Lilian era uma verdadeira admiradora de Clarice. Para ela, a Sra. Clarice era simplesmente a melhor em tudo.— Se me permite dizer, ser líder de equipe é pouco para você. Com sua competência, deveria ser sócia sênior do escritório. — Comentou Lilian, cheia de convicção.Clarice, no entanto, não compartilhou do entusiasmo. Seu sorriso desapareceu, e ela respondeu com seriedade:— Eu talvez nem seja a escolhida. Esse tipo de coisa, você só comenta comigo aqui dentro. Se falar isso lá fora, vão rir de você... e de mim.Ela sabia que sua popularidade no escritório não era das melhores. Se esse tipo de comentário chegasse aos ouvidos das pessoas erradas e, no fim, ela não fosse promovida, seria alvo de chacota.— Só estou desabafando com você, Sra. Clarice. Claro que não vou sair por aí contando para os outros. Mas, me diga, vai ao jantar hoje à noite? — Perguntou Lilian, com uma casualidade que só existia graças à convivência de dois anos como assistente de Clarice.Clarice olhou para o re
Sterling apertou os lábios, em um misto de hesitação e frustração:— Vovô, não há mesmo nenhuma chance de reconsiderar essa questão?Ele sabia muito bem que Túlio era capaz de pegar o telefone e exigir que Teresa devolvesse o bracelete.— Nenhuma! — Túlio respondeu com firmeza, sua expressão rígida.O bracelete era para Clarice, e só poderia pertencer a ela.Isaac, que estava no canto da sala, manteve-se em silêncio, com a cabeça baixa. Ele também achava errado Sterling ter dado o bracelete da Sra. Davis para Teresa, ainda mais agora que o escândalo estava nos holofotes. Mas, como assistente, sabia que não era o seu lugar opinar.— Talvez... talvez a gente espere a Clarice chegar e decida isso com ela.A voz de Sterling soou rouca, quase incerta.Na mente dele, imagens do passado começaram a surgir. Lembrou-se de quando Teresa, anos atrás, havia lhe dado uma pilha de dinheiro. Aqueles trocados, na época, haviam sido sua salvação durante uma fuga desesperada. Ela tinha salvado sua vida.
Ela não precisava se prender ao que ganhava ou perdia naquele momento.Túlio soltou um resmungo, tirou do bolso um lenço e começou a limpá-lo meticulosamente, alheio ao que acontecia ao seu redor.Teresa, ao observar a cena, sentiu uma humilhação profunda que queimava por dentro. Queria sair dali o mais rápido possível, então disse:— Eu te devolvo a pulseira. Eu vou embora.Sua voz era doce, e o olhar que lançou a Sterling era igualmente carinhoso.— Eu te levo. — Disse Sterling, com um tom firme.— Não precisa. Eu vou sozinha. Fique aqui e cuide melhor do seu avô. — Respondeu Teresa, embora, no fundo, desejasse que ele insistisse em acompanhá-la. Sabia, porém, que enquanto aquele velho teimoso não mudasse de ideia, qualquer gesto de gentileza de Sterling só pioraria a situação.Ela carregava um filho no ventre, o que tornava indispensável garantir seu lugar na família Davis. Um confronto direto com aquele velho insuportável só traria problemas. Por ora, engolir o orgulho era a melhor
Teresa olhou para Sterling com os olhos marejados, sua voz embargada pelo choro. — Sterling. Não foi culpa da Clarice. Eu que me distraí e acabei caindo. Não precisa pedir desculpas por mim! Clarice permaneceu em silêncio, observando Teresa com um olhar indiferente. Se ela queria fingir, que fingisse à vontade. Contanto que não a envolvesse, tudo bem. Sterling lançou um olhar severo para Clarice. — Você não olha por onde anda? Clarice, sem paciência para discutir, respondeu de forma sarcástica: — Tudo bem. Na próxima vez eu presto atenção. Era Teresa quem tinha esbarrado nela, mas, de alguma forma, a culpa sempre recaía sobre Clarice. Sterling a odiava tanto que até o fato de respirar parecia errado aos olhos dele. Túlio, que acompanhava a cena, mantinha uma expressão fechada. Seus olhos afiados fitavam Teresa, que continuava no chão. Ele sabia que ela falava de forma ambígua de propósito, só para que Sterling a interpretasse mal. A habilidade de manipulação dela não er
— Vocês já estão casados há três anos. Está na hora de terem um filho. Que tal você largar o trabalho por um tempo e se dedicar a engravidar? Depois que o bebê nascer, você pode voltar a trabalhar. O que acha? — Túlio falou, com um tom ansioso. Ele queria desesperadamente que Clarice tivesse um filho. Na sua cabeça, isso seria o suficiente para prender Sterling em casa e fazê-lo se dedicar à esposa e à família. Clarice deu uma risada curta e balançou a cabeça, prestes a recusar a ideia, quando uma voz interrompeu: — Sr. Túlio. Ouvi dizer que o senhor pretende passar parte das ações do Grupo Davis para Clarice. Eu não concordo! Ao ouvir isso, Clarice levantou os olhos e viu sua sogra, Virgínia Anderson, entrar apressada pela porta. O rosto dela estava carregado de raiva, e parecia que havia acabado de voltar de uma longa viagem. Túlio cruzou os braços, o rosto escurecido pela irritação. — Minhas ações pertencem a mim. Eu as dou para quem eu quiser! Você não tem que concordar c
Ao ouvir as palavras de Túlio, Virgínia pareceu perder toda a força. Seu corpo ficou mole, como se tivessem arrancado dela qualquer energia. — A morte do Luiz foi minha culpa! Fui eu que o matei! — Murmurou ela, com os olhos desfocados. O semblante de Túlio se fechou ainda mais. Ele não tinha paciência para aquele tipo de drama. — Vá embora de uma vez! Pare de se pendurar aqui! O que eu decidi está decidido, e você não pode mudar isso! — Gritou ele com firmeza. Sterling só foi trazido de volta à família Davis quando já tinha quase dez anos. Durante sua infância e adolescência, ele havia vivido experiências que o tornaram desconfiado e resistente a se aproximar das pessoas. Quando Túlio conheceu Clarice pela primeira vez, teve a sensação de que ela seria capaz de quebrar as barreiras de Sterling e alcançar seu coração. Nos três anos de casamento, Sterling nunca demonstrou grande afeto por Clarice, mas, pelo menos, ele voltava para casa todas as noites. Não a rejeitava e, de
Antes de subir para devolver a pulseira, Teresa havia ligado para a sogra. Agora, Virgínia provavelmente já estava lá em cima. Se Sterling resolvesse subir também, isso poderia arruinar os planos de Virgínia. Não, isso não podia acontecer. Sterling não podia ir! Sterling virou-se para encará-la, seus olhos fixos na mão dela, carregados de uma frieza cortante. — Eu já disse para você. Sua saúde não está boa, então fique em casa e descanse. Pare de andar para lá e para cá! A gravidez foi uma escolha sua, então você tem a obrigação de cuidar do bebê. Entendeu? Sua voz não era alta, mas trazia uma pressão sufocante. Teresa, assustada, recolheu a mão imediatamente. Mordeu os lábios, e as lágrimas começaram a se acumular em seus olhos, parecendo prestes a cair. — Eu só fiquei preocupada que a Clarice estivesse brigando com você. Por isso vim até aqui devolver a pulseira. Eu nunca quis prejudicar minha saúde. — Respondeu, com uma voz trêmula, cheia de justificativas. — Se quiser s
— O vovô está bem... — Sterling lançou um olhar frio para Virgínia e a interrompeu. — Isaac, leve-a de volta para casa. Com Túlio nesse estado, a transferência de ações estava fora de questão. — Só vou embora quando o vovô acordar. Não vou ficar tranquila até ter certeza de que ele está bem. — Clarice insistiu, preocupada com a saúde de Túlio. Não sairia dali sem confirmar que ele estava fora de perigo. Os olhos escuros de Sterling permaneceram por um momento no rosto dela. Ele contraiu os lábios, mas não disse nada. A forma como foi criado moldou sua personalidade fria e distante. Ele era assim com todos, sem exceção, e não seria diferente com Clarice, mesmo sendo sua esposa. — Mesmo que o Túlio acorde, ele não vai transferir as ações. Pare de perder tempo e vá embora logo! — Virgínia falou com um tom ríspido, franzindo o cenho. Clarice ignorou. Estava no escritório de Sterling, e enquanto ele não dissesse nada para que ela saísse, não daria ouvidos à sogra. Virgínia, ao