Você me Pertence {6}

CAPÍTULO 6

Me sinto congelar e a minha boca se abre em espanto quando eu olho para o interior da casa. A decoração estilo balada e algo mais sombria é o de menos, mas o que mais me apavorou foram as diversas mulheres que estavam lá dentro. Todas elas com uma vestimenta bastante atípica e bem significativa, que deixava nítido qual é a relação disso com Benjamin. Algumas usavam uniformes de empregada, mostrando a bunda, outras usavam um short preto que só cobria a bunda, cropped de busto e saltos extremamente altos. Também havia quem estivesse com uma coleira no pescoço. Todas loiras e morenas, nenhuma se destacava como ruiva, apenas algumas tinham mechas rosas e outras azuis. Tudo isso me assustou de forma que eu poderia sair correndo e nunca mais conseguir encará-lo.

— Senhor!

Olho para Benjamin tentando não mostrar o meu espanto enquanto uma das mulheres se aproxima de nós. 

— Seja bem vindo. Vejo que trouxe uma garota nova. — Ela comenta com um sorriso na minha direção e eu logo noto que não só o seu corpo é perfeito, mas a sua voz e até mesmo a postura.

Como se ela fosse uma boneca…

— Garota nova… — Repito a palavra baixinho, testando o que há por trás disso. 

Mas é claro que ela está achando que eu estou aqui para participar disso. Talvez seja comum Benjamin aparecer com mais uma pessoa. Eu só me pergunto o que essas mulheres fazem da vida. Estão todas aqui nesse momento, quase nuas e à disposição de Benjamin. Essa é a "profissão" que elas escolheram seguir ou somente tem problemas assim como Benjamin, para gostarem desse tipo de coisa? Deus, eu estou tão confusa. 

— Cassy; — Benjamin me olha de soslaio e segura a minha mão na sua, apertando como se a qualquer momento eu fosse fugir. — Não, não é uma garota nova. Ela é a minha namorada.

As suas palavras me pegaram completamente desprevenida. Eu não sabia o que pensar ou como reagir, mas eu sentia o meu coração acelerar em meu peito, esquecendo até mesmo onde estávamos. Quer dizer, ele não quer abrir mão do contrato, mas me chama de namorada. Será que esse é o "especial" dele? Acho que não estou tão surpresa quanto a garota, que pareceu murchar na nossa frente. Eu ainda não conseguia agir por conta das palavras de Benjamin, por isso somente os fiquei observando. 

— Mas e o contrato? Você sabe que isso o invalida…

Ele assente enquanto me sinto um pouco tonta.

— Eu prometo que vou discutir sobre isso uma outra hora. Não se preocupe, eu vou pagar a multa por quebrar o contrato. Por hora, fale com as outras meninas; — Ele olha para mim, como se estivesse testando a minha reação. — Estou ocupado agora, vem aqui comigo, Mel. 

Ele me puxa na direção das escadas onde passamos por algumas mulheres que estão carregando bebidas e até mesmo salgados. Todas parecem curiosas em relação a minha aparição, e eu somente deixo que ele me guie até o andar de cima, onde adentramos em um quarto. Eu sinto que ele realmente estava certo quando disse que me trazer aqui me deixaria ainda pior. 

O quarto que entramos é extremamente glamouroso, e muito pelo contrário do resto da casa, ele está incrivelmente limpo e organizado, como se fosse proibido a entrada de qualquer uma pessoa que não fosse ele. Mas isso não faz com que a minha mente pare de viajar, principalmente sobre o que ele já deve ter feito com todas aquelas garotas nessa cama dossel.

— Eu acho que vou vomitar… — Sussurro sentindo todo o meu estômago se contorcer e corro na direção da varanda, abrindo as portas de vidro e indo até o parapeito, onde eu me inclino e respiro fundo.

Ouço os passos de Benjamin se aproximando, e ao contrário do que estou acostumada, ao invés de sentir segurança e tranquilidade, tudo o que eu sinto é repulsa. 

— Por que? — Questiono me virando na sua direção. Ele me encara enquanto a leve brisa balança os nossos cabelos. — Porque queria me trazer aqui? Por acaso essa é a sua tentativa de me convencer a assinar, porquê…

— Não! Porra, Mel, não! — Ele me interrompe com seu cenho franzido, ainda me encarando. — Não é nada disso. Você disse que queria saber mais sobre mim, e por isso estou mostrando do que eu já fiz parte.

"...do que eu já fiz parte". Essa parte da frase não me passa despercebida. Eu tenho certeza que há muito mais atrás dessa frase inocente, mas não estou conseguindo me acalmar e estou sendo levada pela emoção para conseguir raciocinar.

— É assim que as coisas funcionam? Você quer que eu assine o contrato para me tornar igual a elas? Quer que eu me vista daquela forma ou que chame de Senhor? — Exclamo já sentindo uma enorme dor no peito com a hipótese de que realmente me veja dessa forma.

Se antes eu já achava ruim, agora tudo o que ele me mostrou me deixa realmente assustada. 

— Não, você está entendendo tudo errado. Primeiro que é um contrato diferente. Acredite, eu não quero e nem espero que você faça aquelas coisas. 

Ele tenta se aproximar mas eu recuo, ainda em choque e em dúvida. Eu realmente não consigo entender. Mesmo olhando no fundo dos seus olhos, eu não consigo decifrar como gostaria. Tudo o que eu sei é o que sai da sua boca. 

— O que você quer, então? O que espera que eu faça? — Pergunto segurando a todo custo as lágrimas que já rodeiam a borda dos meus olhos. — Você disse que nada precisaria ser diferente, mas você ainda quer me tornar diferente, ou que eu faça coisas diferentes, e eu não o entendo. 

Eu realmente quero que ele deixe limpo os seus pensamentos, para que eu o consiga entender com clareza. É claro pelo o seu olhar que algo está o machucando, e mesmo que eu não goste nada dessa situação de contrato, eu quero ouvi-lo. Saber o que tanto o atormenta. Se ele ao menos se abrisse comigo… Tudo seria muito mais fácil. 

— Eu só quero que assine o contrato, Mel; — Ele murmura baixinho, me encarando como se também já estivesse cansado. — Não precisa seguir nenhuma regra. Não precisa me obedecer, nem receber dinheiro por isso. De verdade, só tem que assinar. — A sua voz vacila e isso me deixa ainda mais perturbada, querendo o abraçar e ouvir ele dizer o que tanto o incomoda.

— Mas se eu for seguir nenhuma das regras, por que preciso assinar o contrato? Poderíamos só…

As palavras "relação casual" vem na minha mente, mas eu não tenho coragem para pronunciá-la. Eu já sei bem que a nossa relação não envolve amor e que eu não devo esperar algo sério ou duradouro da sua parte, mas ainda assim, o que ele disse para a garota lá embaixo… que eu sou a sua namorada… isso fez com que eu sentisse as batidas do meu coração ainda mais aceleradas. 

— Você não entende, Mel, nunca vai entender; — Ele balança a cabeça para os lados e passa a mão pelo cabelo. — Só tem que assinar o contrato. Precisa assinar e deixar claro no papel que tenho a sua total permissão.

Acho que isso me fez congelar, pois a minha mente se abriu de diversas formas e nem mesmo eu conseguia acompanhar a minha linha de raciocínio. Mas uma parte da situação começou a fazer sentido. Ele precisa da minha permissão para continuar a ter um relacionamento, mesmo que até case comigo, assim como ele disse, ele precisa da minha permissão. Isso pode estar ligada diretamente ao seu passado, e aos seus traumas. Mas o quê? Além do mais, o que isso teria de ligação com as suas palavras "...do que eu já fiz parte."?

— Benjamin, se não se abrir para mim eu nunca vou conseguir te entender. Mas se eu te entender vai ser muito mais fácil para mim. 

Ele se vira de costas, parecendo exasperado e até mesmo desacreditado. Ele realmente não está disposto a falar comigo sobre. 

— É complicado demais para você, mas acredite; — Ele se vira novamente, se aproximando e segurando as minhas mãos. — Só precisa confiar em mim. Eu quero você mais que tudo.

Suas mãos deslizam suavemente pelo meu braço enquanto eu o encaro. A sua mão pousa em minha cintura enquanto a outra sobe até o meu pescoço, onde ele acaricia, esperando por uma resposta da minha parte.

— Mas; — Limpo a minha garganta, sentindo a minha voz falhar nervosamente por conta da nossa aproximação. — Eu não vou aceitar que fique com nenhuma delas… São todas lindas e sexys.

Franzo o cenho me sentindo mal por ele estar com tantas mulheres ao mesmo tempo, mas ele somente me lança um sorriso e encosta nossas testas. 

— Eu só quero você… — Ele sussurra e a sua respiração quente vem de encontro ao meu pescoço, me provocando arrepios.

Mordo o meu lábio numa forma de conter o que está acontecendo nesse momento em meu corpo, e tentando não demonstrar o efeito das suas palavras em mim. Mesmo que talvez elas não sejam verdadeiras.

— E também… — Ele se inclina para beijar o meu pescoço, fazendo com que eu encolha com o friozinho na barriga, e sinta todo o meu rosto esquentar. — Se você assinar o contrato… o de todas serão rasgados e anulados. Só quero você, eu só preciso de você. — Ele sussurra mais uma vez, com a voz rouca como se fizesse de propósito para me provocar.

E ele estava conseguindo, pois eu sentia todo o meu corpo tremer e pulsando para ser tocado por ele. Isso é o que mais me deixa louca, o fato de que apenas palavras e toques inocentes da sua parte são capazes de acender um fogo enorme em mim. Talvez isso fosse normal e acontece com todas as mulheres, somente por ser Benjamin, mas isso definitivamente não é algo que eu gostaria de estar pensando. Por isso quase me deixo levar quando seus lábios beijam toda a minha mandíbula, subindo até a minha boca. Eu sou mais rápida e ponho alguns dedos entre nossos lábios, fazendo com que ele me encare com confusão estampada em seu rosto. Um sorriso se desenha em meu rosto quando nem mesmo consigo desviar o meu olhar dos seus lábios.

— Meu Deus... — Minha voz sai apenas um sussurro e eu levanto o meu olhar para o seu. 

As suas palavras me causaram sensações mais prazerosas, desde as emocionais até carnal. Cada dia fica mais difícil negar o que eu sinto por ele…

— Não vou deixar que me beije aqui. — Murmuro em resposta a sua expressão confusa por eu ter impedido o beijo, mas a verdade é que eu ainda não paro de pensar no que ele pode ter feito nessa mesma casa com todas aquelas mulheres.

E mesmo com as suas lindas palavras sobre querer ficar somente comigo, eu não consigo ignorar esse sentimento ruim. Mas é normal, já que eu passei a minha vida inteira ignorando essa parte mais obscura do mundo… Agora pode ser uma chance para eu realmente abrir os meus olhos.

Ele bufa frustradamente e então deixa a sua cabeça cair em meu ombro, passando o nariz pela curva do meu pescoço. 

— Ruiva… está me deixando louco; — Ele levanta a cabeça acariciando sua nuca. — E também é baixinha o suficiente para me causar um torcicolo. Puta merda! — Ele fala divertido e eu bato em seu ombro, não conseguindo conter o sorriso.

— Idiota!

Não demorou muito para sairmos de lá e decidirmos que ele iria me levar de volta para o meu apartamento. Tem acontecido coisas demais que eu preciso absorver com o tempo, e passar a noite com ele não vai me dar espaço para pensar, mesmo que eu sinta todo o meu corpo arder para sentir ele novamente. Preciso pôr na balança as situações e contradições que estou vivendo, como por exemplo, se estou disposta a passar por isso com ele, me arriscando a tentar ajudá-lo, ou se eu não conseguirei assinar o contato, e consequentemente como me sentirei quando eu o deixar. Também preciso pensar em que rumo seguir na minha vida, e só assim eu vou conseguir tomar uma decisão. O que aconteceu mais cedo com o meu pai também me atormenta, mas não há nada que eu possa fazer quanto a isso. Se ele acha que voltarei a morar com ele e frequentar aquela igreja, está muito enganado. Prefiro me arriscar naquilo que eu gosto e ver até onde posso ir, e caso eu me sinta cansada demais, ainda assim não irei desistir. Eu prometi à minha mãe...

Sinto a mão de Benjamin na minha coxa,  a apertando como se ele estivesse lendo os meus pensamentos e quisesse de alguma forma, me confortar, ou talvez seja ele quem esteja com medo.

— Vai ficar tudo bem, certo?

Ele segura a minha mão próxima a sua e a leva até os seus lábios, depositando um beijo no dorso da mesma enquanto dirige vagarosamente pelas ruas, com o seu olhar direcionado a mim. Um sorriso fraco se desenha em meu rosto, que diz por si só "eu espero que tudo fique bem, mas não tenho certeza se irá ficar".

— É… eu espero que sim.

Volto a minha atenção para o céu, que aparenta que vai haver uma chuva não muito distante, já que não há muitas estrelas e somente um azul meio acinzentado, enquanto os seus dedos se entrelaçaram aos meus. Poucos minutos depois, Benjamin estacionou o seu carro em frente ao meu prédio, e pela janela do carro eu poderia ver Jerry do outro lado da rua, logo na casinha que ele está ficando. Volto a encarar Benjamin, não sentindo determinação alguma para sair do carro, por isso o observo, já que mesmo em silêncio e olhando para frente, me parece que tem várias coisas que ele quer me falar. 

— Mel; — Ele sussurra e logo o seu olhar se encontra com o meu, e eu sinto o meu peito arder pois ele me parece quebrado. — Promete que isso não é um adeus?

Pisco os meus olhos algumas vezes sentindo uma batida do meu coração falhar e uma dor se espalhando pelo meu peito só de imaginar que essa poderia ser a última vez que nos veríamos. Mas talvez, a dor que estou sentindo seja mais por conta do olhar que ele está me lançando nesse momento. Eu sei que ao menos da minha parte, essa não será a última vez que nos veremos, mas também sei que tem algo o machucando, pois ele me parece um garotinho vulnerável nesse momento. E é tão diferente do cara sarcástico e misterioso que eu conheci… eu até cheguei a pensar que ele não se abalava com nada, mas quanto mais tempo se passa, mais eu tenho certeza que tem várias coisas que o deixam mal. Eu só me pergunto o que ocasionou essa mudança brusca em um período tão curto. Talvez ele esteja com medo de alguma coisa, e por isso está deixando que eu veja? Eu não sei, e achismos não vai me levar a nada!

— Não, Benjamin. Não é um adeus; — Levo minha mão até a sua bochecha, onde eu acaricio o encarando, ao menos com a certeza das minhas palavras, mas ainda assim… — Mas poxa, eu acabei de descobrir que você tem fetiches com mulheres te tratando como se elas fossem escravas; — Suspiro retirando a minha mão seu rosto e pondo na porta do carro. — Eu preciso ir.

Saio do carro mais aliviada ao saber que, ao menos, ele já não parece tanto com medo. Quando chego na calçada eu ouço a porta do carro se abrindo e fechando, e quando me viro, ele está vindo calmamente na minha direção.

— Ruiva, me desculpa por tudo aquilo que aconteceu no meu apartamento; — Ele para logo na minha frente enquanto me recordo do quão abalada eu fiquei. — Talvez eu tenha pegado pesado nas minhas palavras, e não pensei que precisaria de calma com você. 

Assinto pondo minhas mãos dentro da jaqueta que Benjamin tinha posto em mim logo que saímos daquela casa que me dá calafrios. Um sorriso fraco se desenha em meus lábios e então desvio o meu olhar para o chão.

— Eu sei… Só acho que não sou o que está procurando. — Murmuro honestamente, revelando uma parte dos meus pensamentos e um sorriso descrente e divertido aparece em seus lábios.

— É engraçado como você não percebe, não é Mel? — Ele questiona e eu mordo o meu lábio, não conseguindo entender. — Eu não estou procurando por nada, eu só quero você do jeitinho que você é. Quer dizer, você ainda não saiu correndo 

Ergo uma sobrancelha na sua direção.

— "Ainda"?

Ele assente enquanto se aproxima de mim em cima da calçada, me deixando um pouco mais alta que o normal em comparação a ele.

— Ainda, ruiva. É normal que tenha ficado assustada, eu sinceramente achei que nunca mais iria querer me ver.

Sim, eu também estava achando. Mas me deixa angustiada pensar em desistir e não tentar te ajudar. Você está me dando uma brecha, e eu creio que o melhor a se fazer é aproveitar ela e tentar te ajudar. Eu me sentiria horrível em saber que você continuaria machucado para sempre. 

Levanto o meu olhar quando sinto uma gota da chuva tomar o meu nariz. O céu anuncia a chuva, e quando eu olho para Benjamin que também olhava para o cima, trocamos sorrisos. 

— Acho melhor eu entrar, logo a chuva vai se tornar forte. — Murmuro baixinho ainda o encarando, sem conseguir me mover. 

Mas a verdade é que eu não quero subir sozinha. Quero ele comigo essa noite… mas não posso.

— Sim, para não pegar um resfriado. — Ele comenta assentindo, alternando o seu olhar dos meus olhos até os meus lábios. 

Eu posso sentir as gotas da chuva aumentando a intensidade sucessivamente à medida que nos encaramos. Eu respiro fundo quando percebo que estou a um fio de agarrá-lo e levá-lo até o meu quarto.

— Bom, estou indo. Nos vemos outro dia.

Faço um gesto na sua direção e logo me viro na direção do prédio, mas suas mãos grandes e fortes na minha cintura me impedem de continuar. Ele me vira rapidamente e a essa altura eu já nem sentia mais vontade de lutar contra. Ele segurou o meu rosto em suas mãos e suas íris escuras já diziam tudo o que o mesmo pretendia, e talvez os meus olhos estivessem lhe dando permissão, mas ele desceu uma mão até o meu bumbum e o apertou.

— Ainda não, ruiva… falta apenas uma coisinha… — Ele sussurrou e logo tomou a minha boca na sua, sem sequer me dar espaços para contestar.

Deus, eu senti todo o meu corpo se desmanchar em seus braços, mas também não vacilei. Enquanto a sua língua na minha enviava correntes elétricas por todo o meu corpo, eu puxava o seu cabelo, querendo me fundir ao seu corpo e nunca mais parar de beijá-lo.

A chuva encharcou todo o nosso corpo, mas isso já não importava. Eu sentia que estava onde deveria estar.

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