Jhulietta DuarteSaí da casa de Renata com um nó na garganta e a cabeça a mil. O vento frio da rua bateu no meu rosto, mas não foi suficiente para afastar o turbilhão de pensamentos que me invadia. Renata estava grávida. De Eduardo. E eu não sabia o que era pior: o fato de que ela mal conhecia o cara ou o fato de que ele era o Eduardo, um homem que não se comprometia com nada. Manolo estava encostado no carro, como sempre, discreto e atento. Ao me ver, ele abriu a porta do passageiro sem dizer uma palavra. Entrei e soltei um suspiro pesado, tentando me recompor. Ele me olhou pelo retrovisor, a preocupação estampada no rosto. — Pra onde, Jhulietta? — perguntou, com aquele tom respeitoso de sempre. — Para o curso do Ethan, por favor, Manolo. Preciso buscá-lo. — Minha voz saiu baixa, quase sussurrada. Ele assentiu e deu a partida. Enquanto o carro se movia, eu tentei focar na paisagem que passava rapidamente pela janela, mas meus pensamentos insistiam em voltar para Renata e aqu
Renata SouzaAndava de um lado para o outro na sala, incapaz de me acalmar. Meu coração parecia querer escapar do peito, tamanha era a intensidade com que batia. As imagens dos três testes de gravidez não saíam da minha cabeça. Três. E todos com o mesmo resultado. Positivo. Meus olhos se voltaram para o celular sobre a mesa. Eu precisava falar com alguém. Precisava desabafar antes que enlouquecesse de ansiedade. Não havia ninguém melhor para isso do que Jhulietta. Ela sempre sabia o que fazer, sempre tinha as palavras certas. E eu confiava nela como uma irmã. Peguei o telefone com as mãos trêmulas e disquei seu número. A cada toque que soava, meu coração pulava uma batida. Quando finalmente atendeu, sua voz suave e animada trouxe um breve alívio à minha angústia: — Oi, Rê! Tudo bem? — Jhu... — minha voz falhou e precisei respirar fundo antes de continuar. — Você pode vir aqui em casa? Eu... eu preciso falar com você. A preocupação em seu tom foi imediata: — Claro! Acontec
A casa estava mergulhada em silêncio quando Nicolas finalmente chegou. Eu estava na sala de cinema, enrolada em um cobertor, tentando assistir a um filme qualquer para distrair a mente. Mas as cenas passavam diante dos meus olhos sem que eu realmente prestasse atenção. Meus pensamentos estavam longe. O som da porta se abrindo me fez voltar à realidade. Olhei para Nicolas enquanto ele afrouxava a gravata, os ombros visivelmente curvados pelo cansaço. Seu rosto trazia uma expressão de exaustão que eu conhecia bem. Havia algo a mais ali, algo que indicava um dia particularmente pesado.— Oi, amor. — Falei suavemente, tentando não sobrecarregá-lo com minha preocupação.— Oi, Jhu. — Ele suspirou, caminhando até mim e se curvando para um beijo rápido na testa. — Como você tá? Parece meio distante.— Eu tô bem... Quer dizer, tô tentando ficar. E você? Parece que teve um dia difícil.Ele se jogou no sofá ao meu lado, soltando outro suspiro pesado.— Cansativo. Resolvi mil problemas na empres
Diogo Lima O bar fétido e mal iluminado estava quase vazio naquela noite. A música alta misturava-se ao cheiro de bebida barata e suor. Eu me sentei no canto mais escuro, de onde tinha uma visão clara da entrada e de todo o salão. Velhos hábitos nunca morrem. Depois de anos fugindo da polícia, aprendi a sempre manter minhas costas cobertas. Dei um gole na cerveja quente, fazendo uma careta ao sentir o gosto amargo na boca. Eu já estava há algumas semanas em São Paulo, tempo suficiente para observar e entender os passos da minha garota. — Achei que você disse que seria fácil, Lima. — A voz irritante de Coiote me tirou dos meus pensamentos. Ele se jogou na cadeira à minha frente com um sorriso zombeteiro, o rosto magro e marcado pelo tempo exibindo um sarcasmo que me dava nos nervos. — Mas pelo que eu vi, você não tá nem perto de chegar na menina. — Cala a boca, Coiote. — Rosnei, tentando manter a calma. — Eu tô observando. Cada passo dela. — Observando? — Ele riu, exibindo os
Jhulietta DuarteAcordei com um sobressalto, o coração disparado no peito. O quarto estava escuro, mas o pesadelo ainda pairava sobre mim como uma sombra. Senti o suor frio escorrendo pela nuca enquanto tentava acalmar minha respiração. As imagens confusas ainda dançavam na minha mente: uma figura escura, sussurros ameaçadores, um sentimento de desespero. Respirei fundo, tentando afastar o medo irracional que agarrava meu peito. Era apenas um sonho, nada mais. Mas, então, um som suave veio do lado de fora. Meus músculos enrijeceram instantaneamente. Inclinei a cabeça, prendendo a respiração para ouvir melhor. Passos. Sussurros abafados. Meu coração parou por um segundo antes de retomar em disparada. Estaria eu ainda sonhando? Fechei os olhos com força, esperando acordar de vez, mas o som continuava ali, cada vez mais nítido. Levantei-me lentamente, tentando não fazer nenhum barulho enquanto me aproximava da janela. Desviei a cortina só um pouco, o suficiente para espiar lá f
A manhã parecia comum demais, quase calma demais depois da noite inquietante que tive. Acordei ainda com uma sensação estranha, como se uma nuvem sombria estivesse pairando sobre mim. Talvez fosse o cansaço, talvez fosse apenas o resquício do pesadelo que me tirou da cama, mas eu sabia que algo não estava certo.Tentei afastar as preocupações enquanto me preparava para sair. Nicolas insistiu que eu ficasse deitada, mas disse que não precisava. Mesmo eu dizendo que estava bem, ele me avaliava atentamente.Chegando ao quarto de Ethan, vi que ele estava sentado na cama, entretido com seu novo celular. Sorri ao vê-lo tão despreocupado. Inocência. Uma coisa tão preciosa e tão frágil.— Bom dia, meu amor! Dormiu bem? — perguntei, me aproximando e fazendo um carinho nele.— Estou sim, mamãe. Sabe o que eu sonhei? — Ele perguntou animado, e eu neguei com a cabeça. — Sonhei que estava na Disney com você e o papai. A gente estava se divertindo bastante!— Que sonho divertido! — Sorri para ele,
Ao sair do consultório da doutora Carla, senti uma leveza incomum, como se tivesse deixado parte dos meus pesadelos ali, naquele ambiente acolhedor. Respirei fundo, apreciando o frescor do ar do lado de fora. Estava pronta para voltar para casa, mas antes mesmo de dar o primeiro passo em direção ao carro, um homem trombou em mim.— Desculpe — ele disse, com um sorriso estranho no rosto.Dei um passo para trás, tentando recuperar o equilíbrio. Algo nele me incomodava. Talvez fosse o sorriso um pouco forçado, ou o fato de seus olhos parecerem vasculhar cada detalhe meu. Mesmo assim, mantive a compostura.— Não foi nada. Eu que não prestei atenção — respondi, tentando soar educada.Ele fez um aceno com a cabeça e seguiu seu caminho, mas não sem antes lançar um último olhar na minha direção. Um arrepio percorreu minha espinha. Fiquei parada por um momento, observando-o se afastar, antes de finalmente me recompor e caminhar em direção ao carro, onde Manolo já me aguardava.— Tudo bem, Jhul
Enquanto observava as crianças se empanturrando de sorvete na sala de estar, senti uma alegria genuína aquecer meu coração. As risadas ecoavam pela casa, e por um momento me perdi na cena, pensando que seria divertido ter um bebê. Anos atrás, deixei de ter esse sonho, mas agora, com Nicolas, posso sonhar novamente. Suspirei, tomando o último gole do meu café antes de me levantar. — Certo, turma! — falei alto o suficiente para superar o burburinho animado. — Já se divertiram bastante. Que tal começarmos o projeto de Ciências e Geografia agora? Todos os olhares se voltaram para mim. Violett e Emanuel fizeram bico, claramente querendo mais tempo de brincadeira, mas Ethan foi o primeiro a se levantar, determinado. — Vamos lá, pessoal! A minha mãe vai nos ajudar, e ela tem muita coisa pra fazer. Sorri para ele, agradecida por sempre liderar com o exemplo. Ethan tinha um coração enorme e uma maturidade que me enchiam de orgulho. — Isso aí! — Aurélia concordou. — Quanto mais cedo