Clarice arregalou os olhos instintivamente, encarando o homem à sua frente. Ela devia estar imaginando coisas, porque, com certeza, ele não tinha dito absolutamente nada. — Clarice, quando sua avó faleceu, eu estava viajando a trabalho, e o meu celular... — Sterling começou a falar, mas, de repente, parou no meio da frase. Ele não conseguia continuar. Teresa, naquele momento, lembrava muito alguém do passado. Alguém que havia empurrado ele e sua mãe para o limite, que havia destruído tudo e, no fim, até levado sua mãe à morte. Se Clarice soubesse que Teresa havia bloqueado todas as chamadas do celular dele, ela certamente iria confrontá-la. E o que poderia acontecer depois disso? Teresa seria capaz de fazer algo terrível contra ela. Era melhor esperar até que ele resolvesse a situação com Teresa antes de contar qualquer coisa. Quando Sterling interrompeu a fala, Clarice imediatamente entendeu tudo. Então, naqueles dias em que sua avó faleceu, o celular dele estava desligado.
— Já assinei. Vamos ao cartório agora? — Clarice entregou os documentos assinados ao advogado e, em seguida, olhou para Sterling enquanto falava. — Clarice, não pode reconsiderar? Por favor... — Sterling perguntou em um tom baixo, quase hesitante. O advogado rapidamente recolheu os papéis e começou a guardar tudo na pasta. Ele sabia que não era hora de ficar ali. Em poucos segundos, já estava apressado para sair da sala, evitando ser uma testemunha daquela conversa particular. — Eu já pensei bastante. Vamos logo. — Clarice respondeu, olhando para o rosto de Sterling sem qualquer emoção. Ela sabia que seu coração já havia sido despedaçado várias vezes. As mentiras, as traições... Tudo tinha deixado marcas profundas. Na noite anterior, Clarice refletiu sobre tudo pelos últimos anos. Percebeu o quanto havia se anulado e, acima de tudo, o quanto tinha sido injusta consigo mesma. — Clarice... — Sterling chamou novamente, mas ao cruzar o olhar com os olhos frios e indiferentes de
— Desta vez, não é Sterling quem quer o divórcio. É a Clarice que está decidida a se divorciar. — Túlio suspirou profundamente, sentindo o coração apertar ainda mais. — A avó dela morreu há poucos dias. Sterling não atendeu as ligações, ninguém o encontrou, e foi a Clarice que enfrentou tudo sozinha. Depois de tudo isso, como eu poderia ter coragem de pedir para ela continuar ao lado dele? Túlio, que tinha se mostrado despreocupado diante de Clarice, agora sentia uma tristeza ainda maior. Antigamente, quando se sentia assim, ele podia conversar com ela. Mas, no futuro, ele teria que lidar com seus próprios sentimentos sozinho. — É, nesse caso, realmente fica difícil tentar convencer. — O motorista respondeu, com um tom de constrangimento. O motorista sabia que Sterling era um dos homens mais bem-sucedidos de Londa. Havia inúmeras mulheres que sonhavam em se casar com ele, provavelmente tantas que poderiam dar uma volta na cidade. Clarice, por sorte, conseguiu se casar com ele. Ma
A imagem dos dois juntos parecia saída de uma pintura. O motorista, em silêncio, não pôde deixar de suspirar internamente. A beleza de Sterling e Clarice era impressionante, e, quando estavam lado a lado, pareciam feitos um para o outro. Durante o trajeto, todos no carro estavam imersos em seus próprios pensamentos. Logo, chegaram ao cartório. O advogado já os esperava na entrada. Era o mesmo que havia auxiliado na transferência das ações para Clarice. Clarice não conseguiu conter um sorriso. Que coincidência! — Sr. Sterling, Sra. Davis, aqui está o acordo de divórcio. Por favor, leiam com atenção. — O advogado entregou os documentos, com um leve desconforto. Mais cedo, ele havia tentado evitar se envolver na conversa do casal sobre o divórcio, mas agora, em menos de uma hora, estava ali, entregando o contrato final. Clarice pegou o documento e começou a lê-lo. Após terminar, ela ficou surpresa. O acordo incluía a divisão de cem milhões de reais, além de uma casa avaliada e
Clarice ficou paralisada por um instante, mas logo recuperou a compostura e respondeu com calma: — Você acha que eu sou capaz de reproduzir sem ajuda ou engravidar à distância? A funcionária, ao ouvir aquilo, ficou visivelmente desconfortável. Afinal, não era difícil entender por que o casal havia chegado ao ponto de pedir o divórcio. Pelo visto, eles sequer tinham uma vida conjugal de verdade. A funcionária não pôde deixar de pensar que, no casamento, a harmonia entre quatro paredes era de fato essencial. Sterling apertou os lábios e soltou uma risada fria. — Língua afiada! Ela realmente fazia jus à reputação de advogada. — Se você não acredita em mim, por que não sugere que façamos um exame no hospital antes de assinar os papéis? — Clarice provocou, mas por dentro estava tensa. Ela sabia que não podia ir ao hospital. Não só estava grávida, como também esperando gêmeos. Qualquer exame revelaria tudo na mesma hora. Mesmo assim, para afastar qualquer dúvida de Sterling,
Ela não aceitava, de jeito nenhum, cancelar o pedido de divórcio! Sterling observou as costas de Clarice enquanto ela se afastava. Ele estreitou os olhos, sentindo um incômodo difícil de explicar. Antes, ela o amava tanto, mas agora, nem um traço desse amor era visível em seus olhos. Sterling não podia negar que isso o incomodava profundamente. Clarice mal havia saído do cartório quando seu celular tocou. Era Jaqueline. — Clarinha, onde você está? — Acabei de sair do cartório. — Para comemorar sua liberdade, reservei uma mesa no Estrela do Paladar. Quer que eu vá te buscar agora? — Jaqueline falou com um tom animado, quase vibrante. — Eu vou sozinha. — Clarice mordeu os lábios, tentando conter a confusão em sua mente. Ainda estava absorta na pergunta que Sterling fizera à funcionária. O coração estava inquieto. — Então tá. Vou indo na frente! Vem com calma, sem pressa! Até já! — Jaqueline respondeu animada e desligou. Clarice ficou parada por um momento, segurando o cel
Túlio suspirou profundamente. — Sterling, sua história com a Clarice acabou. Eu realmente acho uma pena! Ele queria sondar o que Sterling estava pensando antes de decidir o que fazer. Sterling ergueu os olhos e olhou para o retrovisor. — Vovô, o que você quer dizer com isso? Ele sabia que Túlio estava do lado de Clarice, mas queria ouvir exatamente o que ele tinha a dizer. — Você já pensou em cancelar o pedido de divórcio? — Túlio perguntou diretamente, sem rodeios. — Já. — Sterling respondeu com seriedade, sem a menor intenção de esconder. — Então, vou ligar agora mesmo para eles prepararem o certificado de divórcio. — Túlio pegou o celular e começou a discar novamente. — Vovô, o que você está fazendo? — Sterling estava completamente confuso com a atitude de Túlio. — Eu sou seu neto de sangue! Que tipo de avô ajuda alguém a conspirar contra o próprio neto? Túlio soltou uma risada fria. — Já decidi. Assim que a Clarice tiver o certificado de divórcio nas mãos, vou o
Isaac olhou para o pequeno estojo de joias e respondeu respeitosamente: — Foi um presente de aniversário que o Sr. Sterling escolheu para você no seu último aniversário. Ele estava ocupado resolvendo assuntos em Cidade F e acabou se esquecendo de entregá-lo. Hoje, ele pediu que eu trouxesse e também me pediu para lhe dizer que sente muito. Clarice pegou o estojo e o devolveu para Isaac com firmeza. — O certificado de divórcio eu aceito, mas isso aqui, por favor, devolva para o Sterling. E diga a ele que, depois do divórcio, seguimos caminhos diferentes. Não tem mais “desculpa” ou “culpa” entre nós. — Sra. Davis, eu… — Isaac segurou o estojo, sentindo o peso da situação. Ele tinha certeza de que, se voltasse para Sterling com aquele presente, o chefe ficaria furioso. Trabalhando diretamente com Sterling, ele sabia que o patrão não tolerava incompetência, e devolver o presente seria interpretado como um fracasso. — Obrigado por vir até aqui me entregar. Agora, preciso ir. Tch