Narrado por LaraJá fazia uma semana. Sete longos dias desde que ele entrou em casa coberto de sangue e eu, paralisada, percebi que o homem com quem me casei era mais perigoso do que qualquer pesadelo que minha mente pudesse criar.Desde então, venho vivendo como uma prisioneira voluntária.Evito Khaled de todas as formas. Não desço para o café da manhã, não almoço com ele, não janto. Todos os meus pratos são deixados na porta por uma das empregadas. Eu espero ela se afastar, abro a porta, pego e volto para o meu isolamento.Tranco a porta com duas voltas na chave. Sempre.Durmo pouco. Passo as noites assistindo a séries no notebook, tentando mergulhar em outros mundos que não o meu.Na maior parte do tempo, fico com medo. Medo dele. Medo de fazer algo errado. Medo de me tornar a próxima esposa “desobediente”.E por mais que eu tente, não consigo esquecer o modo como ele entrou naquela noite.Calmo. Sujo de sangue. Sem dizer uma palavra.Ele não se importou com meu olhar de horror. Nã
Narrado por LaraMinhas mãos tremiam enquanto eu abria a gaveta e pegava a camisola de cetim claro. Era leve, quase translúcida, e eu mal conseguia olhar para ela sem sentir o estômago revirar. A ordem ainda ecoava na minha mente, como uma sentença:“Hoje você vai dormir no meu quarto. E eu não aceito negativa.”Engoli em seco.Troquei de roupa devagar, sentindo a pele arrepiar a cada pedaço de tecido que tocava meu corpo. Eu estava com medo. Não era mais um medo vago, uma sensação... era real. Palpável.Terminei de me vestir, respirei fundo e saí do quarto. Cada passo pelo corredor parecia me levar direto para o centro de um abismo.A porta do quarto dele estava entreaberta. Empurrei devagar, revelando a luz baixa, o ambiente perfumado, e Khaled sentado na beirada da cama, com um copo de uísque na mão.Ele levantou os olhos lentamente. Quando me viu, não disse nada por alguns segundos. Apenas me observou. Eu podia sentir o julgamento no olhar dele, mas também algo mais... algo mais e
Narrado por KhaledA noite anterior queimava na minha memória como álcool em ferida aberta. A forma como ela me olhou... como se eu fosse um monstro. Como se tudo que eu tivesse feito por ela fosse lixo.Passei a madrugada em pé, andando pelo quarto como uma fera enjaulada. A raiva me consumia por dentro. Eu dei tudo. Proteção, luxo, poder. E ela me olha como se eu fosse a escória do mundo.Ela quer ir embora? Ótimo.Na manhã seguinte, ainda antes do sol nascer completamente, liguei para minha secretária.— Compre uma passagem para Lara. Um voo direto para o Brasil. Primeira classe.— Senhor...— Sem perguntas, Amira. Também quero o passaporte dela pronto, e entregue até o meio-dia.— Sim, senhor.Desliguei sem dizer mais nada.Peguei um uísque, mesmo sendo cedo demais pra beber. Eu não ligo. Eu estava com raiva. Raiva dela, raiva de mim mesmo por me permitir sentir alguma coisa. Eu sabia que era um erro desde o início. Ela era diferente, sim. Mas isso não fazia dela especial o sufici
Narrado por LaraO envelope ainda estava sobre minha cama, como se me provocasse silenciosamente. Passagem de volta. Passaporte. O caminho de fuga que eu tanto desejei durante dias… ali. Fácil. Mas o que me esperava do outro lado?Peguei o celular. Minhas mãos suavam. Disquei o número do meu pai. Eu precisava ouvir dele. Precisava saber se, de alguma forma, ainda havia espaço para mim naquela casa.— Alô? — a voz dele soou fria, impaciente.— É a Lara… pai.Houve um silêncio incômodo. Um que dizia muito mais do que qualquer palavra.— O que você quer?Engoli em seco.— Eu… recebi meu passaporte de volta. Uma passagem. Queria saber… se o senhor quer que eu volte pra casa. Se as coisas mudaram.Mais silêncio. Dessa vez, ele soltou uma risada baixa. Sarcástica.— Mudaram sim. Estamos vivendo bem, graças ao acordo que eu fiz com aquele homem. Vendendo você.Meu coração despencou.
Narrado por KhaledQuando abri a porta do quarto de hospital e vi Lara tão pálida, tão quebrada, deitada ali... um peso atravessou meu peito com força. Eu, Khaled Rashid, homem temido por todos, me senti impotente.Aproximei-me devagar, sem querer assustá-la ainda mais. Meus passos pareciam pesados demais para aquele ambiente branco e silencioso.Ela me viu. Virou o rosto. Mas não disse nada.— Fui eu que fiz isso com você? — perguntei, com a voz mais baixa do que imaginei que conseguiria usar.Ela continuou em silêncio. Algumas lágrimas escorreram pelo canto dos olhos. Isso me rasgou por dentro.— Me desculpa — falei, respirando fundo, com dificuldade. — Eu não queria te deixar nesse estado. Mas... se não fui eu, então quem foi?Ela virou devagar, com os olhos avermelhados.— Eu liguei para o meu pai.Fechei os olhos. Aquilo já me dizia muito.— E?— Ele disse que eu não faz
Narrado por Alberto Eu estava sentado na poltrona da sala, copo de uísque na mão, quando recebi a mensagem. A tela do celular se acendeu com o nome de Khaled, e bastou uma frase para meu corpo inteiro gelar: "A partir de agora, você não verá mais um centavo meu." Li mais duas vezes. O copo rangeu na minha mão de tanto que apertei. O contrato. O investimento. As parcerias. Tudo por causa daquela menina ingrata. Lara. Soltei o ar com força e joguei o celular no sofá. O som do impacto fez minhas filhas olharem da escada. — O que foi, pai? — perguntou Nathalia, cruzando os braços. — Que cara é essa? Bianca veio logo atrás, a expressão desconfiada. — Não me digam que o Khaled... — Cortou tudo — falei, com amargura. — Encerrado. Parceria, investimento, confiança. Tudo. Por causa daquela garota. As duas se entreolharam. Bianca foi a primeira a reagir. — Isso não pode estar acontecendo! — Ele ficou contra a gente? — Nathalia perguntou, incrédula. — Por causa da Lara?
Narrado por Bianca O som da mala sendo arrastada pelo piso frio do quarto me irritava. Tudo me irritava. O cheiro do perfume da Nathalia, o tique-taque do relógio, até o jeito como o papai suspirava lá embaixo. Mas o que me irritava de verdade… era a Lara. Aquela garota sempre foi um estorvo. Sempre se fazia de coitada. A órfã. A rejeitada. Mas agora? Agora ela era a esposa de um dos homens mais ricos do Oriente Médio. E nós? Ficamos pra trás. Sem o dinheiro. Sem o luxo. Sem nada. Puxei minha nécessaire com força e a joguei dentro da mala. — Tá pronta? — perguntei, olhando pra Nathalia pelo espelho. — Falta só o salto dourado. — Ela estava dobrando o último vestido. — Acha que Khaled vai me achar muito chamativa? Revirei os olhos. — Acho que ele vai achar qualquer coisa que não seja a Lara uma melhora. Nathalia riu. — Você é má. — Realista. — fechei a mala com um estalo seco. — Vamos fazer isso dar certo. Descemos juntas. O papai estava sentado na poltrona, com o copo de u
Narrado por Khaled Eu a vi atravessar as portas do hospital com o olhar ainda baixo, os passos lentos, o corpo mais frágil do que nunca. Lara era pequena naquele momento. Como se o mundo a tivesse esmagado e tudo que restasse fosse cansaço. Segurei sua mão com firmeza e a levei até o carro. Em silêncio. Ela não soltou. E isso, pra mim, já era suficiente. No caminho, ela manteve o rosto virado para a janela. Eu sabia que ela ainda estava tentando se recuperar daquilo tudo. E eu, por mais que tivesse o sangue fervendo de raiva do pai dela, me obriguei a respirar fundo e apenas... dirigir. Quando entramos em casa, não a deixei fazer esforço algum. Peguei-a no colo. — Khaled... — ela sussurrou, envergonhada. — Eu posso andar... — Eu sei. Mas não quero. Ela não discutiu. Levei-a direto para o banheiro do quarto. Liguei o chuveiro, ajustei a temperatura, e voltei para ela. — Tira a roupa. Eu vou te ajudar. Ela hesitou. Ficou me olhando com aqueles olhos assustados. — Eu