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Todos os capítulos do Realidades Camufladas: Capítulo 11 - Capítulo 20
36 chapters
CAPÍTULO 11
Dia 22 de Dezembro.Em tão pouco tempo fiquei gripada e enfebrada, pela mudança de clima. Por causa dessa congestão nas minhas vias respiratórias, a minha avó mimava-me cada vez mais. Acordei, e ela entrou logo cedo no meu quarto com o convite de irmos aproveitar o dia. Sem precisar da ajuda de um analista, aos poucos os dois implantavam em mim uma reeducação afectiva. Arrumei-me o mais rápido possível, eu estava desejosa por sair com a minha avó.A conversa da noite passada surtiu um efeito positivo em todos nós, excepto aquela notícia da doença do meu avô. Mesmo assim, a minha boa disposição era visível, estar positivo atrai coisas positivas e a minha família precisava estar positiva. Cheguei à mesa e encontrei um pequeno-almoço reforçado: ovos, bacon, tomate, salsichas e feijão com molho. Parecia tudo muito gorduroso, mas não dava para manter a forma, porque a minha avó acordou cedo e fez tudo com muito amor. O meu avô estava no jardim a conversar com o meu pai, e a m
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CAPÍTULO 12
Dia 24 de Dezembro, véspera de Natal. Mais um dia! Eu acordei, abri as janelas do meu quarto e dei de cara com um dia ensolarado, quase que pela primeira vez. Faziam dias que eu não olhava para o sol ao acordar. Passei quase todo o dia trancada no quarto, por tédio e inércia. À tarde desci para almoçar e retornei ao quarto, é estranho, mas existem dias em que abunda esta vontade. Tudo parece perder o sentido, é como se nada me cativasse lá fora. E ficar no meu quarto, no meu canto, a ouvir música é uma das minhas terapias para superar os dias cinzentos.Julgo que a paciência é mais do que necessária na compreenção dos recém adultos do mundo actual. No meu caso, eu trocava tudo para ficar no meu quarto, evitava questionamentos, gostava de estar no meu universo paralelo. O mais difícil de compreender  é que
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CAPÍTULO 13
Novo dia. Acordei com uma óptima disposição naquela manhã e, como é habitual, a primeira coisa que fiz foi pegar de imediato no telemóvel. Mal consegui abrir os olhos directamente por causa das remelas, mas a minha dependência ao telemóvel era tanta que nem liguei para isso. No ecrã estava uma mensagem do Davi, nem me dei o trabalho de prestar atenção. Ignorei a mensagem e, em seguida, atirei o telemóvel para a cama.São raras as pessoas que acordam com apetite no dia de natal e eu não fiz parte da excepção. Assim que cheguei à sala, tive, pela primeira vez, contacto com os nossos vizinhos, que estavam tomando um chá com os meus avós. Estava ansiosa por conhecer os vizinhos e gostei muito de conhecer a família Eastmond, na primeira e única impressão que tivemos eles mostraram ser muito simpáticos e acolhedores.Pela primeira vez, saí do portão de casa sozinha, pela rua eu vi jovens brincando com a neve. Era a primeira vez que eu passava o natal fora de Angola.&nb
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CAPÍTULO 14
Dia 31 de Dezembro, véspera de ano novo.Um novo dia se pintou sobre o céu e o final do ano estava à vista. A nossa volta para Angola estava cada vez mais próxima, sendo que fora agendada para o mês de Janeiro. Olhei para o calendário e já estávamos no dia 31 de Dezembro, o dia que antecede o mítico dia 1 de Janeiro, e tal como boa parte da humanidade, eu só pensava em tudo novo para o ano novo.Deitada na cama, fiz uma introspecção para não voltar a cometer os erros que cometi naquele ano. Só assim eu podia seguir em frente, porque se fizermos uma análise extensiva da vida, podemos perceber que viver a cometer sempre os mesmos erros é um desperdício de vida. E eu tinha muito por corrigir.Levantei-me da cama, fui ao quarto de banho e, como todas as vezes que vou para o quarto de banho, eu olhei para o espelho antes de cuidar da minha higiene pessoal, mas no espelho eu só conseguia ver o interior, e no meu interior eu via uma Marie pensativa por dentro da Mari
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CAPÍTULO 15
Alguns dias depois...Chegamos ao dia 15 de Janeiro, o dia da operação do meu avô. Os alarmes tocaram mais cedo. Acordamos todos dominados por uma sensação de insegurança desesperadora, era tudo culpa da possibilidade de perder o avô. Não conseguíamos encontrar um único momento de sossego, passei parte da noite a pensar nas difíceis noites da minha avó e do meu pai que juntos passaram quase uma vida ao lado do avô. Em menos de duas horas, tínhamos de estar no hospital, o desânimo tomou tomado conta de nós, embora que alguma réstia de esperaça vivesse dentro de nós.A aflicção tomou conta de nós e pesou como uma espécie de camada de chumbo lançada no mar, e isso nos afundava ao desespero que notava-se facilmente na palidez dos nossos rostos. Com o clima demasiado tenso no hospital, não havia condições de confortar uns aos outros, a dor era enorme e o seu efeito parecia atingir todos com a mesma intensidade. Quando as coisas insistem em não correr bem, Deus é o pri
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CAPÍTULO 16
No Aeroporto Internacional 4 de Fevereiro, encontramos o senhor Jacinto à nossa espera. Fiquei feliz por revê-lo e a minha mãe previamente perguntou sobre o funcionamento das coisas. Os meus pais raramente se afeiçoam a alguém, eles sempre foram egocêntricos da cabeça aos pés. Quanto a mim, eu apenas conseguia pensar em duas coisas: matar as saudades de casa e abraçar a dona Isilda. As nossas saudades eram imensas, e também não via a hora de rever a Evandra.Abandonamos o Aeroporto Internacional 4 de Fevereiro nas imediações do distrito da Maianga e fomos para casa. Durante o caminho enviei uma mensagem para a Evandra a pedir para que ela ficasse à minha espera em minha casa, ainda assim ela demorou a chegar, mas não achei mal porque rever a minha melhor amiga era extremamente importante para mim. A saudade apertava o meu coração, e eu queria dar os presentes em primeira mão para a minha melhor amiga.Adormeci durante o caminho, o sono emanado do cansaço acabou por venc
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CAPÍTULO 17
Dia 27 de Janeiro. Um novo dia, um novo amanhecer.Uma noite coberta de sobressaltos raramente vem acompanhada de um lindo amanhecer. Acordei com um enorme receio de enfrentar o mundo, por causa de tudo o que aconteceu, e o pior de tudo é que nesta mesma semana a dona Isilda iniciava o seu tempo de ausência para cuidar da sua primeira filha, que deu à luz o seu primeiro neto. Mãe dedicada como é a dona Isilda, a minha mãe nem lhe poderia negar a dispensa, porque a dona Isilda sempre foi um exemplo de mãe protectora e abdicaria do seu emprego, caso lhe fosse negada a dispensa por algum tempo.Sem ninguém para conversar e desabafar. Em casa estávamos apenas minha mãe e eu naquele domingo em que ela acordou cedo e decidiu acordar-me também para irmos juntas à missa adorar e agradecer a Deus pelas enormes bênçãos. Fomos à igreja e, na volta, a minha mãe tentou criar algum assunto na tentativa de gerar uma empatia entre nós, mas estava difícil, porque sempre que ela me pergu
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CAPÍTULO 18
Acordei desesperada por provar a minha inocência no primeiro dia de aulas. Sempre foi menosprezado por mim, mas aquele primeiro dia de aulas seria determinante para a minha vida. Tudo o que me ocorria era ir ao Colégio Nobre e provar a minha inocência. Ainda cedinho, despedi-me da minha mãe e fui com muita pressa para o carro, onde dei um enorme “bom dia” ao senhor Jacinto e pedi-lhe para que chegasse o mais rápido possível ao colégio.Cheguei ao colégio e fui directamente para o refeitório. Na trajectória do portão ao refeitório todos para mim apontavam. Fui forte ignorando tudo e todos, pois a única verdade é que eu nada tinha a perder, apenas duas escolhas, era tudo ou nada.Permaneci focada na enorme vontade de fazer justiça. Em pensamentos íntimos eu pedia forças para seguir em frente. Minutos depois, corajosamente entrei no refeitório, onde me deparei com a maioria dos alunos. Nunca fui uma pessoa apologista da violência ou de atitudes que levam a grandes d
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CAPÍTULO 19
As noites bem passadas decorrem de boa companhia ou de um doce sonho, e eu tive um doce sonho. Acordei com uma óptima disposição para mais uma quinta-feira da minha vida. O Davi sempre ligava para mim a cada manhã para dar-me um bom dia, mas aquela quinta-feira não seguiu o hábito, tornando-se o dia da excepção. Olhei para o telemóvel e não havia registos de chamadas não atendidas.Desci para tomar o café da manhã. Ansiosa, fiz um compasso de espera a ler o jornal com outra parte da minha atenção voltada para o telemóvel e mesmo assim a ligação não chegava, o pior de tudo é que o hábito faz o costume.O ego deixava-me cega e impedia-me de perceber o óbvio. A realidade é que tamanha ansiedade era consequência da enorme saudade do carinho e da atenção que um dia me foram dadas pelo Davi. Os meus ouvidos ansiavam pela sua voz e se Maomé não vai à montanha, a montanha vai a Maomé. Deixei o orgulho de lado e liguei para ele, com o pretexto de desejar-lhe um óptimo dia, mas nã
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CAPÍTULO 20
Acordei desesperada por provar a minha inocência no primeiro dia de aulas. Sempre foi menosprezado por mim, mas aquele primeiro dia de aulas seria determinante para a minha vida. Tudo o que me ocorria era ir ao Colégio Nobre e provar a minha inocência. Ainda cedinho, despedi-me da minha mãe e fui com muita pressa para o carro, onde dei um enorme “bom dia” ao senhor Jacinto e pedi-lhe para que chegasse o mais rápido possível ao colégio.Cheguei ao colégio e fui directamente para o refeitório. Na trajectória do portão ao refeitório todos para mim apontavam. Fui forte ignorando tudo e todos, pois a única verdade é que eu nada tinha a perder, apenas duas escolhas, era tudo ou nada.Permaneci focada na enorme vontade de fazer justiça. Em pensamentos íntimos eu pedia forças para seguir em frente. Minutos depois, corajosamente entrei no refeitório, onde me deparei com a maioria dos alunos. Nunca fui uma pessoa apologista da violência ou de atitudes que levam a grandes d
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