Capítulo 6
Ramon levantou os olhos, arqueando levemente as sobrancelhas, uma presença intimidadora emanava dele. Ele grunhiu em questionamento:

– Hum?

Calisto mordeu os dentes, dizendo:

– Tudo bem, pela sua felicidade, vou engolir essa.

Ramon olhou para ele por um momento, seus olhos profundos e calmos. Em seguida, ele disse ao Nilton:

– Vamos embora.

Nilton ligou o carro e eles foram embora. Calisto sentiu que deveria fazer algo por Daniela, então se virou para voltar e procurá-la, mas percebeu que ela já estava de saída.

– Dani. – Calisto se aproximou dela.

– Tenho que voltar para casa agora. – Ela sorriu para Calisto.

Calisto olhava para ela com um sentimento amargo no coração, dizendo:

– Bem, Dani, sobre sua mãe procurando um coração compatível, vou me esforçar para te ajudar a encontrar um adequado o mais rápido possível.

Ao pensar em sua mãe, seu coração apertou. Ela se esforçou para esconder seus sentimentos, mas sua voz ainda traiu sua emoção, um pouco trêmula:

– Mesmo?

Um coração não era como outros órgãos, era muito difícil de encontrar.

Alguns nunca conseguiam esperar até o fim.

– Calisto, obrigada. – Ela disse, sem saber como expressar sua gratidão.

Seus olhos ficaram levemente marejados.

– Somos amigos, não há de quê. – Calisto respondeu, um pouco sem jeito. Se a pessoa entrando pela porta dos fundos não fosse o Ramon, ela estaria um passo mais próxima de seu sonho. – Eu te levo para casa.

Daniela recusou rapidamente:

– Não precisa.

Ela não estava voltando para a casa dos Vieira, então... Recusou.

Calisto não insistiu.

...

Depois de se separar dele, Daniela pegou um táxi de volta para a mansão de Ramon.

Pensando que Ramon provavelmente nunca pisaria ali, seu humor ficou muito mais leve, e Dona Berta notou que ela não estava mais tão contida como quando acabara de se mudar, então perguntou com um sorriso:

– Aconteceu algo de bom? Você parece bem animada.

Ela abaixou a cabeça para trocar de sapatos no hall, dizendo:

– Eu gosto muito de morar aqui com a Dona Berta, só nós duas.

Dona Berta ficou em silêncio.

– Então, sou um estorvo?

Essa voz...

Daniela levantou a cabeça e viu um homem em pé na sala, com uma aura fria, olhando para ela com um olhar de superioridade, misturado com certo desprezo.

Se não fosse pelas revistas de finanças e programas na TV, ela provavelmente nem o reconheceria como seu “marido”.

Ela não esperava que ele aparecesse.

– Por que você... Voltou?

Daniela não conseguia entender o que ele estava planejando fazer, ele não odiava esse casamento?

Ele deveria querer muito evitar vê-la.

O rosto de Ramon ficou sombrio, uma frieza estava claramente estampada em suas sobrancelhas. Ele questionou:

– O que, eu ainda preciso da sua permissão para voltar?

Daniela abaixou a cabeça, realmente, era ela quem havia “invadido” o território dele.

– Assine isso. – Ramon disse, jogando um contrato de divórcio na mesa.

Daniela olhou rapidamente para a mesa. Não era uma surpresa, ele queria o divórcio, o que era natural, só que agora ela não podia se divorciar, tinha que esperar até a cirurgia da sua mãe.

– Ram... – Ela nem sabia como se referir a ele. – Será que...

Suas palavras foram interrompidas por Ramon:

– Não quer se divorciar? – Ele parecia não se surpreender com sua reação. Se ela fosse do tipo que se divorciaria alegremente, não teria feito esse pedido desprezível de que ele se casasse com ela. – Ótimo, espero que você não se arrependa.

Ramon deu um passo para sair.

Obviamente ele havia compreendido errado as coisas. Daniela queria explicar, seu passo apressado para alcançá-lo a fez tropeçar no batente da porta, e a bolsa que segurava caiu no chão, derramando todo seu conteúdo.

Ela se abaixou depressa para recolher. Parecia que faltava algo. Procurando, ela descobriu que caiu aos pés de Ramon, quase instintivamente ela estendeu a mão para pegar, tentando esconder.

Quando ela tocou, uma cartela de comprimidos foi pisada.

Ela levantou a cabeça.

Ramon tinha um rosto inexpressivo, parecendo interessado em sua inquietação, abaixou-se e pegou a cartela.

Dois comprimidos.

Ela havia tomado um.

Sobrou um.

Ele virou a cartela, estava escrito "Poslov", talvez ele não entendesse imediatamente o que era, mas embaixo dizia “pílula anticoncepcional de emergência, use dentro de 72 horas após relação sexual”.

Até um idiota entenderia o que significava isso.

Ele mantinha os olhos baixos, encarando a mulher que parecia bem nervosa de quatro no chão. Com o rosto inexpressivo e um tom de voz jocoso e sarcástico, ele disse:

– Na noite de núpcias, foi procurar outro homem?

Naquele momento, ele estava profundamente enojado com essa mulher.

Lentamente, os dedos de Daniela se enrolaram, e ela se forçou a reprimir qualquer tremor, levantando-se devagar.

Diante de seu escárnio, ela não retrucou uma palavra.

Pois ela não tinha como contestá-lo.

– Eu não queria me casar com você. – Ela disse, a voz trêmula.

Seu ar de falsidade o enojava, e Ramon jogou diretamente em seu rosto o objeto que tinha em mãos, arranhando levemente o canto do olho dela.

Daniela fechou os olhos por reflexo, e a dor no rosto não era nada comparada à humilhação que sentiu com aquele gesto. Ela mordeu os lábios e se abaixou para pegar o remédio, apertando-o com força, deformando o fino plástico e machucando a palma da mão.

– Gosta de homens, não é? Vou te dar o que quer. – Disse Ramon, antes de se retirar.

No entanto, bastou apenas uma noite para que Daniela entendesse o significado daquelas palavras.

Na manhã seguinte, quando se preparava para ir trabalhar, Nilton apareceu na mansão.
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