Lara
A viagem de volta para casa foi silenciosa. O carro cortava as ruas iluminadas de Omã, mas minha mente estava presa em um único pensamento: eu estava casada com um assassino. O medo se instalara no meu peito como um peso sufocante. Cada palavra que Khaled havia dito mais cedo ecoava na minha cabeça. "Porque ela me desobedeceu." A frieza na sua voz, a tranquilidade com que ele admitiu ter matado não uma, mas duas esposas, fazia meu sangue gelar. Eu mal percebi quando chegamos. Assim que entramos, fui direto para o quarto sem dizer nada. Khaled me seguiu com o olhar, mas não tentou me parar. Talvez estivesse me dando espaço. Ou talvez estivesse apenas observando, como um predador que sabe que a presa não tem para onde fugir. Entrei no banheiro, fechei a porta e me apoiei contra a pia, tentando acalmar minha respiração. Ele não faria isso comigo. Eu tentava me convencer, mas a verdade era que eu não fazia ideia do que KhaKhaled Lara ainda estava tensa, mesmo que tentasse disfarçar. Seus olhos evitavam os meus, mas seu corpo não mentia. Eu podia sentir o calor de sua pele sob minhas mãos, o tremor sutil de sua respiração enquanto a mantinha contra mim debaixo do chuveiro. Ela estava assustada. Mas também estava entregue. Meus lábios deslizaram pelo seu pescoço, saboreando o gosto da água quente misturada ao cheiro doce de sua pele. Suas mãos tocaram meus ombros, hesitantes. — Khaled… Meu nome saiu num sussurro. Quase um pedido. Me abaixei lentamente, deixando beijos molhados por sua barriga até que estivesse de joelhos diante dela. Lara arfou, suas mãos agarrando meus cabelos com força. Ela tentou resistir no começo, como se ainda lutasse contra o próprio desejo, mas quando minha boca se fechou ao redor dela, seu corpo cedeu por completo.
KhaledO caminho de volta para casa foi silencioso. Lara estava perdida em pensamentos, e eu percebia isso pelo modo como olhava pela janela, mordendo o lábio inferior.Ela estava assustada.E eu sabia o motivo.Desde o jantar, quando contei sobre minhas esposas anteriores, pude ver a inquietação crescendo dentro dela. Era divertido observar a maneira como tentava agir naturalmente, mesmo que seu corpo estivesse tenso ao meu lado.Ela achava que eu não percebia.Mas eu percebia tudo.Chegamos a um semáforo, e a luz vermelha iluminou seu rosto. Seus olhos estavam fixos em um ponto qualquer da rua, e então, sem me encarar, ela perguntou:— Como você nunca teve filhos até agora?Meu olhar permaneceu no trânsito à frente.— Porque eu não quis.Ela finalmente se virou para me encarar, franzindo a testa.— Mas… você não se protege. E eu não estou tomando anticoncepcional.S
Lara A noite estava silenciosa, e o quarto escuro era iluminado apenas pela fraca luz da lua que entrava pelas cortinas entreabertas. O calor do corpo de Khaled ao meu lado era reconfortante, e por um momento, quase consegui esquecer o medo que crescia dentro de mim desde o jantar. Quase. Virei para o outro lado da cama, tentando afastar os pensamentos que martelavam na minha mente. Eu não podia ficar alimentando aquele pânico. Se ele quisesse me matar, já teria feito isso, certo? Me forcei a fechar os olhos e me concentrar na respiração dele. Foi quando o barulho do celular cortou o silêncio do quarto. O som era abafado, mas alto o suficiente para me despertar completamente. Khaled se mexeu ao meu lado, pegando o aparelho no criado-mudo. Olhei pelo canto dos olhos e vi o brilho da tela refletindo em seu rosto. Ele franziu o cenho, leu alguma coisa e se levantou. F
LaraO sol já brilhava forte quando descemos para tomar café. O restaurante do hotel era um espetáculo à parte, com um buffet impecável e uma vista de tirar o fôlego.Eu deveria estar aproveitando.Eu deveria estar me sentindo feliz por estar aqui, viajando, experimentando uma cultura nova ao lado do meu marido.Mas tudo o que eu conseguia pensar era na ligação da madrugada.As palavras de Khaled ainda ecoavam na minha cabeça como um pesadelo do qual eu não conseguia acordar."Mata eles."Respirei fundo e me forcei a manter a expressão neutra enquanto sentava à mesa. Khaled parecia tranquilo, como se nada tivesse acontecido. Ele serviu uma xícara de café para mim e outra para ele, pegou um pedaço de pão e começou a comer.Fiz o mesmo, mas minha fome tinha desaparecido.O silêncio entre nós durou pouco.O celular dele tocou.Meu coração acelerou.Ele tirou o aparelho do bolso e olhou a tela por um segundo antes de atender.— O que foi agora?Seu tom de voz estava firme, impaciente.Ape
Alberto VasconcellosA ruína não chega de uma vez. Ela se insinua aos poucos, como uma praga silenciosa, destruindo tudo o que construí ao longo dos anos. Eu a vi se aproximar, tentei resistir, mas era como segurar areia entre os dedos. A Vasconcellos Import & Export, a empresa que levei uma vida inteira para erguer, estava falida.Foram anos de glória. Eu dominava o mercado de commodities, transportando produtos valiosos pelo mundo inteiro. Meu nome era respeitado, meus contratos eram disputados e meu império parecia inabalável. Mas o mundo dos negócios é cruel. Com a ascensão de novas potências econômicas, a concorrência ficou impossível. Empresas chinesas e árabes começaram a dominar o setor, oferecendo preços com os quais eu simplesmente não podia competir.Os contratos começaram a cair. Clientes antigos romperam acordos que existiam há anos. Investidores se afastaram. Fiz de tudo para segurar minha posição: peguei empréstimos, cortei custos, apostei em novas estratégias. Mas foi
Alberto VasconcellosEntro em casa e, como sempre, sou recebido pelo silêncio pesado que habita este lugar. Antes, minha casa era um reflexo da minha posição: móveis importados, quadros de artistas renomados, tapetes persas. Agora, tudo perdeu o brilho. Parece um cenário prestes a desmoronar.Subo as escadas, sentindo a tensão no ar. Minhas filhas estão todas em casa. Posso ouvir as vozes delas no andar de cima. Natália e Bianca, as mais velhas, conversam animadamente sobre alguma besteira fútil. Lara, como sempre, está quieta.Abro a porta do escritório e me sirvo de uma dose de uísque antes de encará-las. Minha paciência anda curta, e eu sei que não vou gostar das reações que estão por vir.— Reúnam-se na sala — digo alto o suficiente para que todas me ouçam.Natália e Bianca descem primeiro, com ares de tédio. São exatamente o que a sociedade esperava que fossem: filhas mimadas de um empresário rico. Sempre tiveram tudo do bom e do melhor, e mesmo agora, com a falência batendo à p
Lara VasconcellosSempre soube que era diferente das minhas irmãs. Desde pequena, eu sentia isso. Enquanto Natália e Bianca eram o orgulho do meu pai, sempre ganhando presentes caros, viagens de luxo e tudo o que desejavam, eu era a sombra. A filha esquecida.Não sei exatamente quando percebi que meu lugar na família era esse. Talvez tenha sido nos aniversários, quando minhas irmãs recebiam joias caras e vestidos importados, e eu ganhava um "parabéns" dito às pressas. Ou talvez tenha sido nos natais, quando elas desembrulhavam presentes luxuosos enquanto eu, muitas vezes, sequer era lembrada.A verdade é que, por mais que eu tentasse, nunca fui suficiente para ele.E o pior de tudo? Eu nunca soube o que fiz para merecer esse tratamento.Até entender.Minha mãe morreu no meu parto.Ela morreu para que eu vivesse, e isso me transformou na inimiga do meu pai desde o momento em que nasci.Eu não lembro dela. Não sei se seu cabelo era liso ou cacheado, se sua risada era alta ou suave, se
Lara VasconcellosAs horas seguintes foram uma correria. Eu não queria estar ali, e nada fazia sentido para mim, mas de alguma forma eu me vi arrumando a mala, colocando roupas no mínimo desconfortáveis, e me preparando para embarcar em um avião para um lugar tão distante quanto Dubai. Meu pai nunca teve consideração por mim, e agora ele estava me forçando a ir com ele para que eu fosse parte de algo que nem ao menos entendia. Tudo o que eu sabia era que a empresa dele estava à beira da falência, e ele via essa viagem como a última chance de salvar tudo o que ele havia construído.Eu ainda não entendia como tudo tinha virado um turbilhão tão rápido. A ideia de viajar com meu pai e minhas irmãs para o outro lado do mundo, onde ele teria que negociar com um sheik árabe para salvar a nossa vida de luxo, me parecia uma piada cruel. Mas as palavras de meu pai ainda ecoavam na minha cabeça. Eu não tinha escolha.Arrumei minha mala com a cara fechada, o peso de todas as minhas frustrações s