Gianni Lafaiete "Que porra!" Grito perdendo o último resquício de calma que ainda tinha. Abro a porta do banheiro saindo de dentro do espaço pequeno, completamente claustrofóbico pela primeira vez na vida. Ao lado do espaço em que Magnólia estava deitada quando cheguei, o pacote com jóias dentro está intacto. Retiro a gravata do pescoço sentindo o ar faltando nos pulmões, precisando de espaço para raciocinar quando sinto estar prestes a enlouquecer. Minha pele parece queimar em alguns pontos, quero enfiar as unhas e rasgar a carne tamanha frustração. Olho para os travesseiros na cama, os lençóis, uma mistura de lembranças atordoando os meus pensamentos. Sempre mantenha a calma, tenha pulso, saiba jogar o jogo... lições que usei a vida inteira para lidar com os piores tipos de homens dentro do submundo e desde que Magnólia entrou na minha vida, perderam o sentido. Qualquer outra mulher estaria estirada no chão do banheiro com um corte na garganta, sentiria um prazer intenso ao v
Livia Preciso apoiar as mãos nos joelhos por um momento, sentada na cama com o edredom perfeitamente arrumado, pois desde que chegamos do almoço de horrores fiquei andando dentro desse lugar quadrado sentindo o ar faltar nos pulmões. Mesmo com as enormes janelas abertas mostrando o longo caminho do jardim e das pedras nas quais os carros dos seguranças entram e saem, o céu ainda num tom lindo de azul, parece que estou pulando dentro de uma piscina de sensações ruins. Aquela troca de olhares entre Anne e Magnolia, fez o meu estomago embrulhar, desde então busco entender tudo que está se passando. Não é como se em algum momento ela ou Bruno, tenham me contado alguma coisa. Para piorar Patricia não sabe o que faz ao despertar a fúria do meu marido. "O que houve?" A voz grave retumba dentro da minha mente. Ergo a cabeça encontrando o olhar azul questionador, a barba aparada e um colete cinza sob a camisa branca social junto com o relogio de ouro no punho. Parado contra a porta de made
Bruno LafaieteSeus olhos sempre tão alegres e ombros relaxados parecem ter sido drenados pela dor da minha traição. Sim, um puto traidor é isso o que virei após tanto tempo planejando de maneira constante cortando cada um dos entraves que possa vir a impedir algum detalhe a ser perfeitamente executado no plano traçado.Matar Gianni Lafaiete, meu tio, padrinho, o homem que me criou para ser seu herdeiro, honrado, leal e principalmente digno de carregar seu sobrenome. Em todas as vezes que preparei algum detalhe, com cada uma das fotos tiradas pelos homens do meu escritório de inteligência, leais somente a mim, até mesmo com as palavras dolorosas da minha irmã admitindo a necessidade de fazer isso, pude sentir cada tiro sendo alvejado em meu corpo, cada corte contra a carne e o sangue sendo derramado como se estivesse andando nas ruas como um moribundo e não um homem, honrado.
MagnoliaNão consigo pensar no que fiz de errado, será que estou errada em querer ter a minha própria familia?Ver a decepção nos olhos de Patricia junto com a sensação de estar sendo um segredo de Gianni só acumulou essa dor que faz ofegar a cada momento.São as suas palavras que acabam mexendo ainda mais comigo de uma maneira imensuravel."Não existe esse alguém, Magnólia, sou o único na sua vida, você quer filhos?" Ele pergunta cheio de maldade no olhar. "Vou te prender nesse quarto, te foder como um animal no cio e você só vai sair daqui quando o teste der positivo."Prendo a respiração com a ameaça ao mesmo tempo em que imagino como faria para cumprir sua promessa."Eu te odiaria por tentar me prender com um filho." Rebato buscando manter firme as pernas.Seu sorriso provoc
Gianni LafaietePoucas coisas conseguiram desestabilizar o meu temperamento, nesses quarenta e cinco anos de vida. Ter nascido em meio a guerra entre as três maiores máfias italianas não custou somente uma infância e adolescencia, sobreviver durante esse periodo foi a primeira prova de força da qual fui submetido, testemunhar cada atrocidade cometida em nome do poder foi um ensinamento sobre crueldade. Muitas vezes presenciei a fraqueza dos meus inimigos e fiz questão de destruir suas mentes ao explorar cada uma dessas, manipular os dados do jogo para ganhar se tornou um vicio. Dizer que procurei Deus para ser alguém melhor é uma completa mentira, fui um servo leal das crenças ensinadas pela minha mãe para conquistar o poder que aprendi amar sob o comando do meu pai.Quando alguém realmente quer mudar começa de dentro para fora isso não é algo a ser ensinado por um outro alguém, por isso que dirigindo entre as ruas em alta velocidade observando pelo canto do olhar a maneira amedrontad
MagnoliaA sensação de estranheza nesse lugar só não é pior do que o mau pressentimento que grita dentro da minha cabeça para sair correndo daqui, Gianni ostenta um sorriso estranho nos lábios enquanto o tal de Tizziano utiliza alguns materiais ao lado para poder continuar recarregando a máquina com agulhas. Puxo o ar com força, para poder continuar observando o desenho que vai se formando na pele limpa, algumas gotas de sangue se formam quando algum traço é puxado para baixo."Não precisava fazer algo assim. " Murmuro.Em um ponto estavamos discutindo dentro da mansão, queria que Gianni entendesse que não posso abrir mão de alguns sonhos por ele, ainda mais depois de conviver meses ao lado de Anne grávida do primeiro herdeiro dele, depois do almoço desastroso com Bruno, Patricia e Livia, ela fez questão de explicar sobre como filhos bastardos são maltratados dentro da máfia.Além de exigir que fizesse aquele teste de gravidez, pois é uma lei deles que o homem que trai a esposa seja m
Bruno LafaieteOs dedos pequenos seguram o meu com uma força admirável para um serzinho tão minúsculo, enrolado numa manta branca com um bordado dourado sob o peito exibindo o brasão da família Lafaiete, meu filho, suspiro com orgulho, os fios de cabelos ralos e a pele num tom café com leite, a mistura perfeita com a mulher que tanto amo. Estou a ninar o bebê enquanto Livia descansa no quarto, depois que o médico garantiu que ela estava bem, fiquei ali admirando o nosso filho mamando pelas primeiras horas de vida. A minha esposa esperou somente a magia do momento passar para falar o que desejava. A porta de entrada range quando Gianni entra, posso sentir o seu olhar sob nós dois, curioso pelo silêncio ergo o olhar procurando pela mulher que levou consigo mais cedo."Ela está na cabana." Responde à pergunta silenciosa, os nossos olhares se cruzando num embate, questionamentos não ditos quando ele toma a primeira palavra. "Achei que ele nasceria algumas semanas depois do meu." Não re
Bruno LafaieteVoltei para o quarto com Livia, durante as horas que se seguiram da madrugada mais longa da minha vida, o nascimento do nosso filho na noite anterior, o nascimento do filho de Gianni no raiar do dia seguinte e o seu olhar magoado ao ser levado pelos soldados da famiglia. Enquanto observávamos o sono tranquilo do nosso pequeno, as lágrimas da minha esposa não paravam de cair, tentei reconfortar a sua dor, mas nada poderia amenizar a minha dor, então o nosso conforto foi observar o sono tranquilo do neném. Os olhinhos abertos atentos a tudo, apesar de desconher a maldade do mundo em que nasceu, silencioso e paciente ao lado da mãe, que só dormiu há umas duas horas quando a empregada veio informar sobre o nascimento de Pietro, herdeiro de Gianni Lafaiete, o Don mais reconhecido da Ndrangreta agora preso num calabouço esperando julgamento dos conselheiros. Suspiro dando mais uns passos para próximo da cama, sem querer acordar a minha pricipessa, passo a ponta dos dedos na