Sofia estava bem. Pelo menos fisicamente. Eu a deixei com Simone, e quando saí seu pequeno corpo descansava nos braços da governanta, que a embalava suavemente enquanto sussurrava palavras tranquilizadoras. Mas eu sabia que, dentro dela, o turbilhão ainda não havia cessado. Nem dentro de mim. Eu não queria, de forma alguma, deixar Sofia. Mas, depois de envolver a polícia em seu desaparecimento, precisava lidar com as consequências daquele dia caótico. Ainda restava algo a ser resolvido—prestar esclarecimentos para que tudo, enfim, chegasse ao fim. Dei meu depoimento, mas omiti qualquer menção a Celina. Não queria que a polícia a exaurisse com perguntas. Ela parecia abatida ainda, eu não podia evitar. Eu me preocupava com ela. Então, disse apenas o necessário: como qualquer criança curiosa, Sofia se deixou levar pela impulsividade, e, por uma falha de segurança, conseguiu sair sem ser notada. Um erro. Um acidente. Algo que nunca mais aconteceria. Meus olhos estavam fixo
Joana abriu a porta encarando-o: — Entre, Gabriel. Como está Sofia? — perguntou. — Ela vai ficar bem. Obrigada pelas duas terem ido encontrá-la. Nunca vou parar de agradecê-las. — Nós a amamos muito, Gabriel — murmurou Joana. — Eu preciso falar com vocês. Eu li a carta de Lívia. Ele entrou, tirou um papel de seu bolso. Meus olhos estavam vermelhos, mas eu mantinha uma postura firme. — Eu... não sei nem por onde começar — ele disse, olhando para Joana e depois para mim. — Lívia explicou muito naquela carta. Seus olhos estavam vermelho, a roupa encharcada pela chuva mas ele mantinha uma postura determinada. — Celina, eu não sabia sobre você... sobre o que você compartilhou com ela. Isso me pegou de surpresa. Eu senti um nó na garganta. Havia tanto que eu queria dizer, mas as palavras não vinham. — Ela viu você se fechar na escuridão — Joana respondeu. — E é por isso que ela pediu ajuda. Sofia precisa de você, Gabriel. Mas você também precisa de
Era maravilhoso estar com ele sem segredos. Era maravilhoso que eu não precisasse mais mentir para ele, que finalmente, depois de tanto tempo, estávamos vivendo a verdade. Eu estava nas nuvens, Gabriel era tudo o que eu imaginava e ainda melhor. A forma como ele me entendia e me amava , sem reservas, sem medo, fazia tudo valer a pena. Era como se, pela primeira vez, o mundo estivesse no lugar certo, como se cada peça finalmente se encaixasse. Eu podia ver em seus olhos que ele sentia o mesmo. O jeito como me olhava, como segurava minha mão, como sussurrava meu nome depois das noites ardentes de amor ou o olhar cheio de ternura que me acolhia sempre que eu precisava contribuía para eu ficar mais e mais apaixonada. E, naquele momento, eu acreditei. Acreditei que nada poderia nos tirar isso. Que, depois de tanto tempo, finalmente pertencíamos um ao outro. Mal sabia eu que a vida ainda tinha outras provações à nossa espera. Mesmo com a verdade dita, os outros motivos q
O nó no meu estomago ainda continuava quando o assessor proferiu aquelas palavras: — Eu não quero ser desrespeitoso, mas o senhor já teve um vislumbre do comportamento da alta sociedade quando estava casado com a senhora Lívia — continuou o homem com cautela. Gabriel elevou os olhos com o cenho franzido e olhar duro, e o homem prosseguiu com a voz falhando. — É que a senhora Lívia também não pertencia ao seu mundo, mas não era uma funcionária sua. O caso da senhorita Celina é mais delicado. Além do que, quando se casou com a senhora Lívia, o senhor ainda não era o CEO. Sua mãe ocupava o cargo. Agora é tudo mais complicado. E eu sabia o que Gabriel pensava, o que ele sentia. Ele estava em conflito, lutando contra a dor, o desejo de ser honesto, mas também contra a necessidade de proteger sua vida, seu trabalho, tudo o que ele havia construído. O olhar de Gabriel encontrou o meu, e naquele momento, os olhos dele estavam cheios de uma dor profunda, um tipo de agon
— Celina é a babá da minha filha, Sofia. E estamos em um relacionamento, ela é minha noiva.O impacto foi instantâneo. O ar parou de circular. Eu senti tudo ao meu redor desaparecer por um momento. O que ele acabara de dizer não era apenas uma declaração, era um grito, uma afirmação de que ele não estava mais disposto a se esconder. Ele me escolheu, e não se importava mais com as consequências. O choque nas faces dos jornalistas foi visível, como se o mundo tivesse parado. Eu estava em choque, mas, ao mesmo tempo, havia uma sensação de liberdade que eu nunca tinha experimentado.Eu olhei para ele, e pela primeira vez, o vi sem máscaras, sem os pesos das expectativas que os outros haviam colocado sobre ele. Ele estava dizendo a verdade. A verdade sobre nós. E naquele momento, soube que ele não estava mais apenas lutando por tudo o que construiu, mas por nós dois.O ambiente estava um caos, vozes de jornalistas enchendo-o de perguntas, flashes de câmeras me cegando enquanto fotos do meu
Alguns dias depois, o furor da mídia ainda continuava a todo vapor. Os jornais ainda estampavam as palavras de Gabriel, com manchetes que refletiam a revelação bombástica — "Gabriel Monteiro, CEO da MD tecnologias, revela romance com a babá e noiva" — e as reações dos acionistas e investidores eram misturadas.Nos corredores da empresa, a tensão era palpável. Alguns estavam incomodados, outros, até surpresos pela coragem de Gabriel. A MD, apesar da queda nas ações e da enxurrada de comentários, não desmoronou como muitos previam. Afinal, Gabriel ainda era o líder visionário que todos conheciam. Ele não havia perdido a confiança de todos, especialmente de seus principais aliados. Sua decisão de ser verdadeiro, de não esconder o que sentia, trouxe uma nova onda de respeito, mesmo entre os mais céticos.A empresa não desmoronou, e Gabriel continuou a ser o homem de negócios que sempre fora. Mas nem todos estavam contentes. O Conselho da empresa não ficou satisfeito e deixaram isso claro
Desliguei e deixei meu corpo desabar no chão da sala e chorei até quase ficar sem ar. Simone entrou na sala e me encontrou ali, perdida em minha própria angústia.— Celina o que está acontecendo?Eu não tinha forças para falar.— Está tudo bem, calma. Me diga o que houve.— Simone… — eu não conseguia continuar.— O relacionamento com o senhor Gabriel está sendo mais difícil do que pensava, né? — perguntou ela, com suavidade.Olhei para a mulher sentada ao chão comigo, não havia tom de julgamento em sua voz. Eu não tinha parado para pensar como os empregados mais próximos da mansão tinham absorvido aquele fato de que eu e Gabriel estávamos juntos.— Você deve me achar uma aproveitadora.— Eu não acho, Celina. Estou nessa casa desde que o senhor Gabriel não era nem casado ainda. Depois que a senhora Lívia se foi, é a primeira vez que o vejo tão feliz. Eu percebo como vocês se olham. Sei que é amor de verdade.Chorei mais forte ainda antes de Simone continuar.— Vai ser difícil, vai dar
— Celina... — Ele disse, sua voz baixa, mas carregada de um peso tão grande que parecia quase físico. O que é isso? O que está acontecendo?Desabei em prantos na frente dele. Minhas pernas amoleceram, mas eu tentei ser firme.— Não me impeça, Gabriel. Aconteceu uma coisa e para evitar que você e Sofia sofram... eu... eu preciso ir embora.— Joana me ligou. Eu sei de tudo e você não vai a lugar algum.Apertei a alça da minha mala antes de dizer:— A-a Joana te ligou?— Sim. Por que você não me ligou?Eu abaixei a cabeça e fixei meus olhos no chão.— Não há nada a ser feito, Gabriel. Se eu ficar, vou arruinar tudo. E-ele sabe de tudo… detalhes… estou sendo chantageada...— Quero ver o que ele mandou, Celina.Meus olhos não conseguiram mais conter as lágrimas. E enquanto as sentia escorrendo pelas minhas bochechas, eu balançava a cabeça negativamente.— Para quê, Gabriel? Não há nada a fazer… Essa pessoa só pode ser perigosa, provavelmente deve ter muitos contatos para conseguir ter desc