PASSAGEM DE TEMPO. Samara suspirou pesadamente enquanto tentava, mais uma vez, encontrar uma posição confortável na cama. O barrigão de sete meses parecia maior a cada dia e o bebê que ate agora eles não viram o sexo estava mexendo muito como sempre depois que descobriu que na barriga dela era sua brinquedoteca, e dormir estava se tornando um verdadeiro desafio. Ela resmungou baixinho e se virou, tentando apoiar um travesseiro entre as pernas para aliviar o peso.Leonardo, que até então observava em silêncio, encostado na cabeceira, puxou-a para seus braços.— Amore, você precisa descansar — ele murmurou contra os cabelos dela.— Eu sei, mas esse bebê parece querer me deixar acordada a noite toda. — Ela sorriu, passando a mão sobre o ventre arredondado.Leonardo também pousou a mão ali, acariciando suavemente. Seu olhar era intenso, protetor, mas algo nele estava diferente. Havia tensão em seus traços, um peso silencioso que ele tentava esconder dela.Samara não era ingênua. Nos últ
Na manhã seguinte, Samara acordou sentindo-se revigorada, apesar do peso da barriga que a acompanhava em cada movimento. Leonardo já estava acordado, observando-a com um sorriso terno, sua mão acariciando seu ventre de maneira quase automática.— Pronta para finalmente descobrir se teremos um pequeno príncipe ou uma princesa para me deixar maluco de ciúmes? — Ele brincou, deixando um beijo suave em sua testa.— Mais do que pronta! Mas será que a médica vai conseguir trabalhar hoje? Ou meus três guardiões vão continuar tentando enlouquecê-la? — Samara riu, já antecipando o caos que os aguardava na clínica.— Só queremos ter certeza de que nosso bebê está bem. — Leonardo disse, sem nenhuma vergonha.— Vocês parecem um esquadrão de interrogatório! — Ela zombou.Pouco depois, já estavam a caminho da clínica, acompanhados, é claro, pelos inseparáveis Fellipo e Fernando. Ao chegarem, foram recebidos com os olhares divertidos da recepcionista e da equipe médica. Já conheciam aquele trio ansio
Fellipo estacionou o carro atrás de Leonardo e Fernando, ainda eufórico com a descoberta de que seriam tios de um menino. Ele desceu do veículo com um sorriso satisfeito, pronto para almoçar e celebrar em família. Mas seu bom humor evaporou no instante em que seus olhos pousaram na cena à sua frente.Ali, no jardim da mansão, Cecília estava conversando… não, sorrindo… não, rindo com aquele maldito americano.Fellipo sentiu seu sangue ferver instantaneamente. John, o subchefe americano, estava inclinado para mais perto do que deveria, e Cecília, completamente despreocupada, parecia gostar da conversa.— O que diabos ele está fazendo aqui? — Fellipo rosnou, os punhos se fechando automaticamente.Leonardo, que vinha logo atrás, arqueou a sobrancelha, notando sua reação.— Ah, pelo visto, nosso convidado especial chegou antes.Fernando riu baixinho.— A questão é: ele sai vivo daqui?— Depende da Cecília — Leonardo respondeu, com um sorriso divertido.Fellipo lançou um olhar mortal para os
A tensão na sala se tornou quase palpável. Samara cruzou os braços e esperou, sabendo que Fellipo estava prestes a explodir. Cecília também percebeu a tempestade que se formava, mas manteve a postura firme, desafiadora.Fellipo passou as mãos pelos cabelos, exalando frustração antes de encará-la com fúria nos olhos.— Você é uma emocionada, Cecília! — Ele cuspiu as palavras como se fossem veneno. — Você nem sequer pensa antes de agir! Esse americano filho de putana pode estar colocando a nossa família em perigo e você o recebe com sorrisos e o convida para almoçar?Cecília piscou, surpresa, antes de dar um passo à frente, o rosto se fechando em irritação.— O quê? Você está insinuando que John é uma ameaça? Ele trabalha para o Dom americano! É um aliado! e pra sua informação meu Dom sabia de sua chegada na mansão.Fellipo riu com escárnio, balançando a cabeça.— Você é ingênua demais. Sabe o que os americanos são? Falsos. E esse cara em particular… — Ele apontou na direção da porta, co
Fellipo, no entanto, ainda permanecia fechado. Ele não ria, não reagia. Apenas observava Cecília com um olhar que misturava frustração e desejo contido.Fernando, percebendo isso, cutucou o irmão.— O que foi, Fellipo? Parece que está comendo vidro.Fellipo bufou e largou os talheres.— Só estou sem apetite.— Hum... — Leonardo apoiou-se na mesa, observando-o com um olhar calculista. — Então não tem nada a ver com o fato de que um certo americano está cada vez mais próximo da nossa Cecília?Fellipo travou o maxilar e sua expressão se fechou ainda mais.— Não começa, Leonardo.— Só estou dizendo que você devia tomar cuidado, irmão. Uma mulher bonita como Cecília não fica esperando um homem indeciso.Cecília, que até então apenas observava, ergueu o olhar e fitou Fellipo com expectativa. Mas ele nada disse.Samara sentiu uma pontada de frustração. Cecília estava ali, claramente esperando uma reação, esperando que ele a escolhesse. Mas Fellipo, teimoso como era, preferia continuar se nega
Cecília sentiu seu coração despedaçar ao ouvir as palavras de Fellipo. Seu rosto permaneceu impassível, mas por dentro, tudo parecia ruir. Como ele podia negar tudo daquela forma? Fingir que nada tinha acontecido entre eles? Tudo bem que ninguém sabia pois nem pra Samara ela contou queria viver esse sentimento antes de qualquer especulação, mais agora tudo rui.Ela mal conseguia respirar, as lembranças da noite que compartilharam vindo à tona como uma onda impiedosa. Lembrou-se de como ele a tocou naquela noite, com uma mistura de urgência e reverência, como se ela fosse a coisa mais preciosa que ele já teve em mãos. Lembrou-se da forma como seu corpo se entregou a ele mesmo virgem foi perfeito, como suas almas pareciam se fundir naquele momento, como ela sussurrou as palavras que guardava no coração há tanto tempo:— Eu te amo, Fellipo.Ela nunca esqueceria o que veio depois. Ele não respondeu. Não retribuiu suas palavras. Apenas a beijou com uma intensidade quase desesperada, como s
Assim que Cecília deixou a mesa, caminhou em passos rápidos e silenciosos pelo corredor da mansão, o coração batendo forte, como se tentasse escapar de seu peito. Cada músculo do seu corpo parecia rígido, tenso, como se seu próprio instinto estivesse gritando para fugir.O cheiro do café recém-passado ainda impregnava o ar, misturado ao aroma suave das frutas frescas e do pão quente que saía do forno. Aquele deveria ser um dia normal, um café da manhã em família, risadas, leveza. Mas não era.Porque ele estava ali.Ela não queria vê-lo. Não depois da noite que passou chorando, lembrando-se de cada toque, de cada palavra não dita.Cecília podia lidar com muitas coisas. Podia lidar com o peso de ser filha de um homem leal à máfia. Podia lidar com o fato de viver em um mundo perigoso, cercada por homens que faziam as regras à base de sangue e lealdade. Podia lidar com a dor de amar alguém em silêncio, mas não podia lidar com o desprezo de Fellipo.A imagem daquela noite estava marcada em
Leonardo chegou à mansão com o rosto sombrio, os olhos ardendo de fúria. O paletó estava aberto, a gravata frouxa, e o sangue que respingava na manga da camisa deixava claro que o dia tinha sido brutal — mas nada se comparava ao inferno que queimava dentro dele agora.Fellipo e Fernando vinham logo atrás, sérios, silenciosos. Sabiam que quando Leonardo estava nesse estado, era melhor deixar a tempestade desabar antes de tentar acalmá-lo.Ele entrou pela porta principal com passos pesados, os soldados se encolhendo ao vê-lo. Samara e Cecília estavam na sala, organizando algumas roupinhas do bebê, mas assim que ela viu o marido, Samara se levantou de imediato, preocupada.— Amore, o que houve? — Ela se aproximou, tocando seu rosto, mas ele a segurou pelos braços com uma delicadeza assustadora, considerando o ódio que transbordava dele.— Quem te mandou a mensagem? — A voz dele era grave, como se estivesse segurando a própria alma para não explodir ali mesmo.Samara piscou, confusa.— Com