O rosto de Teresa ficou rígido, revelando um desconforto evidente. Por que Sterling, de repente, estava tão apressado em traçar uma linha tão clara entre eles? — Sterling... Eu... — Teresa tentou se explicar, mas as palavras simplesmente não saíram. Sterling lançou a ela um último olhar frio antes de virar as costas e sair do quarto. Ao atravessar as portas do hospital, ele pegou o celular e ligou para Isaac. — Sr. Sterling. — Descobriu alguma coisa? — Seu celular tem um registro de bloqueio de chamadas. Na verdade... O número da pessoa foi colocado na lista de bloqueio. — Isaac explicou, hesitante. — Cuide da alta da Teresa. — Sterling disse em um tom gélido, encerrando a ligação imediatamente. Durante os dias em que esteve em Cidade F, trabalhando enquanto a avó de Clarice falecia, ele não percebeu que alguém havia mexido em seu celular. Por causa disso, ele não recebeu as ligações de Túlio. Quanto a Clarice, ele sabia que ela o odiava o suficiente para não ligar para e
— Quem te ligou agora? — Clarice desviou a pergunta com outra. — Foi a mãe do Sterling. — Túlio respondeu, o tom de voz claramente carregado de desagrado. — Ela sabe sobre o meu divórcio com Sterling? — Clarice perguntou, lembrando-se de como Virgínia havia tentado prejudicar a gravidez dela. Para Clarice, aquela mulher não tinha a menor dignidade para ser chamada de mãe. — Eu não contei, nem pretendo contar. Clarice achou aquilo estranho. — Por quê? Ela era a mãe de Sterling. Por que esconder algo assim dela? — Sterling nunca te falou sobre a relação dele com Virgínia? — Túlio retrucou com outra pergunta. Clarice ficou em silêncio por alguns instantes antes de balançar a cabeça. Sterling a desprezava. Como ele poderia contar coisas tão pessoais a ela? — Na verdade, ela não é a mãe biológica do Sterling. — Túlio suspirou profundamente. Ele olhou para o rosto de Clarice e, após uma breve hesitação, continuou. — A mãe dele morreu quando ele ainda era muito pequeno. Depoi
O humor de Túlio melhorou instantaneamente. Nem mesmo a ligação de Virgínia, sugerindo que Sterling participasse de um encontro arranjado com a filha mais velha da família Baptista, foi capaz de irritá-lo. Clarice, por sua vez, abaixou a cabeça e continuou comendo em silêncio. Ela sabia que Túlio claramente não queria que ela e Sterling se divorciassem. Qualquer palavra a mais que dissesse poderia ser interpretada como um resquício de sentimento por Sterling, e ela não queria que ele tivesse essa impressão. Melhor evitar problemas. Depois do café da manhã, Túlio insistiu para que Clarice entrasse no carro com ele e pediu ao motorista que os levasse ao cartório. Clarice tentou recusar, mas não teve escolha e acabou entrando no carro. Túlio estava satisfeito, com um sorriso discreto no rosto. Pouco antes de chegarem ao cartório, o celular de Túlio tocou. Era Sterling. Ele atendeu imediatamente e perguntou: — Que horas você vai chegar? — Passe o celular para a Clarice. Preciso
Clarice arregalou os olhos instintivamente, encarando o homem à sua frente. Ela devia estar imaginando coisas, porque, com certeza, ele não tinha dito absolutamente nada. — Clarice, quando sua avó faleceu, eu estava viajando a trabalho, e o meu celular... — Sterling começou a falar, mas, de repente, parou no meio da frase. Ele não conseguia continuar. Teresa, naquele momento, lembrava muito alguém do passado. Alguém que havia empurrado ele e sua mãe para o limite, que havia destruído tudo e, no fim, até levado sua mãe à morte. Se Clarice soubesse que Teresa havia bloqueado todas as chamadas do celular dele, ela certamente iria confrontá-la. E o que poderia acontecer depois disso? Teresa seria capaz de fazer algo terrível contra ela. Era melhor esperar até que ele resolvesse a situação com Teresa antes de contar qualquer coisa. Quando Sterling interrompeu a fala, Clarice imediatamente entendeu tudo. Então, naqueles dias em que sua avó faleceu, o celular dele estava desligado.
— Já assinei. Vamos ao cartório agora? — Clarice entregou os documentos assinados ao advogado e, em seguida, olhou para Sterling enquanto falava. — Clarice, não pode reconsiderar? Por favor... — Sterling perguntou em um tom baixo, quase hesitante. O advogado rapidamente recolheu os papéis e começou a guardar tudo na pasta. Ele sabia que não era hora de ficar ali. Em poucos segundos, já estava apressado para sair da sala, evitando ser uma testemunha daquela conversa particular. — Eu já pensei bastante. Vamos logo. — Clarice respondeu, olhando para o rosto de Sterling sem qualquer emoção. Ela sabia que seu coração já havia sido despedaçado várias vezes. As mentiras, as traições... Tudo tinha deixado marcas profundas. Na noite anterior, Clarice refletiu sobre tudo pelos últimos anos. Percebeu o quanto havia se anulado e, acima de tudo, o quanto tinha sido injusta consigo mesma. — Clarice... — Sterling chamou novamente, mas ao cruzar o olhar com os olhos frios e indiferentes de
— Desta vez, não é Sterling quem quer o divórcio. É a Clarice que está decidida a se divorciar. — Túlio suspirou profundamente, sentindo o coração apertar ainda mais. — A avó dela morreu há poucos dias. Sterling não atendeu as ligações, ninguém o encontrou, e foi a Clarice que enfrentou tudo sozinha. Depois de tudo isso, como eu poderia ter coragem de pedir para ela continuar ao lado dele? Túlio, que tinha se mostrado despreocupado diante de Clarice, agora sentia uma tristeza ainda maior. Antigamente, quando se sentia assim, ele podia conversar com ela. Mas, no futuro, ele teria que lidar com seus próprios sentimentos sozinho. — É, nesse caso, realmente fica difícil tentar convencer. — O motorista respondeu, com um tom de constrangimento. O motorista sabia que Sterling era um dos homens mais bem-sucedidos de Londa. Havia inúmeras mulheres que sonhavam em se casar com ele, provavelmente tantas que poderiam dar uma volta na cidade. Clarice, por sorte, conseguiu se casar com ele. Ma
A imagem dos dois juntos parecia saída de uma pintura. O motorista, em silêncio, não pôde deixar de suspirar internamente. A beleza de Sterling e Clarice era impressionante, e, quando estavam lado a lado, pareciam feitos um para o outro. Durante o trajeto, todos no carro estavam imersos em seus próprios pensamentos. Logo, chegaram ao cartório. O advogado já os esperava na entrada. Era o mesmo que havia auxiliado na transferência das ações para Clarice. Clarice não conseguiu conter um sorriso. Que coincidência! — Sr. Sterling, Sra. Davis, aqui está o acordo de divórcio. Por favor, leiam com atenção. — O advogado entregou os documentos, com um leve desconforto. Mais cedo, ele havia tentado evitar se envolver na conversa do casal sobre o divórcio, mas agora, em menos de uma hora, estava ali, entregando o contrato final. Clarice pegou o documento e começou a lê-lo. Após terminar, ela ficou surpresa. O acordo incluía a divisão de cem milhões de reais, além de uma casa avaliada e
Clarice ficou paralisada por um instante, mas logo recuperou a compostura e respondeu com calma: — Você acha que eu sou capaz de reproduzir sem ajuda ou engravidar à distância? A funcionária, ao ouvir aquilo, ficou visivelmente desconfortável. Afinal, não era difícil entender por que o casal havia chegado ao ponto de pedir o divórcio. Pelo visto, eles sequer tinham uma vida conjugal de verdade. A funcionária não pôde deixar de pensar que, no casamento, a harmonia entre quatro paredes era de fato essencial. Sterling apertou os lábios e soltou uma risada fria. — Língua afiada! Ela realmente fazia jus à reputação de advogada. — Se você não acredita em mim, por que não sugere que façamos um exame no hospital antes de assinar os papéis? — Clarice provocou, mas por dentro estava tensa. Ela sabia que não podia ir ao hospital. Não só estava grávida, como também esperando gêmeos. Qualquer exame revelaria tudo na mesma hora. Mesmo assim, para afastar qualquer dúvida de Sterling,