Capítulo Quatro

Enormes portas revestidas a ouro fino, cravadas por diversas pedras preciosas como: os rubis, as safiras, os diamantes, as esmeraldas... São tantas que eu não sei nem listar o nome de todas — É porque eu ainda não sei o nome de todas mesmo, mas sei que não demorarei muito para eu ter conhecimento de tudo isso.

Nesse momento todos os aspirantes a anjos aprendiz, estamos no corredor aguardando a hora de entrarmos dentro do grande  salão de cerimônia, Suriel está de frente para as grandes portas e de costa para a gente; sinto minhas mãos e pernas darem , passo as costas de minha mão no intuito de removê-las, meu coração pulsa tão forte que sou capaz de escutá-lo como se estivesse dentro de meus ouvidos. Saio de minha auto-análise ao ouvir os passos dos aprendizes se movendo. “Será que Suriel já deu a ordem, mas eu estava tão perdido que acabei não ouvindo?” — me pergunto em pensamentos.

— Está dormindo Anael? Não me ouviu mandar ir pra frente da fila? — Suriel diz junto de mim, quase me escapa um grito de susto, eu realmente estava concentrado demais em mim que não prestei atenção em nada ao meu redor.

— Por que ele vai ser o primeiro a entrar? — pergunta Zuriel me olhando de cima para baixo, não gosto da forma como ele me olha.

— Simples meu querido Zuriel, Anael foi  o único a não ter recebido castigo do senhor, o único que não tem nenhuma vergonha desde seu nascimento — responde Suriel com sua voz grave, cheia de autoridade a Zuriel que num instante para de me olhar e volta para seu lugar na fila.

Agradeço mentalmente a Suriel por me defender dos outros, já tentaram fazer pegadinhas sem graça comigo e Suriel sempre me livrou e deu bronca neles, e isso fazia com que eles ficassem me olhando ainda mais feio. Uma vez, eu estava na minha terceira semana de vida, eles me chamaram para participar de uma corrida, me disseram que era apenas pra se divertir e distrair um pouquinho, essa corrida era do fim de uma divisão até a entrada da outra, aceitei ir, imaginei que finalmente estavam me aceitando e deixando qualquer indiferença para lá. Estava enganado, quando cheguei no local marcado, quase fiz minhas necessidades nas calças, eu nunca tinha visto um tom de vermelho tão feio de se ver:

Os anjos guerreiros estavam lutando contra os anjos caídos, a cena era de muita violência, braços sendo decepados, barrigas sendo abertas, asas sendo arrancadas, o chão todo banhado de sangue, eu fiquei petrificado vendo tal cena, não conseguia mexer nenhum de meus músculos, os sons dos gritos de ambas as partes ecoava alto em meus ouvidos. 

Um anjo caído nota minha presença e empunhando sua espada vem voando rapidamente em minha direção, o ódio em seus olhos era totalmente visível, de repente tudo ao meu redor fica em silêncio, as coisas parecem que ficaram em camera lenta, a única coisa que consigo ver é o caído vindo em minha direção chegando cada vez mais perto, levantando cada vez mais a sua espada para me matar. 

“É assim que minha vida vai acabar? Nem pude conhecer nada…” — penso triste enquanto o anjo caído está apenas alguns centímetros longe de mim.

Sangue mela meu rosto, a cabeça do anjo caído cai rolando pelo chão banhado de sangue, prendo minha respiração ao ver seu corpo sem cabeça caindo de joelhos e aumentando ainda mais a poça de sangue.

— Venha Anael! — Suriel puxou minha mão e voltamos para o dormitório.

Fiquei dias sem comer, não aguentava ver nada que tivesse a cor vermelha, e se visse vomitava  na mesma hora. Suriel teve com o senhor e pediu para que tirasse esse trauma do meu corpo. Eu ouvi o som da voz do senhor me acalentando, eu não esqueci do ocorrido, mas agora não tenho mais trauma, fui curado diretamente por ele.

Tirintim

E assim se inicia o alto som das várias trombetas atrás das grandes portas.

— Atenção! — diz Suriel e todos os aprendizes se colocam na posição de sentido. O comandante e treinador Suriel ficar de frente para nós e continua — Hoje é um dia especial — anda até o fim da fila com suas mãos cruzadas em cima de sua lombar — Hoje vocês irão deixar de ser meros aspirantes de aprendizes — volta para o início da fila se posiciona na minha frente —Hoje vocês se tornaram anjos aprendizes, irão fazer parte da grande família celestial.

Assim que Suriel termina seu pequeno discurso, ele olha pra mim e assente em positivo com um leve balançar de sua cabeça, retribuo o ato e então as grandes portas se abrem. Rapidamente tento disfarçar meus olhos que se abriram mais que o normal, minha boca também abriu mas logo tratei de fechá-la para que ninguém notasse o meu espante. O salão onde está ocorrendo a cerimônia das asas é de uma riqueza... Uma pompa... Uma beleza tão grande que o brilho chega a lacrimejar os olhos. Suas paredes, seus pilares são todos revestidos de ouro, os desenhos que os embelezam estão todos cobertos por pequenos cristais.

— Marchem! — comanda Suriel.

Com a cabeça erguida movo minhas pernas e começo a marchar para dentro do salão e os outros aspirantes vêm logo atrás de mim. Estamos todos alinhados, todos em um único passo.

— Alto! — outro comando é dado por Suriel e paramos de marchar.

Todos os anjos, de todas as divisões do paraíso, estão presentes no salão que fica no palácio do senhor que se localiza no centro de todas as divisões; eles estão aqui para parabenizar e dar boas vindas aos novos membros da família.

“Silêncio.” esse comando é dado pelo senhor em sua forma de espírito para todos os presentes.

E todos logo obedecem e tudo fica no mais completo silêncio, a única coisa que consigo ouvir é o som da pulsação do meu coração e de minha respiração que tento a todos custo manter regular. Fecho meus olhos, encho meus pulmões com todo o ar que minhas narinas me permitem sugar sem fazer barulho, depois que faço a troca de gases em meus pulmões o líbero pela boca também da forma mais silenciosa possível. 

Na mesma hora as enormes cortinas alvas como as nuvens se abrem, os tambores começam a tocar, logo após as harpas, as faltas, os violinos também começam e o senhor faz sua entrada no salão.

Todos os anjos ( inclusive os aspirantes) se ajoelham para o Senhor em forma de respeito e adoração.

— Que minha paz vos acompanhe sempre — diz o senhor e voltamos a ficar em nossas posições anteriores, então mais uma vez sua voz se faz presente:

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