MirellaFazia semanas que eu relutava. O número dele estava ali na minha agenda, silencioso, como um lembrete constante da minha ausência. Mas hoje... hoje meu coração pediu abrigo. E o único lugar seguro que conheci a vida inteira foi a voz do meu pai.Toquei em ligar antes que minha coragem evaporasse.— Alô? a voz dele soou do outro lado, rouca, familiar, carregada de saudade.Engoli o choro que já ameaçava.— Pai...Houve um silêncio terno, daqueles que abraçam antes mesmo das palavras.— Minha menina... ele sussurrou, com o tom emocionado. — Até que enfim.— Eu sei... demorei demais.— Não importa. O importante é que você ligou. Tá bem? Sorri. Só ele conseguia me fazer sentir como uma criança outra vez.— Tô. Ou... tentando. Muita coisa aconteceu, pai.— Eu imagino. disse, com a calma que sempre teve quando queria me ouvir. — Você tá com aquele olhar de quando guarda o mundo nas costas, né?— Quase isso.— Sabe o que eu dizia quando você ficava assim?Sorri de leve, lembrando da i
Vincent finalmente o dia 30 .... Ela estava linda. Não era novidade, mas naquela noite, com o vestido preto simples que deixava os ombros à mostra e os cabelos presos num coque bagunçado, Mirella parecia feita sob medida pra desmontar a minha razão.Estávamos em um jantar a dois, longe da tensão dos últimos dias, num restaurante discreto, com música baixa e vinho encorpado. Pela primeira vez em semanas, ela relaxava. Ria das minhas piadas idiotas, mordia o lábio entre uma taça e outra. Mas mesmo sorrindo, eu conhecia bem aquela mulher.Ela estava dividida. Entre o amor e o medo. Entre o que sente e o que ainda não sabe como lidar. E foi nesse instante, observando-a em silêncio, que a ideia me atingiu como um raio.— Vem comigo pro Brasil . falei, deixando as palavras escaparem antes mesmo de pensar.Ela piscou devagar, surpresa. — O quê?— Você falou tanto da sua família, das raízes... E eu percebi que tô cansado de viver metade das coisas com você. Eu quero inteiro. Quero saber de
Mirella Eu ainda sentia a mão dele na minha, o peso da caixinha, o brilho do anel e o calor da presença dele ali, de joelhos na sala da minha infância. Quando Vincent pediu minha mão, o mundo parou. Mas meu coração correu uma maratona.Disse sim com a voz embargada, o peito em chamas e as pernas tremendo. Não só pelo pedido... mas por tudo o que significava. Ele estava ali. Com minha família. Na minha casa. E agora... no meu mundo.Depois do jantar, depois dos abraços, depois da benção do meu pai que eu ainda achava que estava sonhando puxei a mão do Vicent.— Vem. Quero te mostrar uma coisa.— Agora? ele perguntou, olhando o céu já escuro lá fora.— Agora. Antes que você volte praquele mundo gelado e cravejado de luxo. Aqui... é onde tudo começou pra mim.Descemos as escadas da minha casa . O som de um samba vinha de longe, misturado com risadas, panela batendo e moto subindo o morro. Era vida. Crua, barulhenta, linda.Vincent andava ao meu lado, atento. Observando tudo. As vielas e
Vincent A Rocinha não se parece em nada com o mundo de onde eu vim. As ruas são estreitas, os sons nunca param, e a vida pulsa aqui como se cada segundo fosse uma batalha vencida.Mas ali, ao lado dela... nada mais importava.Mirella estava sentada na mureta, com os olhos brilhando, os pés balançando no ar, e o sorriso dela tinha mais poder do que qualquer arma que já empunhei. Ela olhava ao redor com uma saudade viva, como se voltasse a respirar depois de muito tempo. E eu... só conseguia olhar pra ela.Ela me apresentou ao seu mundo. Me colocou diante do pai dela, me deixou entrar na sua casa, no seu espaço, nas suas memórias. E agora está aqui, me fazendo sentir coisas que nem sei nomear.— Você parece... em paz. — ela disse, do jeito que só ela sabe direta, mas com ternura. Eu queria responder que não era só paz. Era amor. Era medo de perder. Era o desejo quase desesperado de ser um homem melhor, por ela.— É estranho. Eu nunca pensei que fosse sentir isso... aqui. — respondi, ten
MirellaQuando ouvi o nome “Allan” saindo da boca do Vincent, meu coração deu um salto estranho. Era um nome comum, mas no meio da conversa sobre guerra, carregamento e sangue, soou como um estalo vindo bater à porta, Tio Allan.Meu “tio” de consideração, que aparecia de vez em quando com presentes e histórias de viagens misteriosas. Que me dava doces escondidos da minha mãe e usava aqueles relógios pesados, de ouro, com olhos sempre atentos, como se vigiasse o mundo.— Você disse Allan? — perguntei, com a garganta apertada.Quando Vincent confirmou e o descreveu... meu estômago virou.Não era coincidência, Sentei na cama tentando processar. Era como se todas as verdades que eu me esforcei pra manter separadas minha infância e o mundo de Vicent estivessem se chocando diante dos meus olhos.— Ele... ele me chamava de pequena tempestade. Porque dizia que eu fazia bagunça até com o olhar. sorri sem humor, enquanto meu peito se apertava. — E agora ele é... seu fornecedor?Vincent estava
Vincent O cheiro de pólvora parecia antecipar o que estava por vir. Eu sentia no ar algo estava prestes a acontecer.Entrei no carro com a mente em chamas. Julian dirigia, o olhar atento pelo retrovisor.Meu celular vibrou era uma mensagem que dizia " Se não for meu ,não será dela " ... logo em seguida começou a tocar vi nome da minha amada na tela , mas antes que pudesse atender um ruído alto ecoou pela rua estreita. BUM.O carro deu um tranco. Senti o mundo girar por um segundo antes de perceber o que estava acontecendo.— Merda! — Julian gritou, puxando o volante enquanto tiros cortavam o ar como lâminas.Instinto. Foi só isso que me moveu.Empurrei a porta com o ombro e rolei para fora antes do carro ser engolido pelas chamas. O calor do fogo aqueceu minhas costas enquanto me arrastava pelo chão. Tiros. Passos. Gritos abafados. Meus homens revidando.Peguei a arma no coldre e respirei fundo, tentando clarear a mente. Não podiam estar ali por acaso. Aquilo não era só uma emboscada
GiuliettaA taça de vinho dançava entre meus dedos, vermelha como o sangue que eu sonhava ver escorrendo do peito de Vincent. A lareira crepitava no fundo da sala ancestral da mansão em Verona, e o cheiro de madeira queimada se misturava ao perfume do veneno que pairava no ar.Salvatore meu irmão estava à minha esquerda, debruçado sobre uma planta detalhada do porto em Nova York. À minha direita Lorenzo nosso primo estrategista digitava códigos no notebook com um meio sorriso nos lábios. Todos sabiam o que estava em jogo.— Ele sobreviveu ao ataque — disse Salvatore, com raiva contida. — Ainda tem aliados demais, e Mirella se tornou um escudo mais poderoso do que esperávamos.— Não é um escudo — rebati com desprezo. — É a fraqueza dele. A única coisa que o faz pensar duas vezes antes de matar. E é exatamente por aí que vamos vencê-lo.— Você quer sequestrá-la? — Lorenzo sugeriu, sem tirar os olhos da tela.— Não. Isso seria previsível. — me levantei e caminhei até a janela. A noite pa
Vincent Dois dias depois .... Julian entrou no galpão com os passos firmes, havia tensão em cada linha de seu corpo. Ele não era de demonstrar medo. Quando o fazia, era porque o sangue já havia respingado em alguma parte do tabuleiro. — Fala — pedi, antes mesmo dele abrir a boca. Meu tom foi direto. O cansaço me deixava sem paciência pra rodeios. Ele jogou sobre a mesa três pastas marcadas com códigos. Abri a primeira. Fotos dos corpos. Dois informantes nossos. Homens que Giulietta tentou virar meses atrás. Sumiram. E agora estavam mortos. — Eles quebraram o código de silêncio — Julian disse. — Morreram como mártires. E mandaram um recado Giulietta não está blefando. Olhei para a segunda pasta. Informações financeiras. Movimentações atípicas entre contas que estavam congeladas . A família dela. estava lavando dinheiro novamente... rápido, e em grandes quantidades. — Estão se preparando pra algo grande — murmurei.Julian assentiu. — E há mais... — ele hesitou — intercep