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RangelEstava radiante, minha mulher estava de volta, e tudo parecia em paz.— Tem certeza de que vai abandonar o morro, Rangel? Eu não quero isso, cara. Você sempre foi o cabeça disso tudo aqui — Júnior expressou sua preocupação.— Júnior, entenda minha escolha, você é meu irmão.Ele foi resolver alguns assuntos importantes, enquanto eu lidava com a papelada. Ser traficante vai além de vender drogas na esquina, tem uma porção de burocracias envolvidas.— Ô Biel! — Chamei meu vapor.— Sim, patrão.— Chama minha prima Carla pra mim.Demorou um pouco até Carla chegar, com a maior cara de poucos amigos.— O que foi, Rangel? Eu tava trabalhando, cara.— Relaxa, Carla. Eu só queria que você me ajudasse com uma parada.— Que parada?— O Natal está chegando, e eu queria fazer uma surpresa pra Larissa. Queria comprar um presente legal, sabe? Fazer alguma coisa, mas não sei o quê.— Ai, eu te ajudo — ela ficou animada.— Não conta nada pra ela, tá ligada?— Tá bom. Você podia comprar uma joia
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LarissaJá faz uma semana desde que fui pedida em casamento. Estávamos planejando nos casar aqui na igreja do morro e depois realizar uma festa mais íntima.Rangel decidiu que iríamos nos mudar para fora do país, para Nova York. Gostei muito da ideia. Morar em um lugar diferente, construir uma nova vida, uma nova identidade. Era uma oportunidade de começar de novo, longe dos vestígios do passado de Rangel. Mesmo que fosse um pouco difícil, valeria a pena.— Amor, tô com fome! — Rangel gritou da cozinha.— Sei fazer comida não, cara. — respondi.— Poxa, gostosa. — ele veio até mim. — Faz comida pro seu marido.— Tá bom, me pedindo assim, claro que faço. — dei um beijo nele.Era incrível a convivência entre um casal. Nunca me enjoava estar com Rangel. Podíamos passar o tempo todo juntos e sempre dava mais vontade de estar perto um do outro, de nos beijarmos...Fui para a cozinha fazer comida: bife à milanesa, feijão, arroz e uma salada do jeito que meu nego gostava. Enquanto arrumava a
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LarissaAcordei com o despertador irritante zunindo na minha cabeça, revirei os olhos e me levantei.Desliguei o ar condicionado e saí enrolada no meu roupão. Ia tomar banho antes de acordar o Rangel, coitadinho, ele está exausto.Tomei um banho rápido, o dia estava estranhamente frio, apesar do calor absurdo do Rio!— Amor, acorda, não podemos perder o voo.— Só mais uns dois minutos… — Rangel respondeu meio sonolento.— Ok. — sorri e fui me vestir.Eu valorizava muito o que Rangel fazia por mim, mesmo que ele não demonstrasse tanto carinho, ele provou que me ama. Passamos por muitas adversidades, mas quando o amor é real, a gente sempre volta.Estou tentando me manter forte. Não quero chegar lá em BH mostrando ao meu pai que estou triste; quero transmitir confiança a ele. Quero fazer o papel de filha, independentemente de tudo. Minha relação com ele sempre foi complicada: ele cuidou de mim, mas amor e carinho, só para a Melyssa. E falando nela, gostaria muito de vê-la e falar alguma
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**Larissa**Meu mundo desabou após ouvir aquilo. Não pode ser. Tudo o que eu pensava saber sobre mim, sobre o meu nascimento, era uma mentira.— Eu não sou seu pai.Minha garganta deu um nó; desejava que aquilo fosse mentira ou uma brincadeira.— Como... assim?— Larissa, eu quero que você saiba que você é minha filha! Pode não ser de sangue, mas sempre será minha filha de coração.— Você está brincando comigo?— Não...— Pai, eu... — deixei uma lágrima escorrer. — Me explica isso direito.— Eu conheci sua mãe na fazenda, os pais dela trabalhavam lá em casa. Ela era uma menina linda, e eu sempre a quis. O tempo passou e de menina ela virou mulher, meu amor por ela só aumentava, mas ela só tinha olhos para um filho de fazendeiro rico vizinho de lá.— Sim, e o que isso tudo tem a ver? — perguntei sem entender.— Sua mãe se envolveu com esse cara e acabou engravidando...— De mim? — uma lágrima escorreu dos meus olhos.— Sim, mas sua mãe era pobre e seu pai biológico, rico. A mãe dele de
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LarissaApós a morte de meu pai, retornamos ao Rio.Matei a saudade de Carla e minha prima; Rangel estava ocupado resolvendo alguns negócios. Como iríamos embora, ele deixou o morro que tomou do Italiano para Marcelo.Eles dois se odiavam, e eu me arrependo de ter dormido com Marcelo. Ele é incrível, mas é meu amigo, um grande amigo. Mas como diz Carla, "quem vive de passado é museu".Fui para a casa de minha tia, e ela me contou sobre meu pai. Minha mãe, antes de falecer, pediu a ela para não contar que eu não era filha do meu "pai", e ela, como boa irmã, obedeceu. Eu entendo minha mãe, e não culpo meu pai biológico, pois ele não sabe da minha existência.Minha tia me deu o contato do meu pai. Ele se chamava Pablo Contreras e era muito rico. Não queria me aproximar, pois ele poderia pensar que eu estava atrás de grana. Mas, segundo minha tia, ele era meu pai e era um homem bom. Tinha o direito de saber da minha existência.— Tem certeza que vai atrás do teu pai? — Rangel falou meio i
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RangelComo dizia aquela música "maloqueiro também ama".E eu demorei a mudar, percebendo que Larissa era tudo pra mim. Era minha mulher, meu alicerce.Estávamos na casa de minha mãe; a coroa estava toda chorosa porque eu ia viajar, mas eu sempre ia vim ver ela ou então mandá-la para lá de vez em quando.— Mãe, o Natal tá chegando. Quero que a senhora mande ver naquela ceia. - falei.— Vou sim, meu filho, e Larissa vai me ajudar.— Sou uma negação na cozinha, sogra, mas vou ajudar! - Larissa riu.— E como estão as coisas com seu pai, Lari?— Ele é um ótimo homem! Natal ele vai vim passar aqui com a gente.— Seu pai? - ri irônico. - Um homem rico passar o Natal com os favelados, essa é boa.— Já conversamos sobre isso, Rafael! - falou séria. - Ele não é mesquinho, muito menos preconceituoso.— Tá bom, desculpa.Eu só queria a felicidade de Larissa, mas também só quero cuidar para que ela não se decepcione. Mas vamos esperar até eu conhecer esse coroa rico, aí eu tiro
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Carla (narrando)Deus tem um plano para cada um de nós. Eu sempre fui muito louca, nunca fui de obedecer pai nem mãe; tanto que saí de casa com apenas dezesseis anos e vim morar aqui na favela com minha tia, mãe de Rangel.Já me frustrei tanto devido a homem, me desvalorizei, mas sempre tive esperança de que um dia iria ser feliz.— Amiga! - coloquei a mão na cabeça.— Que foi? - Larissa falou enquanto ajeitava as coisas no carro do supermercado.— Eu esqueci do vinho e da catuaba. - revirei os olhos.— Afe, eu deixei as partes das bebidas com você... Quer que eu vá pegar?— Não precisa, vai pra casa que tu tem muito o que fazer. Eu pego o vinho e outras bebidas.— Uns quatro está bom né. - ela falou.— Sim, vou aproveitar e comprar mais algumas coisas.— Ok, vida. - me deu um beijo no rosto.Lari foi pra casa e eu voltei pro supermercado; hoje era Natal e a agonia estava repleta aqui no morro. Iríamos fazer a ceia, todo mundo junto na casa de Rangel. Eu não quero
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LarissaApesar de tantas coisas ruins que aconteceram ao longo do tempo, eu estava "feliz". Havia perdido meu pai, mas acredito que foi melhor do que ele ficar sofrendo nesse mundo...— Amiga, você colocou uva passa no arroz. — Carla revirou os olhos.— Eu gosto.— Mas eu odeio.— Problema teu, piranhona! — ri. — Tua sorte é que fiz um sem uva passa.— Vou me arrumar aqui, tá bom? — ela disse.— Claro, eu só tô esperando Rangel chegar pra começar a me arrumar também.— Hum... — sorriu maliciosa. — Deve esperar pra tomar banho e dar uma rapidinha com meu primo.— Me respeita, Carla. — ri.— Amiga, tenho que te contar um negócio. — ela fez uma cara de cachorro abandonado.— Ih, desembucha mona.— Eu encontrei Marcelo no mercado. Aí ele se ofereceu pra me trazer aqui, e eu tava cheia de saco, eu aceitei e nos beijamos. Desculpa, Lari, eu fui uma péssima amiga e fazer isso, mas...— Ei, louca! — toquei em seu ombro sorrindo. — Eu vou me casar com Rangel, eu amo ele. Marcelo é meu melhor a
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LarissaO natal se passou, eu estava em paz comigo mesma, ainda triste por perder meu pai. Talvez algumas pessoas me achem hipócrita por aparentemente deixar meu pai sem me importar e agora estar sofrendo por perdê-lo, mas só quem passa pela situação sabe.Me levantei da cama e fui até a sala; Rangel já estava ouvindo rap às oito da manhã na TV e comendo pão com ovo. Meu Deus, esse homem é doido.— Foda-se a adidas, não me manda os kits, eu tenho grana, eu mesmo compro se eu quiser. — ele cantarolava.- Por que acordou cedo? - falei o abraçando por trás.— Sei lá, vontade. — deu de ombros. Bom dia. — selou nossos lábios.— Vai pra boca não?— Sai, tô de férias.— Ih, parou de traficar? - ri.— Bandido não para, bandido dá um tempo.— Mas você vai parar, pois vamos viajar para fora do país. - pisquei para ele.— Sei disso, mas vai ser melhor pra nós! — disse decidido.Rangel foi pôr o prato na pia, só de sentir o cheiro de ovo me deu um revirar no estômago; corri para o banheiro e vomi
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Enfim, o dia do ano novo chegou. Eu estava eufórica e me sentia até mais gordinha; acho que meu bebê já estava evoluindo.— Você comprou fogos? Pra quê tanta coisa? - perguntei a Rangel, que veio com uma caixa cheia de fogos de artifício.— Todo ano nós patrocina, pra deixar a comunidade mais alegre. - ele sorriu.- Ah.— Seu pai vem?— Vem. Por que a pergunta? - levantei uma das sobrancelhas.— Nada. Só não gostei do papo dele com minha mãe. - fechou a cara.— Afe, como você é ciumento. - ri.— Mais do que você imagina. E com você principalmente... E por acaso, odiei esse vestidinho que tu vai usar.— Pelo amor de Deus. Vestido mó respeitoso. - eu dei risada.— Respeitoso... Fica aí, Larissa, te quebro no meio.— Você que venha tirar onda, depois de tudo que nós passamos. - cruzei os braços.— Eu sei, meu amor, tô zoando. Daqui pra frente entre nós é só amor e paz. - sorriu e me deu um beijo demorado.— Espero.Rangel foi tirar um cochilo, e eu fui almoçar. Estava ansiosa para a noit
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