Seis

— Que?

— Eu posso não ser a maior nerd das nerds, mas prometo que vou te ensinar tudo o que sei.

— Eu entendi, mas quero que seja mais clara. — diz, rindo. — Pra não haver problemas depois. 

Dou uma risada.

— Irei estudar com você o mês inteiro, até suas provas finais. Você vai passar. Você vai jogar com seu time na final. Eu só não sei se sua mãe vai aprovar.

— Lacey, ela quis me forçar a todo tipo de professor particular possível, e eu sempre neguei. 

— Por que está aceitando a minha ajuda? — questiono, me sentando novamente. 

— Você quer me ajudar, porque se importa com o que eu posso perder. Porque de alguma forma, parece se importar comigo. Os professores seriam apenas pelo dinheiro. 

Sorrio, entendendo completamente o que ele queria dizer.

Brandon queria alguém que acreditasse no potencial dele. Que acreditasse, que ele era capaz de melhorar e se dar bem nas provas. Que por trás daquele ar rebelde, havia um garoto incompreendido. 

Um sinal soa e Brandon se levanta.

— Eu vou ter outra aula agora. — diz. — Adorei sua companhia, mas você não fica quieta quando o assunto é responder perguntas. — ri. — Se importa de me esperar na biblioteca até acabar? Aí vamos para casa. 

— Não, tudo bem. Só me... mostra onde é.

— Claro, vamos.

Brandon passa o braço pelo meu pescoço e me puxa para dentro do prédio. 

Após umas instruções de onde era a biblioteca, Brandon compra umas barras de cereais naquelas máquinas do corredor e divide comigo. Ele segue para a aula e eu para a biblioteca, onde me apresento como visitante. 

A biblioteca de uma escola pública, era precária e pequena, e o lugar que eu estava, parecia um paraíso para amante de livros. Eu caminhava entre os corredores, com meu indicador tocando cada capa naquelas estantes. Pego um livro aleatório e vou até uma das mesas. 

— Oi, Thomas. Você não deveria estar na aula?

Ergo minha cabeça assim que ouço aquele nome e observo o garoto loiro. 

— Tenho um trabalho para entregar na última aula, então resolvi perder essa para terminá-lo. — sua voz era grave. — O livro...

— Está no mesmo lugar que você deixou. Vai lá.

Quando ele se vira, posso ver o final de seu sorriso. Ao me ver, o rosto de Thomas ganha uma expressão curiosa. Ele permanece me encarando, até passar por mim e entrar em um dos corredores. 

Estava distraída, quando Thomas voltou jogando um livro na mesa em que eu estava.

— Então você é prima do Lennox. 

Ele não estava perguntando, quando se sentou na minha frente.

— Você é Thomas. O cara que dizem ser nerd.

Ele sorri, abrindo o livro.

— É, as notícias correm. 

— E como. — ergo as sobrancelhas.

— Bem, você está em vantagem... eu não sei seu nome.

— Lacey.

— Lacey Lennox...

— Swan. 

— Que? — ele me encara.

— Meu sobrenome é Swan. 

Thomas sorri e bate uma palma, o que faz com que a mulher da recepção o repreenda.

— Sabia que você não era prima dele. — diz. — Você é bonita e não tem nada a ver com ele.

Sorrio, mas não o respondo.

— Ué, não vai dizer que estou errado?

— E tirar seu ar de senhor certinho? Jamais.

 Quando Thomas sorri mais uma vez, eu percebo que seria fácil conviver com aquele sorriso.

— Sem falar, que você é inteligente. — ele diz. — Brandon está bem longe disso.

— Como pode saber se sou ou não?

— Estava na aula, quando você respondeu aquela pergunta sobre a causa da segunda guerra. Melhor de tudo, foi todo mundo se perguntando depois, quem era a garota inteligente. 

— Se estava lá, por que não respondeu a pergunta? — olho-o, por cima do livro. 

— Sou tímido. Não costumo responder perguntas em aula. 

Eu até teria respondido, mas lembrei de ouvir que ele iria fazer um trabalho e resolvi cessar a conversa.

Os vinte minutos que sucederam aquela breve conversa, foram de total silêncio e muito rabisco da parte de Thomas. Acho que eu seria capaz de ficar ali por muito mais tempo, se Brandon não tivesse aparecido.

— Hmmm... Lacey. — assim que ouço sua voz, levanto-me rapidamente. Era como se tivesse sido pega fazendo algo proibido. — Vamos?

— Oh, sim... Eu vou por isso no lugar.

Dou-lhes as costas rapidamente, e coloco o livro em seu lugar de origem. Ao voltar, posso ouvir Brandon falando com Thomas.

— Estamos entendidos? — Brandon pergunta, encarando o garoto loiro, que devolvia o olhar com raiva.

— Brandon?

Ele ergue a coluna e me olha.

— Oi... ér... vamos? Minha mãe ligou. Quis saber se eu te matei ou algo do tipo. Preciso mostrar a ela que não.

Sorrio com a frase dita e caminho para perto dele. Antes de irmos, me despeço de Thomas.

— Tchau, Thomas. Foi um prazer.

Sem nenhum sorriso, o garoto apenas sacode a cabeça e volta a atenção para seus livros.

Brandon então coloca o braço em volta de meu pescoço e me puxa para fora da biblioteca.

[...]

— Tenho que dizer, que quando Úrsula me contou que vocês estavam na faculdade, eu não acreditei. — Aby diz, durante o jantar. — Brandon nunca vai as aulas por vontade própria. E ainda te arrastou tão cedo.

— Isso me lembra, que tirei nota máxima na redação que entreguei ontem.

— Oh...

— Não fez mais que sua obrigação. — Mark diz, sem tirar o olhar do celular.

— Mark!

— Sem essa, Aby. Eu pago aquela faculdade cara, e o mínimo que ele pode fazer, é ser bom aluno. Nunca pedi demais.

Brandon me encara e suspira. Faço alguns sinais com a cabeça, apontando para a mulher ao seu lado.

— Hmm... Lacey? — Aby chama e eu a olho. — Tudo bem? Parece estar com dor no pescoço...

— Oh, não... eu...

— Mãe, eu só consegui aquela nota na redação, graças a Lacey. Ela... me ajudou a entender a matéria. E... pensamos nela me ajudar o resto do mês. Para as provas finais.

Aby olha para mim e depois para Brandon, com um enorme sorriso.

— Mark! — ela toca o braço do marido, enquanto nos olha. — Está ouvindo isso? Brandon dizendo que quer aulas particulares! Isso é o máximo.

— Se quer aulas particulares, chamem aquele professor que foi pago para tal. Não vai alugar a menina para isso.

— Eu quero a Lacey! — Brandon diz, fazendo com que os pais o olhem. — Quer dizer... quero que Lacey me ajude. Não um professor qualquer.

— Brandon, eu já disse...

— Senhor, — digo por impulso e todos me olham. — eu gostaria de ajudar Brandon. Eu... vejo que Brandon quer melhorar nos estudos, para poder passar nas provas finais e... deixar vocês orgulhosos. Sei que eu não deveria estar me metendo nisso, mas... me deixe ajudá-lo. Prometo que seu filho irá fazer tudo certinho.

Vejo Aby segurar o braço do marido e olhar pra mim, com um certo brilho nos olhos.

— Não se...

— Claro que deixamos! — Aby diz. — Mark, alguém acredita em Brandon. Brandon confia nessa menina, para ajudá-lo. E se ele acha isso, nós achamos também. — ela me encara. — Querida, eu sabia que deixar você entrar naquele dia, seria uma benção para nós. Obrigada!

Sorrio.

— Não é nada. É uma honra poder ajudar. Aliás, iremos começar logo após o jantar. Não é, Brandon?

O rapaz que estava entretido em conseguir pegar as ervilhas com o garfo, ergue a cabeça rapidamente e me encara.

— Vamos? Vamos! Acabei.

Ele se levanta e fica me encarando.

— Eu vou arrumar tudo e...

— Não. — Aby diz. — Você está livre dessas obrigações, para ajudar Brandon. Quando ele não estiver em casa, tudo normal. Tudo bem?

— Hmmm... acho que sim.

— Vamos, Lacey.

— Licença.

Após Aby sorrir para mim, passo por trás de Mark, que não tirava os olhos do celular, e subo com Brandon.

— Será no seu quarto? — questiono, subindo as escadas.

— Algum problema pra você? Pode ser na sala...

— Não, tudo bem.

Assim que entramos no quarto - que ele manteve arrumado -, Brandon vai diretamente para a escrivaninha.

— Sente aí. — ele aponta para sua cama, e logo joga uns livros nela. — Tem tanta coisa, que eu não sei por onde começar.

— Bem, comecemos pelo mais fácil.

[...]

— Vai, Brandon. A gente leu isso agorinha.

O menino aperta a cabeça com as mãos e a balança negativamente.

— Não consigo! Foram mais de três horas estudando. Não aguento mais.

— Só responde mais essa, e nós paramos. Vai.

— Eu acho... — o celular dele vibra. — hmmm...

— Ah, Brandon!

— É só uma mensagem, espera.

Vendo que ele está entretido em seu celular, levanto da cama e começo a fechar os livros.

— Acho que chega por hoje. — digo.

— Sim! Tenho uma boa para nós.

— Para nós? — o olho.

— Um cara do time, disse que há uma festa acontecendo na casa dele. Vamos!

Brandon não estava perguntando, quando levantou e foi até seu armário escolher uma roupa.

— Vamos? Brandon eu não posso... eu não...

— Você não? — pergunta. — Não pode o que? Ir? Claro que pode. Mamãe não vai achar ruim eu levar você para se divertir um pouco.

— Eu não... tenho roupa para isso.

Ele me olha.

— Se importa com isso?

Apenas assinto e abaixo a cabeça.

— Hmmm... acho que você tem o mesmo tamanho que a Jess. Ei, gosta? Ela deixou aqui em alguma das visitas.

Ergo a cabeça e vejo Brandon segurar um vestido. Ele era bonito e com toda certeza caberia em mim.

— Uau, eu... ela não vai se importar?

Brandon ri e joga o vestido para mim.

— Vá se vestir. E não demora.

— E- eu...

— Vai, Lacey.

— Tudo bem. Já venho.

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