Vincent A Rocinha não se parece em nada com o mundo de onde eu vim. As ruas são estreitas, os sons nunca param, e a vida pulsa aqui como se cada segundo fosse uma batalha vencida.Mas ali, ao lado dela... nada mais importava.Mirella estava sentada na mureta, com os olhos brilhando, os pés balançando no ar, e o sorriso dela tinha mais poder do que qualquer arma que já empunhei. Ela olhava ao redor com uma saudade viva, como se voltasse a respirar depois de muito tempo. E eu... só conseguia olhar pra ela.Ela me apresentou ao seu mundo. Me colocou diante do pai dela, me deixou entrar na sua casa, no seu espaço, nas suas memórias. E agora está aqui, me fazendo sentir coisas que nem sei nomear.— Você parece... em paz. — ela disse, do jeito que só ela sabe direta, mas com ternura. Eu queria responder que não era só paz. Era amor. Era medo de perder. Era o desejo quase desesperado de ser um homem melhor, por ela.— É estranho. Eu nunca pensei que fosse sentir isso... aqui. — respondi, ten
MirellaQuando ouvi o nome “Allan” saindo da boca do Vincent, meu coração deu um salto estranho. Era um nome comum, mas no meio da conversa sobre guerra, carregamento e sangue, soou como um estalo vindo bater à porta, Tio Allan.Meu “tio” de consideração, que aparecia de vez em quando com presentes e histórias de viagens misteriosas. Que me dava doces escondidos da minha mãe e usava aqueles relógios pesados, de ouro, com olhos sempre atentos, como se vigiasse o mundo.— Você disse Allan? — perguntei, com a garganta apertada.Quando Vincent confirmou e o descreveu... meu estômago virou.Não era coincidência, Sentei na cama tentando processar. Era como se todas as verdades que eu me esforcei pra manter separadas minha infância e o mundo de Vicent estivessem se chocando diante dos meus olhos.— Ele... ele me chamava de pequena tempestade. Porque dizia que eu fazia bagunça até com o olhar. sorri sem humor, enquanto meu peito se apertava. — E agora ele é... seu fornecedor?Vincent estava
Vincent O cheiro de pólvora parecia antecipar o que estava por vir. Eu sentia no ar algo estava prestes a acontecer.Entrei no carro com a mente em chamas. Julian dirigia, o olhar atento pelo retrovisor.Meu celular vibrou era uma mensagem que dizia " Se não for meu ,não será dela " ... logo em seguida começou a tocar vi nome da minha amada na tela , mas antes que pudesse atender um ruído alto ecoou pela rua estreita. BUM.O carro deu um tranco. Senti o mundo girar por um segundo antes de perceber o que estava acontecendo.— Merda! — Julian gritou, puxando o volante enquanto tiros cortavam o ar como lâminas.Instinto. Foi só isso que me moveu.Empurrei a porta com o ombro e rolei para fora antes do carro ser engolido pelas chamas. O calor do fogo aqueceu minhas costas enquanto me arrastava pelo chão. Tiros. Passos. Gritos abafados. Meus homens revidando.Peguei a arma no coldre e respirei fundo, tentando clarear a mente. Não podiam estar ali por acaso. Aquilo não era só uma emboscada
GiuliettaA taça de vinho dançava entre meus dedos, vermelha como o sangue que eu sonhava ver escorrendo do peito de Vincent. A lareira crepitava no fundo da sala ancestral da mansão em Verona, e o cheiro de madeira queimada se misturava ao perfume do veneno que pairava no ar.Salvatore meu irmão estava à minha esquerda, debruçado sobre uma planta detalhada do porto em Nova York. À minha direita Lorenzo nosso primo estrategista digitava códigos no notebook com um meio sorriso nos lábios. Todos sabiam o que estava em jogo.— Ele sobreviveu ao ataque — disse Salvatore, com raiva contida. — Ainda tem aliados demais, e Mirella se tornou um escudo mais poderoso do que esperávamos.— Não é um escudo — rebati com desprezo. — É a fraqueza dele. A única coisa que o faz pensar duas vezes antes de matar. E é exatamente por aí que vamos vencê-lo.— Você quer sequestrá-la? — Lorenzo sugeriu, sem tirar os olhos da tela.— Não. Isso seria previsível. — me levantei e caminhei até a janela. A noite pa
Vincent Dois dias depois .... Julian entrou no galpão com os passos firmes, havia tensão em cada linha de seu corpo. Ele não era de demonstrar medo. Quando o fazia, era porque o sangue já havia respingado em alguma parte do tabuleiro. — Fala — pedi, antes mesmo dele abrir a boca. Meu tom foi direto. O cansaço me deixava sem paciência pra rodeios. Ele jogou sobre a mesa três pastas marcadas com códigos. Abri a primeira. Fotos dos corpos. Dois informantes nossos. Homens que Giulietta tentou virar meses atrás. Sumiram. E agora estavam mortos. — Eles quebraram o código de silêncio — Julian disse. — Morreram como mártires. E mandaram um recado Giulietta não está blefando. Olhei para a segunda pasta. Informações financeiras. Movimentações atípicas entre contas que estavam congeladas . A família dela. estava lavando dinheiro novamente... rápido, e em grandes quantidades. — Estão se preparando pra algo grande — murmurei.Julian assentiu. — E há mais... — ele hesitou — intercep
Vincent continuação... A noite caiu feito um manto sujo sobre a cidade. E eu estava pronto para sujá-la ainda mais. Julian caminhava ao meu lado, rápido, eficiente. Tinha três celulares ligados em chamadas diferentes, monitorando cada movimentação de Giulietta, Salvatore e Bianchi. Eles se escondiam bem, mas eu já tinha aprendido que ninguém é invisível quando se mexe demais. — O grupo de Milão fez contato. Querem saber se mantemos o plano de contenção. — Julian disse, sem perder o ritmo. — Mantém. E diz que o inferno só tá começando. O carro parou em frente ao galpão na zona industrial. Do lado de fora, os homens de confiança esperavam. Cada um armado até os dentes. Sem uniforme. Apenas olhos de guerra. — Chefe, temos três entradas alternativas no perímetro sul do antigo depósito dos Bianchi. A Giulietta tem feito reuniões lá com um novo grupo. Provavelmente mercenários. — disse Daniel, um dos meus homens mais antigos. — E a droga? — perguntei, com a voz baixa e dura.
Wl A primeira vez que vi minha filha chorar por causa de um homem, ela ainda era criança. Caiu da bicicleta e correu pros meus braços porque o menino da rua riu dela. Jurei ali que ninguém machucaria o coração dela sem ter que passar por mim primeiro.Hoje, parado no meio de um galpão destruído, depois de ouvir os relatos de tiros, traições e ameaças, eu via aquele mesmo brilho nos olhos dela. Só que não era mais choro. Era fogo. E o homem que estava ao lado dela… não era qualquer um.Vincent não me olhou com arrogância, nem tentou se justificar. Ele estava ferido, sujo de sangue e fuligem, mas havia algo inegável nos olhos dele verdade. Um homem marcado por suas escolhas, sim, mas firme ao lado da minha filha.Bruninho brincava com a ideia de um churrasco na laje, como se não tivéssemos acabado de sair do olho do furacão. E ainda assim, eu sorria. Porque ali estava o que mais importa pra um pai saber que sua filha era amada, protegida, de pé.— Vai ter churrasco, sim — Vincent diss
MirellaQuando Vincent chegou e me pediu para me arrumar que ele ia me levar a um lugar especial , eu desconfiei. Ele tinha aquele olhar misterioso, o mesmo que usava quando ia fazer algo grandioso… ou muito perigoso.— Só confia em mim, princesa — ele disse, beijando minha testa.Confiar em Vincent? Eu já fazia isso com o coração inteiro.Me arrumei sem saber o que esperar. O carro nos levou até um restaurante nos arredores da cidade, onde luzes suaves iluminavam a fachada. Assim que a porta se abriu, senti um nó na garganta.O lugar era lindo aconchegante estava reservado inteiro somente para nos . Mesas com flores, luzes penduradas como estrelas, e uma música suave preenchendo o ar. Parecia que eu tinha entrado num pedaço do Brasil dentro dos Estados Unidos.E então eles apareceram.Meu pai , com um sorriso que há dias eu não via, tio Bruninho, tio RB, tio Renan, até o tio Allan, que piscou pra mim como um tio arteiro.— O que tá acontecendo? — perguntei, rindo e quase chorando ao me