Você me Pertence {1}

CAPÍTULO 1

Eu suspiro mexendo no copo, quando o bartender enche pela quinta vez o copo de quem estava ao meu lado, enquanto o meu estava intacto desde que cheguei nesse lugar. A música alta, os corpos dançando e suados na pista de dança, e o cheiro de álcool não era algo que me agradava. Sinceramente, as lembranças da última vez que estive em um lugar como esse, me vieram à tona, me deixando perturbada. Eu não me sentiria assim se estivesse na presença dele, e disso eu tenho certeza. Talvez desde o primeiro momento, eu nunca tenha realmente gostado de festas como essa, mas sim de estar me divertindo com ele, o que acabou confundindo a minha mente. 

— Ei, você quer dançar, princesa?

A voz de Alan arrastada em meu ouvido faz com que eu vire a minha cabeça na sua direção, balançando-a para os lados.

— Não, eu vou ficar aqui mais um pouco...

Levanto o meu copo, numa forma de sinalizar que pretendo ficar bebendo. Mas a verdade é que estou desanimada.

— Você nem tocou no copo; — Ele tira o copo da minha mão e me lança uma piscadela. — Mas eu posso fazer isso por você.

Ele vira a bebida rapidamente e eu suspiro, não gostando do fato de ele estar tão bêbado. Eu sei que isso é normal quando você sai para um lugar como esse e quer se divertir sem pensar nos problemas, e ele me alertou antes de virmos que ele iria beber todas para esquecer todos os trabalhos propostos na faculdade. O destino realmente é uma coisa engraçada, não é? Em um momento estou na Itália fazendo amizade com um desconhecido que eu sabia que jamais veria na minha vida, e em outro eu estou fazendo faculdade e se tornando ainda mais próxima desse desconhecido. Quais eram as chances de eu me encontrar com ele aqui? Também, é a primeira vez na vida que saio de verdade e não fico em casa o tempo todo, e talvez por isso nunca nos esbarramos pela cidade.

Me pergunto se o mesmo destino me juntou à Benjamin com algum propósito, ou foi somente um acaso. Se eu fechar os olhos, eu ainda posso lembrar da última vez que nos vimos e nos despedimos com um beijo e uma promessa. Já se passou um mês desde aquilo, mas eu ainda não o vi, e não faço ideia se ele irá me procurar. Talvez ele nem lembre mais de mim…

Alan vai até a pista de dança, onde se mistura com as pessoas, dançando no ritmo agitado da música. De verdade, ele poderia ter maneirado na bebida, pois sendo a única sóbria aqui, terei que cuidar dos dois. 

Falando em dois...

Me levanto da cadeira, passando meu olhar ao redor da festa à procura de Lorena. Lembro dela dizer que queria ir ao banheiro, e como Alan ainda estava meio sóbrio, não quis ficar sozinho. Acho que os dois não estão se falando, e eu realmente não entendo o porquê. Eu sinto que os dois estão me usando como competição, ou algo do gênero. Eles se dão bem, mas estão sempre discutindo por alguma besteira, e isso me deixa agoniada.

Passo entre todas aquelas pessoas, e mesmo que fora da pista de dança, o lugar está numa aglomeração, eu quase não consigo passar para procurar por Lorena. No canto do local, em uma mesa mais afastada das demais, eu a vejo em pé em cima da mesa, dançando e balançando seus cachos enquanto uns homens rodeiam a mesa. Droga, porque é que ela tem que ser tão impulsiva a ponto de dizer que vai no banheiro e parar numa mesa cheia de desconhecidos, que sequer parecem confiáveis? Digo isso pelo olhar que eles têm sobre o corpo dela.

— Ah, não...

Lorena está na mesma faculdade que eu, cursando o primeiro ano do curso de enfermagem. Assim como eu, assim que ela chegou estava meio perdida sem conhecer as pessoas, e então logo nos identificamos e começamos a conversar. Essa é a primeira vez que saímos para nos "divertir". Ela tem dezenove anos, e é uma linda morena com cachos lindos e rebeldes, que logo chamam atenção onde passa. Nos conhecemos em uma das nossas aulas em conjunto, que foi laboratório. Incrivelmente e até me surpreendendo, eu escolhi cursar biomedicina após uma pesquisa na internet onde descobri que gosto de realizar pesquisas e estar em laboratórios. Ao menos eu estou me dando bem.

Olho mais uma vez para Lorena que parece estar se divertindo, sem noção alguma de como essa situação parece. Ela já estava alterada pela bebida quando se afastou da gente, não quero nem pensar que ela pode ter bebido mais alguma coisa, ou alguém até mesmo a ter drogado. Olho ao redor a procura de Alan, já que não me sinto tranquila para ir sozinha, mas não o encontrando, eu tomo uma atitude pois não posso deixá-la sozinha nessa situação. 

Caminho até lá, observando o tanto de garrafa de bebidas que os mesmos tomaram.

— Lorena, vamos embora daqui. Me desculpem pela bagunça. 

Seguro o seu braço, a puxando, mas ela se desvencilhou, me encarando com um sorriso.

— Não, deixa eu me divertir! — Ela exclama jogando os braços pro ar, como se isso fosse realmente divertido.

O homem mais próximo dela começa a acariciar a sua perna e eu sinto a bile se formar na minha garganta, nervosa por estar nessa situação e ela sequer estar ajudando.

— Lorena, eu não vou falar mais uma vez, por favor, vamos embora. — Murmuro lançando-lhe um olhar suplicante.

— Ih, gatinha, deixa ela. Estamos todos nos divertindo. — Um deles comenta com a voz carregada pela bebida e todos concordam levantando suas garrafas de bebidas.

Um deles afasta o meu braço quando vou tentar puxá-la novamente. 

— Ela está bêbada! Eu vou levar ela de volta! — Exclamo já irritada e assustada com essa situação. 

Não quero me exaltar e me meter ainda mais na confusão, mas isso o que eles estão fazendo é tão ridículo, e Lorena nem percebe o que está acontecendo. Eu poderia simplesmente a deixar e não estar passando por isso, mas com que consciência eu viveria? Não posso deixá-la de lado porque eu não gostaria que me deixassem, por isso, resolvi insistir. O sorriso debochado deles é o que mais me deixa agoniada.

— Estamos nos divertindo, você deveria participar também, boneca. Por que não se junta a ela? — Um deles comenta e eu sinto um calafrio percorrer a minha espinha, ainda mais quando todos lançam um olhar malicioso na minha direção, mais especificamente em meu corpo.

Eu poderia até mesmo vomitar só de pensar no que deve estar se passando na cabeça deles. São todos ridículos por estarem querendo se aproveitar dela, que está bêbada e sem pudor algum estão me olhando dessa forma, me impedindo de a tirar daqui. 

— Ah, Mel. Você está sendo chata. Se não quer se divertir então não atrapalhe a diversão dos outros. — Ela murmura e então cai no colo do loiro, que tem um sorriso de satisfação em seu rosto. 

Respiro fundo e ponho minha mão dentro da bolsa de lado que eu estou usando, pensando em alguém que pode me ajudar nessa situação já que Alan também está bêbado.

— Eu vou ligar para Jerry me ajudar com isso. 

Assim que tenho o meu celular em mãos, um moreno se levanta de rompante, pegando de repente o celular das minhas mãos, me deixando ainda mais assustada. Sua mão pressiona o meu braço com força, me encarando enquanto sinto as batidas do meu coração aceleradas em meu peito. Eu juro que podia sentir o meu corpo estremecendo com o pânico se alastrando pelo meu corpo. O olhar em seus olhos é o mesmo daquele cara que me assediou no banheiro, e isso faz com que eu congele.

— Calminha, boneca. Você não ouviu o que ele disse? Vem se divertir com a gente… Senta aqui do nosso ladinho.

Ele me puxa com força pelo braço e eu logo tento me desvencilhar, me debatendo em seus braços. Deus, eu estou tão horrorizada. Só agora me dou conta do quanto essa situação está passando dos limites. Lanço um olhar para Lorena, implorando para que ela acabe com isso agora mesmo, e parece que ele entendeu, pois a mesma se levanta e lança um sorriso sem graça para eles.

— Pessoal, eu acho melhor nós irmos. Já está tarde e…

Um deles a interrompe a puxando de volta para o seu colo, a assustando. Fecho os meus olhos sentindo que a qualquer momento eu vou desabar no choro, já que todo o meu corpo está fraco. 

— Não, eu tenho uma ideia melhor; — O loiro que Lorena está no colo põe seu dedo indicativo sobre os seus lábios e olha para os seus amigos. — Sabem que ideia é essa, rapazes?

Todos eles riem com escárnio, e tudo o que eu sinto é meu estômago se revirando, avisando que a qualquer momento eu vou pôr tudo o que comi para fora. 

Se eu já estava em pânico, agora eu já nem tenho mais controle do meu corpo. Estou rendida ao desespero e o meu corpo está congelado enquanto vários flashes da noite em que Benjamin me salvou me vêm à mente. 

— Sei bem. 

O moreno ao meu lado brinca com uma mecha do meu cabelo, me fazendo sentir repulsa. Eu sei que eu deveria estar gritando a plenos pulmões… olha quantas pessoas tem ao meu redor. Me pergunto se alguma dessas pessoas estariam prontas para nos ajudar. Eu sinto as lágrimas escorrendo por minha bochechas e Lorena também parece estar notando o que pode nos acontecer.

— Desculpe, mas queremos ir embora. 

A mesma cena se repetia diversas vezes na minha mente, mas dessa vez, eu tinha certeza que ninguém estaria para me salvar. Ele não estava aqui! Na manhã seguinte ele me fez esquecer tanto como se nada tivesse acontecido. Me pergunto qual o problema dessas festas comigo, pois sempre acontece algo que me deixa mal.

Eu não faço ideia, mas parece que um deles está discutindo e segurando Lorena a força, a levando para algum canto. 

— Shh, boneca. Vamos aqui para um canto que eu vou dar um jeito na sua boca atrevida. — Ele sussurra em meu ouvido e eu sinto o meu corpo tremer, sentindo calafrios de medo percorrem a minha espinha.

Ele me puxa pelo braço com bastante força para algum lugar que eu não faço ideia, pois a minha visão está embaçada por conta das lágrimas que deslizam incessantemente. A tontice me pega de surpresa, pois se antes eu já não estava conseguindo reagir, imagina agora. Eu já tenho certeza do que vai me acontecer, mas o meu corpo não consegue se mexer além de chorar, sentindo a bile subir pela minha garganta ao imaginar o que eles estão planejando fazer com nós duas. 

Os gritos de revolta de Lorena já são mais audíveis, mas eu somente fechei os meus olhos quando alguém me pressionou contra a parede com o seu corpo. Eu não faço ideia da ordem de como as coisas aconteceram, mas eu juro ter ouvido uma voz masculina xingando, parecendo muito bravo e o corpo do homem se afastando do meu. Quando eu abri os meus olhos tomando coragem, todos estavam apanhando, mas tudo o que eu via eram rastros da situação. Tinha até mesmo sangue e aquilo me assustou.

Eu só tive tempo para raciocinar com mais clareza quando eu senti as mãos de Cristina nas minhas, me puxando para longe da confusão. Eu ainda estava meio abalada enquanto desviava das pessoas na pista de dança, tentando entender o que tinha acabado de acontecer, ao mesmo tempo em que o alívio dominava o meu corpo.

Uma mão pousa em meu ombro e eu pulo para trás, me virando assustada.

— Caramba, eu sou tão feio assim? — Alan aparece na minha frente, parecendo estar achando graça.

Suspiro mais uma vez em alívio e logo o seu olhar alterna entre mim e Lorena, que parece ter enviado algum tipo de mensagem somente com o olhar, e ele logo parece ter entendido. 

— O que aconteceu? Vocês estão bem? — Alan põe suas mãos em meus ombros, me encarando com preocupação.

Lorena dá de ombros e suspira, abraçando o seu próprio corpo. Está claro em seus olhos que ela está muito abalada e se sentindo culpada pelo o que aconteceu. Mas eu não a culpo. Ela tinha bebido demais, e acredito que a sua intenção não era que as coisas chegassem nesse ponto. 

— Mel… — Alan sussurra, atraindo a minha atenção. 

— Eu preciso de ar, estou me sentindo sufocada. — Aviso esfregando os meus próprios braços, sentindo que aquele lugar estava me deixando claustrofóbica.

Na verdade, tudo naquele lugar estava me fazendo mal, até mesmo o cheiro estava me fazendo ter vontade de vomitar. Eu acho que não sou compatível com lugares assim.

— Vamos, eu vou levar as duas para o lado de fora.

Alan nos arrasta para um lado da balada e abre uma porta lateral, que dá de cara para o estacionamento aberto do local. Me apoio no parapeito da escada, respirando fundo em busca de ar.

— Eu vou chamar um táxi.

Vejo Alan se afastando da gente, indo até a calçada. Logo me sinto arrependida por ter dito a Jerry que ele não precisava ficar à minha espera, pedindo para ele voltar e descansar pelo resto da noite já que ele sempre estava disponível para mim.

— Me desculpa.

Me viro na direção de Lorena que tem um olhar arrependido na minha direção. Lanço-lhe um olhar tranquilizador, tentando não pensar muito no que nos acabou de acontecer.

— Não se culpe, estamos bem, certo?

Ela assente bastante abalada.

— Quando eles lhe seguraram, e eu olhei para você, tudo o que eu pude ver foi medo e só então percebi o quanto estava assustada. Eu não devia ter te colocado nessa situação, mas eu realmente não pensei que as coisas chegariam nesse ponto. Eles me ofereceram bebida e logo começamos a nos divertir. Eu perdi a noção do tempo e estava me sentindo tão louca que nem vi a maldade neles. Eu não deveria ter insistido para virmos. Eu realmente sinto muito.

Ela segura as minhas mãos, tentando me mostrar o seu arrependimento através do olhar e eu sorrio, já me sentindo mais calma. 

— Está tudo bem, mas… — Desvio o meu olhar voltando a lembrar do que aconteceu agora a pouco. — O que aconteceu lá dentro? Quer dizer, alguém estava batendo neles.

Um sorriso se desenha em seus lábios e ela assente.

— Sim, eu não o vi muito bem, mas o cara parecia furioso. Ele já tinha tirado o cara de cima de você quando tirou de cima de mim. Ele parecia muito forte, mas eu estava tão assustada que somente me preocupei em nos tirar de lá; — Ela ergue uma sobrancelha pensativa. — Ele parecia um gato. Se algum dia eu o ver na rua, farei questão de agradecê-lo.

Sinto o meu coração acelerar em meu peito e um alarme começar a soar na minha cabeça. Qual seria a chance do que eu estou pensando acontecer? A verdade é que é muito baixa, e talvez seja somente a saudade em meu peito que me fez desejar que tivesse sido ele. Eu não me importaria de vê-lo numa situação como essa. O seu abraço me conforta de forma que eu até mesmo esqueço dos problemas. Acho que estava tão imersa em meus pensamentos, que eu nem tive tempo para questionar Cristina sobre a aparência dele, pois ela já saiu disparada na direção de Alan, que parece estar falando com o taxista.

Confiro a hora em meu relógio de pulso e me dou conta que é meia noite. Um mês e uma semana havia se passado, e pelo visto, ele não viria atrás de mim. Pensar dessa forma me deixava com uma angústia enorme em meu peito. Eu tentei não pensar nele nesse meio tempo, porém mesmo tendo diversas coisas para fazer e resolver, foi ele quem ocupou a minha mente, e de verdade, espero que ele ao menos pense em mim de vez em quando.

Encosto minhas costas na parede logo atrás de mim e fecho os meus olhos, me sentindo cansada por parecer que sempre estou tentando resolver tudo, sendo que eu não consigo lidar com tantas coisas ao mesmo tempo. A morte da minha mãe ainda é muito difícil, e eu sei que a faculdade começará a pesar nas minhas costas. Nem quero imaginar como estarei quando começar a trabalhar. O meu único alívio e momento de paz está sendo estar com pessoas que me fazem bem, e principalmente, no conforto do meu apartamento. O contrato também ocupou os meus pensamentos, mas não importa quanto eu pensava, a minha resposta sempre era a mesma. Ser uma escrava dos seus desejos não é algo que entra na minha mente. Também não quero receber nada em troca. Eu só quero ficar com ele…

Sinto um aperto no peito e meu sangue gela quando um cheiro amadeirado invade as minhas narinas. Deus, eu podia pensar que é apenas uma coisa da minha cabeça, ou talvez alguém com o mesmo perfume passando por mim. Mas acho que estava com tanta saudade que eu reconheci imediatamente essa mistura com o cheiro de cigarro e álcool. 

— Ruiva...

O vento balançava o meu cabelo no ar, acariciando a minha pele e arrepiando o meu corpo. Quando a sua voz chegou até mim, eu tive que me segurar pois tinha certeza que não iria conseguir ficar em pé, já que quase instantaneamente eu senti o meu coração saltar em meu peito. 

Endireito a minha postura e me viro na direção da voz, me sentindo fraca e ansiosa. Os seus olhos me encaram com confusão, e parece que são o reflexo dos meus, mas isso não importa, pois ele está bem na minha frente e tudo o que eu quero fazer é me jogar em seus braços. 

Dou um passo em sua direção mas me interrompo quando me dou conta do seu estado. Benjamin tem o seu cabelo maior que o normal, com algumas mechas caindo por sua testa. De certa forma, ele já não me parece o mesmo homem de quando eu o conheci. Ele já não aparentava a mesma áurea, e talvez isso se deva pelo fato do seu olhar me parecer acabado. Ou por quê agora que o conheço um pouco mais do seu eu, eu consiga enxergar a dor em seu olhar. Meus olhos pousam em suas mãos que estão ensanguentadas e feridas, mas em seu rosto não há sequer um resquício de que alguém possa ter batido nele.

O meu coração acelera em meu peito quando eu me dou conta de que a minha teoria pode ser realmente verdade.

— Como… Como se machucou? — Pergunto me sentindo sem graça, pois a resposta está tão exposta que é até idiota da minha parte.

Como se tivesse acabado de sair de um transe, ele abaixa o seu olhar para as suas mãos e dá de ombros, como se isso não fosse grande coisa.

— Tive que lidar com alguns imbecis que estavam deixando a minha garota assustada. 

Sinto um arrepio percorrer a minha espinha e arfo me sentindo nervosa por suas palavras. Ele está deixando na minha cara que ainda sente carinho por mim, mas eu não sei como agir, pois já faz um mês desde que nos vimos e eu não faço ideia de quais são os seus pensamentos sobre a gente. É quase como se eu estivesse no escuro para conseguir enxergar um caminho.

— Eu… — A minha voz falha enquanto eu o encaro e ele logo ergue uma sobrancelha, dando alguns passos decididos na minha direção. Talvez ele saiba que eu não saiba como reagir… — Benjamin!

Sua mão vai para a minha nuca, e ele logo trata de me puxar para um beijo, como se o mundo não existisse ao nosso redor. Seus lábios encostam nos meus e sua língua implora para que eu ceda, e mesmo sentindo que posso me desmanchar em seus braços a qualquer momento, eu cedo. Nossas línguas buscam uma a outra em desespero, e é verdade que eu já sentia falta disso. Da sua mão apertando a minha cintura, do gosto dos seus lábios e como ele consegue me deixar tonta apenas com essas atitudes. Sua mão desceu até minhas costas e ele me cola em seu corpo, mordendo o meu lábio. Um calor começava a se alastrar pelo meu corpo, e inconscientemente, eu solto um gemido entre nosso beijo, aliviada por estar finalmente em seus braços. Aquele mesmo friozinho na barriga, causado pelo seu toque e beijo é tudo o que eu mais precisava. É quase como se eu estivesse no céu, ansiando para que essa sensação não se vá. 

Quando os nossos lábios se separam um do outro, a sua testa vem de encontro à minha e ele começa a acariciar a minha bochecha, me encarando com suas íris escuras que sempre me trouxeram tranquilidade e segurança. Na verdade, isso é o que eu estou sentindo nesse momento com ele e não poderia ser diferente. 

— Estava com tanta saudade… — Ele sussurra e eu sinto o efeito das suas palavras transbordando em meu peito. — Não faz ideia do quanto eu estava ansioso por isso. Só queria te tocar, sentir o seu cheiro; — Ele inspira fechando os seus olhos, como se estivesse em um transe no momento, e talvez seja assim que eu também esteja. — É como um bálsamo para mim.

Os meus lábios se desenham em um sorriso, já emocionada por ele pensar em mim dessa forma. Ele também é assim para mim, pois é ele que sempre está me dando segurança e fazendo com que eu me sinta melhor, quando na verdade, se ele não estivesse ali, eu não saberia lidar.

— Eu quero você, Mel.

As suas palavras me pegam desprevenidas, e um arrepio percorre a minha espinha. Deus, porquê é que ele tem tanto efeito sobre o meu corpo? Eu me sinto tão inebriada por ele, que dou um passo para trás, me afastando do mesmo para que eu consiga pensar com clareza. Mesmo que suas palavras sejam bonitas e ele realmente tenha sentido a minha falta esse tempo todo, ele deixou claro que não iria desistir da ideia de contrato. Eu sei que não deveria estragar o que está nos acontecendo com isso, mas é inevitável pois temos opiniões divergentes sobre esse assunto, e querendo ou não, isso pode afetar a nossa relação.

— Eu pensei bastante, mas eu ainda mantenho as minhas palavras. Eu não vou me vender. — Murmuro calmamente, em busca de avaliar as suas expressões.

Ele franze o cenho e começa a esfregar sua têmpora, de repente parecendo mais agitado.

— E eu também mantenho o que disse. Não pretendo abrir mão nem de você, nem deste contrato. E eu já te expliquei, ruiva. Você não vai estar se vendendo.

— De qualquer forma, eu não me sentiria legal fazendo isso. Eu finalmente me conheço e não estou a fim de obedecer mais ninguém. — Explico com a intenção de que ele entenda o meu lado e que possa ceder em relação a esse contrato.

— Eu não quero que me obedeça. Eu jamais cobraria isso de você. Nem precisa seguir as regras, eu só preciso que você assine. 

Ele termina num suspiro e eu o encaro, percebendo que o seu olhar carrega uma dor assim que ele diz essas palavras. É como se existisse algo muito sombrio e perturbador, que vai muito além do que eu consiga imaginar.

— Eu não sei… — Sussurro me sentindo exasperada com essa situação.

Eu estou completamente confusa quanto a isso. Benjamin fez com que eu enxergasse o mundo de uma forma diferente, e eu o agradeço por isso. Quando nos despedimos, eu deixei claro que iria lutar por ele, mas agora eu preciso deixar claro que não pretendo assinar nenhum contrato. Mas a verdade é que estou com medo dele fugir, sou eu quem deveria estar correndo para longe, mas eu estou assustada, pois quero que ele entenda que não pretendo ir embora enquanto houver uma chance de termos alguma coisa sem o contrato. Nesse meio tempo em que estivemos separados, eu me dei conta que o que ele me fez, apesar de ser uma lembrança chata, já não me doía tanto quanto era para doer. A verdade é que eu posso passar por cima disso tudo se ele disser que me quer de verdade, não por um capricho ou desejo sexual, mas porque deseja estar comigo. É só disso que preciso para lutar.

Os seus olhos nesse momento estão tão confusos quanto os meus, mas ele parece impaciente. O meu coração e o meu subconsciente entram em uma briga sobre qual caminho eu devo seguir, mas sequer tenho tempo de pensar pois mais uma vez, os lábios de Benjamin se encontram com os meus.


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