Capítulo 3

AUDREY

—Você está ouvindo o que estão dizendo por aí? —Maggi diz em um tom baixo quando se aproxima da minha mesa.

—Não, eu não sei e não me interessa —digo, tentando não parecer rude.

—Bem, deveria se importar, porque é sobre o chefe.

Paro de digitar no teclado do meu computador, empurro um pouco meus óculos para baixo e fixo meu olhar nela.

—Sobre o chefe? —pergunto.

Ela assente imediatamente.

—Sim, dizem que ele vai sair da empresa e que o filho dele, o Daniel, será o novo CEO. Se eu fosse você, estaria preocupada.

—Por que eu deveria?

—Não é óbvio? —ela revira os olhos enquanto faz um gesto com a mão —Se mudarem de chefe na presidência, significa que também vão fazer isso com a secretária. Ouvi o Fernando, o responsável pelos recursos, conversando com a Yani, a outra recepcionista, sobre um substituto.

O quê?! Eles não podiam me substituir, certo? Não, não podia deixar isso acontecer. Trabalho aqui há quase cinco anos. Devo admitir que foi difícil conseguir o emprego, mas com um bom currículo detalhado e limpo, consegui o meu lugar na presidência desde o dia em que pisei neste lugar.

Meu trabalho é minha vida, é tudo o que tenho e é a única coisa à qual dediquei todo o meu tempo. Eles não podem simplesmente me demitir assim, muito menos sem me dar uma explicação. Espero que tudo o que estão falando seja apenas boato, apenas isso, e nada mais.

Não quero continuar com essa conversa, então deixo Maggi saber o quão ocupada estou no momento, é claro, omitindo os boatos dela.

—Desculpe, Maggi, tenho muito trabalho a fazer —ajusto meus óculos e volto minha atenção para o computador para continuar o que deixei pela metade.

Bloqueio tudo ao meu redor e me concentro apenas no meu trabalho, como costumo fazer quando não quero ser incomodada.

A manhã passa rápido com assuntos da reunião e outras pendências que precisava organizar antes dos chefes da empresa se encontrarem na sala de reuniões. De repente, a manhã passou voando, a reunião correu bem como sempre e, assim que terminou, finalmente pude ir almoçar na cafeteira. Minha amiga já estava me esperando lá.

Eu a notei sentada em uma das mesas ao fundo quando entrei na cafeteira. O lugar não é pequeno, tem um bom espaço com várias mesas e cadeiras no centro do salão e algumas junto às grandes janelas pelas quais o edifício se destaca devido à sua estrutura peculiar.

—Já era hora —reclama minha amiga quando me aproximo da mesa —Tive que pedir para nós duas, senão não conseguiríamos almoçar.

—Bem —digo, depois de me sentar na cadeira em frente a ela —Isso parece...

—Delicioso? —ela pergunta com um sorriso —É, você vai gostar.

—Se você diz... —forço um sorriso enquanto olho para a pequena salada: alguns pedaços de alface, alguns poucos tomates-cereja, cenoura ralada e algo roxo que não sei o que é —Não, isso... —me calo por um segundo, mexo o tomate redondo com o garfo enquanto continuo olhando para minha comida saudável —Preciso repor minhas energias, e isso não vai ajudar, definitivamente, isso não vai me satisfazer.

—Não se trata de ficar cheia, mas de se nutrir enquanto come.

—Mas é que...

—Mas nada, coma. Se depois sentir que precisa comer algo mais, me fale, e eu te arrumo um shake delicioso com muitas proteínas e minerais para sua performance —ela pisca o olho.

Parece um comercial de televisão com esse discurso absurdo. A qualquer momento, vou desmaiar ou talvez morrer depois disso, contanto que não aconteça na frente do meu chefe. No final, vou acabar desmaiando e sendo demitida.

É frustrante ficar com fome depois de comer, parece que não comi nada. Termino minha pequena salada, Nelly pede dois shakes de banana e morango, muito bons, disso não posso reclamar, mas ainda me deixa com um buraco no estômago.

Para esquecer o assunto e não ficar pensando que ainda estou com fome, trago o assunto da mudança de chefe na presidência.

—Você ouviu alguma coisa sobre a saída do senhor Anthony?

—Sobre a saída dele? —ela responde com uma pergunta —Por que eu deveria saber? Você é a secretária dele.

—Então você não ouviu os rumores? —pergunto surpresa.

Essa mulher é igual à Maggi, talvez não tanto, mas ela é como os jornais, sempre tem a manchete principal antes do meio-dia. Às vezes digo a ela que ela escolheu o emprego errado e que seria melhor trabalhar em uma revista de fofocas.

—Sobre o Daniel? —ela arqueia a sobrancelha.

Lá vamos nós de novo, nunca perde a oportunidade de dizer o quão bonito ele é e o grande partido que ele é, que todas o desejam e gostariam de ser a mulher sortuda a seu lado, como namorada, noiva e até esposa.

—Não exatamente, quero dizer a saída do meu chefe, dizem que ele vai sair e não voltará a trabalhar como CEO da empresa, você sabe de algo?

Ela fica quieta por alguns segundos, como se estivesse lembrando de algo. Um sorriso aparece em seus lábios.

—Por isso digo que é sobre o Daniel —reviro os olhos, essa mulher, ela não para de mencioná-lo —Não me olhe assim —ela reclama e me aponta —Quando você o conhecer, você vai concordar comigo.

—Não estou interessada em conhecê-lo, nem em saber nada sobre ele, só quero manter meu emprego e que o senhor Anthony não vá embora. Eu nunca terei um chefe melhor do que ele.

Isso é verdade. Embora eu esteja preocupada em perder meu emprego, o que mais me deixa inquieta é a partida dele, caso seja verdade o que Maggi me disse antes.

Não sei por que diabos dou ouvidos aos rumores, nunca fiz isso e agora isso está me incomodando muito, preciso distrair minha mente e não pensar nisso, mas é impossível, meu trabalho é muito importante para mim.

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