Capitulo Um

— O carro já está pronto, senhora.

— Obrigada.

Dinah, aquela noite vestia um longo vermelho, sem mangas e sem decotes, o tecido macio em dress e seda se ajustava levemente sem comprometer o andar da empresária.

Aquela noite participaria de um grande jantar, uma grande premiação dedicada aos melhores empreendedores do ano - Ela detestava – Mas, a sua empresa seria uma das premiadas naquela noite, o ramo imobiliário sempre foi rentável e muito glamoroso para quem sabia a direção.

A empresa Assunção Fontanne já passou por vários comandos e nos últimos anos, vinha sendo dirigido por uma mulher, a viúva de Arthur Assunção Fontanne, Dinah.

Um pouco antes de ter sido interrompida por sua governanta, Dinah fitava a vista panorâmica da cidade, pela janela de sua suíte. Agora, quase pronta para o grande circo no qual enfrentava sempre sozinha, antes de pegar a pequena bolsa toda costurada em perolas brancas, borrifou levemente o seu perfume francês N.º 5 – Chanel em sua pele sedosa e assim que sentiu-se um pouco mais segura, deixou a suíte, logo a cobertura, um duplex em um bairro nobre da cidade.

Dinah era uma mulher linda aos trinta e cinco anos e muito dona de si, imitada e odiada por algumas pessoas, mas era a vida particular dela que era sempre um mistério, pois era sempre vista só em viagens e convenções. Parecia que não tinha vida amorosa e apenas era vista ao lado dos colegas empresários que herdara do marido. Tudo muito profissional e social.

Dinah tinha uma vida vigiada pelos inimigos e era ciente disso, por isso, tudo era feito discretamente quando nascia algum interesse imediato.

 O prêmio Olintho Barros, era um dos mais aguardados pela cúpula dos altos executivos e investidores do país sendo que no dia seguinte, as empresas estariam estampadas na capas de jornais e sites importantes.

A festa aconteceria em um grande e moderno teatro que tinha sido arrendado por um banco estrangeiro. A premiação tem uma tradição de mais de cinquenta anos e a cada ano surgem presenças ilustres como chefes de Estado, artistas e empresários de outros ramos e nacionalidades, deixando a imprensa agitadíssima.

Dinah, quando chegou ao evento, todos os flashes inclinaram-se em sua direção, era seguida por várias vozes que perguntava diversas coisas, uns querendo uma foto, outros pedindo um sorriso, ela agradeceu mentalmente ao motorista e uma Hostess do evento que a tiraram daquele pequeno tumulto na portaria do teatro.

O seu lugar já estava reservado, a sua mesa seria compartilhada com os Villares Cintra e também tinha a presença de um dos seus advogados da Fontanne.

O jantar corria sem maiores novidades, sorrisos falsos, aplausos sem tantas emoções e o pior daquilo tudo era ouvir os premiados com os seus discursos emblemáticos para uma plateia rica e levemente apática, porque a matemática dos negócios seguia com o seguinte fins: se um está ganhando é que muitos outros estão perdendo.

A cada premiação, um casal ligado à mídia fazia as apresentações. Em alguns casos, alguns eram atores ou modelos, pessoas bonitas que o público apreciavam em ver nas telas e nas revistas.

Aquela noite para Dinah já estava mais que fadada, tanto que já tinha pedido para o advogado representá-la no palco quando a Fontanne fosse receber o último e mais aguardado prêmio da noite. Até aquele momento, a empresa já tinha conquistado dois como dizia na lista que Dinah tinha recebido semana passada com os nomes de todos os premiados.

— Tem certeza, Dinah?

— Sim, e também estou com um pouco de dor de cabeça. Receba logo esse prêmio para eu poder ir embora.

O advogado apenas assentiu à ordem.

Quando, de repente um homem, visivelmente atraente, dono de uma bela postura, alto e usando um belo terno preto, entra no palco para anunciar o próximo prêmio.

Dinah gostou muito do que viu e o analisou discretamente, a sua visão era privilegiada por estar perto do palco o que a levou a não perder nenhum gesto ou sorriso daquele homem desconhecido.

Mesmo não sabendo nada a respeito sobre o jovem homem, uma coisa Dinah tinha certeza: ela queria aquele homem.

***

— Eu diria que você é um galã!

— Não sei onde estava com a cabeça quando aceitei esse convite.

— Vamos Benicio! Precisamos de mídia e de novos contatos e com você amanhã nas redes sociais, o nosso escritório vai decolar!

O amigo Guilherme era de tal animação que Benicio não queria cortar.

— Encarar uma plateia eu encaro, agora, ficar olhando para um monte de endinheirados metidos à besta que só sabem falar de economia e fumar charuto não era bem a mídia que eu pensava.

— Cara, relaxa! E também é só por hoje, é só fazer de conta que está em um daqueles eventos com a sua mãe...

Benicio fitou-se no espelho e gostou do que viu, na verdade lembrou-se de um passado familiar não distante e o glamour que compartilhou ao lado da mãe, uma atriz de teatro muito famosa e premiada.

— É apenas mais um trabalho – dizia para si mesmo — Nada de atuar e seja você mesmo.

Esse era o seu novo mantra que usava todos os dias.

Ele que fugiu dos palcos para a tristeza de sua mãe, para viver num mundo bem diferente. Às vezes, as aulas da escola teatral até que o ajudavam e muito, principalmente quando se encontrava em um ambiente que não o agradava.

Benicio Pavano era filho de artistas estrangeiros, apesar de ter vivido em várias cidades, passou boa parte da vida lendo clássicos e aprendendo novas línguas. Os palcos nunca estiveram seus planos. Quando formou-se em Comunicação e Marketing, recebeu uma proposta para trabalhar na equipe de um milionário que tinha intenções políticas, o filho de Margo Pavano ficou apenas três meses no cargo e comprou uma passagem para morar no Brasil e viver na cidade de São Paulo. 

Agora, sócio da agência Dois Cubos com o amigo Guilherme, tinham apenas conquistados três clientes e o objetivo da dupla era crescer no mercado. Primeiro a ideia era focar na mídia social, voltando para um público jovem, mas a concorrência é desleal, então estavam pensando em novos contratos que envolvessem mídia social e urbana.

Contudo, a ideia de voltar para a Espanha, estava cada vez mais distante.

Quando chegou em terras brasileiras, já conhecia bem o idioma. Ainda na adolescência, morou no Sul com a família da mãe durante um ano e o sotaque foi se dissipando aos poucos. Sem namorada e focado na abertura da agência, era sempre paquerado na academia ou em algum barzinho, em algumas dessas vezes saiu com belas mulheres, porém logo o interesse acabava e ele seguia a sua vida.

Benicio recebeu aquele convite no início da noite, seria para cobrir um casal que não chegaria à tempo, o fato de ser ligado a várias pessoas de bastidores por conta do parentesco familiar ou por criar novos campos de amizade, a organizadora daquele evento implorou por sua presença.

Você é o próximo — disse a mulher bem alinhada segurando a cortina — Aqui está o premiado da noite — a organizadora passou o envelope dourado para Benicio — É o mais esperado e o último prêmio da noite, depois disso podemos beber a vontade — a mulher era simpática, apesar do estresse da noite.

 — Obrigada mais uma vez Benicio… Um, dois, três. É com você.

Benicio entrou no palco com passos firmes e decididos, as luzes do palco e os cliques dos fotógrafos que andavam apressadamente para acompanhá-lo. O seu olhar para aquela plateia era uma incógnita, assim parou o corpo atrás do púlpito de vidro.

— Boa noite senhoras e senhores, é um prazer estar com vocês em um evento desta magnitude. Acredito que todos estão ansiosos para saber qual é o último premiado da noite – apesar da simpatia era nítido o tamanho desconforto, tanto que na hora que abriu o envelope, o seu tom de voz não tinha mais brincadeiras ou sorrisos — A empresa vencedora que vai levar o troféu Olintho Barros para casa como a melhor do ano de dois mil e quatorze é o Grupo Arthur Fontanne.

O som dos aplausos foram elevados.

E todos os olhares focaram em uma mulher, que foi iluminada por uma luz prata.

Enquanto isso Benicio batia palmas para uma direção qualquer.

***

“Quem é ele?”

Dinah sabia que estava sendo observada e odiada por boa parte da plateia de empresários, só que quem mais a interessava tinha um olhar distante, indiferente. E isso a intrigou ainda mais, enquanto sorria para os mais próximos e o advogado da empresa subia ao palco para receber o prêmio, deslocando assim a atenção sobre ela e passando para o palco.

— Por que nos privou de tamanha beleza, essa noite é sua, minha cara.

As palavras do velho Cintra, foi sim de forma amigável e até arrancou um sorriso da loira.

— Que gentileza… A noite é da Fontanne, por isso, deixarei o meu fiel escudeiro da lei me representar.

— É uma pena para os jornais de amanhã.

— Eles já devem ter um arsenal de fotos minhas em seus computadores- respondeu sorrindo ao casal que já tinha quase cinquenta anos de matrimônio.

Dinah sempre tinha uma resposta afiada e um belo sorriso para os seus ouvintes, até para aqueles que eram mais íntimos, afinal foi treinada para ser uma Fontanne.

O advogado do grupo, era Plinio Correia, um homem honesto e de família, além de muito fiel a atual presidente da Arthur Fontanne que vinha sofrendo certo desconforto como membro da família do falecido marido.

No palco, Plinio cumprimentou o rapaz e de forma polida fez um breve discurso e agradeceu os esforços da nova diretoria por todas as conquistas agraciadas nos últimos anos.

Mais uma vez o holofote iluminou Dinah e a imagem feminina refletiu no telão.

Foi ali que os olhares se cruzaram, por poucos segundos.

E a festa começou!

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