— Entender-me em quê? Poderia ser mais específico?— Se o que aconteceu na outra noite foi produto da minha imaginação, e você tem certeza disso. Por que está me evitando?— Não estou evitando o senhor. Por que eu faria isso? Deve ter interpretado mal.— Não? Você deveria ter me entregue o estudo de mercado da propriedade ontem. Não o fez — ele observa com uma leve censura.— Eu enviei com minha colega, Maite — corrijo, surpresa.— Não recebi nada até onde sei — ele afirma.Um deslize como esse eu não podia me permitir. Procuro no meu notebook e encontro o estudo, amplio na tela e aproximo para Luciano.— Lamento o inconveniente. Aqui está, para que dê uma olhada... ou prefere impresso? — ofereço suavemente, atenta à sua reação.Luciano concorda em dar uma olhada no meu computador, mas a quantidade de perguntas que me faz sobre os gráficos me obriga a ficar perto dele, apontando o que ele desejava. Mal conseguia me concentrar com tal proximidade, meu coração bate acelerado e estou perd
—Não me convence, mamãe. Não me vejo como eu mesma. Você acha que Andrew vai gostar? Quero que ele chore quando me ver caminhando para o altar — reclama levantando o decote — Você gosta deste vestido, irmã?Eu gosto do vestido. Vou dar minha aprovação em algo que fica bem nela? NÃO.—Está bonito... — finjo que o vestido me entedia e digo isso por obrigação.Amanda capta instantaneamente, fica mais impaciente.—Você não gosta, não é? — me pergunta insegura.—Não é que eu não goste, é que... você conseguirá usar esse corte sem parecer, você sabe, volumosa, nessa área?Faço referência à sua gravidez, o que faz Amanda entrar em outra crise. Ela começa a reclamar que será uma baleia, que já parece uma baleia. A crise é tão grande que a vendedora com a caixinha de lenços vai rapidamente até ela para ajudá-la com suas lágrimas. Disfarço um sorriso malvado e volto ao meu celular, para buscar coisas de quem não devo, Luciano.Por mais que eu procure não encontro nenhuma noiva ou esposa. Sim, mu
—É? Conhecemos ele por acaso? Com o que ele trabalha? — indaga desconfiada.—É sim. Não sei se você o conhece, mas ele é um investidor, americano — invento e invento.—Investidor estrangeiro? Quantos anos você diz que ele tem? — pergunta com uma malícia que me sabe amarga — A idade é o problema? Ele tem uma idade parecida com a do seu pai, não é?—Não. Mas ele é um pouco mais velho que eu, tem 34 — afirmo sem recuar.—Parece o homem perfeito. Do que mais você quer se gabar sem me dizer suspeitamente o nome e sobrenome dele?—Eu poderia me gabar dos olhos azuis dele como o céu noturno, seu abundante cabelo preto ou sua grande altura. Mas é mais importante para mim saber por que você duvida tanto da minha palavra. Queremos levar nosso relacionamento da forma mais reservada possível — argumento como uma serpente. Ela ri de mim.—Não sei a quem você quer enganar, Mary. Mas pare e deixe de perturbar minha filha enquanto ela se prepara para o dia mais importante da vida dela. Nós duas sabemo
É interessante como a mente humana funciona em um episódio maníaco. Veja-me aqui tendo proposto casamento ao meu chefe em um ataque de raiva. Ele não melhora meu constrangimento ao tomar o controle de sua mesa e pressionar para que as persianas baixem automaticamente para nos proteger dos curiosos.Depois, junta suas mãos em uma prece. O silêncio do escritório está me matando de nervoso.—Você veio bêbada para o trabalho? — pergunta paciente.—Não estou bêbada. Nem-nem drogada — me defendo gaguejando.—Você soa e age como uma pessoa intoxicada na minha opinião — ele apoia seu rosto em uma de suas mãos.—Mas isso não te importou ao dormir comigo naquela noite, não é?Aqui Luciano fica sério, endireita-se e me olha sombriamente. Da acessibilidade à couraça eu o vejo se transformar em questão de segundos.—Se você quer ir pelo caminho da chantagem. Retrate-se. Você e eu sabíamos o que estávamos fazendo. Ambos desfrutamos. Ou você vai dizer que abusei de você? Pense duas vezes. Não fiz iss
—Apresentarei minha demissão, esta tarde. Desculpe por minha atitude, não foi profissional — menciono com mais lágrimas caindo.Ouço um suspiro profundo, muito profundo.—Não há necessidade — diz ele rendido. Olho para ele esperançosa — Todos temos decisões e dias de m****. Você não merece ser demitida por um. Mas não aceitarei sua proposta de casamento, é um absurdo, Marianne.Meu peito se afrouxa, se alivia e volto a respirar normalmente.—Sim, foi um absurdo. Não sei no que estava pensando — medito brincando com o lenço, e me lembro imediatamente — Há algo seu que quero devolver.Não especifico o que quero devolver, saio de seu escritório fingindo que não há nada fora do comum e pego da minha pasta o envelope. Volto e o deslizo pela mesa. Luciano o pega e abre. Tira do envelope o cartão com seu número de celular, e se surpreende ao ver os 1000$ que ele tinha me deixado. Eu os trazia comigo há dias, caso ocorresse a mim como devolver esse dinheiro.—Espero que, com isso, não fiquem c
A uma semana do desastre da loja de vestidos de noiva, a perversa da mulher que tenho como madrasta não parou de insistir para que eu passasse o nome do meu suposto noivo. Mas a única coisa que consegui daquele infame aplicativo de encontros foram vinte fotos de partes íntimas, cinco propostas de sexo casual e horas de frustração. Não tenho ninguém para levar a essa festa.Puxo meu cabelo desesperada e estressada. Tais são essas emoções em mim, que percebo que arranco um tufo de cabelo que fico olhando com vontade de chorar.—Estou preocupada com você. Estou falando sério — me diz Giana sentando-se ao meu lado no meu cubículo. Ela me trouxe um café que me oferece — Um mocha, para abrir seu apetite e podermos ir almoçar como o resto do andar.Era hora do almoço, havia apenas uma colega na cabine privada para videoconferências no fundo do corredor. Me dedico ao meu computador.—Não estou com fome. Preciso conseguir um homem para esta noite — aviso à minha amiga.—Ainda com isso? Você não
—Nada. Vou ao clube equestre. É o jantar de noivado de Amanda, minha irmã — explico.—Com o que planeja sabotá-lo desta vez? Não me diga que desistiu, isso seria muito chato da sua parte.Olho para ele com minha língua grudada na bochecha. Me sinto ridicularizada, zombada, mas e daí? Mais baixo eu não podia cair. Se ele queria drama, eu daria drama.—Aparecerei com um atraente noivo que atuará como se eu fosse a mulher mais encantadora do mundo, e me fará parecer o que quero aparentar, uma mulher sã da cabeça, engenheiro Brown — presumo.Leio o sorriso nos olhos de Luciano ao volante. A brisa despenteando seu cabelo o torna mais irresistível.—Você também chantageou esse? — brinca com crueldade.—Não, paguei adiantado — solto sem culpa.Ele solta uma expressão atônita, depois uma grande gargalhada. Eu não acho graça que ele ache graça dessa loucura. Uma mulher deve fazer o que deve fazer. Aperto minha bolsa para não corar pelo disparate que acabei de dizer. Mantenho meu queixo erguido.
América, América de Belmonte é o nome da minha detestável madrasta. Mas eu odeio tanto esse nome que tento não me lembrar dele. Era o nome que minha mãe repetia sem parar quando estava doente, culpando-a pela destruição de seu casamento. Desde jovem, pude entender que meu pai tinha mais culpa do que sua amante na doença da minha mãe. Mesmo assim, mamãe estava obcecada em responsabilizá-la. América, aquela destruidora de lares. América, aquela qualquer estrangeira.Seu nome era como o de um fantasma que eu preferia não invocar. Um fantasma para mim, é inquietante a reação da própria América com Luciano. Parecia que ele fosse o fantasma dela.— América — meu pai repreende discretamente sua esposa — Essa não é uma pergunta apropriada para fazer ao meu sucessor.— Como assim, seu sucessor? — ela pergunta aterrorizada a Sergio — Você não me falou sobre isso.— Desde quando você se importa com os nomes dos meus sócios, mulher? — ele diz com desprezo, depois se dirige a nós — Vocês trocaram p