O toque normal, tão comum que mal se percebia, parecia agora um sino fúnebre vindo do inferno, ecoando sem parar no quarto...Isabela encarava fixamente na direção da porta, suas unhas pressionando na carne enquanto se forçava a ficar de pé. Cada passo parecia pesado e cheio de medo enquanto descia as escadas.Ela sempre estava fugindo, com medo de desvendar a verdade sobre Caio, relutante em discutir, relutante em acreditar. Mas agora, parecia que ela não tinha mais para onde correr, não havia mais escapatória, apenas poderia aceitar essa realidade cruel.No entanto... Por quê?Carina apoiava ela ao lado, vendo seu rosto pálido, com pequenas gotas de suor na testa. - Felícia, não se force. Devemos procurar ajuda, só você não será capaz de encontrar eles. - Falou Carina.Isabela não respondeu, se arrastando com dificuldade até a porta. Com a mão trêmula, agarrou a maçaneta.Mordendo os lábios, ela respirou profundamente, empurrando a porta com força para fora.Do lado de fora, Caio,
Isabela levantou a mão e abriu a palma, se acalmando de repente: - Eu não pretendia te ofender.- Isso é ainda melhor. - Cláudio, meio irritado, disse. - Agora há pouco, o segurança do condomínio veio correndo dizer que havia um problema com a represa aqui perto, que ela poderia desabar. Então, pediram para todos se reunirem em um abrigo temporário.- E agora?- Agora estão dizendo que foi um erro no sistema, então se enganaram. Na verdade, não há perigo, está tudo seguro. Nos Mandaram voltar.Isabela franziu a testa, enxugando as lágrimas do rosto: - Tem uma represa perto daqui?Cláudio pegou o celular, abriu o mapa, encontrou o local e mostrou para ela: - Aqui. Não é muito perto, mas está dentro do alcance.Isabela respondeu com um aceno. Se Lembrando de Caio, perguntou: - E aquele senhor, por que estava aqui?- Ele veio te procurar e acabou sendo levado pelo segurança para o abrigo. Lá dentro, por coincidência, encontrou conosco. Você não deve se preocupar tanto, ainda há mais p
Depois de entrar em casa, Isabela começou a arrumar tudo com a tia Iara e, em seguida, acalmou as crianças, mandando-as trocar de roupa no andar de cima. Foi somente depois desses afazeres que ela percebeu o desaparecimento de Carina.Ao vê-la procurando por todos os cantos, Cláudio, sentado no sofá, disse calmamente: - Não precisa procurar, ela está no quarto e não saiu.Isabela desviou o olhar e se sentou diante de Cláudio: - Você a viu entrar lá?Cláudio acenou com a cabeça: - Ela estava me espiando pela fresta da porta, para ver se eu ia embora.- O que você fez com ela, afinal?Cláudio parecia confuso: - O que eu poderia ter feito? Quando ela estava no hospital, eu mal a visitava, e quando o fazia, eram apenas cumprimentos formais. Se alguém não soubesse que somos primos, poderia pensar que temos apenas uma relação médico-paciente.Isabela revirou os olhos: - Pelo jeito que você fala, parece até que se orgulha disso.Cláudio suspirou: - Você sabe como é minha prima. Brincáv
- Isa, não comece a imaginar coisas, talvez não seja tão complicado assim.Isabela, apavorada, balançava a cabeça. - Não, tenho um pressentimento, é aquela pessoa. - Após dizer isso, ela apertou mais forte o braço de Cláudio. - Mariana foi internada num hospital psiquiátrico, e logo depois isso aconteceu. Você não acha muita coincidência?Realmente, era uma coincidência, algo que Cláudio não podia negar.- Mas, teoricamente, ele não tem nenhum motivo para guardar rancor contra você. Por que ele faria algo assim?- Por causa do meu depoimento. - Isabela se esforçava para se manter calma. - No meu depoimento, mencionei que suspeitava de que outra pessoa tinha armado uma cilada. Ele quer me avisar com isso, me fazer entender que, se eu continuar falando demais, se eu continuar ajudando Gabriel, ele vai me fazer perder meus dois filhos...Antes que ela terminasse, o telefone de Isabela tocou.Ela atendeu com as mãos tremendo: - Reginaldo?- Senhora, por favor, prepare suas malas, vou bus
Isabela, para suprimir o medo, apertava a própria coxa com força, soltando ela apenas quando seu corpo parou de tremer. Ela respirou fundo e começou a arrumar as coisas rapidamente. Por anos de vida sob constante medo, se tornou habilidosa em preparar fugas rápidas. Em menos de dez minutos, já tinha tudo empacotado. Para não alarmar as crianças e a tia Iara excessivamente, ela conteve seu medo e foi até a porta do quarto de Carina.- Caca, sei que você está aí, saia logo, temos que ir.Carina abriu uma fresta da porta, espiou e perguntou:- Meu primo foi embora?- Não, mas você precisa sair, temos que deixar este lugar agora.- Por quê? Eu... Eu não quero vê-lo.Isabela suspirou:- Caca, não é momento para birras. Ficar aqui é perigoso, entende?Carina, pelo semblante de Isabela, percebeu que algo grave aconteceu, algo que as fazia deixar a Vila da Nuvem às pressas.Quando Carina estava prestes a abrir a porta, Cláudio se aproximou:- Já arrumei as coisas das crianças. Vou descer
Cinco minutos depois, tia Iara também já havia arrumado as malas e chegou à sala de estar.- Senhorita, por que razão o senhor de repente mencionou que esta casa necessita de remodelação? Não percebi qualquer problema. Isso não está relacionado com o incidente da represa, certo?- Tia Iara, afinal, a casa é dele, e, independente do motivo, não temos o direito de perguntar. O importante é termos um lugar para morar.Tia Iara olhou ao redor com certa relutância: - Partiremos tão às pressas, até panelas e potes tiveram que ser deixados para trás. Eu gostava tanto daquela panela de ensopado...Mas era só ela falando consigo mesma em voz baixa.Cláudio e Isabela estavam sentados no sofá, ambos calados, como se tivessem combinado, olhando fixamente para frente, perdidos em pensamentos, sem saber o que pensar.E os dois filhos, apesar de jovens, eram ambos espertos, especialmente Rivaldo, que desde pequeno já havia passado por muita coisa e sabia ler as expressões faciais.Assim, mesmo que o
Quem diria, o repórter não demonstrava medo algum e retirou outra caneta gravadora da bolsa, dizendo com um sorriso:- Srta. Felícia, será que acertei em cheio, e é por isso que você está tão furiosa e envergonhada? Além disso, estão arrastando as malas, inclusive com empregados, para onde planejam ir? Se esconder?- Srta. Felícia, falando sério, sua história possui tantos detalhes que começo a suspeitar: será que você não é a própria Isabela, que se acreditava estar morta? Caso contrário, realmente não compreendo por que o Sr. Gabriel mataria alguém em seu nome.- E seus dois filhos, de forma alguma parecem ser do Sr. André, estou correto nessa suposição?Isabela estremeceu, apertando a mala que segurava involuntariamente.Esse repórter, sem dúvida, tinha suas conexões e veio claramente preparado.E o objetivo deles era publicar absurdos, provocando problemas.- Já falou o suficiente? - Isabela encarou-o com olhos frios, seus lábios finos se entreabriram levemente, e ela falou pausada
O homem do outro lado da linha hesitou por um instante e respondeu friamente:- Que tipo de informação você conseguiu?- Nada. Só vi um grupo deles com malas, parecendo que estavam prestes a fugir. Fiz várias perguntas difíceis, mas não obtive resposta alguma. Não posso simplesmente inventar algo, posso?Do outro lado da linha, se ouviu uma risada fria:- Mesmo que seja inventado, quero que você crie uma notícia convincente.O homem, tocando a bochecha, concordou com relutância:- Entendi. - Após uma breve pausa, ele pareceu se lembrar de algo e acrescentou. - Ah, sim, eu reconheci a pessoa que veio buscá-los. É alguém próximo do André.- André?A pessoa do outro lado da linha silenciou por um momento e depois ironizou:- Tá bom, já entendi. Prepare o rascunho da notícia para mim.- Certo....Enquanto isso, no carro, após o incidente recente, reinava um silêncio compreensivo, tornando a atmosfera dentro do veículo extremamente tensa.Cláudio foi o primeiro a quebrar o silêncio.- Não