrou o que procurava.- Eu sabia que Daniel a guardava em algum lugar - falou, apreciando uma arma de fogo em suas mãos. - Manuel, o que você pretende? - Edna perguntou, aflita.- Ainda hoje eu acabo com aquele maldito - ele falou, ainda admirando a arma em suas mãos de forma lunática.Edna levou as mãos à boca. Percebia que seu filho estava fora do juízo. Manuel guardou a arma na cintura e saiu da sala, passando por sua mãe, lhe ignorando.Manuel saiu do escritório batendo a porta, estava cego pela raiva que sentia. Para ele, Fernando era o único responsável por toda
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