A floresta ao redor da aldeia estava em silêncio. Não o silêncio natural da noite, mas um vazio inquietante que fazia até mesmo os mais bravos sentinelas do clã estremecerem. Lírica e Kael estavam lado a lado no limite da clareira principal, observando a linha das árvores enquanto as palavras do sentinela ainda ecoavam em suas mentes.— Algo está vindo.Kael fechou os olhos, tentando sentir a energia que vinha do Coração de Noctis. Era como uma batida distante, uma vibração que reverberava em seu ser. Ele sabia que a entidade que se aproximava não era apenas uma ameaça ao clã, mas também uma parte de si mesmo.— Eu posso sentir. — Ele murmurou, sua voz baixa e tensa. — É como se fosse um fragmento do que ficou para trás.Lírica o observou, preocupada. A conexão dele com o Coração parecia cada vez mais profunda, e ela sabia que isso poderia colocar Kael em perigo.— O que exatamente está vindo, Kael? — Ela perguntou, tentando manter o tom calmo.— Não tenho certeza. Mas sei que não vai
A manhã chegou envolta em uma neblina densa, como se o próprio vale estivesse tentando esconder o destino que aguardava Lírica e Kael. O clã estava tenso, e os sussurros sobre o ultimato do Guardião ecoavam entre os membros. Lírica, porém, estava focada em Kael. Sua conexão com o Coração parecia intensificar-se a cada hora, como se uma força invisível estivesse tentando reclamar algo dele.Kael acordou inquieto, a energia ao seu redor mais intensa do que nunca. Ele passou a mão pelo rosto, tentando afastar o cansaço, mas o peso das sombras parecia invadir até mesmo seus sonhos. Lírica estava ao lado dele, observando-o em silêncio.— Não dormiu? — Ele perguntou, sem olhar para ela.— Como eu poderia? — Ela respondeu suavemente, sentando-se ao seu lado. — Você está se transformando, Kael. Eu posso sentir.Ele sorriu de forma amarga, finalmente encontrando o olhar dela. — E se eu me perder, Lírica? O que acontece com você, com o clã?Ela não respondeu imediatamente. Em vez disso, segurou
A revelação sobre o segundo Guardião pairava sobre o grupo como uma luz tênue em meio à escuridão. Enquanto o sol nascia, Lírica, Kael, Ayra e Darion preparavam-se para partir em busca dessa nova esperança. O tempo, porém, não era um aliado. Com cada hora que passava, Kael parecia cada vez mais envolto pela energia do Coração de Noctis, sua aura prateada brilhando intensamente até mesmo à luz do dia.Lírica sentia o coração apertado. Kael estava mudando, mas ela não sabia dizer se o estava perdendo ou se ele estava se tornando algo além do que compreendia. A responsabilidade de liderar e proteger seu clã pesava sobre seus ombros, mas o amor que sentia por ele era um fogo que a consumia, impulsionando-a a seguir em frente.Rumo ao DesconhecidoAyra liderava o caminho, o mapa antigo em mãos, enquanto Darion ajudava a decifrar os detalhes das inscrições. Segundo o que descobriram, o Guardião exilado havia sido banido para as Terras Cinzentas, um lugar esquecido pelos vivos, onde os ecos
A tensão entre os membros do grupo era quase palpável enquanto avançavam de volta pelas Terras Cinzentas. Cada passo os aproximava de uma decisão impossível, e as palavras do Guardião exilado ecoavam incessantemente em suas mentes. Kael, especialmente, parecia distraído. Ele podia sentir o Coração de Noctis pulsando dentro dele com uma intensidade crescente, como se o objeto tivesse consciência e estivesse respondendo às escolhas que estavam por vir.A Sombra da TraiçãoEnquanto acampavam à beira de um riacho escuro, Ayra se afastou do grupo, sob o pretexto de vigiar os arredores. Lírica percebeu algo estranho na atitude da loba. Desde que encontraram o Guardião exilado, Ayra estava mais introspectiva, como se carregasse um peso invisível.— Está tudo bem? — Lírica perguntou quando a alcançou.Ayra hesitou antes de responder. — Só estou tentando entender se estamos no caminho certo.Lírica arqueou uma sobrancelha, cruzando os braços. — Desde quando você questiona nossos objetivos?Ayr
A luz dourada emanada pela pedra parecia viva, envolvendo o grupo em uma teia de energia pulsante. Por um instante, tudo ficou em silêncio, exceto pelo som do próprio coração de Kael, que ele podia ouvir claramente, como uma batida profunda e rítmica. Quando a luz finalmente diminuiu, o cenário ao redor havia mudado.Eles não estavam mais nas Terras Cinzentas.A VisãoO grupo se viu em uma vastidão nebulosa, onde o céu parecia um mosaico de memórias vivas. Imagens de tempos antigos dançavam entre as nuvens: uma floresta exuberante sendo consumida por uma escuridão avassaladora, figuras humanoides lutando contra bestas colossais, e um trono vazio no centro de um templo destruído.— Onde estamos? — Lírica perguntou, apertando os punhos.— Dentro da pedra. — Respondeu Darion, com a voz entrecortada de espanto.Uma figura começou a se formar no centro da visão: uma mulher alta, de cabelos brancos como a neve e olhos brilhantes, envolta em um manto prateado. Sua presença era imponente, mas
O vento cortava as Terras Cinzentas como lâminas afiadas enquanto o grupo se preparava para o confronto inevitável. O Guardião exilado sabia mais do que havia revelado, e Kael sentia uma inquietação crescente em sua mente. Algo estava se aproximando, algo sombrio e perigoso. Ele podia sentir a presença de uma força desconhecida, quase como se o próprio Coração de Noctis estivesse reagindo ao que estava por vir. A Jornada Até o Guardião A caminhada até o antigo templo, onde o Guardião exilado supostamente aguardava, foi silenciosa e carregada de tensão. O grupo mal trocava palavras, todos absorvidos pela gravidade da situação. Kael sentia o peso do destino pressionando seus ombros. Cada passo o afastava mais da pessoa que ele era antes, e a realidade do que estava por vir começava a se cristalizar em sua mente. — Não sabemos o que esperar. — Lírica murmurou, seus olhos fixos à frente. — Precisamos ser cau
O vento cortante que atravessava o templo agora parecia sussurrar os segredos mais profundos, como se as próprias paredes, que haviam visto séculos de história, soubessem da gravidade da situação. Kael e Lírica estavam paralisados, presos não apenas pela revelação do Guardião, mas pela iminente sensação de um destino que os puxava para um abismo do qual não podiam escapar. Cada palavra daquele ser enigmático parecia se expandir em suas mentes como uma verdade dolorosa, uma sentença inevitável.O Guardião exilado observava-os com um olhar impassível, como um juiz imutável que já sabia o veredito, mas ainda aguardava a reação dos réus.— Então é isso. — Kael murmurou, sua voz quase inaudível, enquanto o peso da escolha começava a se formar diante dele. Ele olhou para Lírica, sentindo sua alma ser dilacerada pela dúvida. — Você entende o que ele está dizendo, Lírica? Se isso for verdade, não há como escapar.Ela olhou fixamente para ele, seus olhos brilhando com uma intensidade que ele n
As Terras Cinzentas se estendiam diante deles, vastas e desoladas, como um campo silencioso de promessas e mistérios. O vento frio cortava a pele, levantando poeira e folhas secas, criando uma atmosfera que parecia quase hostil. Mas para Kael e Lírica, essa era a única direção possível. Eles sabiam que não podiam voltar atrás, e que a única maneira de encontrar uma resposta para a maldição do Coração de Noctis era continuar avançando.Kael caminhava à frente, os passos pesados e ritmados no solo frio. Sua mente estava em turbilhão, cada pensamento sendo uma luta contra o que o Coração representava dentro de si. A escuridão que o consumia estava mais forte a cada dia, como se uma sombra estivesse crescendo dentro de sua alma, querendo dominá-lo. Ele sentia a pressão constante, a sensação de que cada respiração que tomava estava sendo sugada pela força daquele artefato sombrio. Era como se o próprio Coração estivesse se alimentando de sua energia vital.Lírica, ao seu lado, sentia a ten