As noites bem passadas decorrem de boa companhia ou de um doce sonho, e eu tive um doce sonho. Acordei com uma óptima disposição para mais uma quinta-feira da minha vida. O Davi sempre ligava para mim a cada manhã para dar-me um bom dia, mas aquela quinta-feira não seguiu o hábito, tornando-se o dia da excepção. Olhei para o telemóvel e não havia registos de chamadas não atendidas.
Desci para tomar o café da manhã. Ansiosa, fiz um compasso de espera a ler o jornal com outra parte da minha atenção voltada para o telemóvel e mesmo assim a ligação não chegava, o pior de tudo é que o hábito faz o costume.
O ego deixava-me cega e impedia-me de perceber o óbvio. A realidade é que tamanha ansiedade era consequência da enorme saudade do carinho e da atenção que um dia me foram dadas pelo Davi. Os meus ouvidos ansiavam pela sua voz e se Maomé não vai à montanha, a montanha vai a Maomé. Deixei o orgulho de lado e liguei para ele, com o pretexto de desejar-lhe um óptimo dia, mas nã
Acordei desesperada por provar a minha inocência no primeiro dia de aulas. Sempre foi menosprezado por mim, mas aquele primeiro dia de aulas seria determinante para a minha vida. Tudo o que me ocorria era ir ao Colégio Nobre e provar a minha inocência. Ainda cedinho, despedi-me da minha mãe e fui com muita pressa para o carro, onde dei um enorme “bom dia” ao senhor Jacinto e pedi-lhe para que chegasse o mais rápido possível ao colégio.Cheguei ao colégio e fui directamente para o refeitório. Na trajectória do portão ao refeitório todos para mim apontavam. Fui forte ignorando tudo e todos, pois a única verdade é que eu nada tinha a perder, apenas duas escolhas, era tudo ou nada.Permaneci focada na enorme vontade de fazer justiça. Em pensamentos íntimos eu pedia forças para seguir em frente. Minutos depois, corajosamente entrei no refeitório, onde me deparei com a maioria dos alunos. Nunca fui uma pessoa apologista da violência ou de atitudes que levam a grandes d
Acordei desesperada por provar a minha inocência no primeiro dia de aulas. Sempre foi menosprezado por mim, mas aquele primeiro dia de aulas seria determinante para a minha vida. Tudo o que me ocorria era ir ao Colégio Nobre e provar a minha inocência. Ainda cedinho, despedi-me da minha mãe e fui com muita pressa para o carro, onde dei um enorme “bom dia” ao senhor Jacinto e pedi-lhe para que chegasse o mais rápido possível ao colégio.Cheguei ao colégio e fui directamente para o refeitório. Na trajectória do portão ao refeitório todos para mim apontavam. Fui forte ignorando tudo e todos, pois a única verdade é que eu nada tinha a perder, apenas duas escolhas, era tudo ou nada.Permaneci focada na enorme vontade de fazer justiça. Em pensamentos íntimos eu pedia forças para seguir em frente. Minutos depois, corajosamente entrei no refeitório, onde me deparei com a maioria dos alunos. Nunca fui uma pessoa apologista da violência ou de atitudes que levam a grandes d
Levantei cedo da cama e comecei a andar pela casa. Cheguei até à sala de estar e olhei para as paredes onde ficam as fotos de família. A saudade que sentíamos do meu pai aumentava a cada segundo, tanto para mim como para a minha mãe, que também era especialista em omitir sentimentos, tal como o meu pai. Todavia, ninguém resiste aos sintomas do amor e a saudade é o maior deles. A saudade surge com maior frequência quando chega a noite. De um jeito inexplicável ela cria pontes de nostalgia e aperta o coração quando menos esperamos.O meu avô recuperou-se e o meu pai voltou a Luanda. O novo dia expressou a prévia necessidade de ir ao Aeroporto a busca do meu pai. A minha mãe não demonstrava, mas eu notei nela uma enorme ansiedade de voltar toca-lo e sentir o seu cheiro mais do que nunca. Fomos ao Aeroporto 4 de Fevereiro e lá um diálogo fluido matava as saudades, através deste dialogo o meu pai notou uma enorme mudança em mim e me teceu um elogio qua
A primeira quinzena do mês de Dezembro.Em uma risonha manhã fiz a minha formatura, e ao cair da noite estava previsto o Baile dos Finalistas. Todos aqueles acontecimentos para mim simbolizavam o começar de um enorme sonho... estar no jardim dos consagrados finalistas nobres acompanhada dos meus pais, ouvir as honrosas palavras do director Xavier e receber o meu certificado de conclusão do ensino médio das mãos do então ministro da educação. As escolas dos ricos são privilegiadas e desfrutam da presença de figuras da ribalta nestes dias.O melhor de tudo é que a minha família estava comigo. Os meus pais estiveram comigo naquele momento fundamental da minha vida. No fim das contas, a minha mãe conseguiu o que sempre quis, eu finalmente tinha concluído o ensino médio em Ciências Económicas e Jurídicas, e meio caminho estava andado para a concretização da minha formação. Logo após a entrega do meu certificado, a minha mãe proporcionou um momento inesquecível quando te
Numa sexta-feira aparentemente calma, que apresentava um tempo brando, eu estava sozinha em casa, vi alguns destinos turísticos da cidade de Coimbra e depois disto já não tinha nada a fazer, então pensei em ir ver a Evandra. Liguei para o número telefónico dela, mas por tamanha infelicidade o mesmo dava indisponível.A saudade falava mais alto, então decidi ir até ao Prenda da forma mais eficaz naquele momento, apanhei um táxi e este deixou-me nas imediações do bairro do Prenda, local onde a Evandra continuava a residir, apesar de ter feito uma mudança para um apartamento de carácter definitivo.Sempre tive fobia a moto-táxi, por estar quase sempre ouvir coisas que abordavam sobre casos de quedas e colisões fatais protagonizados por moto-táxis. Depois de um mau pressentimento, decidi fazer a caminhada até à morada da Evandra.Nas imediações da sua nova casa, eu deparei-me com três marginais, e o mais rude dos meliantes me interpelou.- Ei moça, para aí! É mel
O destino levou-me a tomar uma das maiores decisões da minha vida, eu tinha que decidir se iria estudar para Coimbra ou Lisboa. Bem, eu bem que poderia escolher Lisboa, mas eu sentia um enorme aperto no peito quando pensava na mudança para Lisboa. As coisas só nos causam dor quando sentimos a necessidade de não sentir a dor, seria muito mais fácil se conseguíssemos ignorar a dor por completo.Perante o risco de ir para Lisboa e reencontrar o Davi, eu optei pela cidade de Coimbra, que é bastante conhecida por ser uma das mais antigas cidades académicas da Europa. Ainda assim, o meu pai insistiu para que eu fizesse a inscrição em outra universidade. Lisboa e Porto, definitivamente, estavam fora de questão, não conseguia pensar em outro sítio até a minha mãe lembrar que a minha prima Alexandra estava a residir há anos na Comunidade Autônoma dos Açores.- Viver com a Alexandra? Descarto esta possibilidade, eu desejo mesmo é ir viver para Coimbra
Meu pai se deixou convencer pela minha mãe, que conseguiu a sua permissão para eu mudar-me para os Açores. A minha mãe e eu saímos de Lisboa rumo ao nordeste do Atlântico, local onde fica localizada a Comunidade Autónoma dos Açores. Enquanto viajávamos, mal pude acreditar em tanta beleza natural, o arquipélago dos Açores é realmente uma espécie de paraíso continental.Aterramos no aeroporto João Paulo II. Sinceramente, eu preferi mil vezes os Açores à Lisboa ou Porto, pois nunca fui muito apreciadora da cidade invicta e na grande Lisboa estava o Davi. Sempre fui covarde para o amor.Pisamos o solo açoriano.- Ponta Delgada, Ilha de São Miguel, Açores – dizia a minha mãe. - É aqui onde tu vais viver, filha. Olha, lá está a Alexandra. Xandra! Xandra!- Minha Tia! Marie! Priminha, estás crescida e já não soltas muco pelas narinas.Eis o motivo de o mundo inteiro tratar a Alexandra por "a sarcástica" ou "a estúpida".Ela sempre foi r
Setembro.Dei-me tão bem com os Açores, que não cheguei a notar que já estava lá há mais de um mês. Não tardou a chegar a hora do início do ano lectivo em Portugal.- Marie, acorda! Marie, acorda!- Deixa-me dormir só mais um pouco, Alexandra. Só mais cinco minutos.- Marie, levanta-te!- Ai! Alexandra, és tão estúpida, tinhas mesmo de molhar-me deste jeito.- Ahh, foi necessário. A bela adormecida não acordava, então tive de usar o método tradicional, para constatar se a minha priminha ainda estava em vida.- Alexandra, eu disse só mais cinco minutos, desde ontem que tens estado a tornar a minha vida difícil.Era horrível viver com a Alexandra, mas, no final das contas, ela apenas queria o meu bem, sendo que era o meu primeiro dia de aulas na Universidade dos Açores. O meu primeiro dia na Universidade foi um tanto quanto difícil, o melhor é que fiz logo uma amiga. As coisas no início quase sempre não são agradáveis, a adaptação