VIOLET
Quando acordo, a escuridão invade meus olhos. Vejo pela janela que ainda está escuro lá fora; apenas a luz da lua ilumina suavemente o ambiente. Sento-me na cama e percebo que estou novamente no quarto. Quando acordei mais cedo, posso jurar que vi meus supostos maridos matando alguém pela sacada do quarto onde estou. As únicas coisas que fiz nas últimas 24 horas foram: tentar fugir, quase ser abusada, desmaiar duas vezes e acabar em uma casa que nem sei onde é, com dois assassinos e mafiosos debaixo do mesmo teto. Ainda não sabia o que poderia ser pior: estar em uma casa que eu literalmente nem sei onde fica, ou saber que estou sentada em uma cama com um pijama que nem lembro de ter colocado. Aí, Deus, será que eles me viram pelada e tocaram em mim? Toco meu corpo rapidamente e não sinto dor na região íntima, então isso poderia ser um bom sinal. Eu não consigo me lembrar muito bem da fisionomia do homem que tinha visto mais cedo dentro do escritório com meu pai, pois mal tinha coragem de olhar em sua direção. Mas sua estrutura era extremamente forte e ele também era alto. Saio dos meus pensamentos quando meu estômago começa a roncar de fome. Minha última refeição foi o café da manhã ainda no convento e não queria sair novamente desse quarto e encontrar algum deles matando outra pessoa, mas minha barriga está doendo muito e não para de fazer barulho. Tomo coragem e finalmente me levanto, jogando as cobertas para o lado. Giro a maçaneta, agradecendo por pelo menos não me manterem trancada aqui em cima. Abro a porta, e tudo está escuro e silencioso. Ando devagar, tentando memorizar o caminho para voltar, desço as escadas cuidadosamente e passo por uma sala. - Vai a algum lugar? Ouço uma voz grave vindo atrás de mim, do meio do escuro. Eu gelo, virando lentamente em sua direção e vejo o momento em que surge uma sombra alta da escuridão. Era um homem totalmente diferente do que estava mais cedo no escritório com meu pai. Ele era alto, de cabelos negros, e tinha olhos claros. Ao contrário do outro, ele não era exageradamente musculoso, e não tinha piercing nem tatuagem do pescoço até a cabeça, mas seus braços tinham alguns rabiscos. Ele estava com o cabelo desarrumado, sem gravata e com a camisa social desabotoada apenas com alguns botões ainda no lugar, as mangas estavam arregaçadas e um copo de bebida estava em sua mão. Mas o que me chama a atenção são as manchas de sangue que estão em seu corpo. Fico ali parada à sua frente, sem reação. - Você não respondeu minha pergunta. Aonde você está indo? Ele se aproxima calmamente de mim enquanto termina de beber sua bebida. - Está tentando fugir novamente? Balanço a cabeça negativamente, e ele se aproxima ainda mais do meu corpo. Acabo dando um passo para trás automaticamente. Mesmo ele não sendo um monstro musculoso como o outro, ainda é duas vezes maior que eu. Com ele em minha frente, vejo que bato na altura de seu peito. - Você não fala? Ele me pergunta seriamente, mas a única coisa que consigo pensar é que não posso desmaiar pela terceira vez. Então, balanço a cabeça positivamente, já que minha voz insiste em não sair. - Co... cozinha. Estou tentando achar a cozinha! Digo finalmente. Por que estou com tanto medo assim? E pior, por que achei ele tão lindo com esses olhos claros? - Vem, vou te levar até lá. Também não comi nada o dia inteiro. Sigo ele até o próximo corredor, tentando analisar os detalhes da casa que não dava para enxergar muito bem por causa do escuro. Quando chegamos a uma cozinha imensa, sento-me em um banco na ilha e fico apenas observando ele fuçando na geladeira em busca de algo. - Você gosta de sanduíche? Ele pergunta, ainda focado, olhando para dentro da geladeira. Eu apenas faço que sim com a cabeça, respondendo sua pergunta. - Dá para você parar de balançar a cabeça e me responder quando eu perguntar alguma coisa? Ele me diz agora, parecendo um pouco sem paciência, enquanto me olha. Eu aceno com a cabeça novamente, concordando involuntariamente, quando finalmente consigo dizer: - Sim. Desculpa! Digo a ele. - Não se desculpe, eu sei que você está com medo. Dá para ver nos seus olhos; eles dizem mais do que podemos imaginar. - Quem é você? Finalmente tomo coragem e pergunto. O homem à minha frente abre um pequeno sorriso. - Salvatore! Você sabe quem eu sou e por que está aqui, não é, Violet? Ele me pergunta, e consigo ver em seus olhos um tom de quem estava gostando daquilo. - Sim. Digo suavemente, mais para mim do que para ele. Salvatore faz quatro lanches de frango desfiado com salada e eu apenas fico ali sentada em silêncio, observando seus movimentos. Assim que ele termina, me serve um prato com dois lanches e comemos em silêncio. Quando acabamos, ele coloca os utensílios na lava-louças e me levanto rapidamente para retornar ao meu quarto. - Obrigada pelo lanche. Digo e tento sair apressadamente, para fugir o mais rápido possível dele. - Violet. Ele me chama e me viro lentamente, encarando-o. - Não tente fugir de nós novamente. Você não tem escapatória. Ele me diz, encarando-me com aqueles olhos gelados. Olho para o chão e simplesmente saio andando, sem ao menos dizer algo para ele. Subo as escadas correndo, tentando chegar em meu quarto o mais rápido que posso. Quando volto deito-me na cama e começo a pensar que tipo de vida eu levaria ao lado desses homens. Eu mal os conheço e creio que eles não são os tipos de homens que conversam civilizadamente já que os vi matarem duas pessoas em menos de 24 horas. Por que eu ? De tantas pessoas que poderiam ter em sua vida, porque querer justamente eu ? Que passei quase toda vida trancada e nem ao menos sei como agir durante essas circunstâncias. Fico Tentando pegar no sono, mas todas as minhas tentativas são em vão, então ligo a TV e fico assistindo até cair no sono novamenteSALVATORE Ontem à noite foi mais longa do que eu pensaria que seria. Depois de muito custo, finalmente consegui acalmar os meus ânimos. Ontem, depois que Matteo foi para seu quarto, fiquei ainda durante um bom tempo observando Violet em seu quarto pela câmera, até que a vejo se movimentando inquietamente em sua cama. Após alguns minutos, ela abre a porta de seu quarto. Fico observando o momento em que ela parece estar apreensiva e com medo; provavelmente deve estar pensando que todos na casa estão dormindo e quer aproveitar esse momento para tentar fugir novamente.E eu aqui, apenas pensando que poderia terminar minha noite em paz tomando meu whisky enquanto vejo seu sono. Mas não, lá vou eu impedir uma jovem mulher que acaba de chegar à maioridade de fugir de sua nova casa e de seus maridos.— Vai a algum lugar? — Pergunto, atrás dela, em meio ao escuro, e vejo seu pequeno corpo se virar em minha direção. Só então começo a perceber o quão bonito é o seu rosto, com cabelos longos e d
VioletSalvatore sai atendendo uma chamada, indo direto para seu escritório, deixando eu e o agro do Matteo à mesa sem ao menos olhar para trás. Como iria conseguir me acostumar a essa nova vida?- Em que festa nós vamos? Pergunto a Matteo em uma tentativa de puxar assunto.- É um jantar para te apresentar aos nossos aliados, então não nos envergonhe. Eu vou te acompanhar hoje às compras. Ele fala, dando uma piscadela em minha direção.- Não preciso da sua companhia! Além de ser obrigada a ir para casa, agora também eles andariam atrás de mim em todos os lugares!- Isso não está em discussão. Ele se levanta, fazendo um gesto para que o acompanhe, e eu o sigo em silêncio. Matteo me guia até uma garagem onde estão vários carros e motos estacionadas. Vou andando atrás dele até chegarmos em frente a uma moto e ele me entrega um capacete.- Eu não vou subir nisso. Digo a ele, olhando para aquela coisa à nossa frente.- Por quê? Ele pergunta, sem entender o motivo.- Porqu
MatteoQuando Violet disse que não gostava de mim e do meu irmão, senti como se minha alma tivesse saído de dentro do meu corpo. Era horrível amar alguém que nem sabe que aquele sentimento está ali.Violet pertence a nós desde o dia de seu nascimento. Quando ela nasceu, Salvatore tinha 12 anos e eu, apenas 10. Ela era a coisa mais linda de todo o mundo. Ela sempre estava em todos os lugares que nossa família estava, e sempre eu e meu irmão ficávamos por perto para protegê-la. Quando pedimos sua mão no ano em que ela completaria 15 anos, tanto nossa família quanto a dela ficaram surpresos e não concordaram. Logo, meus pais tentaram fazer com que namorássemos outras pessoas. Até tentamos, mas não conseguíamos tirar Violet de nossa cabeça. Então, finalmente conseguimos fazer com que ela fosse nossa no seu aniversário de 16 anos, lógico, com várias regras que nossos pais nos impuseram.Mas nada importava se tivéssemos Violet ao nosso lado. Então, hoje, quando el
---SalvatoreViolet nunca soube o poder que tinha sobre mim e Matteo desde que era pequena. Eu não ligava se ela iria aceitar ou não, e muito menos se iria ficar puta com isso, mas hoje ela saberia toda a verdade.Fazemos todo o trajeto em silêncio. Eu já sabia que Matteo iria acabar com os homens de Massimo. O que eu não esperava é que Mattia não quisesse entrar no ringue. Eu nem imagino a merda que tudo isso poderia causar nos negócios, tanto para nós quanto para eles.Com aquilo, poderia surgir uma nova rixa que pode prejudicar muito, já que ninguém quer ficar no fogo cruzado de duas famílias da máfia em briga. Quando saímos do carro, pego Violet pelo braço e a puxo, ignorando seus gritos. Matteo me olha sem entender nada, mas ele percebe quando a levo para nosso escritório e me dirijo à sala secreta.- Que porra você vai fazer? Ela não está pronta! - Matteo fala, tentando intervir à minha frente, mas eu não estou nem aí se ela está pronta ou não. Não aguento mais carregar todo es
VIOLETQuando Salvatore e Matteo saíram do meu quarto, virei-me frustrada em minha cama. Tudo isso é extremamente inacreditável; eles casaram-se comigo sem o meu consentimento porque acham que me amam.Quando Salvatore me arrastou e me mostrou todo o conteúdo daquele quarto, não conseguia acreditar no que meus olhos viam. Todas aquelas fotos minhas grudadas na parede, desde quando era criança até os sete anos que passei no colégio, eles me vigiavam; cada passo meu era monitorado por seus olhos. Como fui tão inocente em não perceber nada em todo esse tempo?Uma coisa eu tenho certeza: nunca vou conseguir me livrar deles. A única solução seria eu morrer, mas ninguém em sã consciência me ajudaria a forjar uma morte, muito menos fugir novamente de Salvatore e Matteo Risso. Finalmente, depois de um tempo, algumas recomendações começam a vir em minha memória.**Passado**Sento-me atrás de uma árvore no jardim da mansão Risso e abraço a margarida, deixando as lágrimas rolarem. Todo mundo est
--- SalvatoreViolet entrou em meu escritório furiosa. A menina que estava assustada ontem não estava aqui; às vezes esqueço que, apesar de tudo, ela é jovem e não viveu nada da vida.Eu e Matteo já sabíamos que isso seria um problema, porém não achei que fosse chegar tão rápido. Sei que estou sendo um cretino filho da puta por impedir ela de fazer suas coisas, mas só de pensar em alguém com os olhos nela, meu sangue ferve e não saberia o que seria capaz de fazer.Há onze anos, decidi me afastar para não impedir que ela tivesse amigos e uma vida normal. A lembrança dela chorando na casa da árvore me pega novamente. Naquele dia, eu vi o quanto poderíamos ser possessivos com ela, mesmo ainda sendo apenas uma criança. Violet chorava porque não tinha amigos, mas não sabia que o motivo disso éramos nós.Todas as pessoas que chegavam perto de Violet, dávamos um jeito de tirar de perto dela; queríamos só para nós. Eu não ligava para brincar de bonecas com ela, se fosse só para ter s
MatteoFico olhando a bela loira de olhos verdes e grandes que está sentada à minha frente. Eu sei que não sou bom. Essa vida acabou com qualquer coisa boa que eu poderia ter dentro de mim, menos minha obsessão pela pequena Violet Hill, e no fundo eu creio que seria bom, pelo menos, para ela.Comparado com Salvatore, fui quem sofreu mais, porque além de subchefe, eu era o capô e não podia demonstrar nenhuma emoção, sendo irredutível nas minhas ordens, o que me rendeu o apelido de "colecionador de ossos". Meus métodos de tortura não eram convencionais, mas isso era fundamental para termos êxito.De nós dois, sempre fui eu quem passou mais tempo com Violet, não necessariamente ao lado dela, mas sim a observando e protegendo. Quando eu tinha 15 anos, cortei o cabelo de uma menina que implicava com Violet só por causa da sua boneca Margarida, boneca que eu e Salvatore fizemos questão de comprar com nosso dinheiro na época para lhe dar de aniversário.Me arrependo, óbvio, que não, aquela d
VioletSubo as escadas em direção ao meu quarto, entro no banheiro trancando a porta. Esse é o único lugar agora que tenho privacidade, já que Salvatore arrombou a porta do quarto. Fico sentada no chão e deixo as lágrimas me invadirem. Eu sei que estou sendo estúpida, mas não sei o que fazer. Sinceramente, eu me sinto insegura e imatura em relação a tudo que está acontecendo ao meu redor.Eu sei que em algum momento eu teria que me casar com alguém, e isso não estava em discussão desde quando eu nasci, mas eu nunca estive perto de nenhum homem. A única pessoa que eu beijei até hoje foi Mattia, e foi uma única vez, quando ele roubou um beijo e eu saí correndo dele com medo.Eu estava nessa casa sozinha, não tinha ninguém com quem eu pudesse desabafar. Era apenas eu e dois homens que, a qualquer momento, poderiam entrar aqui e pegar o que quisessem, porque ninguém iria impedir ou me proteger, já que sou legalmente esposa.Até os empregados dessa casa agem como se fossem robôs; não falam