Numa sexta-feira aparentemente calma, que apresentava um tempo brando, eu estava sozinha em casa, vi alguns destinos turísticos da cidade de Coimbra e depois disto já não tinha nada a fazer, então pensei em ir ver a Evandra. Liguei para o número telefónico dela, mas por tamanha infelicidade o mesmo dava indisponível.
A saudade falava mais alto, então decidi ir até ao Prenda da forma mais eficaz naquele momento, apanhei um táxi e este deixou-me nas imediações do bairro do Prenda, local onde a Evandra continuava a residir, apesar de ter feito uma mudança para um apartamento de carácter definitivo.
Sempre tive fobia a moto-táxi, por estar quase sempre ouvir coisas que abordavam sobre casos de quedas e colisões fatais protagonizados por moto-táxis. Depois de um mau pressentimento, decidi fazer a caminhada até à morada da Evandra.
Nas imediações da sua nova casa, eu deparei-me com três marginais, e o mais rude dos meliantes me interpelou.
- Ei moça, para aí! É mel
O destino levou-me a tomar uma das maiores decisões da minha vida, eu tinha que decidir se iria estudar para Coimbra ou Lisboa. Bem, eu bem que poderia escolher Lisboa, mas eu sentia um enorme aperto no peito quando pensava na mudança para Lisboa. As coisas só nos causam dor quando sentimos a necessidade de não sentir a dor, seria muito mais fácil se conseguíssemos ignorar a dor por completo.Perante o risco de ir para Lisboa e reencontrar o Davi, eu optei pela cidade de Coimbra, que é bastante conhecida por ser uma das mais antigas cidades académicas da Europa. Ainda assim, o meu pai insistiu para que eu fizesse a inscrição em outra universidade. Lisboa e Porto, definitivamente, estavam fora de questão, não conseguia pensar em outro sítio até a minha mãe lembrar que a minha prima Alexandra estava a residir há anos na Comunidade Autônoma dos Açores.- Viver com a Alexandra? Descarto esta possibilidade, eu desejo mesmo é ir viver para Coimbra
Meu pai se deixou convencer pela minha mãe, que conseguiu a sua permissão para eu mudar-me para os Açores. A minha mãe e eu saímos de Lisboa rumo ao nordeste do Atlântico, local onde fica localizada a Comunidade Autónoma dos Açores. Enquanto viajávamos, mal pude acreditar em tanta beleza natural, o arquipélago dos Açores é realmente uma espécie de paraíso continental.Aterramos no aeroporto João Paulo II. Sinceramente, eu preferi mil vezes os Açores à Lisboa ou Porto, pois nunca fui muito apreciadora da cidade invicta e na grande Lisboa estava o Davi. Sempre fui covarde para o amor.Pisamos o solo açoriano.- Ponta Delgada, Ilha de São Miguel, Açores – dizia a minha mãe. - É aqui onde tu vais viver, filha. Olha, lá está a Alexandra. Xandra! Xandra!- Minha Tia! Marie! Priminha, estás crescida e já não soltas muco pelas narinas.Eis o motivo de o mundo inteiro tratar a Alexandra por "a sarcástica" ou "a estúpida".Ela sempre foi r
Setembro.Dei-me tão bem com os Açores, que não cheguei a notar que já estava lá há mais de um mês. Não tardou a chegar a hora do início do ano lectivo em Portugal.- Marie, acorda! Marie, acorda!- Deixa-me dormir só mais um pouco, Alexandra. Só mais cinco minutos.- Marie, levanta-te!- Ai! Alexandra, és tão estúpida, tinhas mesmo de molhar-me deste jeito.- Ahh, foi necessário. A bela adormecida não acordava, então tive de usar o método tradicional, para constatar se a minha priminha ainda estava em vida.- Alexandra, eu disse só mais cinco minutos, desde ontem que tens estado a tornar a minha vida difícil.Era horrível viver com a Alexandra, mas, no final das contas, ela apenas queria o meu bem, sendo que era o meu primeiro dia de aulas na Universidade dos Açores. O meu primeiro dia na Universidade foi um tanto quanto difícil, o melhor é que fiz logo uma amiga. As coisas no início quase sempre não são agradáveis, a adaptação
Com ou sem sono, sempre gostei de estar de pijama dentro de casa, mesmo não estando deitada na minha cama. Acordei esgotada psicologicamente em um sabádo em que eu apenas levantei da cama para comer e depois regressei. Tudo à minha volta estava uma enorme desarrumação, e eu não tinha forças para nada.A vida é feita de cravos e rosas. Em alguns dias as olheiras no meu rosto pareciam permanentes. A saudade conduzia as diversas noites em branco que vivi em Ponta Delgada, a saudade dói muito e machuca o coração. Graças a uma réstia de esperança, enfrentei aqueles dias de intensa nostalgia. Não importa o tamanho da nossa capacidade de adaptação, é muito difícil estar longe de casa e, principalmente, da família. Neste dia, o céu estava escuro, a ausência das estrelas no céu entristecia a noite, senti a falta das estrelas no céu porque elas faziam-me sentir a presença da minha mãe que é uma grande amante da astronomia. Tanta saudade à flor da pele fez-me perceber qu
Os dias tristes não foram eternos, pois a tristeza é tão passageira quanto a felicidade, e, com o tempo, aprendi que uma mente desocupada é consumida pelos piores pensamentos, pensamentos estes que são como abutres.Conheci dias melhores quando me engajei em um monte de projectos sociais, e vi que mente ocupada não atrai vazio. A Daya e eu decidimos inverter o rumo dos acontecimentos e apegamo-nos ao Senso que perspectivou um enorme déficit demográfico nos Açores, devido a fraca taxa de natalidade. Temendo a crise demográfica e a redução do Índice de Desenvolvimento Humano, demos início ao nosso primeiro projecto social de alguma relevância, com a ajuda de Yuri Guia, o renomado Antropólogo angolano radicado no mundo ocidental. Quando o vi, pensei que Yuri fosse mais um intelectual arrogante, mas quando tivemos a oportunidade conversar, fui surpreendida pelas suas diferentes visões sobre o mundo e com o seu vasto conhecimento social. Yuri teve de ausentar-se de Angola por causa
Algum tempo depois...Chegara a hora da tão sonhada licenciatura em Serviço Social, por incrível que pareça, eu finalmente iria tornar-me licenciada pela rejuvenescida Universidade dos Açores.Aeroporto João Paulo II, Ponta Delgada, Açores. 10h:24 PM.- Mãe, pai, estamos aqui!- Marie, minha filha! Finalmente, chegamos – disse a minha mãe. - É que já estávamos a ficar literalmente domiciliados em aviões.- A tua mãe e eu quase morremos de saudades, minha princesa. Hoje posso dizer-te com toda a satisfação que mais uma vez surpreendeste-me pela positiva, estamos muito orgulhosos de ti e de tudo o quanto tens feito, filha.- O pai não imagina o bem que as suas palavras fazem, são mais do que palavras de reconhecimento, são as palavras que sempre esperei ouvir. Pensei que jamais fosse receber um elogio do meu próprio pai, passei parte da minha vida a sentir-me medíocre.- Não, não digas isto, filha! Tu provaste o contrário a mim e ao teu
O tema escolhido por mim para o meu trabalho de final do curso foi...A Desvalorização da Vida Humana Em África.O subdesenvolvimento do continente africano é tão grande que há quem pense que África é um país e não um continente. O que notamos durante as questões e analíses que foram feitas ao longo do nosso trabalho é que nós africanos precisamos ser mais honestos e parar de continuar a procurar culpados para os nossos próprios erros. É indubitável que fomos colonizados, mas os grandes culpados da nossa situação são os governantes africanos que são dominados pela ambição desmedida que afundou o continente em genocídios, segregações, guerras e graves crises políticas. A vida humana em África tem sido muito desvalorizada, o povo africano vive uma vida infernal e os Estados regidos por regimes totalitários são a prova de que a democracia é fictícia em África. Também há que se admitir que os 500 anos de escravidão prejudicaram o continente em vários sentidos, entretanto, es
Entrada de Nova Chamada... Número Desconhecido. Portugal.Uma chamada de um número desconhecido a esta hora?! – me dizia a Alexandra. – Não atendas, Marie! Deve ser mais uma dessas brincadeiras de péssimo gosto.- Como também pode ser importante, Alexandra.- Já disse, não o faças, Marie.- Já o fiz – retruquei, atendendo o telemóvel. – Alô! Estou... Quem fala?Tirei o telemóvel do ouvido e voltei-me novamente para a Alexandra.- Alexandra, deixa-me ouvir, pouco barulho, não me vai acontecer nada, a chamada pode ser importante.Levei outra vez o telemóvel ao ouvido.- Alô!- Sim, alô. Tudo bem, Marie?Aquela chamada parecia misteriosa e todo mistério causa alguma desconfiança. - Depende. Quem fala? - Ouve, daqui quem fala é o David, o gêmeo do Davi.- Oh, David! Há quanto tempo! Que surpresa! Como conseguiste o meu terminal tel