Capitulo Dois

Dinah demorou para encontrá-lo novamente, eram tantos colegas, mídias e curiosos que acabou demorando em deixar o salão e chegar até o setor privativo que acontecia a festa do evento.

Entre alguns parabéns e leves ameaças cordiais e normais do mundo dos negócios, Dinah e o seu advogado chegaram ao salão.

— Vai ficar um pouco mais?

— Apenas mais alguns minutos...

Dinah o avistou perto do bar conversando com um casal, a conversa parecia um tanto amistosa entre goles e risadas.

— Fico preocupado em deixá-la aqui.

— Plinio, aqui estou segura, pode ir e amanhã tudo volta ao normal. Eu quero apenas terminar esta bebida e bater papo com uma amiga.

Plinio a olhou estarrecido, mas se convenceu quando uma mulher baixinha e de corte chanel veio correndo em direção de Dinah, com sorrisos e abraços.

— Dinah! Belíssima festa e os prêmios da Fontanne! Que orgulho dessa mulher.

— Bondade sua… Olha quando acontecer o próximo chá das mulheres não esqueça de me chamar.

— Querida, o seu pedido é uma ordem. Aliás, sempre comunico a sua secretária que sempre fala que sua agenda é cheíssima...

— Ah, isso vai ter que mudar...

O advogado sabia que a chefe odiava aquele tipo de bajulação, mas não sabia quais as reais intenções da mulher, então se calou e se despediu deixando a chefe, ali entregue ao círculo social.

Dinah, fitou Benicio novamente, mas este não a enxergava de maneira alguma.

Então, veio um dos planos mais ridículos e talvez eficaz num lugar como aquele, mesmo não sendo mestre em simular, porém lembrou-se que uma vez funcionou com uma amiga do colégio e então colocaria em prática. Até mesmo por que não aguentava a conversa da mulher.

A loira se posicionou próximo ao trio e ouvindo a conversa do pequeno grupo que a mulher de corte chanel reunia ali em sua volta, foi então que, discretamente tirou um dos brincos e o deixou cair no chão. Com um toque do salto, empurrou na direção do trio, isso tudo bem discretamente e no tempo certo de agir.

— Querida, cadê o seu brinco?

Dinah fingiu não entender e passou os dedos na orelha esquerda.

Óh, deve ter caído...

— Eles estavam agorinha aí, vamos procurar… Pessoal, vamos abrir espaço. Uma pérola caiu no chão… Um brinco lindíssimo. Vamos por favor, todos olhem no chão.

Algumas pessoas começaram a se mobilizar e a procurar entre eles garçons e até o casal, mas o rapaz foi que ficou parado, olhando aquele murmúrio que começou atrás das suas costas.

Benicio olhando aquela situação parou e fitou Dinah que parecia bem preocupada.

Dinah fingia bem.

Benicio deu dois passos para frente e encontrou a pérola, abaixou-se e pegou o brinco.

—Deve ser isso que procura.

Agora, Dinah teria tempo para avaliar melhor, o homem de ombros largos, de traços finos e olhos verdes, os fios do cabelos devidamente disciplinados.

— Sim, você a encontrou. Obrigada.

— Amiga que sorte! – disse a moça que mobilizou a todos minutos antes— Dinah é uma mulher de sorte… O caso aqui foi resolvido, querida. Eu já volto.

Dinah ainda o analisava.

— Parabéns pelo prêmio… O que é um grande prêmio perto de uma simples pérola – Benicio tinha um tom muito irônico e o que era para afastar a ricaça acabou criando um efeito ao contrário.

— Os dois tem valores, cada um ao seu modo-  respondeu Dinah — Se fosse só pela sorte, essa já teria acabado porque já passa da meia-noite.

Aquelas últimas palavras da empresária, saíram sem querer, mas, para o jovem rapaz não surtiu efeito algum.

— Bom, mais uma vez, parabéns.

— Obrigada. Agradeço também por ter encontrado o meu brinco, boa noite.

— Boa noite.

 Dinah não iria insistir, não ali naquela festa, e viu que teria que usar a estratégia que usava sempre. Educadamente deu ‘boa noite’ a todos e se retirou do lugar, quase escoltada pela mulher que a ‘ajudou’ sem querer na sua aproximação.

— Esse homem que achou o seu brinco, que homem lindo! Meu marido que não me escute – dizia rindo e se abanando com a mão esquerda.

— O que tem esse rapaz? – fingiu o desinteresse enquanto aguardava o motorista.

— Ele é publicitário, morava na Espanha… É filho de artista, acho que até já fez cinema quando era mais jovem… Ele se chama Benicio; Benicio Pavano.

— Nunca o tinha visto antes – ainda mantinha a falta do interesse

— Deveria sair mais vezes… Você é viúva, não está morta e é linda.

— Os negócios não me permitem e também jovens aventureiros não me agradam tanto...

— Homens como era o seu marido não existem mais… É uma pena, minha querida.

Dinah mudou o olhar ao ouvir aquelas palavras e pensou

Você não sabe de nada...nada.

Quando para o seu alivio, o seu carro chegou. Assim ficaria longe daquela bajulação noturna, levando consigo um nome, um alvo.

E no conforto do seu carro a caminho da sua casa, pensava em apenas um nome

"Benicio Pavano"

Dois dias depois...

— Aqui está o que pediu.

Plinio deixou a pasta vinho em cima da mesa de Dinah, assim que todos os diretores deixaram a sala de reunião.

— Como está o andamento da compra daquelas terras no Paraná? Já foram todos removidos?

— Estamos em finalização.

— Sem a força policial, assim espero.

— Aquela vez foi necessária, Dinah… As terras tinham sido invadidas e já pertencia ao grupo Fontanne.

— O problema depois é ter que fazer acordos com os abutres, abafar o caso com a imprensa e nas redes sociais. Odeio ter que fazer isso.

Plínio continuava em pé no meio daquela sala confortável, decorado por profissionais competentes. Esse foi o primeiro luxo que Dinah promoveu na Fontanne, mudando a sala e as áreas dos demais departamentos que pareciam sem vida e cores.

Depois mudou algumas direções, trazendo assim admiração de muitos e certos ressentimentos de outros.

Dinah parou de falar e olhou para a pasta, aquela pasta era um código, apesar de ter mais de dois anos que Plínio não entrava mais com aquela pasta na sala da presidência.

Plínio deu alguns passos para a porta de saída, mas antes de sair falou em um tom preocupado e deixou-a em cima da mesa.

—Tome cuidado.

—Você sempre fala isso e eu sempre digo que estou bem segura.

—Ele é diferente— disse Plínio.

Dinah pegou a pasta e não abriu, e curiosa o questionou:

—Diferente como? Gay?

—Não. Não se trata disso, ele é heterossexual. O que quero dizer é que ele não é ambicioso, a vida do rapaz é estável, digamos que ele quer mostrar para o mundo que pode conseguir as coisas pelo lado do bem, sabe… Ele é um sonhador.

Dinah abriu a pasta e viu a foto do Benicio numa campanha publicitária de óculos de sol de uma marca bem famosa, de alguns anos atrás. Ali naquelas folhas brancas, cheias de palavras, tinha escrito tudo que precisava saber. E, com um sorriso misterioso, a empresária disse:

—Gosto de homens sonhadores.

Plínio concordou balançando a cabeça e deixou a sala da presidência. Passou pela secretária e a avisou para não incomodar a Dinah nos próximos dez minutos, não passar ligações ou avisar da próxima reunião e que segurasse tudo até a dona da Fontanne a chamar.

A secretária executou a ordem sem maiores problemas.

Enquanto isso, Dinah começou a ler com maior atenção, como se estivesse com um contrato minuciosamente importante e de maior sigilo. Ali, na verdade, era um resumo da vida do seu mais novo pretendente. 

E assim que leu, logo traçou um plano e continuou a sua rotina daquele dia, mas uma coisa era certa, ela queria vê-lo mais uma vez.

Um convite para dois.

Benicio fitava aquele convite há mais de dez minutos e ainda não sabia o que fazer. Era um pouco mais das seis da tarde e a agência já estava fechada e aquela noite não estava querendo nem ir ao barzinho, nem à academia.

Ele tinha em mãos um convite para um jantar na cobertura de Dinah Fontanne, a mulher que foi a grande premiada daquele evento e que perdeu o brinco bem perto de onde ele estava. Só que o que ele viu naquela mulher, além de beleza e classe, pode também sentir ambição.

E aquele jantar, o que poderia significar?

Mas, Benicio era um homem curioso apesar do seu modo como lidar com as situações da vida, principalmente a profissional. Aquele ero o único jeito de descobrir o que aquela empresaria queria.

Assim que decidiu, pegou o seu blazer esporte que estava no encosto da cadeira e vestiu por cima da camisa azul, pegou as chaves e deixou o escritório.

O trânsito daquela noite não estava tão carregado, chegou rapidamente ao bairro luxuoso e na hora marcada.

O edifício Garden era um dos mais modernos e discretos daquela região.

Benicio chegou e sua entrada foi liberada sem restrição desde a portaria até a cobertura, mas tudo era gravado pelo circuito de segurança.

Quando chegou foi recebido pela governanta.

— A dona Dinah está em um ligação. Ela logo irá recebê-lo. Entre e fique à vontade, senhor Pavano.

— Obrigado.

Benicio olhava em volta todo aquele ambiente e não se intimidou, ainda mais por ter sido criado no conforto até os dezesseis anos de idade, foi quando pediu para ser emancipado pela mãe para poder trabalhar e viajar para onde quisesse. Agora com trinta e dois anos, não estava arrependido de nada.

Mas, àquela curiosidade sobre aquele jantar e aquela mulher, era isso que ainda não estava entendendo. Apesar de já ter aceitado e agora estava ali, naquele apartamento luxuoso, esperando-a.   

Dinah… Dinah Fontanne… O que essa mulher quer? 

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