Capítulo 5- Sem família.

Vincent Becker

Me levanto para mais um dia de trabalho. Dias depois de cometer mais uma vez o mesmo erro, não consigo tirar da cabeça. Parece que os acontecimentos não saem da minha cabeça, e provavelmente eu quero que não saiam.

Me lembro do seu cheiro inebriante, sua pele macia e seus lábios…. Que lábios. Seus beijos só confirmaram a mim mesmo que estou totalmente atraído por essa garota. Ela tem algo que me atrai diretamente para ela, mesmo que não queira.

Tiro esses pensamentos e foco em meu trabalho.

É de tarde e estou me organizando para ir embora, quando ouço uns burburinhos no corredor.

— Souberam da Sienna Snyder?

— Não.

— Ao que parece, saiu uma matéria sobre o acidente do irmão. Está rolando a notícia de que ela é a responsável pela morte do irmão.

Será que esse é o motivo de Sienna não estar frequentando a faculdade? Por mais que meu cérebro me diga pra ficar longe dessa garota, ainda há algo que me atrai a ela.

Saio da sala e vou para casa.

….

Estou em casa corrigindo algumas atividades enquanto a TV está ligada. Até agora, as principais notícias são sobre o tal acidente.

Minha mente está perturbada se perguntando como Sienna está com tudo isso.

Saio do apartamento para caminhar, quando encontro a amiga de Sienna no corredor, o que é estranho, porque Sienna não está aqui.

— Senhorita Yates?

— Professor.

— Aconteceu alguma coisa?

— Ontem teve a abertura do Hotel da Sienna e aconteceu algo ontem. Porém ela não tá me respondendo. Tô começando a me preocupar. Vim aqui na esperança dela já ter voltado, mas parece que não.

— Ela deve estar bem. Não se preocupe.

— Caso veja ela, me liga.— Amber me entrega um cartão com seu número e sai.

Observo o cartão e me pergunto se Sienna está realmente bem. Mas isso é errado. Eu em hipótese alguma poderia criar um vínculo assim com os alunos, já que isso pode destruir minha carreira como professor.

_______________________

Sienna Snyder

Acordo em uma cama de hospital. Para minha surpresa, meu irmão está na poltrona ao lado da cama.

— Ela acordou.— Ele diz enquanto meus pais entram no quarto totalmente furiosos.

— O que pensa que está fazendo, Sienna?

Me sento na cama totalmente confusa.

— Pai, eu não tô entendendo o que o senhor tá querendo dizer…

— Estou dizendo como deixou que as pessoas soubessem do acidente. Não há ninguém que saiba disso, além de nós.

— Querido, se acalma. — Minha mãe tenta aliviar o clima, que é em vão.

Ela sai do quarto a mando do meu pai e meu irmão faz o mesmo.

— Pai, mas eu não disse nada.

— ENTÃO ME EXPLIQUE ISSO.

Ele j**a o celular em mim com um vídeo da faculdade. Foi o dia em que Naomi me explanou para os alunos. Eu não sabia que havia sido gravado.

— Eu não sei como essa garota descobriu, mas eu não disse nada.

O som alto se espalha e sinto meu rosto quente. Meu pai acabou de me bater por não acreditar nas minhas palavras.

— Você é um problema.

Sinto meus olhos queimarem. Pela primeira vez em anos, nunca senti tanta dor e raiva ao ouvir algo do meu pai. Eu sempre soube o quanto ele me culpava pelo acidente, mas não sabia ao ponto de me falar essas coisas.

— Sinto vergonha ao saber que é minha filha. Você não merece carregar o nosso nome.

— NÃO MEREÇO? TÁ, SE É ISSO QUE VOCÊ QUER.

Me levanto e retiro os fios e agulhas que há em mim. Meu irmão entra e tenta me impedir, mas eu tô simplesmente cansada de tudo isso. Cansada de ser julgada por tudo o que faço e pelo que não faço.

— Não preciso do seu dinheiro, do seu perdão…— Jogo meus cartões e tudo de valor que carrego.— Da sua humilhação e muito menos de um pai.

— Então se vire sem meu dinheiro.

Pego meu celular e saio. Algumas enfermeiras tentam me fazer ficar, porém é em vão. Estou decidida a sumir da vida deles se é o que eles realmente querem.

Aceno para um táxi que para rapidamente e assim vou ao hotel vestindo as roupas do hospital. Desço e peço para o taxista me esperar, enquanto pego minhas coisas.

Rapidamente desço e estou rumo ao aeroporto. Se tem algo que fiz esses anos, foi juntar um dinheiro para emergências e infelizmente essa é uma emergência.

….

Estou a algumas horas no avião e não consigo deixar de lembrar o olhar de desprezo dos meus pais. Por mais que minha mãe não tenha dito nada, ela deixou acontecer o que aconteceu, igual meu irmão.

Quando você acha que tem alguém nesse mundo, é só uma mentira. Eu ainda queria acreditar que minha família podia voltar a me ver como antes, mas isso é algo impossível.

Adormeço pensando em como vai ser minha vida daqui para frente. Ainda vou ter o apartamento porque está no meu nome, então só terei que arrumar um emprego depois da faculdade.

…..

Acabei de chegar em Los Angeles. Optei por não ligar pra Amber pra não me deixar preocupada pelo meu estado. Saio do aeroporto e pego um táxi, que me leva para o meu apartamento. Pago o motorista e logo estou subindo. Saio e quando estou prestes a entrar no meu apartamento, vejo Amber em frente a porta.

— Amber.

Ela salta e agora está em pé.

— Amiga.— Ela me abraça como se já soubesse de tudo e sabe, até porque não é mais nenhuma novidade pra ninguém.

— Tá tudo bem. Não se preocupe.

— Ah, que bom. Fiquei te esperando hoje, porque seu irmão me ligou dizendo que você sumiu.

— Obrigada por se preocupar, mas será que pode me deixar sozinha por hoje? Preciso de um tempo.

— Claro, sem pressa. Até porque já me mudei pra cá.— Ela aponta pra uma porta não tão longe.

Sorrio. Amber é como minha irmã, alguém que eu sei que vai me ajudar.

— Que bom que somos vizinhas. Só não faça muito barulho com seus boys.

— Não prometo nada.— Ela me abraça e entra em seu próprio apartamento.

Eu sei o quanto tudo o que ela tá fazendo, é pra me fazer sentir menos só. Ela é a única que sabe toda a verdade sobre o acidente, e a única que me apoia.

Entro no apartamento e me jogo no sofá. Largo a mala em qualquer lugar, porque a única coisa que preciso é me sentir em casa. Se sentir em casa? Uma frase que não faz muito sentido ainda.

Me levanto e vou ao banheiro, quando ouço um enorme barulho vindo do meu vizinho do lado. Saio e vejo o professor saindo pela porta.

— Vincent?

Olho pra ele que me olha com o rosto vermelho e os olhos inchados. Ele deve ter bebido. Nunca o vi assim.

— Não sabia que havia voltado.

— Cheguei hoje. Você tá bem?

— Ah, tô sim. Só bebi um pouco.— Ele tenta encostar na parede, mas cai. Isso me tira uma gargalhada sincera.

— Deixa que eu te ajudo.

Ele se levanta com meu apoio e eu o levo para dentro do apartamento do mesmo. Coloco ele no sofá, que cai.

— Pelo visto, a coisa foi boa.— Digo a mim mesma.

Pela casa estão espalhadas diversas garrafas de bebidas e algumas fotos de um casal.

— Bom, já que está deitado, vou indo.

Me viro de costas quando sinto uma mão segurar meu pulso.

— Fica.

Olho pra ele que está em um estado lamentável. Estava me sentindo mal, até olhar para o estado dele. Me agacho em frente a ele que agora está sentado no sofá. Seguro seu rosto.

— Vincent, sabe bem o quanto já nos envolvemos. Não quero também estragar sua vida, até porque não faz muito tempo que nos conhecemos.

— Mas é difícil manter a distância de você. Nunca me envolvi com meus alunos, mas com você é diferente. Tem algo em você que me atrai, não como aluna, mas como mulher.

Viro meu rosto tentando sair disso. Já destrui muitas vidas e não quero que ele seja mais um, por mais forte que seja nossas atração.

Ele coloca uma mecha do meu cabelo atrás da minha orelha e começa a descer seus lábios pelo meu pescoço. Por mais que isso seja incrivelmente bom, é errado.

— Sabe o quanto isso é errado, Vincent. E é a terceira vez que fazemos isso.

Afasto ele com minhas mãos. Apesar de ser um erro, ele também está bêbado.

— Diz que não me quer como eu te quero?— Ele olha pra mim como se não estivesse muito bem.

— Chega disso. Você bebeu demais e não sabe o que falar. Agora vê se dorme um pouco.— Ajudo ele a se deitar novamente no sofá e cubro ele com uma coberta.

Me afasto e recolho as garrafas. Coloco em uma sacola e saio do apartamento dele.

Continua...

Obrigada por estarem lendo. É minha primeira vez neste app e espero que gostem.

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