Todos os capítulos do O Segredo do Vale - Vol 1 - Série Os Viajantes: Capítulo 11 - Capítulo 20
62 chapters
Troquei um inferno pelo outro
   Depois de uma estreia desesperadora na escola, voltamos para casa naquele ridículo ônibus escolar. Eu queria ter ido de moto, mas com o monte de desculpas esfarrapadas que recebi, resolvi ir logo com Be para não causar problemas nos meus primeiros dias. E agora, queria que fosse o último. Além de todo mundo se vestir como se estivesse indo para uma reunião de nerds dos anos sessenta, não havia vida social. Be disse que não havia lanchonete, pizzaria, cinema, ou mesmo internet. Até porque essa última seria inútil, não havia computador e nem TV em nenhuma casa. Depois do pôr do sol, todos ficavam em suas casas. As mulheres cozinhavam ou faziam tricô com a ajuda das filhas. Os homens colocavam óleo nas dobradiças que estavam rangendo, retocavam a pintura de algo ou simplesmente ficavam sentados na sala conversando sobre o sermão do pastor Jonas. Era surreal.
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O som da morte
   Sentei-me no muro com as pernas penduradas para o precipício sentindo a calma de uma nova manhã no Vale da Morte. Ouvi um ronco vindo de longe. Virei-me para a estrada e esperei. Uma moto amarela passou correndo. Eu ri. A mesma moto que infernizou os habitantes do Vale há um ano. O pastor Jonas realmente iria ter trabalho com essa aí. Ouvi o motor diminuir a rotação e então acelerar. Ela estava voltando. Começou a diminuir quando chegou perto. Fez a curva e saiu da estrada passando pela grama em direção a mim. Pulei do muro e fui deter a garota antes que fizesse alguma besteira. Ela parou.   — Ei! Cuidado com o gramado. Fica sempre úmido e pode derrapar. Não vai querer ir direto naquela direção. — Apontei para o Vale da Morte.   — Não me importo. To mesmo querendo umas alternativas pro suicídio.&nbs
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Fazendo o reconhecimento
   Ouvi uma voz bem próxima. Dei um resmungo e virei de lado. Eu havia dormido muito pouco.   — Maria Cristina. Acorde, querida. O café está na mesa esperando por você. Maria Cristina, venha, eu ajudo você a se levantar.   Tia Odete segurou meu braço tentando me levantar da cama. Não saí do lugar. Então me lembrei do barulho na madrugada e resmungando com a boca colada no travesseiro perguntei à tia Odete.   — O que era aquele barulho infernal essa noite?   — São aqueles rapazes. Gostam de nos perturbar. São pessoas do mal. Nunca se aproxime deles, Maria Cristina. Eles são realmente do mal.   Virei-me de barriga pra cima, os olhos bem abertos.   — O que eles fizeram pra vocês dizerem que são do mal?   — Ah, é uma
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Ela é Suicida
   Depois de almoçarmos descemos a colina. Vi a moto amarela passando na estrada.   — Parece que a rebelde vai matar aula hoje. — Iana comentou rindo.   Estávamos seguindo para o mirante do Vale da Morte. Ouvi o ronco da moto voltando a toda velocidade e vi algo que fez meu coração gelar. Uma moto amarela saindo da curva, indo direto para a grama úmida, derrapando, caindo de lado, batendo no muro e arremessando um corpo para o precipício.   Desapareci no mesmo instante que ela sumiu de vista por sobre o muro. Reapareci no ar a uns quatrocentos metros abaixo e segurei o corpo que caía. Flutuei devagar tomando cuidado com ela. Estava desacordada. Havia sangue escorrendo de sua cabeça. Enquanto subíamos, ela abriu ligeiramente os olhos e voltou a desmaiar. Iana e Ansur estavam parados próximo ao muro.   Pousei lentamente ao
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Tô sonhando?
   “Droga. De novo com dor de cabeça.” Pensei sem abrir os olhos. Rolei na cama virando-me de lado e me encolhendo. “Tive um sonho estranho. Eu corria com minha moto tentando achar a saída da cidade. Mas andava em círculos. De repente não consegui fazer uma curva e fui jogada por cima daquele muro no precipício. Depois eu apenas vi um par de olhos azuis brilhantes. Mas não eram olhos normais. Não havia nem a parte branca, nem a pupila. Eram totalmente azuis como bolas de vidro fluorescentes. Sonho maluco.” Abri os olhos e fiquei totalmente confusa. Não sabia onde estava nem porque estava ali. Olhei em volta tentando me situar. Não era nenhuma casa de Barbie. O cômodo era enorme. Era noite e a luz de um abajur dava uma fraca claridade ao quarto. Eu estava deitada numa cama gigante com um dossel de veludo azul. As cortinas também em veludo azul estavam abertas. Havia um aparad
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Linda e irritante
   Descemos para sala para esperar que Krica se arrumasse. Fiquei sentado no sofá sem forças para levantar. O esforço extra para trazer a moto dela havia consumido ainda mais minha energia. O pequeno cochilo que dei ajudou um pouco meu corpo. Mas não minhas forças sobrenaturais. Ansur também não estava em boa forma. Gastou energia curando o ferimento de Krica.   — Acho melhor ela voltar para casa dos tios até que possamos resolver o que fazer. Não é seguro mantermos um habitante aqui. Jonas irá agir de alguma forma e temo que isso recaia sobre os outros habitantes.   — Tem razão, Arion. Mas também precisamos descobrir logo se ela é a profetisa.   — Ela não é profetisa. Se sibila é realmente uma pessoa, como pode ser uma adolescente maluca?   — Iana, sei que ela
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Lindo, Irritante e… Tem Algo Errado
  Depois do banho saí do quarto e me deparei com um corredor comprido com várias portas. “Caramba! Será que moram sozinhos nessa mansão enorme?”. Segui pelo corredor deserto e silencioso. Era dividido ao meio por uma escada. Parei e olhei para baixo. Arion estava sentado num sofá, em uma sala que era maior que meu apartamento. Desci a escada e ele veio em direção a mim.   Apontou minha camisa.   — Vai ficar com frio.   Não dei importância. Não estava com frio e não havia posto outro casaco na mochila.   — Não trouxe outro casaco.   Ele tirou a jaqueta revelando um peitoral musculoso. Ah, droga.   — Sei que vai ficar grande, mas acho que Iana não irá gostar se eu pegar alguma coisa do armário dela para você.   Essa eu
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A perda de um habitante
   Alcancei os dois no meio da floresta de sumaúmas. Já haviam começado nosso ritual. Juntei-me a eles batendo nas sapopembas emitindo um som que ecoava por toda floresta. Conhecíamos cada palmo do vale e cada uma das quinhentas sumaúmas que havia. Estávamos quase terminando nosso trabalho quando Ansur bateu e uma sapopemba estourou causando um grande estrondo. Um líquido azul fluorescente jorrou para todos os lados e, unindo-se novamente bem à nossa frente, tomou uma forma humana. Ficamos olhando sem saber o que era exatamente. O líquido azul foi se tornando mais claro e ralo à medida que se transformava em névoa. E antes de desaparecer completamente, exibiu a figura do Sr. Sampaio. Nenhum de nós três se moveu ou falou por uns dois minutos contemplando o vazio. Iana sentou-se no chão e segurou a cabeça com as mãos.   — A frase estava certa
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Pensam que sou otária
   Levantei cedo e desci. Resolvi que entraria no jogo deles. Talvez fosse mais fácil descobrir por que o povo agia assim e por que aqueles três eram tão diferentes. Durante as batidas da noite houve um som muito mais alto. Como se tivessem estourado um enorme barril cheio de água. Essa era mais uma das coisas que eu pretendia descobrir. Ao chegar na sala vi meu tio afagando as costas de tia Odete e Be sentado com o queixo entre as mãos. Havia algo errado.   — Aconteceu alguma coisa?   Tio Fernando olhou para mim pela primeira vez sem o sorrisinho bobo.   — Um habitante do vale morreu essa noite. O pastor Jonas fará um culto especial agora pela manhã.   — Morreu de quê?   — Parece que foi o coração.   Tia Odete olhou para meu tio balançando a cabeça. 
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O ciclo começou
   Ficamos ao lado do templo para escutar; cada detalhe era importante. As pessoas estavam nos acusando de ter matado o Sr Sampaio. Era o esperado. Sabíamos que a culpa recairia sobre nós depois do barulho que a sapopemba fez ao estourar. O sermão do pastor Jonas estava levando o povo a esquecer que o Sr Sampaio existiu. E para nosso espanto, Krica estava dentro do templo acompanhando o culto.   — Será que Ansur não curou direito a batida que essa garota deu com a cabeça? — Iana  falou sem entender o que Krica estava fazendo no templo. — Pra uma rebeldezinha ela desistiu muito rápido.   — É. Rápido demais. Ela é esperta, não rebelde. — Eu disse tirando a única conclusão plausível depois de estar com ela.   — Não é rebelde — Iana afirmou em tom sarcástico.Ler mais