(Uma aventura pirata completa em 1 capítulo!)
*– Chega um momento no qual se você não for capaz de perdoar alguém por todo erro que esse alguém cometeu... o erro passa a ser seu – digo.
A psicóloga fala:
– Essa afirmação é poderosa. Também chegou a ela escrevendo uma aventura do seu personagem pirata?
– Ônix. Sim. Embora seja aquilo de ser um processo que provavelmente me ajuda a elaborar melhor o que aprendi na minha vida. Ou perceber que aprendi isso, aqui fora. Escrever nunca foi, para mim, uma fuga. E boa parte de eu escrever é compartilhar essas observações.
– Quer compartilhar comigo o episódio do qual a sua conclusão de hoje foi abstraída?
– Sempre quero, se tem alguém querendo escutar... até quando não tem – Revelo. – Mas é mais bacana quando tem, então deixe-me aproveitar do seu interesse em ouvir.
*
O pirata Ônix e sua mais recente maruja aceita, Larapia, estavam num beco formado entre uma construção e um encosta, na periferia do vilarejo no qual haviam acabado de chegar.
O capitão sentou-se sobre um barril vazio e velho, de muitas que estavam ali, e falou:
– Vamos esperar um pouco aqui.
– Por quê? – Lara aproveitou para perguntar, pois havia notado que o capitão estava muito cauteloso e evitando ser visto desde que entraram no vilarejo.
– Este vilarejo é perigoso para mim. O que significa ser perigoso para nós. E podemos evitar lutas desnecessárias.
– Um pouco de ação me faria bem – Larapia disse, socando a própria mão. Ainda não havia enfrentado ninguém além de alguns marujos da tripulação, em apostas por lutas que não eram sérias.
– É exatamente o que estou dizendo – Ônix falou. – Pouco é melhor do que muito. Logo vai anoitecer e vai ser mais seguro para chegarmos na Taverna Oi meu Boi.
– Esse nome de taverna eu consigo imaginar a razão – Lara falou, sentando-se ao lado do capitão, noutro barril, enquanto pegava uma garrafa com água de bolsa que carregava. – Mas por que será que este vilarejo se chama Ponte Poente se não tem nenhuma ponte nele ou para chegar até ele?
– Esse é um mistério que...
A frase de Ônix foi cortada quando ele precisou se esquivar de uma lâmina curta sustentada pela mão de alguém que pulou do telhado, com a evidente intenção de cortar sua garganta.
Lara cuspiu parte da água que engolia e teria sacado o punhal, mas ao ver quem atacou, hesitou.
Era uma menina de doze anos, magrela, suja, com roupas escuras e surradas. Tinha o cabelo na altura dos ombrinhos.
Ônix também não sacou a espada, embora tenha se reposicionado para um local com mais espaço para se mover.
A menina se virou para ele, ignorando Larapia e deixando claro que seu único alvo era o pirata. E para não deixar dúvidas, falou:
– Eu tenho que te matar!
Ônix bufou um riso e respondeu:
– Eu diria que a preferência nessa fila é dos mais velhos, mas ao me atacar, ficou claro que você não está afim de respeitar quem tem mais experiência de vida que você. Seja como for: acho que está me confundindo com outra pessoa, criança. Eu não roubo pirulitos.
Mantendo o semblante de fúria, a menina disse:
– Você é o pirata Ônix!
– Acertô, miserarvi! – Ônix falou, rindo por um instante, mas fez uma careta no seguinte, porque aquilo queria dizer que a menina queria mesmo matá-lo. – Será que roubei algum baú com moedas no qual também tinha seus pirulitos e eu não vi?
– Você deixou meu pai morrer por um crime que você cometeu. Ele era inocente!
Larapia estava a um passo da menina, mas não fez menção de segurá-la ou atacá-la. Ônix perguntou, mexendo no cavanhaque de forma casual:
– Sério? E qual deles é o seu papai?
A menina ficou ainda mais furiosa. Larapia fuzilou o capitão com um olhar de recriminação e perplexidade, pela falta de sensibilidade e por ele não saber exatamente qual inocente morreu por causa de um crime que ele cometeu.
Em sua defesa, Ônix disse:
– Inocente abre um leque muito amplo de possibilidades.
– Ele se chamava Crispan! – a menina gritou.
Ônix olhou para o lado, vasculhando a memória, sacudiu a cabeça em negação e falou:
– Eu tenho certeza de que o nome é mais familiar pra você do que pra mim.
Larapia repetiu a cara de recriminação e perplexidade. Dessa vez sacudiu a cabeça para deixar clara a desaprovação. Ônix ergueu os ombros, como se não fosse culpa dele e a menina falou:
– Ele morreu por sua causa e você vai morrer por causa disso.
– São muitas causas pra pouco eu – o pirata falou, erguendo os dedos. – Então, não, obrigado.
A menina apertou o cabo da adaga empunhada, sacou outra com mão esquerda e avançou na direção do alvo.
O pirata esperou sem se alarmar. A menina mirou a ponta da uma das adagas na barriga dele e estocou. Ônix girou a espada ainda na bainha, e desceu a ponta do cabo da espada sobre a mão que segurava a lâmina que não o alcançou.
Sentindo a dor na mão desarmada, ela avançou a perna direita num círculo enquanto atacava com a outra lâmina que ainda segurava. Mas o pirata avançou na diagonal e bloqueou o ataque com o cabo de sua espada e o encaixou, após girar o pulso, atrás do cabo da adaga dela e puxando para frente, desarmou a oponente.
E para desencorajá-la de vez, voltou o cabo com força em direção à barriga da menina para tirar-lhe o ar. A pequena, no entanto, segurou o braço do pirata com sua mão direita e passou a perna esquerda por cima do braço dele, por ele ter se abaixado o suficiente para ficar na altura do estômago dela. E numa fração de segundos a menina tinha travado o braço dele atrás do joelho dela e girou para frente, rolando no chão e enfiando a cara do pirata no chão e forçando seu ombro que estalou.
Se ela estivesse com uma das adagas, teria cravado a lâmina nas costas dele. Por isso, Ônix teve chance de erguer o pé direito e, feito uma cauda de escorpião, atingiu a cabeça da menina, que caiu mais para frente.
Ambos se colocaram de pé e Ônix sacou a espada com a mão esquerda, soltando a bainha e deixando o braço direito o mais imóvel possível. Com olhar furioso, apontou a espada para as duas adagas caídas e esperou a menina pegá-las de volta e se posicionar.
Larapia colocou a mão sobre o punhal e estava atenta para agir. Não queria que nenhum deles ali morresse, mas sabia que existia a possibilidade de precisar ferir algum deles para evitar isso.
A menina atacou, gritando em fúria, e Ônix se defendeu de todos os ataques de forma magnífica, embora a menina transformasse um movimento bloqueado em outro de retomada mais rápido do que o pirata pudesse imaginar que seria.
Mas aquilo precisava acabar e ele a desarmou uma segunda e última vez, antes de chutá-la para trás, mais forte do que Lara gostaria de ter presenciado, e por isso resolveu segurar a menina assim que ela se colocou de pé, de forma que a pequena não pudesse escapar,
– Eu... vou... te matar! – a menina gritou. Segurava para não chorar.
– Só se for de raiva – Ônix riu. – Porque para me despachar deste mundo, você teria de ser forte e esperta e não fraca e idiota. Conheço muitos piratas que te matariam aqui e agora, para não terem um possível problema em outro lugar, depois. Pra se vingar tem que saber esperar e você não soube. Mas você é uma menina de sorte, porque eu sou mais eu a ponto de apostar que você nunca vai ser uma oponente à minha altura. E por não precisar ter medo de você, vou fingir que isso não aconteceu.
A caixa toráxica da menina subia e descia. Ela ofegava de fúria, e mesmo assim Ônix falou:
– Quer me contrariar? Então concorde comigo e vaza daqui, pra treinar mais, e só volte a me procurar quando tiver uma técnica de luta menos patética.
Lara arregalou os olhos, analisando o capitão que desta vez a ignorava, focado totalmente na menina imobilizada. O olhar do capitão era duro e não havia mais sorriso. E de forma implacável, ele continuou:
– Embora eu seja capaz de apostar que você não vai conseguir se tornar alguém um dia. Saia daqui, antes que eu mude de ideia.
Ônix apontou a espada para a menina e olhou para a maruja.
Lara soltou a menina e ficou um pouco aliviada quando a menina, mesmo em prantos, correu na direção contrária da lâmina, deixando as adagas para trás. Ainda assim, Larapia não estava feliz. Estava decidindo se o capitão merecia ser seguindo.
O semblante maldoso de Ônix, porém, se desfez e uma careta de dor assumiu o lugar. Ele largou a espada, segurou o ombro dolorido e falou:
– Pra quem queria um pouco de ação, você não fez muito.
Fingindo não estar apreensiva ainda, Lara falou, num tom forçadamente alegre:
– Eu fiz sim. Assisti você apanhando duma criança.
A verdade era que Ônix havia de fato poupado a menina e isso contava a favor dele. O capitão sequer percebeu que estava sendo julgado e falou:
– Acho que você precisa colocar meu ombro no lugar.
– Ela conseguiu te ferir assim, com o que você chamou de técnica de luta patética dela?
O pirata arregalou os olhos e bufou um riso que parecia um intruso na cara de dor:
– Aquilo não é uma criança! Coloque um garfo em cada mão dela e menina se torna uma X-23!
Lara não sabia o que seria uma X-23, mas o capitão falava muito de coisas do passado esquecido que só ele conhecia. Para tentar entender o homem para quem trabalhava, para saber se continuaria fazendo isso, perguntou:
– Então porque fez ela acreditar no contrário?
– Porque eu não ia matá-la de forma alguma. E quando digo forma alguma, me refiro a todas as formas de matar alguém. Incluindo tirar dela um objetivo de vida. Neste mundo cruel, isso é extremamente necessário. Eu bem sei...
Lara ergueu as sobrancelhas e falou, segurando o braço do capitão:
– Vou contar até três e...
– E empurrar no dois, não é?
– É – ela falou.
Larapia disse um e empurrou com força o braço do capitão para cima, já que capitão tentou prever quando seria. Ele não gritou. Era o que fazia quando a dor era muito grande. Caiu de joelhos no chão e ficou um tempo. Depois se sentou e se arrastou até se encostar num barril atrás de si.
Larapia pegou a espada dele e recolocou na bainha. Deixou em um dos lados do capitão e se sentou no outro. Depois de um tempo que julgou ser o suficiente para o capitão ter recuperado a voz, retomou o assunto:
– Você deixou mesmo o pai dela morrer no seu lugar, ou nem se lembra do caso?
– Lembro exatamente do caso. Aconteceu neste vilarejo. Por isso eu disse que preferia não ter de vir aqui, mas... precisamos do que viemos buscar. E sim, fiz o que a menina falou. Mas o cara ia morrer de qualquer forma. Tinha sido envenenado por soldados que servem ao regente desse lugar.
– E não havia um antídoto?
– Era um tipo de veneno muito raro e com antídoto ainda mais. Como o homem não queria morrer sofrendo pelos próximos dias, e impor tal sofrimento também à sua família; resolveu se enforcar. Foi quando o conheci. Ironicamente eu estava naquela floresta para não morrer e ele estava pelo contrário.
– Como o convenceu a assumir um dos seus crimes?
– Induzindo o coitado a me convencer a disso. É sempre mais eficaz. O preço dele foi eu livrar sua família da dívida com o tal regente. Aceitei pra dar alguma paz pro cara. E para diminuir a recompensa por minha cabeça, temporariamente. O que me ajudou a realizar outro crime bacana.
– Temporariamente?
– Claro. Me orgulho dos meus feitos e algum tempo depois eu assumi o crime, inocentando o coitado. Deve ser por isso que a menina veio atrás de mim. E como o falecido era gente boa, pelo que ouvi falar, eu sou odiado neste lugar, porque não sabem que o cara ia morrer, fosse como fosse.
– E porque não contou isso pra menina?
– Porque é mais difícil ela me achar do que achar o regente e soldados que executaram a ordem dele. Ela estará mais segura mirando o ódio dela em mim.
– Você se importa com a menina. Finge não ter coração, mas tem um bem mole.
– Se acha isso você é mais ingênua que a criança. Estou é investindo numa aliada em potencial, que um dia, ao entender a situação toda, pode vir a lutar do meu lado.
– E se ela não te perdoar por ter não ter contado toda a verdade hoje?
– Aprendi muitas coisas nessa minha vida pirata. Uma delas é: Chega um momento no qual se você não for capaz de perdoar alguém por todo erro que esse alguém cometeu... o erro passa a ser seu.
Lara sacudiu a cabeça concordando com isso. E o capitão continuou:
– Não tem como eu ter certeza de como ela vai reagir, mas posso fazer minha aposta. E se for o caso de ela não me perdoar, o problema vai ser dela.
– Mas isso pode te afetar, se ela insistir em te punir.
– E isso vai me mostrar mais sobre mim mesmo, onde estou fraco. Então não é diferente de nada nesta vida. Tudo é desafio. Quando assumi a vida pirata, me lancei em direção a eles, porque também aprendi que não adianta fugir e encarar traz algumas vantagens. E sempre tem a possibilidade de ela realmente se tornar alguém bem forte.
– Isso não é pior pra você?
– Eu te disse, no dia que sempre tem um risco de perdermos tudo. E a aposta sempre vai crescendo. Então, sim, posso me dar mal. Quase me dei, com ela do tamanho que tem agora. Mas, o risco é maior se ela não se tornar alguém realmente forte. Quando alguém precisa mostrar que é forte é porque não é. Não o suficiente.
Larapia ficou em silêncio e Ônix explicou melhor, por achar que ela estava tentando entender o que ele dizia e não custava ele deixar bem claro:
– Enquanto ela estiver precisando provar algo pra si mesma, será fraca por dentro e não vai me derrotar, por mais que consiga me atingir vez ou outra. Se ela se fortalecer, de verdade, vai entender que não pode mudar o passado ou que a melhor forma de fazer isso é compreendendo o que de fato aconteceu. Aliás, corre risco de eu morrer antes dessa menina me encontrar outra vez. Além disso tudo, se alguém tem que contar toda a verdade para ela, é a mãe, pra quem eu contei tudo, incluindo o quanto a coisa toda me favoreceu.
– Você insiste em se mostrar como um cretino, mas quanto mais te conheço, mais entendo que não é bem assim.
– Tolice sua.
– Será? Caso houvesse alguma forma de você conseguir o raro antídoto que salvaria a vida do homem, você o teria ajudado?
– E quem disse que eu não tinha como conseguir tal antídoto?...
Larapia desencostou do barril e se ajoelhou ainda ao lado do capitão, mas virada para ele e perguntou, muito séria:
– Você tinha como conseguir o antídoto?
O capitão continuou olhando para frente, porque não olhava exatamente para frente, mas sim para as lembranças, e respondeu:
– Bom, o mistério sobre o nome Ponte Poente, deste vilarejo no qual não tem ponte alguma, não vai ser o único que levará daqui, na sua mente...
– Retiro o que eu disse. Você é um cretino sim, porque sabe como eu detesto suas respostas tão vagas que não chegam a ser respostas – Lara estava em conflito. O capitão era mestre em fazer isso. Não facilitava que o admirassem ou o entendessem por completo, como se oferecesse razão para ser seguido tanto quanto não, e apenas esperasse para ver o resultado. A maruja estava sempre pesando tudo numa balança que nem sempre pendia a favor de Ônix. E muito séria, ela continuou: – Eu... te admiro muito. Mas te odeio também. E talvez o ódio seja maior que a admiração.
– Então somos dois – Ônix bufou um riso amargo – Porque há momentos nos quais é exatamente o que eu sinto.
– E não deseja que não fosse assim?
– Mudar uma realidade não é simples. O fato de eu me sentir assim é exatamente por eu desejar mudar uma realidade com a qual não concordo. Vai por mim: quanto menos desejar... seja o que for, menos problemas vai causar.
Larapia olhou para cima, tentando ver onde o Sol estava posicionado, mas não o viu e perguntou:
– Ainda vamos esperar muito?
– Acho que sim.
E ela se deitou no colo do capitão e falou:
– Então vamos fingir que eu não te odeio, por um tempo.
– É o que eu faço – ele falou, sacudindo a cabeça em afirmação. – E na maior parte do tempo, funciona.
– Se quiser, eu posso te matar e te aliviar desse fardo de ser você – Larapia sugeriu, sorrindo.
– Faria essa gentileza?
A mulher fingiu pensar. Numa careta falsa e falou:
– Humm... não vai dar. Você perdeu aquela aposta e ainda não me pagou.
– Nesse caso, acho que nunca vou pagar, embora sempre vá te dar esperanças do contrário. Ou pelo menos até eu conseguir realizar meu grande feito. Depois de realiza-lo, é provável que o futuro que vou alterar, não seja um no qual eu vou querer viver e aí...
– E se você não conseguir realizar esse tal feito? – Larapia perguntou com muita cautela, porque sabia que era a motivação maior do capitão. – Minutos atrás considerou a possibilidade de morrer antes da menina crescer pra te caçar novamente.
– E quem disse que eu não conseguirei só porque posso morrer antes disso? Talvez morrer seja exatamente o que garanta isso.
As palavras foram ditas em meio a um sorriso enigmático demais para Larapia e por isso ela perguntou:
– Posso te pedir pra me prometer uma coisa?
– Só se for para eu nunca te prometer nada.
A mulher então acertou uma cotovelada nas costelas do capitão e decretou: – Super cretino.
– Para o alto e avante... – Ônix falou, mirando o céu que escurecia acima deles.
*
– Eu fiz várias anotações aqui – a psicóloga me diz. – Há mais de uma frase que você poderia usar de conclusão neste episódio, mas escolheu aquela. Mas no momento quero focar no que disse sobre desejos, porque tudo é importante e isso parece ser a força motriz do que quer que seja.
– Quer saber quais são os desejos do pirata Ônix?
– Quero saber qual é o seu maior desejo no momento, como William.
– Acho que... – penso em voz alta. – Meu desejo, agora, é não ter desejo algum. Substituí-los por vontades serenas. Aquele querer, sem exagero, e sem felicidade pautada nisso. Ou até ficar muito feliz quando conseguir realizar tal querer, mas não ficar nem um pouco triste quando não acontecer. Aprender a lidar com a falta de certeza. Em relação a tudo, aliás. E... pensando bem... talvez eu tenha mesmo vindo aqui hoje para chegar nessa resposta. Então...
– E você pretende voltar?
– Talvez. Espero que saiba lidar com a falta de certeza. Mas, por precaução, eu sempre me despeço dizendo: Hasta!
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