— Chame Sofia. — Sim, senhor. Enquanto Celina saía da sala, notei que o celular dela tocou e ela me pareceu apressada para desligá-lo. Nem teve curiosidade de saber quem ligava. Outra ligação misteriosa? Será que havia alguém em sua vida? Um namorado? Por que de repente a ideia dela ter um namorado me incomodou? Era bom que isso não interferisse em seu trabalho. Fiquei pensando sobre as interações que tive com ela. Celina nunca levanta a voz, mas sempre encontra um jeito de me fazer ver as falhas nos meus argumentos. Não é uma batalha de gritos, é uma batalha de lógica. E ela sempre está ganhando. Eu sou o CEO da maior empresa de tecnologia do ramo, sou conhecido pela minha habilidade de argumentação e lógica e ainda sim, não pareço nada disso quando falo com ela. Ela realmente não me confronta diretamente, mas sempre consegue me fazer questionar minhas decisões. Como é que ela faz isso? Cada palavra dela parece cuidadosamente calculada, como se esti
— Eu ganhei, eu ganhei, eu ganhei o vestido da princesa Sofia! Eu queria muito! Olhe mamãe, é roxo, a minha cor preferida. — Sofia girava fazendo o vestido rodopiar. — Ficou maravilhoso em você, querida! — Livia falou com um sorriso. — Papai, você tem que ter uma fantasia do Crackle, o dragão da princesa Sofia. — Por que eu tenho que ser o dragão? Por que eu não posso ser o Rei Roland II e sua mãe, a Miranda? — Eu reclamei, fazendo uma careta, fingindo indignação. Sofia, com os olhos brilhando de empolgação, não hesitou e respondeu imediatamente, quase sem pensar. — Eu preciso de alguém para me levar para voar, papai. Mamãe é a Miranda, mas você tem que ser o dragão — Sofia pulou em mim. — Vamos papai, precisa comprar uma fantasia! — Não creio que haja uma fantasia do meu tamanho, mas eu serei o seu Dragão. Suba nas minhas costas princesinha Sofia, que eu a levarei para voar sobre Encantia! Enquanto eu corria com Sofia nas costas, pulando de u
Atualmente Eu havia conseguido. Sofia estava nas nuvens, apesar de tudo, Gabriel era diferente do que eu imaginava. Ele era rígido, mas não era cabeça dura. Ele se mantinha aberto a conversar e cedia diante de um bom argumento. Ele elogiou minha habilidade de argumentação. — Oh, Celina! Estou feliz demais! Viu como papai me ouviu? — Vi querida, ele ficou muito orgulhoso. — Obrigada, Celina. — Sofia me abraçou e eu me emocionei. Antes que as lágrimas pudessem cair dos meus olhos, ordenei com gentileza: — Vamos dormir. — Me dá mais um chocolate, por favor? — Você já comeu a quantidade permitida de chocolates hoje, querida. Até a quantidade de chocolate era controlada. Gabriel dizia que o chocolate dava uma falsa sensação de alegria com todo aquele açúcar, por isso ele controlava rigorosamente a quantidade que ela podia consumir. Acreditava que o chocolate podia se tornar um refúgio, uma forma de escapar das emoções difíceis, mas que, a longo prazo, não e
Eu achei que estava tudo bem. Achei que o pedido para a fada do dente estava funcionando. O papai tinha me ouvido, tinha me deixado ir à festa da Maria. Até me elogiou. Ele parecia… diferente, mas de um jeito bom. Um jeito que me fazia lembrar de antes. Mas agora… agora ele estava bravo de novo. Eu só queria mais um chocolatinho, só um. Não era tão errado assim, era? Celina ia me dar, e eu fiquei feliz. Mas, quando me virei, ele estava ali. Eu nem tinha ouvido ele chegar. Meu coração bateu forte, muito forte, e eu quis desaparecer. Ele olhou para Celina daquele jeito frio, fez aquela voz que me deixa com vontade de encolher. Disse que eu não devia pedir o que sei que é errado. Eu baixei os olhos, e me senti muito triste. Eu queria me esconder. Eu não queria que ele ficasse bravo. Eu só queria… eu só queria que ele fosse como antes. Depois que papai falou, a Celina pegou minha mão e saiu pisando duro. Eu fui junto, mas não consegui f
Fiquei um longo tempo no quarto com Sofia. Depois que ela adormeceu, desci as escadas e encontrei a porta do escritório de Gabriel aberta. Ele ainda estava lá dentro, sentado no sofá do escritório, com a camisa aberta, cabelo bagunçado e um copo de uísque nas mãos. Seus olhos estavam vermelhos e olhava fixamente para o nada. A raiva em mim dissipou. Ele parecia ter chorado. Fiquei parada por um instante, observando-o. A imagem de Gabriel, sempre tão rígido e no controle, agora despido de sua armadura, me pegou de surpresa. Ele não era apenas um homem severo e exigente—era alguém quebrado, perdido dentro da própria dor. A raiva que eu sentia antes desapareceu, dando lugar a algo que eu não sabia bem como nomear. Com cautela, dei um passo para dentro do escritório. — Senhor Gabriel… — minha voz saiu baixa, quase um sussurro. Ele piscou algumas vezes, como se estivesse voltando à realidade, mas não respondeu. Apenas girou o copo de uísque nas mãos, encaran
Gabriel estava diante de mim, mas parecia distante. Havia algo quebrado em seu olhar, uma sombra que ele tentava esconder por trás do silêncio e da rigidez dos ombros. O copo em suas mãos tremia quase imperceptivelmente, e eu me perguntei quantas vezes ele já havia se perdido dentro daquele mesmo silêncio, tentando encontrar respostas para perguntas que nunca tinham uma solução justa. Eu queria entender. Queria ajudá-lo. Mas, acima de tudo, queria que ele enxergasse o que eu via. Ele dizia que fazia tudo por Sofia, que apenas queria protegê-la. Mas proteção não deveria significar aprisionamento. E então, antes que pudesse me conter, as palavras escaparam dos meus lábios: — Mas, senhor Gabriel… não é estranho o senhor fazer tudo isso para poupá-la de sofrimento e terminar sendo o responsável por causar o mesmo sofrimento em Sofia, que tanto tenta evitar? Ele me olhou, refletindo sobre o que eu havia dito. E pela primeira vez, vi a armadura dele tri
— Papai! Sofia entrou correndo no quarto e se atirou no colo de Gabriel, soluçando. — Eu tive um pesadelo… Fiquei parada, observando enquanto ele a abraçava, murmurando palavras tranquilizadoras. Mas a menina ainda tremia, os dedinhos agarrados à camisa do pai. No colo de Gabriel, Sofia me estendeu a mão e me puxou para sentar com eles. — Por favor, Celina. Fica aqui comigo e com o papai. Sofia apertava minha mão com força, mas seus olhinhos estavam fixos no pai, ainda agarrada a ele como se temesse que, se soltasse, ele também desaparecesse. — Eu estou aqui, minha estrelinha — murmurou Gabriel, a voz carregada de uma ternura silenciosa. — Promete que não vai me deixar, papai? — a pergunta saiu de Sofia quase como um sussurro, mas soou tão forte no silêncio do escritório que fez meu coração apertar. Eu vi o corpo de Gabriel se retrair. Seus ombros se endureceram, e ele ficou hesitante, como se aquela simples promessa fosse mais pesada do que qualquer outra coisa.
Enquanto levava Sofia para o quarto, fiquei pensando na coincidência de Celina cantar justamente aquela música. Minha esposa costumava cantar essa canção quando Sofia tinha medo. Era um detalhe pequeno, talvez sem importância. Mas ainda assim, me incomodava. Sofia estava leve em meus braços, o rosto descansando contra meu ombro. Seu cabelo macio fazia cócegas em meu pescoço, e por um instante, permiti-me fechar os olhos e apenas sentir a respiração calma dela. Era nesses momentos que eu era mais próximo de mim mesmo — quando ela dormia e não precisava da minha força, não precisava vestir minha armadura e nem pensar em fazê-la forte. Podia só olhar para ela e sentir meu coração se aquecer. Ela era minha filha, minha estrelinha. Como eu amava. Enquanto Sofia dormia, eu não precisava pensar, podia só sentir o amor que eu tinha por ela. Ajeitei-a com cuidado na cama, puxando o cobertor até seus ombros. Mas quando me afastei, senti um movimento sutil e vi seus cílios tremularem. — P