— Aqui está, a planta de hortelã que você pediu, Lúcia — diz meu tio Luciano entrando com um pequeno vaso nas mãos — São 10 dólares mais gorjeta pelo serviço de entrega.— Essa deve ser a tarifa mais alta cobrada por subir e descer de elevador para uma estufa — responde sem se deixar vencer minha tia.— Você mora em uma casa com elevador e reclama de 10 dólares? Terrível — reclama ironicamente meu tio, ele se concentra em mim, sorri e deixa o vaso perto.— Como está sua visão, sobrinha? — ele toca minha cabeça com uma mão, a outra ele coloca no meu rosto — Quantos dedos tem aqui? Não quero adivinhações.Eu o olho como se não fosse engraçado, quando na verdade é muito engraçado. Meu tio Luciano é ridiculamente engraçado e o melhor contador de histórias do universo.— Quatro — respondo o óbvio.Ele vai se jogar no sofá à nossa frente.— Ufa. Eu já estava me preparando para ter uma cega na família… — ele diz “preocupado”.— Luciano… — Lúcia o repreende.— Fique tranquila, tia. Não temos u
Meu tio Luciano é um personagem, um daqueles que costumam ser controlados por poucas pessoas no mundo. Está sua esposa, minha tia Marianne, também está meu tio Leandro, e em algumas ocasiões minha tia Lúcia. Ela é quem está nessa tarefa neste momento.— Uma sessão espírita, Luciano? Isso te parece um jogo? Porque não é — repreende Lúcia.— Quem está falando em jogar? Estou falando em investigar mais o misticismo nessas paredes — ele responde com uma expressão que para mim é de zombaria contida — Eu te contei a vez em que sua tia descobriu alguns ossos no porão por pura intuição?Luciano está me olhando, acho que é outra de suas histórias, até que analiso a expressão envergonhada de Lúcia.— Você realmente descobriu isso? De quem eram? — pergunto intrigada.Ela toca a cabeça como se doesse.— Você me faz parecer uma bruxa, foi uma coincidência. E os restos eram de um pobre infeliz do qual não precisamos falar para dar mais camadas à piada do seu tio.— Eu não estou contando piadas — ele
De repente, a mesa… vibra um pouco. É um movimento pequeno que consigo perceber, me impressiona tanto quanto minha tia. Neste momento, nós duas já estamos com os olhos abertos.— Eles querem machucar… a Sara? — pergunta Lúcia desconcertada.A mesa treme novamente lentamente, ou assim começa. Tanto minha tia quanto eu nos assustamos, e ficamos mais assustadas à medida que a mesa treme mais e mais.— O que isso si-significa? — pergunto aterrorizada.Luciano está muito concentrado, aperta nossas mãos com força.— Eu te escuto… estou te ouvindo dentro da minha cabeça — ele recita — É um homem… ele me diz que… que…A mesa para de tremer, meu tio abre os olhos em um grande choque e nos olha. Estou morrendo de medo.— Pare de aceitar gato por lebre de Luciano.Minha boca se abre de uma só vez, assim como a da minha tia, a do meu tio também, mas pelas gargalhadas que ele solta. Ele nos enganou, está tirando sarro da gente. Caímos no engano dele.— Eu sabia! — Lúcia se levanta irritada, levanta
Os retornos tinham que ser pela porta grande, e estou me certificando disso esta tarde neste evento social. É a festa de inauguração deste museu de arte contemporânea, os donos são a família Barceló, e os mesmos rostos influentes de sempre estão entre os seus convidados.Eu não podia faltar, não só para terminar meus negócios, mas para silenciar os rumores que sei que começaram a circular sobre mim. Minha estratégia está funcionando, muitos convidados se aproximaram de mim como moscas. Eles comentaram sem disfarçar o que falavam de mim, desde um surto psicótico até a prisão, falsas preocupações com risos falsos.— Desaparecida? É você? Tenho que te tocar para confirmar — me cumprimenta Ryan chegando acompanhado de todo o combo: Kit, Ana Maria e Amber.— Preferiria que você não fizesse isso — respondo.Todos riem e nos cumprimentamos. Nos atualizamos, e eu tenho que repetir a história inventada que justificava minha ausência, tínhamos combinado que eu diria isso para proteger minha segu
— Quero você longe do meu filho, Sara — ordena Victoria novamente.Eu reviro os olhos tanto que até doem, e mais por causa das minhas operações.— Com o respeito que você nunca teve por mim, seu filho foi quem veio até mim. Como você é quem se aproximou de mim — eu lembro e zombo brincalhona.Victoria não gosta disso, ela fica mais furiosa por trás de seus olhos claros.— De tal mãe, tal filha — ela solta com raiva.— Você vai continuar com isso? Eu não te fiz nada, e os confrontos que você teve com minha mãe, você deveria superar. Passou muito tempo.— Talvez, mas você não entende, menina. Lorenzo poderia ter sido seu irmão, se a vida tivesse sido justa comigo. Você não vê o quanto isso te torna depravada?Dá vontade de dizer que isso só demonstrava o quanto ela era depravada. Até me dá nojo ter que fazer essa conotação, como se eu estivesse interessada em saber ou estar envolvida na briga sexual que ela teve com meu pai tantos anos atrás.— Eu poderia responder de tantas maneiras que
Minha vida sentimental é uma bagunça atualmente. Não há dúvida alguma. Mas um dos poucos confortos que me restavam era que ainda havia uma pequena esperança de que aquele casamento não acontecesse. Agora, se Lorenzo e Emma se apaixonarem ou ela estiver grávida dele, essa esperança se evaporaria.Então, estou aqui no banheiro como uma stalker de merda para verificar se as instigações de Victoria são reais ou não. Uma mulher pode vomitar por muitas coisas, embora uma das razões ainda possa ser uma gravidez.Mais uma vez, uma mulher pode vomitar por muitos motivos, e Emma estar assim, e durar tanto, me preocupa. Ouso tocar no cubículo onde ela está assim que ela para de vomitar, e a vejo sentada no chão.— Você está bem, Emma? Tem algo em que eu possa te ajudar? — pergunto.Imediatamente ouço como ela puxa a alavanca e sei que ela se levanta do chão.— Não, não, não. Estou bem! Estava com dor de estômago por causa do que comi antes de chegar! — ela exclama alarmada.A porta se abre tão rá
Meus pés batem no chão com constância e meu coração bate com uma força sobrenatural. Eu finalmente consegui, uma promoção no meu trabalho, e o primeiro que tinha que saber disso era Andrew, meu noivo. Caminho pelo corredor tão emocionada e agarrada à minha pasta que agradeço por ninguém estar neste corredor. Vão pensar que estou louca ou que não sei me controlar pelo sorriso enorme que tenho no rosto. Mas quem poderia me culpar.Minha vida estava se transformando no que sempre deveria ter sido. Uma vida feliz e abençoada. Eu me casaria em alguns meses com o amor da minha vida, e finalmente deixaria de servir café na empresa. As lágrimas, humilhações e solidão acabariam. Eu, Marianne Belmonte, deixaria de ser o saco de pancadas da minha família, seria a esposa de um promissor empresário. Finalmente, todos me respeitariam e aceitariam.—Querido? Tenho boas notícias... — digo abrindo a porta do apartamento do meu futuro marido.As luzes da sala estão apagadas e há uma melodia suave de Jaz
Na manhã de ontem, acordei com o homem que amava conversando sobre como estávamos animados com o casamento dos nossos sonhos. Na manhã de hoje, acordei em um quarto de hotel barato com os olhos inchados de tanto chorar. Não haveria casamento, não haveria um final feliz para mim, não teria a família com a qual sonhei. Fiquei praticamente sem nada. Sem um teto, e quem sabe se Andrew teria a decência de me devolver minhas roupas. A única coisa que me restava era meu trabalho. Um ao qual voltei a me trancar em meu cubículo para mergulhar no meu mundo, os números. Trabalho para a Belmonte Raízes, uma imobiliária de bom tamanho dedicada ao que todas as imobiliárias fazem: comprar e vender imóveis. E eu, que tinha quase três anos de formada em administração de empresas, trabalhava nela desde então. O fato de compartilhar o mesmo sobrenome no nome da empresa não é coincidência. Seu dono é meu pai, Belmonte Raízes é uma empresa familiar. Uma na qual conquistei meu posto por mais que meus col