Você me Pertence {8}

CAPÍTULO 8

— Bom dia querida, espero que não tenha interrompido seus planos. Afinal, é domingo!

A mulher com um olhar simpático me cumprimenta com um sorriso caloroso, assim que entro em seu ateliê. 

— Não se preocupe. 

Seguro a sua mão que estava estendida.

— Me chame de Amanda, por favor. 

— Eu me chamo Mel...

— Por favor, entre. Vou te mostrar como tudo funciona. 

Sorrio timidamente e deixo que a mulher com aparência de trinta anos, com um rosto jovial e estilo sofisticado me guie pelo local. 

— O meu sobrinho falou bastante sobre você. Diz que você nunca trabalhou no ramo da moda mas que aprende rápido. Ele até mesmo disse que você tem um estilo cafona, mas que é ótima. — Ela comenta com um sorriso divertido enquanto eu balanço a minha cabeça para os lados, sem conseguir acreditar que Alan falou isso.

Lanço-lhe um sorriso sem graça e ela logo trata de continuar.

— Não é assim que eu vejo. Cada pessoa tem seu estilo próprio, e isso minha querida, é moda. Se você se veste para se achar linda no espelho, é moda. Me diga uma coisa, você gosta de como se veste? — Ela pergunta me encarando, como se quisesse ler o que há por trás dos meus olhos.

Eu me sinto tímida, mas penso sobre a sua pergunta. Apesar de hoje eu estar mais formal, com uma blusa de lã vermelha, gola alta e uma calça jeans, eu realmente gosto do estilo em que estou me descobrindo. 

— Sim, não consigo me ver com roupas diferentes.

— Perfeito! Bem, o primeiro mês aqui pode ser um desafio, mas você se acostuma. 

Ela me apresenta boa parte do local, que apesar de ser enorme e chique, é típico do que eu imaginava ser um ateliê. Várias pessoas trabalhando, bastante tecido. Salas com funções diferentes. Máquinas de costuras… a única diferença é que esse ateliê trabalha com tecidos e marcas de empresas de exportação. Eu soube disso quando Amanda me disse que os tecidos vêm da França. 

Eu fiquei nervosa, porém mais aliviada ao saber que eu iria trabalhar na loja, ao invés de designer, já que eu seria um completo desastre. 

— Aquela ali é a minha filha, e por consequência, prima de Alan; — Ela faz um gesto na direção de uma garota bastante nova, acho que quase com a mesma idade que eu, conversando com um homem. Inclusive, o estilo do homem é bem… espalhafatoso. — Ela e Alan não se dão bem. — Ela comenta e eu volto a encarar a garota, que percebe a presença da mãe e começa a caminhar na nossa direção. 

— Se eu não estiver sendo intrometida… por que não se dão bem?

Alan tem um estilo bastante rebelde, e às vezes eu sinto isso somente pela forma que ele fala, mas ele não me parece o tipo de pessoa que odeia alguém, e isso me intriga.

— Em comparação a ela, Alan é uma pessoa bastante agradável.

A garota com um vestido rosa e cabelo loiro com mechas escuras se aproxima, parecendo indignada.

— Mãe! Você acredita que Marcos não quer produzir o meu biquíni com o tecido que chegou? Ele disse que o vestido já está reservado para uma encomenda, que o homem é podre de rico e quer um biquíni naquele material. Mas eu sou a sua filha, deveria ser mais valorizada!

Ela praticamente grita com a mãe, chamando atenção de todos os funcionários. Como ela pode falar dessa forma com a própria mãe?! 

— Não seja mal-educada, a senhorita Miller está aqui. 

Troco o peso da perna, desconfortável ao ver as duas trocando olhares nada legais. Jéssica volta a olhar para mim, claramente de forma antipática e me força um sorriso. 

— Ah, olá! — Ela volta para a sua mãe, com a mesma expressão emburrada. — Agora pode falar com Marcos?

Amanda respira fundo e limpa a garganta, parecendo impaciente.

— Não, Jéssica! Aqui neste ateliê os clientes sempre serão prioridade. Marcos está certo, portanto não o incomode mais. Por aqui, Mel…

Amanda passa por ela a deixando extremamente indignada, e eu me apresso em segui-la, um pouco desconfortável com essa situação. 

— Me desculpe por ela. As vezes acho que deveria ter sido mais severa, porém ela só tem dezesseis anos, não há muito o que eu possa fazer. 

Caramba, se você acha que ela está muito nova para te obedecer… Se arrependerá no futuro, porque será tarde demais. A forma que ela fala com a mãe é uma completa falta de respeito, mas não posso me meter nesses assuntos.

Amanda me apresenta a Marcos, avisando que ele vai me ajudar na loja e é ele que cuida das encomendas. Com suas roupas espalhafatosas ele faz um monte elogios a mim, principalmente ao tamanho do meu sutiã e ao meu quadril, eu fiquei um pouco sem graça, mas ele falava de forma tão leve e alegre que eu não consegui levar na maldade. Ele até mesmo me girou no ar e me encheu de elogios.

Eu fiquei um pouco contente com isso. Mesmo ele tendo um jeito mais afeminado, eu gostei das suas palavras. Quer dizer, eu nunca me achei demasiadamente atraente, mas nesses últimos tempos Benjamin está fazendo com que eu me sinta dessa forma. Como uma gostosa. 

Amanda pediu para que ele me mostrasse quais seriam as minhas tarefas e me ajudasse a familiarizar-me com a loja, eu agradeci a Amanda pela oportunidade e ela somente disse que seria uma honra se eu aceitasse trabalhar com eles. 

— A loja é logo ali; — Marcos me guia até um corredor e parece estar me analisando. — Sabe, você tem um corpo dos sonhos. Seu namorado deve ficar louco. 

Sinto todo o meu rosto ficar vermelho com o seu comentário, mas somente balanço a cabeça para os lados, negando.

— Não, eu… não tenho namorado. 

Ele para no lugar e me olha com o cenho franzido.

— Sério? Mas você é tão linda. Olhe, aqui chega vários boys ricos e lindos, eu posso te apresentar um se quiser.

— Ah, não! — Balanço minhas mãos na frente do meu corpo, com um sorriso sem graça. — Eu já tenho alguém. Não é o meu namorado, mas gosto dele.

Ele ergue uma sobrancelha e então assente, voltando a me guiar pelo corredor.

— Bem, eu não aceito nada menos que um relacionamento sério, mas devo admitir que às vezes gosto da safadeza.

Dou risada achando graça da sua forma descontraída de falar, sem filtros.

— Desculpe, eu não consigo controlar a minha boca. Às vezes falo demais; — Ele comenta com um sorriso e então aponta para o lugar onde entramos. — Essa é a loja, e logo ali é a entrada. 

Minha boca se abre em espanto assim que eu olho atentamente todo o local, impressionada pelo tamanho e como tudo aqui cheira a riqueza. Tudo do mais chique, do chão ao teto. Olhar para esse lugar me faz pensar que as pessoas que irão frequentar aqui também deve ser tão ricas quanto esse lugar, e eu me pergunto se conseguirei lidar com elas. 

— Uau… — Sussurro e então Marcos se vira na minha direção com um sorriso.

Marcos me mostra todo o lugar e explica tudo o que será necessário que eu faça. Eu confesso que fiquei um pouco nervosa ao saber de todas as tarefas, mas ele me tranquilizou afirmando que além dele, algumas meninas estariam aqui para me ajudar. Eu ainda me sentia um pouco descontraída pelo mesmo motivo que eu estava nervosa antes de viajar para Milão. O medo do desconhecido, mas assim como consegui me dar bem lá, tenho certeza que me sairei bem aqui.

Quando Marcos me entregou o contrato de trabalho, os meus olhos quase saltaram para fora do meu rosto.

— Ai meu Deus! Sessenta mil anualmente?!

Após o meu surto por conta do enorme valor do meu salário, e conversar mais um pouco com ele, que me apresentou algumas funcionárias que eu manterei contato, eu voltei para o meu apartamento, ainda tonta e digerindo todos esses acontecimentos.

Deus, estávamos falando de cinco mil por mês. É tão extraordinário isso, pois eu não tenho nada em meu currículo que não seja a experiência na floricultura, e eu agradeço a Alan por ter me ajudado com isso. Tudo o que me resta é dar o meu melhor e fazer esses cinco mil por mês valerem a pena. 

Quando anoiteceu e eu estava um pouco mais descansada, Jerry bateu na porta do meu apartamento para me informar sobre o que ele tinha resolvido sobre a vizinha, e eu estava ansiosa e torcendo para que tivesse dado tudo certo. 

— Hoje pela manhã um policial veio averiguar a denúncia, mas… — Ele desvia o olhar e eu o encaro ainda mais curiosa.

— O que houve?

— Ela negou tudo, senhorita. O policial foi embora, pois não havia o que ser feito. Mas um amigo meu está trabalhando no caso e ele vai arrumar um jeito de provar as agressões. — Ele explica calmamente e eu suspiro, o encarando desacreditada.

— Porque ela negou? 

Dou uma volta na sala, enquanto Jerry me encara com sua seriedade habitual.

— De acordo com as psicólogas, em casos como esse, a maioria das garotas tem medo. A justiça normalmente tende a falhar, ou na maioria das vezes após alguns anos ou meses, eles já estão soltos. Caras doentes a esse ponto são capazes de tudo, principalmente de voltarem somente por vingança. 

Eu sinto a bile se formar na minha garganta por conta das suas palavras, e somente assinto, desviando o meu olhar para o chão. Essas situações me entristecem… É tão difícil olhar com normalidade para toda a maldade do mundo, talvez porque eu nunca estive acostumada.

— Entendo; — Levanto o meu olhar para ele que permanece em sua posição. — Você quer beber algo, Jerry? Estava pensando em pedir pizza. — Sugiro e percebo ele trocar o peso de perna, desconfortável.

— Eu não creio que essa seja uma boa ideia, senhorita. Não quero incomodar.

E ele já voltou às mesmas formalidades…

A verdade é que após ouvir tudo isso, estou me sentindo um tanto quanto deprimida, e a presença de Jerry surpreendentemente me faz esquecer os pensamentos ruins. 

— Você não incomoda, Jerry. A sua presença é sempre muito bem-vinda. Você sabe.. Eu sempre estou sozinha aqui, mas se você não quiser…

Nos encaramos por alguns segundos e ele parece estar ponderando sobre o assunto, até que finalmente me lança um sorriso.

— Se eu puder ajudar, é claro…

— Pelo amor de Deus, esqueça isso. Você está aqui como um amigo, fique a vontade se quiser sair; — Digo indo pegar o meu celular que está no braço do sofá. — Qual seu sabor de pizza preferido?

Jerry caminhou até a sala e se sentou no sofá, com uma expressão mais relaxada. 

— Eu não estou acostumado a comer pizza… nem lembro mais qual é o gosto, mas confio em você para escolher. 

Mordo o meu lábio o encarando. Talvez ele não esteja acostumado somente porquê dedica a sua vida pelo trabalho? Deus, isso deve ser deprimente… me pergunto se não há alguém que ele sinta falta, mas creio que perguntar isso vá deixar o assustado, por isso somente assinto com um sorriso determinado em meu rosto. 

— Vamos pedir várias pequenas e você verá qual é a que mais gosta. — Murmuro já digitando o número da pizzaria e vejo ele erguer uma sobrancelha, mas o sorriso logo assume a sua expressão. 

Após pedir as pizzas, nos servi duas taças de vinho e ficamos na cozinha, conversando. Novamente Jerry não me deu espaço para saber mais sobre a sua vida, e estava sempre perguntando sobre mim. De certa forma, isso me distraiu de diversos assuntos que me incomodavam.

Em menos de uma hora a pizza tinha chegado, e eu já estava um pouco tonta e alterada por conta da bebida que estava fazendo efeito em meu sistema. Jerry também estava rindo, e isso me alegrou de verdade. Eu estava tão contente na sua companhia, até que ele decidiu ir embora. Isso fez com que eu me sentisse novamente deprimida… porém já estava muito tarde, e não seria nada legal se virássemos a noite bebendo, ainda mais quando eu tenho aula amanhã. 

Estava me preparando para dormir, quando fui até a sala pegar o meu celular. o visor do mesmo, aparecia umas vinte chamadas perdidas de Benjamin.

Deus… Eu não fazia ideia do que ele queria comigo, mas eu estava preocupada e até mesmo comigo, pois eu sabia o seu temperamento e se ele achasse que eu não o atendi porque estava em perigo, provavelmente já estaria a caminho daqui.

Antes que eu pudesse retornar a sua ligação, o meu celular começou a vibrar novamente na minha mão, e a sua mensagem não me passou despercebida.

"Espero que não esteja pensando em me deixar…"

Leia este capítulo gratuitamente no aplicativo >

Capítulos relacionados

Último capítulo