Acordei com um leve puxão no meu braço, seguido de uma voz sussurrada, mas cheia de animação.— Tia... Tia… Jujubinha, acorda! Vamos abrir os presentes!Eu pisquei algumas vezes, tentando ajustar meus olhos à pouca luz que vinha do abajur ao lado da cama. O pequeno rosto de Ethan estava a poucos centímetros do meu, com seus olhos brilhando de empolgação, mesmo naquele horário absurdo.— Ethan, que horas são? — murmurei, a voz ainda rouca de sono.Ele olhou para o relógio digital na mesinha ao lado, franzindo a testa como se fosse difícil acreditar no que via.— Quatro horas! Está cedo, mas... vamos, por favor! — Ele juntou as mãos em um gesto de súplica, com a expressão mais convincente que uma criança poderia fazer, digna do Gato de Botas.Revirei os olhos, tentando resistir àquela expressão irresistível.— Ethan, ainda é muito cedo. Não acha melhor dormir mais um pouco e abrir os presentes quando o sol nascer?Ele balançou a cabeça vigorosamente.— Não! Eu esperei a noite toda, tia!
Nicolas Santorini A raiva queimava dentro de mim como um incêndio incontrolável. Mal conseguia pensar direito enquanto saía do quarto de brinquedos de Ethan, atravessando a casa a passos firmes e decididos. O bilhete de Olivia ainda estava amassado na minha mão, e o carro de brinquedo estava embaixo do meu braço como um lembrete cruel de sua perversidade. A madrugada ainda envolvia a cidade em uma penumbra silenciosa, mas dentro de mim, tudo gritava. Cada batida do meu coração era impulsionada por um desejo furioso de acabar com essa palhaçada de uma vez por todas. Peguei minhas chaves no aparador da sala, sem me preocupar com a forma de que estava vestido. O caminho até o apartamento de Olivia pareceu curto demais. A raiva acelerava meu corpo, e antes que percebesse, já estava no prédio onde ela morava. Passei direto pelo porteiro, que nem teve tempo de perguntar nada, e subi no elevador sem paciência para esperar. O número do apartamento estava gravado na minha mente. Assim qu
Uma semana havia se passado desde meu último encontro com Olivia, e até agora, ela parecia ter sumido do mapa. Nada de mensagens estranhas, bilhetes ameaçadores ou joguinhos psicológicos. Talvez ela finalmente tivesse encontrado um idiota para se agarrar. Não que eu me importasse, mas a ausência dela era um alívio. Não ter que me preocupar com suas artimanhas me permitia focar no que realmente importava: minha família e meu trabalho. E foi exatamente isso que fiz. Mergulhei de cabeça nas demandas da empresa, lidando com reuniões intermináveis, contratos para revisar e decisões importantes a serem tomadas. A rotina intensa ajudava a manter minha mente ocupada, longe de qualquer resquício de preocupação com Olivia. No fim da tarde, finalmente me permiti relaxar. Me despedi de minha secretária peguei minhas coisas e dirigi para casa. Porém, assim que entrei, percebi que algo estava errado. Ethan estava sentado no sofá com um curativo na testa, e Jhulietta estava ao seu lado,
Jhulietta Duarte O despertador tocou às cinco da manhã, e abri os olhos com dificuldade. Meu corpo pedia mais cinco minutinhos, mas eu sabia que se me rendesse ao sono, perderia a hora de levar Ethan para a escola. — Levanta, mulher! — murmurei para mim mesma, jogando as cobertas para o lado e sentando na cama. Me espreguicei, bocejei e levantei, indo direto para o banheiro. Depois de um banho rápido e revigorante, coloquei uma roupa confortável e fui até a cozinha onde dona Neuza já estava preparando o café da manhã e eu a ajudei, quando vi que o relógio marcava seis horas fui para o quarto de Ethan. Como esperado, ele estava completamente esparramado na cama, dormindo como se não tivesse um compromisso na vida. Me aproximei e sacudi seu ombro de leve. — Ethan, acorda. Ele resmungou algo ininteligível e se virou para o outro lado. Suspirei. — Ethan! — chamei de novo, um pouco mais alto. — Só mais cinco minutos… — ele murmurou. Cruzei os braços e sorri de canto. — T
O restaurante tinha um clima aconchegante, com luzes amareladas pendendo do teto e um aroma delicioso de comida fresca no ar. Caio já estava sentado quando cheguei. Ele usava uma camisa preta dobrada até os cotovelos, os cabelos bagunçados no estilo que eu lembrava tão bem. Quando me viu, abriu aquele sorriso largo que fazia qualquer um se sentir bem-vindo. — Pensei que você fosse me dar um bolo — ele brincou, se levantando para me cumprimentar. — Você acha que eu perderia um jantar de graça? — brinquei de volta, piscando. Ele riu e puxou a cadeira para mim, o que me pegou um pouco de surpresa. Caio sempre foi do tipo mais largado, sem essas formalidades. Talvez ele realmente tivesse amadurecido. — Está diferente, hein? Desde quando virou um cavalheiro? — Desde que virei pai — ele respondeu, sentando-se de volta. — A gente aprende umas coisas. — Isso é verdade. — Sorri, pegando o cardápio. O garçom veio logo em seguida, e Caio sugeriu um vinho. Aceitei, porque não? Eu me
Cheguei em casa e, assim que joguei minha bolsa no sofá, liguei para minha amiga, que claramente já estava esperando minha ligação.— Até que enfim! Achei que ia me deixar curiosa a noite inteira — Renata disse, animada. — E então, como foi o jantar com seu amigo?Revirei os olhos, rindo.— Sabia que você ia perguntar isso logo de cara. Foi um jantar normal entre amigos.— Hum… — Ela fez um som desconfiado. — E não rolou nem uma faisquinha do passado?— Nadinha — garanti, me jogando no sofá.— Nem um friozinho na barriga? Um olhar prolongado? Uma lembrança que fez seu coração bater mais forte?— Amiga, Caio e eu nunca daríamos certo. Era uma amizade, uma paixão de juventude, só isso.— Mas ele está mais másculo agora? Ou continua a mesma coisa de quando eram jovens?Suspirei, rindo.— Tá, não vou mentir. Ele sempre teve aquele charme despretensioso. Mas isso não muda nada.— Sei… — Ela alongou a palavra, claramente sem acreditar cem por cento em mim.— Renata!— O quê? Só estou analis
O abraço de Nicolas era quente e firme, como se pudesse afastar todos os medos que ainda pulsavam dentro de mim. Eu sentia seu coração batendo forte contra o meu, como se quisesse me garantir que tudo ficaria bem. De repente, um trovão cortou o céu, iluminando a sala em um clarão intenso. Um arrepio percorreu minha espinha, e antes que eu percebesse, meus braços apertaram Nicolas com mais força. — Está tudo bem, Jhulietta — ele murmurou contra meus cabelos, sua voz grave e reconfortante. — Estou aqui com você. Assenti, ainda sem conseguir falar, apenas me deixando envolver por sua presença. Meu corpo tremia levemente, não só pelo medo que ainda latejava em mim, mas também pela adrenalina que parecia não querer me deixar. Nicolas afastou-se um pouco para olhar em meus olhos. Seu olhar escuro e intenso carregava uma preocupação genuína. — Vamos para o sofá — ele disse baixinho. Apenas assenti, permitindo que ele guiasse meus passos até a sala. Quando me sentei, Nicolas ajoel
Nicolas Santorini A chuva batia contra as janelas com uma força imensa, criando uma melodia incessante que preenchia o silêncio entre nós. Eu podia ouvir o leve tremor em sua respiração, o modo como Jhulietta ainda lutava contra o medo que parecia não querer se afastar dela. Ela estava ali, tão perto de mim, e ao mesmo tempo, tão distante, presa em seus próprios receios. Mas sabia que, de alguma forma, ela precisava de mim. Eu precisava dela.Ela estava com os olhos fechados, como se estivesse espantando seus demônios, e vê-la tão vulnerável partia meu coração. A cada respiração dela, eu sentia um impulso de protegê-la, de acalmá-la. A todo momento, eu dizia que estava ali para ela, e a cada vez que eu repetia essas palavras, ela parecia um pouco mais tranquila.— Jhulietta — chamei seu nome baixinho, a voz suave, quase como um sussurro.Ela virou para mim, os cílios ainda molhados pelas lágrimas que ela tentava conter. Cada pedaço dela que eu via, que eu tocava, me fazia querer prot