Enormes portas revestidas a ouro fino, cravadas por diversas pedras preciosas como: os rubis, as safiras, os diamantes, as esmeraldas... São tantas que eu não sei nem listar o nome de todas — É porque eu ainda não sei o nome de todas mesmo, mas sei que não demorarei muito para eu ter conhecimento de tudo isso.
Nesse momento todos os aspirantes a anjos aprendiz, estamos no corredor aguardando a hora de entrarmos dentro do grande salão de cerimônia, Suriel está de frente para as grandes portas e de costa para a gente; sinto minhas mãos e pernas darem , passo as costas de minha mão no intuito de removê-las, meu coração pulsa tão forte que sou capaz de escutá-lo como se estivesse dentro de meus ouvidos. Saio de minha auto-análise ao ouvir os passos dos aprendizes se movendo. “Será que Suriel já deu a ordem, mas eu estava tão perdido que acabei não ouvindo?” — me pergunto em pensamentos.
— Está dormindo Anael? Não me ouviu mandar ir pra frente da fila? — Suriel diz junto de mim, quase me escapa um grito de susto, eu realmente estava concentrado demais em mim que não prestei atenção em nada ao meu redor.
— Por que ele vai ser o primeiro a entrar? — pergunta Zuriel me olhando de cima para baixo, não gosto da forma como ele me olha.
— Simples meu querido Zuriel, Anael foi o único a não ter recebido castigo do senhor, o único que não tem nenhuma vergonha desde seu nascimento — responde Suriel com sua voz grave, cheia de autoridade a Zuriel que num instante para de me olhar e volta para seu lugar na fila.
Agradeço mentalmente a Suriel por me defender dos outros, já tentaram fazer pegadinhas sem graça comigo e Suriel sempre me livrou e deu bronca neles, e isso fazia com que eles ficassem me olhando ainda mais feio. Uma vez, eu estava na minha terceira semana de vida, eles me chamaram para participar de uma corrida, me disseram que era apenas pra se divertir e distrair um pouquinho, essa corrida era do fim de uma divisão até a entrada da outra, aceitei ir, imaginei que finalmente estavam me aceitando e deixando qualquer indiferença para lá. Estava enganado, quando cheguei no local marcado, quase fiz minhas necessidades nas calças, eu nunca tinha visto um tom de vermelho tão feio de se ver:
Os anjos guerreiros estavam lutando contra os anjos caídos, a cena era de muita violência, braços sendo decepados, barrigas sendo abertas, asas sendo arrancadas, o chão todo banhado de sangue, eu fiquei petrificado vendo tal cena, não conseguia mexer nenhum de meus músculos, os sons dos gritos de ambas as partes ecoava alto em meus ouvidos.
Um anjo caído nota minha presença e empunhando sua espada vem voando rapidamente em minha direção, o ódio em seus olhos era totalmente visível, de repente tudo ao meu redor fica em silêncio, as coisas parecem que ficaram em camera lenta, a única coisa que consigo ver é o caído vindo em minha direção chegando cada vez mais perto, levantando cada vez mais a sua espada para me matar.
“É assim que minha vida vai acabar? Nem pude conhecer nada…” — penso triste enquanto o anjo caído está apenas alguns centímetros longe de mim.
Sangue mela meu rosto, a cabeça do anjo caído cai rolando pelo chão banhado de sangue, prendo minha respiração ao ver seu corpo sem cabeça caindo de joelhos e aumentando ainda mais a poça de sangue.
— Venha Anael! — Suriel puxou minha mão e voltamos para o dormitório.
Fiquei dias sem comer, não aguentava ver nada que tivesse a cor vermelha, e se visse vomitava na mesma hora. Suriel teve com o senhor e pediu para que tirasse esse trauma do meu corpo. Eu ouvi o som da voz do senhor me acalentando, eu não esqueci do ocorrido, mas agora não tenho mais trauma, fui curado diretamente por ele.
Tirintim
E assim se inicia o alto som das várias trombetas atrás das grandes portas.
— Atenção! — diz Suriel e todos os aprendizes se colocam na posição de sentido. O comandante e treinador Suriel ficar de frente para nós e continua — Hoje é um dia especial — anda até o fim da fila com suas mãos cruzadas em cima de sua lombar — Hoje vocês irão deixar de ser meros aspirantes de aprendizes — volta para o início da fila se posiciona na minha frente —Hoje vocês se tornaram anjos aprendizes, irão fazer parte da grande família celestial.
Assim que Suriel termina seu pequeno discurso, ele olha pra mim e assente em positivo com um leve balançar de sua cabeça, retribuo o ato e então as grandes portas se abrem. Rapidamente tento disfarçar meus olhos que se abriram mais que o normal, minha boca também abriu mas logo tratei de fechá-la para que ninguém notasse o meu espante. O salão onde está ocorrendo a cerimônia das asas é de uma riqueza... Uma pompa... Uma beleza tão grande que o brilho chega a lacrimejar os olhos. Suas paredes, seus pilares são todos revestidos de ouro, os desenhos que os embelezam estão todos cobertos por pequenos cristais.
— Marchem! — comanda Suriel.
Com a cabeça erguida movo minhas pernas e começo a marchar para dentro do salão e os outros aspirantes vêm logo atrás de mim. Estamos todos alinhados, todos em um único passo.
— Alto! — outro comando é dado por Suriel e paramos de marchar.
Todos os anjos, de todas as divisões do paraíso, estão presentes no salão que fica no palácio do senhor que se localiza no centro de todas as divisões; eles estão aqui para parabenizar e dar boas vindas aos novos membros da família.
“Silêncio.” esse comando é dado pelo senhor em sua forma de espírito para todos os presentes.
E todos logo obedecem e tudo fica no mais completo silêncio, a única coisa que consigo ouvir é o som da pulsação do meu coração e de minha respiração que tento a todos custo manter regular. Fecho meus olhos, encho meus pulmões com todo o ar que minhas narinas me permitem sugar sem fazer barulho, depois que faço a troca de gases em meus pulmões o líbero pela boca também da forma mais silenciosa possível.
Na mesma hora as enormes cortinas alvas como as nuvens se abrem, os tambores começam a tocar, logo após as harpas, as faltas, os violinos também começam e o senhor faz sua entrada no salão.
Todos os anjos ( inclusive os aspirantes) se ajoelham para o Senhor em forma de respeito e adoração.
— Que minha paz vos acompanhe sempre — diz o senhor e voltamos a ficar em nossas posições anteriores, então mais uma vez sua voz se faz presente:
— Hoje o paraíso se encontra em festa — diz olhando para todos dentro do salão — Hoje estamos recebendo dez novos membros em nossa família celestial — dá uma pequena pausa, olha para todos os aprendizes e então continua — Fiquem ombro com ombro.Eu não saio do lugar, não é preciso, os aprendizes que estavam atrás de mim se locomovem e ficam todos um do lado do outro, e eu que era o primeiro agora sou o oitavo da fila.—
**Trezentos e sessenta e cinco mil dias depois, ou um ano no tempo dos dos anjos**408... 409... 410...- ANAEL? — paro de contar minhas abdominais ao ouvir a voz de Suriel me chamando.— Aqui treinador! — chamo sua atenção para indicar minha localização e então volto para minha atividade.— Por que ainda está aqui Anael? — pelo tom rude que ele usou comigo, já sei que Suriel está irritado comigo. De novo. Suspiro alto, cansaço se faz presente em meu semblante.Não era pra eu estar aqui no CAAG (Centro Acadêmico dos Anjos da Guarda), era para eu estar no portal do paraíso, junto com os outros anjos da guarda, indo cumprir uma tarefa primordial para a minha classe.— Não acho que observar os humanos seja mais importante que treinar para defendê-los — falo
— Ahhhhhhh! — olho com a testa franzida para a humana que está em cima de uma maca hospitalar, tudo indica que ela está a dar a luz — Ahhhhh! — a cada grito de dor que ela dá lágrimas escorrem de seus olhos se misturando com o suor que escorre de sua testa, seus cabelos loiros estão grudando em seu rosto por conta do suor.Ao seu lado um humano, com cabelos cacheados de cor marrom escura, e pele pálida está segurando a mão da humana, presumo ser o seu companheiro, e pai do bebê que está a vir fazer parte desse horrível mundo, sinto pena dessa criança, as pernas do humano tremem, seus olhos estão fechados bem forte, não entendo o por que de tanto medo.Simplesmente aparecemos aqui, nesse lugar pequeno preenchido pelos gritos de dor dessa humana. Passar pelo portal, não é tão simples, anjos sem autoriz
— Vamos, Anael!Ouço pela terceira vez a voz de Zaniel me chamando. Estou deitado em minha catre desde que voltei do mundo dos humanos com a informação de que serei um anjo da guarda protetor, estou ignorando a todos desde então, só queria fazer partes dos anjos da guarda lutadores, assim não teria que ficar vendo o terrível mundo dos homens, mas o senhor me fez virar guarda um ser humano, que é inocente agora, mas quando crescer vai ser tão detestável como qualquer outro.— Levanta! Deixa de agir! — escuto sua voz levemente alterada."Puff"Caio de lado no chão, Z
E lá vamos nós, mais uma vez para o tão amado mundo humano, sinto algo estranho em meu peito, meu coração bombeia forte, sinto a ponta de meus dedos darem leves tremidas… Como será que vai sair? Dessa vez eu não estou indo para observar, mas sim para lutar em proteção da humana.Olho para Zaniel ao meu lado, se ele está ansioso, apenas observando o seu semblante não dá para saber, ele está calmamente sério, em suas mãos se encontra um caderno de anotações para anotar tudo o que a humana faz de certo e errado, grudado nele tem uma pena especial de cor azul celeste, ela é especial porque não se faz necessário o uso de tinta para que ela escreva.— Está ansioso para a primeira missão? — tenho puxa conversa, esse silêncio está me enlouquecendo.— Poderia até estar se eu fosse desempenhar o que eu realmente fui criado para fazer — fala frio.Eu entendo, quer dizer… Eu acho que entendo, não deve ser fácil se prepara
— Quando o dia aqui chega ao fim, no pôr do sol, recitamos palavras corretas e as anotações vão diretamente para o escritório do senhor — Zaniel explica.Apenas gestos positivos com a cabeça, eu deveria ter participado das aulas, é horrível ser o atrasado e precisar das explicações dos colegas.Mesmo não sendo mais o meu dever, eu ando na mesma direção em que a mãe de Elisa foi. E ao chegar meus olhos se arregalaram, isso é uma mãe amorosa?Uma raiva tenta se instalar em meu ser, mas me controlo o máximo possível, não quero ser um anjo portador de vergonha de maneira nenhuma! Olho com nojo essa cena:Elisa sentada embaixo da mesa, com uma vasilha escrita seu nome, dentro da mesma contém restos de comida, que parecem ser de uns dois dias atrás, ela está comendo bem rápido, e sua mãe sentada na mesa comendo um belo pedaço de bife, com arroz colorido e salada, essa mulher está com as pernas cruzadas, e com a pern
Ando de um lado para o outro, e seus olhos me seguem pelo quarto, não consigo acreditar... Co...como... Paro de andar ao sentir a mão de Zaniel em meu ombro.— Ela é um bebê bem sensível, deve está se sentindo sozinha, de alguma forma ele dever ter percebido que você é o verdadeiro guardião dela - ele diz e eu franzo meu cenho - Perceba que ela não consegue me ver, mesmo no momento o papel de anjo protetor seja meu, ela não me reconheceu como tal.Sinto meu cérebro fervilhar, não era para ela fazer isso, e agora? Não quero ser o anjo protetor dela... Mas seus olhos me olham de uma forma tão meiga... Que belos olhos essa criança tem, me sinto calmo os olhando... Decido sair do quarto dela, não posso continuar se não... Eu acabe perdendo meu cargo de guerreiro protetor.Fico no lado de fora do corredor e as vozes dos pais de Elisa ressoando pela porta a frente, eu a atravesso e observo a cena: A mãe de Elisa em pé andando de um lado para o outro e seu marido sentado
— Olha, não foi nada grave, já enfaixamos a cabeça dela, mas fizemos alguns exames e ela está em falta de muitas vitaminas, por isso que desmaiou depois de ter a cabeça enfaixada — junto com o humano escuto atentamente cada palavra dita pelo medico.— Obrigada doutor, eu estava desesperado, ver ela naquela poça de sangue fez meu coração gelar — "não foi apenas o seu humano" — comento em pensamentos.Elisa está deitada na maca, estamos em m hospital publico, mas foi um ótimo atendimento, e graças ao senhor ela não corre nenhum risco de vida e isso me deixa aliviado. Deixo meus ombros caírem cansados, ficar preocupado é muito cansativo.— Aconselho que compre algumas vitaminas e mais frutas na alimentação da pequena — o medico fala enquanto anota no papel o nome das vitaminas.— Providen