Davi era extremamente astuto, um típico utilitarista que colocava seus interesses em primeiro lugar. Ao ver que Valentina não queria o cheque, ele não achou que fosse por uma questão de nobreza, mas sim que ela tinha outras intenções.

"Uma mulher que passou por uma situação dessas e não quer nenhuma compensação, como isso é possível?"

Com certeza, isso era outra forma de tentar subir na vida.

Davi sorriu, mas seu sorriso não tinha traço algum de alegria. Hoje em dia, as mulheres eram muito espertas e dominavam a arte de fazer joguinhos, e os homens caíam facilmente nelas. Se Valentina estivesse jogando esse tipo de jogo, ele teria que admitir que ela era uma mulher realmente perigosa.

Se Valentina recusasse o cheque, certamente chamaria a atenção de Miguel. Quando tudo viesse à tona, ele não queria estar envolvido de jeito nenhum.

Claro, se ele quisesse simplificar as coisas, bastaria resolver tudo com o cheque, mas ele temia que Valentina fizesse algum escândalo na frente de Miguel. Além disso, isso não era o estilo dele.

Mas agora, com ela recusando o cheque, ele não podia simplesmente forçá-la a aceitá-lo, podia?

Enquanto ele ponderava, Valentina falou novamente:

— Eu não quero o cheque, mas poderia me prometer uma coisa?

Um brilho frio passou pelos olhos de Davi, que pensou que o verdadeiro jogo estava começando.

Ele esboçou um leve sorriso, demonstrando uma postura cavalheiresca:

— Pode falar.

Valentina hesitou um pouco antes de dizer:

— Você poderia não espalhar essa história por aí? — Valentina mordeu os lábios, como se estivesse envergonhada. Ela baixou a cabeça e disse em voz baixa. — Isso não é algo do qual me orgulho, e eu não gostaria que minha família ou amigos soubessem. Se vocês espalharem isso, ficarei muito perturbada.

Para Davi, isso foi uma surpresa agradável.

Ele estava preocupado que Valentina pudesse insistir nessa questão e acabasse levando isso aos ouvidos de Miguel, o que lhe causaria problemas. Mas, para sua surpresa, ela se mostrou bastante razoável.

Ele sorriu e acenou com a cabeça, concordando de forma bastante solícita:

— Não se preocupe, garanto que isso não chegará aos ouvidos de mais ninguém. Mas… — Davi ergueu as sobrancelhas e continuou. — Você não pode mais ter contato com Miguel.

— Isso também coincide exatamente com o que eu tinha em mente.

Valentina nunca quis se envolver com essas pessoas.

Nesse momento, não muito longe deles, uma voz surpresa soou:

— Valentina?

Valentina estremeceu e se virou rapidamente na direção da voz. Viu um homem elegante, vestindo uma camisa preta bem ajustada, parado a uma pequena distância deles.

— Professor Samuel! Você não estava em uma viagem de negócios? — Valentina se levantou imediatamente, segurando a barra da camisa com um leve nervosismo.

— Acabei de voltar hoje. — Samuel lançou um olhar em direção a Valentina e depois a Davi, sorrindo levemente: — Saindo com o namorado?

"Namorado? Com o Davi?"

Valentina olhou para Davi, querendo esclarecer as coisas, e rapidamente respondeu:

— Não, nós não somos…

Mas, ao começar a falar, ela abaixou a cabeça e não conseguiu continuar.

Em uma situação dessas, explicar demais só faria parecer que estava escondendo algo. Ela olhou para Davi, esperando que ele dissesse algo.

Mas Davi agiu como se não tivesse notado.

— Eu me lembro que você tinha uma aula hoje. Faltar à aula para sair com alguém não é uma boa ideia. Pelo menos, eu espero que a estudante em quem tenho apostado minhas fichas não faça isso. — Samuel falou com a postura de um verdadeiro professor.

Valentina, como uma aluna que havia cometido um erro, abaixou a cabeça, o rosto vermelho de vergonha, e balançou a cabeça em desculpas a cada instante.

Davi achou a situação bastante curiosa. A atitude de Valentina mudava drasticamente na presença desse homem.

— Já que você está aqui, passe na minha casa para pegar um material que deixei lá. — Samuel disse, olhando de relance para o relógio de pulso luxuoso em seu braço.